quarta-feira, 24 de setembro de 2025

LINDAS MULHERES... E OUTROS ASSUNTOS

Essa linda do meu lado é a Nati, mais nova SBCense, de coração e ação... uma super criadora de conteúdos digitais, baita profissional e baita ser humano. A seguir print do seu instagram: 

E essa outra linda é a Jani:




Janiele Felix,  massoterapeuta, super profissional... e super amiga. E adora também fazer uns vídeos e uns cards pro SBC. E nós adoramos...
Mais ainda: é ela quem faz a seleção musical para os nossos saraus! MC JANI!

O SBC tem a sorte de incluir pessoas como essas. E quando a gente fala do SBC, dos conceitos SBCenses de vida - o riso, o valor das amizades, o sentido estético, do bom, bonito, pra vida - e o olho brilha... esse vem a ser o nosso critério para participar do SBC... e a pessoa já abraça nosso grupo, já começa a fazer coisas bacanas, promover o SBC, participar de projetos, enfim, se envolver... e desenvolver... tem coisa mais legal? 

E essa é a nossa querida Nida, do Bar da Nida, em Ouro Preto, o melhor samba da cidade, o melhor PF, tira gostos maravilhosos, ambiente super aconchegante... 

Pois foi na Nida o nosso fim de semana em Ouro Preto, lançando o livro PRA TUDO TEM UM SAMBA. Em 2017 também lá na Nida lançamos o DIÁRIO DO SBC, e levamos também alguns exemplares nesse evento lindo, dias 20 e 21.setembro, 49a Feira de Quintal - CORES, FLORES E SABORES, maravilhosas expositoras, ótimas conversas, samba de primeira, grandes amizades...

E a Nati fez um vídeo desse lançamento, vejam abaixo: 

Um Short que diz tudo... obrigada querida Nati!

E nesse ótimo encontro já recebemos outro convite, para o próximo fim de semana, dos novos amigos Beth e Duarte, do Quiosque Auto Parque da Bauxita:




Programão pro fim de semana em Ouro Preto... ainda mais na nossa charmosa CASA DA ÁRVORE:


E para a próxima semana, dia 2 de outubro, nosso sarau no TABOCA!!! A nossa querida Jani já fez card convite...  vamos divulgar ainda, mas podem já agendar e chamar amigos e amigas:


Aff... Ô vida boa, sô...

Abraços carinhosos às pessoas que nos acompanham,

Santuza TU




:
















quarta-feira, 17 de setembro de 2025

OURO PRETO E MARIA BETÂNIA 2

                                            

Então... Indo pra Ouro Preto me lembrei da última vez que estive lá, mês passado. Tive a sorte de ir no primeiro dia do evento, uma homenagem a Maria Betânia... e o azar de ter que voltar a BH e não ir no segundo dia... 

Uma Mostra de Cinema MARIA BETÂNIA! Filmes MA RA VI LHO SOS !!! Seguidos de debates com pessoas MA RA VI LHO SAS, super conhecedoras dos temas.

Mas tudo depende do ponto de vista... olhando para o 'ponto da sorte', no primeiro dia, para nós o filme que se destacou: O vento lá de fora, do diretor Marcio Debellian: por dois dias Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli declamaram poetas de Fernando Pessoa e seus heterônimos. 

E o filme foi seguido de  debate com a Professora Carolina Anglada, da UFOP, que nos brindou com uma aula magnífica, sobre - além de Maria Betânia - Cleonice Berardinelli e Fernando Pessoa:

Cleonice Seroa da Mota Berardinelli  1916-1023) professora universitária brasileira,  especialista em literatura portuguesa - Camões e Fernando Pessoa, foi a integrante mais longeva da Academia Brasileira de Letras. 


Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa,1888-1935) foi um poeta português, amplamente reconhecido como um dos principais expoentes da língua portuguesa e o maior poeta lusófono do século XX. Atuou também como dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentador político. 

Modernista, Pessoa destacou-se não só com a sua poesia ortônima, na qual ele assina como Fernando Pessoa, como é muito conhecido pela criação de heterônimos.

Estudos indicam a existência de mais de 100 pseudônimos, heterônimos, semi-heterônimos, personagens fictícias e poetas mediúnicos de Fernando Pessoa. 

Os heterônimos de Fernando Pessoa são personalidades criadas pelo próprio Fernando Pessoa e que assinam cada qual as suas obras. Para tanto, esses escritores têm biografia e estilo particular.


Alberto Caeiro da Silva, a primeira "criação" de Fernando Pessoa,  sendo considerado o Mestre Ingénuo dos heterónimos Álvaro de Campos e Ricardo Reis e também de seu próprio autor, apesar de apenas ter feito a instrução primária. 

Alberto Caeiro (1889-1915) nasceu em Lisboa. Passou a sua vida no campo e ficou órfão de pai e mãe muito cedo, passando a viver com uma tia-avó. Morreu de tuberculose.

Apesar da data indicada para o seu falecimento, há registro de poemas de Alberto Caeiro do ano 1919.

Características do estilo de Alberto Caeiro:

Caeiro valoriza a simplicidade e demonstra o seu gosto pela natureza. Para ele, mais importante do que pensar é sentir, delegando todo o conhecimento à experiência sensorial.

A linguagem da sua poesia é simples, afinal, Caeiro não estudou além da escola primária.

Lembrem-se, trata-se de biografia de personagem de Fernando Pessoa, um heterônimo.  

Poemas de Alberto Caeiro

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.
                                                    💟💟💟💟💟💟💟💟💟💟💟💟



Ricardo Reis, a face clássica de Fernando Pessoa
Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) foi 'imaginado' por Fernando Pessoa  meio que 'de relance'  em 1913, quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã.  Teria nascido na cidade do Porto.  Recebeu uma forte educação clássica num colégio de jesuítas e formou-se em Medicina, profissão que não exercia. Expatriou-se espontaneamente desde 1919, vindo viver no Brasil. Era latinista por formação clássica e semi-helenista por auto didatismo. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, situando a morte de Reis em 1936.

Características do estilo de Ricardo Reis:

Tal como Caeiro valoriza a simplicidade, Ricardo Reis gosta do que é simples, mas num sentido de oposição ao que é moderno.

Tradicional, para ele, a modernidade é uma mostra de decadência. Sua linguagem é clássica e seu vocabulário, erudito.

Poemas de Ricardo Reis

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

                                                💓💓💓💓💓💓💓💓💓💓💓💓

Álvaro de Campos


Álvaro de Campos  nasceu em Tavira, Portugal, no ano 1890. A data do seu falecimento não é conhecida. É um dos heterônimos mais conhecidos, um "alter ego" de Fernando Pessoa. Como alter ego, Álvaro de Campos sucedeu a Alexander Search, um heterónimo que surgiu ainda na África do Sul, onde Pessoa passou a infância e adolescência.

Depois de "uma educação vulgar de liceu" Álvaro de Campos foi "estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval" na Escócia, mas não exerceu a profissão. Realizou uma viagem ao Oriente, registada no seu poema "Opiário", e trabalhou em Londres e outras cidades da Inglaterra. Desempregado, teria voltado para Lisboa em 1926, mergulhando então num pessimismo decadentista. O poema "TABACARIA", de 1928, foi uma das criações de Álvaro de Campos.


Características do estilo de Álvaro de Campos:

Álvaro de Campos valoriza a modernidade e é um pessimista, pois apesar do gosto pelo progresso, o tempo presente o angustia.

Seu estilo pode ser definido em três fases: decadentista, progressista e pessimista.

Poemas de Álvaro de Campos

O dia deu em chuvoso

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, estava bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação? Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei: a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação. O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...

É preciso ser-se criança para os ter...

Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!

O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

💘💘💘💘💘💘💘💘💘💘💘

Bernardo Soares


Bernardo Soares é considerado um semi-heterônimo de Pessoa, porque essa personalidade apresenta características muito semelhantes às de Fernando Pessoa, sendo muitas vezes confundido com o próprio escritor. É o autor do Livro do Desassossego, escrito em forma de fragmentos. Apesar de fragmentário, o livro é considerado uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX, ao encenar na linguagem várias categorias que vão desde o pragmatismo da condição humana até o absurdo da própria literatura.

Bernardo Soares é, dentro da ficção de seu próprio livro, um simples ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Conheceu Fernando Pessoa numa pequena casa de pasto frequentada por ambos. Foi aí que Bernardo deu a ler a Fernando o seu "Livro do Desassossego". Como seu próprio criador explica "não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade."


Este é um pequeno resumo da magnífica aula da Professora Carolina Anglada que se seguiu ao maravilhoso filme. O mesmo, completo, pode ser encontrado no YOUTUBE. 

E, para terminar, nós todas as pessoas da platéia rimos de nós mesmas quando foi 'declamado' o poema a seguir, atribuído a Álvaro de Campos:

Todas as cartas de amor são Ridículas

Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas

Também escrevi em meu tempo cartas de amor
Como as outras
Ridículas

As cartas de amor, se há amor
Têm de ser
Ridículas

Mas, afinal
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas

Todas as palavras esdrúxulas
Como os sentimentos esdrúxulos
São naturalmente

Ridículas

                                👄👄👄👄👄👄👄👄👄👄👄👄👄👄

E voltei pra Belô, depois de conhecer "amiga de infância" Marilene (como falamos no SBC quando nos encontramos com pessoa que parece que conhecemos há séculos, tamanha é a energia trocada), pensando sobre os nossos conceitos de vida e de relações, assim como da necessidade de resignificarmos o amor... e suas contradições... 

Talvez, como Fernando (o Pessoa e o Veríssimo), "AMAR, VIVER E SER LIVRE É NÃO TER MEDO DE SER RIDÍCULO(A)... "
                                    
VIVA OS FERNANDOS!!! E VIDA O  S B C !!! 

No nosso SARAU na NIDA teremos oportunidade de falar sobre os dois, entre outras e outros que nos inspiram... Até lá,

Santuza TU
                                                                  

 
                                                                



terça-feira, 16 de setembro de 2025

OURO PRETO E MARIA BETÂNIA

 

De "mala e cuia", indo pra nossa querida Ouro Preto, lançamento do nosso livro PRA TUDO TEM UM SAMBA, próximo sábado e domingo 20 e 21 de setembro no grande evento CORES FLORES E SABORES no bacanérrimo Bar da Nida,"um encontro com a arte e a vida".


'Pertim' do nosso espaço CASA DA ÁRVORE, no Morro de São Sebastião, em frente a histórica Igrejinha de São Sebastião, fica o Bar da Nida. o melhor bar de samba e forró - e jazz - de Ouro Preto!... de Minas... do Brasil... A pracinha do Morro de São Sebastião - entre a Casa da Árvore e o Bar da Nida -  fica a 2 km da Pça Tiradentes, centro de Ouro Preto, uma subidinha bem íngreme, como toda Ouro Preto. Não o "Centro Histórico", pois aqui em cima temos "outra história", talvez a 'nossa' história, a história de quem mais construiu essa cidade, os reis e rainhas afro que vieram de lá escravizados - e foram responsáveis, além da construção das igrejas lá do centro, também pelas minas, pois esse povo detinha a tecnologia dessa construção - e foi assim que, antes da "abolição da Princesa Isabel", a maioria do povo negro de Ouro Preto já havia adquirido sua alforria e a da sua família e amigos e amigas. Chico Rei é um exemplo Catarina Mendes é outro... ela, escrava, conquistou sua alforria, juntou algumas mulheres e fundou um arraial com seu nome, entre o Morro de São Sebastião e o distrito de São Bartolomeu, também lindo de se visitar... Por fim, não podemos deixar de dizer que também estamos "pertim"  do Parque Natural Municipal das Andorinhas, uma caminhadinha de pouco mais de 2 km.


Pois é assim: Ouro Preto respira arte, cultura, história - várias histórias - poesia, música, literatura... E natureza!

O SBC estará no Bar da Nida! Uma alegria e uma honra...


BORA LA!!! VAI VAI SER LINDO!!!

Abraços carinhosos e inté...

Santuza TU








sexta-feira, 12 de setembro de 2025

PARA QUE SERVE A ARTE 2

 Rita Von Hunty, persona de Guilherme Terreri, é educadora, atriz e drag queen. Utiliza a arte drag como potente ferramenta pedagógica para abordar temas complexos como história, filosofia, política e questões sociais.

Em 20 de dezembro de 2022 já recorríamos à Rita como pré-texto - o texto nós fazemos -  para nossas reflexões. A seguir um trecho desse nosso post:

Rita diz, ou melhor, nosso SBCense diz: PARA NADA! ... se entendermos "servir"  como "ser útil" ao consumo, ou seja, a arte não deve ""se submeter", ser subserviente a uma cultura do consumo, a uma sociedade onde o dinheiro ganha vida e nós nos transformamos de sujeitos a objetos (consumistas: que só consomem - e se deixam consumir). Por outro lado, a ARTE pode (e deve) servir para ajudar a causar perplexidade, estranhamento, para abrir perguntas e incitar o raciocínio  - e ação -  transformadores. Aí a arte cumpre com seu papel: o de ser, sempre, um LEVANTE contra a servidão.

E a Rita abriu nossa conversa da semana. Em seguida veio Caetano:

Sim, a arte é revolucionária. Por isso "destruir" a arte é a primeira medida de todo regime fascista, autoritário. Lembram do filme "Arquitetura da Destruição"? Já falamos sobre este filme, e o retomamos agora, numa resenha do Professor Flávio Ricardo Vassoler, 
 escritor, professor, psicanalista youtuber,  doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Literatura Russa  e criador da Universidade Virtual do Vassoler. Vale a pena seguir esse professor.

E chegamos ao acontecimento da semana, a condenação dos "líderes" da trama golpista, o primeiro deles, o inominável. E, entre tantos comentários sobre nosso resgate enquanto nação soberana, destacamos a figura da nossa ministra mineira Carmem Lúcia:

Que, em voto histórico, disse poema de Affonso Romano de Sant'Anna:

Que País É Este?

1

Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,
outra um regimento.

Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno "Avante"
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um "berço esplêndido" para um "futuro radioso"
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

(...)

2

Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.

Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,

semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,

vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,

senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma
Joaquim Silvério e derrama,

a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.

(...)


Publicado no livro Que país é este? e outros poemas (1980).



Escritor, cronista, ensaísta e jornalista  Affonso Romano de Sant'Anna teve papel fundamental na promoção da poesia popular e social e na modernização da Biblioteca Nacional. Nasceu em Belo Horizonte em 1937 e nos deixou a pouco tempo, ainda nesse ano. Sua obra "Que país é este" é um símbolo de mobilização popular e reflete a luta conta a opressão e a busca por identidade nacional.


E terminamos com a magnífica interpretação de Elis Regina de música do também grande Mineiro João Bosco com seu parceiro Aldir Blanc:


Viva Minas Gerais! E viva o Brasil!!!
E viva o S B C !
Bora, juntas e juntos, construir um país melhor, mais justo, mais distributivo... Com poesia...e com arte!


Obrigada a todas as pessoas que nos acompanham...
Santuza TU