sábado, 25 de novembro de 2023

Conversas SBCenses: FAÇA AMOR, NÃO FAÇA GUERRA

Make love, not war  - Faça amor, não guerra,  slogan pacifista associado com o movimento de contracultura da década de 1960. Este movimento refere-se a um fenômeno cultural  anti-establishment  que se desenvolveu primeiro nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, e depois se espalhou por grande parte do mundo ocidental, entre o início dos anos 1960 e meados dos anos 1970, sendo o foco das atividades da contracultura. O movimento ganhou impulso agregado, junto com o movimento dos direitos civis afro-americano que continuou a crescer, e se tornaram  revolucionários com a expansão da intervenção militar do governo dos EUA ao Vietnã.

"Enquanto a década de 1960 avançava, as tensões sociais generalizadas também se desenvolveram relativas a outros assuntos, e tendiam a fluir ao longo das linhas geracionais em relação à sexualidade humana, os direitos das mulheres,  os modos tradicionais das autoridades, a experimentação com drogas psicoativas, e interpretações divergentes do 'sonho americano'."

Nossa reunião começou com esse slogan: Faça amor não faça guerra. E o SBC é geracional: temos gente desse século e gente do século passado. E praticamos o que existe de melhor no humano: crescer uns com os outros. 

E temos velhinhas e velhinhos que viveram intensamente e adoram contar essa história da segunda metade do século passado. Também adoram serem chamadas de "velhinhas(os)"... "se acham" velhinhas(os) gostosas(os)!!! - e são...

Vamos à história:

Guerra do Vietnã também conhecida como Segunda Guerra da Indochina, chamada no Vietnã de Guerra de Resistência contra a América - no caso, contra EUA, ou simplesmente Guerra Americana, foi um grande conflito armado que aconteceu no Vietnã, Laos e Camboja de 1955 até à queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi oficialmente travada entre o Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul. O exército norte-vietnamita era apoiado pela União Soviética, China  e outros aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas  pelo. Neste cenário, o conflito no Vietnã é descrito como uma "guerra por procuração" no auge da guerra fria.
Guerra Fria, sacam? pós segunda guerra mundial, EUA X UNIÃO SOVIÉTICA,  
Capitalismo x Comunismo... e nós aqui na América 
do Sul, "aprendendo" (através dos meios de comunicação incipientes, TV principalmente)
 que "comunistas comiam criancinhas" - e a gente, crianças ainda, morríamos de medo dos 
"comunistas". 
A Europa perdendo a hegemonia no mundo ocidental, os EUA "crescendo" no capitalismo, no "American 
Way of Live", a indústria bélica se aprumando cada vez mais. E, para isso, era necessário  
"criar guerras". 

O governo do Vietnã do Norte e os Viet Congs estavam lutando para unificar o país. Eles viam o conflito como parte de uma guerra colonial e uma continuação direta da Primeira Guerra da Indochina, contra as forças da França e depois dos Estados Unidos. Já o governo americano lutava para evitar que o Vietnã do Sul se tornasse mais uma nação comunista. Isso fazia parte da chamada "teoria do dominó" -  usada pelos Estados Unidos para justificar a sua intervenção em países que estavam sob a ameaça do comunismo durante a Guerra Fria. A teoria dizia que se um país se tornasse comunista, os seus vizinhos também se tornariam, como se fossem peças de dominó que caem uma após a outra.

Essa guerra começou em 1955, mas em 1965 se expandiu rapidamente: unidades de combate americanas começaram a chegar em peso na região,  atingindo o Laos e o Camboja, que passaram a ser intensamente bombardeados pela a partir de 1968, o mesmo ano que os comunistas lançaram a grande Ofensiva do Tet. Esta ofensiva falhou no seu objetivo de derrubar o governo sul-vietnamita e iniciar uma revolução socialista por lá, mas é considerado o ponto de virada da guerra, já que a população americana passou a questionar se uma vitória militar seria possível, com o inimigo capaz de lançar grandes ataques mesmo após anos de derramamento de sangue. 

Informações distorcidas, mentiras, fake news, já eram comuns.

 

 “Na guerra, a verdade é a primeira vítima” foi dita pelo dramaturgo grego Ésquilo cerca de 500 anos a.C.

Havia uma grande disparidade entre o que a imprensa americana e o governo falavam, com os dados apresentados por ambos geralmente contrastando. Nos Estados Unidos e no Ocidente, a partir do final dos anos 60, começou um forte sentimento de oposição à guerra como parte de um grande movimento de contracultura

No começo dos anos 70, os EUA começaram a retirar suas tropas do Vietnã. O que se seguiu, em janeiro de 1973, foi a assinatura do Acordos de Paz de Paris, porém isso não significou o fim das hostilidades.

O envolvimento militar americano direto na Guerra do Vietnã foi encerrado formalmente em 15 de agosto de 1973. Não demorou muito tempo e na primavera de 1975, os norte-vietnamitas iniciaram uma grande ofensiva para anexar o Sul de uma vez por todas. Em abril de 1975, Saigon foi conquistada pelos comunistas, marcando o fim da guerra, com o Norte e o Sul do Vietnã sendo formalmente unificados no ano seguinte. 

O custo em vidas da guerra foi extremamente alto para todos os países envolvidos.  Para os EUA, a Guerra do Vietnã resultou numa das maiores confrontações armadas em que o país já se viu envolvido, e a derrota provocou a Síndrome o Vietnã" , causando profundos reflexos na sua cultura e na arte - na música, no cinema, etc.

Nessa guerra - como em todas, ou quase todas - também houveram golpes de estado e assassinatos: Analistas políticos em Washington concluíram que o presidente (do Sul) Ngo Dinh Diem era incapaz de derrotar os comunistas e até em conseguir algum acordo com Ho Chi Minh (o comunista, o poeta...  já falamos muito dele no nosso blog, vejam post de  . Ngo parecia preocupado apenas em evitar um golpe de estado contra si e seu governo. Durante o verão de 1963, autoridades norte-americanas começaram a discutir a possibilidade de uma mudança no regime. A maior das mudanças propostas pela política norte-americana era a remoção do poder do irmão mais novo do presidente Ngo chefe da polícia secreta do país e o homem por trás da repressão contra os monges budistas do Vietnã. Como conselheiro mais poderoso de Ngo Diem, seu irmão se tornou uma figura odiada no Vietnã do Sul e sua influência contínua era inaceitável para o governo Kennedy, que acabou eventualmente concluindo que o presidente não o substituiria. Assim, a CIA entrou em contato com os comandantes militares sul-vietnamitas que planejavam depor o presidente e lhes fez saber que os Estados Unidos não se oporiam à ação. Em 1 de novembro de 1963, Diem foi deposto e executado no dia seguinte junto com seu irmão, dentro de um blindado nas ruas de Saigon, a caminho do quartel-general do exército. 


Em seguida ao golpe, o caos se instalou no  Vietnã do Sul. O país entrou num período de grande instabilidade política, com governos militares sendo substituídos uns pelos outros em rápida sucessão.  aumentou mais ainda o número de militares no país, O governo Kennedy aumentou mais ainda o número de militares no país... e dizia de todos os esforços na pacificação e em "conquistar os corações  e mentes" da população.




John Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963, três semanas após Ngo Dinh Diem. Foi substituído pelo vice-presidente Lyndon Johnson, que reafirmou o apoio norte-americano ao Vietnã do Sul e aumentou a ajuda militar ao país para US$ 500 milhões no fim do ano.



Outra coisa em que se parecem todas as guerras - como os bombardeios realizados pelos EUA no Japão em 1945, primeiro momento na história em que armas nucleares foram usadas em guerra e contra alvos civis :  apesar de proscritas pelas Convenções de Genebra armas químicas foram fartamente usadas pelos EUA, durante a Guerra do Vietnã. A mais conhecida delas foi o napalm, uma mistura de gasolina com uma resina espessa da palmeira que lhe deu o nome e que, em combustão, gera temperaturas a 1 000 °C. Se adere à pele, queima músculos e funde os ossos, além de liberar monóxido de carbono, fazendo vítimas por asfixia.

                                  Foto de   Nick Ut

Além do napalm, o exército norte-americano despejou sobre o Vietnã, desde 1961 (com a aprovação do presidente John Kennedy) até 1971, cerca de 80 milhões de litros de herbicidas. Entre eles, o mais utilizado, devido à sua terrível eficácia, foi o agente laranja, que é uma combinação de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T, sendo que a síntese deste último gera um subproduto cancerígeno, a Dioxina tetraclorodibenzodioxina, considerada uma das substâncias mais perigosas do mundo.

O impacto ecológico do uso dessas armas químicas foi catastrófico para a cobertura vegetal e para a população que habitava a região. Até os dias de hoje a dioxina produzida pelo agente laranja continua biologicamente ativa. E, atualmente, as concentrações encontradas em várias regiões do Vietnã superam em 400 vezes o limiar de toxidade, conforme evidenciado pela Canada Hatfield ConsultantsA dioxina foi culpada pela alta incidência de doenças de pele, malformações genéticas, câncer, incapacidades mentais e outros problemas que afetam a população vietnamita (e ex-militares dos EUA). Milhares de crianças nasceram com problemas de pais que não foram expostos ao herbicida durante a guerra, mas que comeram alimentos contaminados por ele. A maioria das vítimas pertenciam à famílias mais pobres. Em 2005, a Associação Vietnamita do Agente Laranja moveu uma ação judicial contra as companhias químicas norte-americanas produtoras do Agente Laranja. Mas o juiz federal, Jack Weisntein, não acolheu a queixa, alegando que não havia, nos autos do processo, "nada que comprovasse que o Agente Laranja tenha causado as doenças a ele atribuídas, principalmente pela ausência de uma pesquisa em larga escala". Desse jeito... Daí perguntamos: A justiça está a serviço de quem?


E mais um pouco de história, agora a história da resistência, a reação contra a guerra e a contracultura: Uma das vertentes da contracultura foi o movimento hippie, iniciado na Califórnia, com "as crianças das flores" (flower children), quando gente jovem lançou o movimento "Paz e Amor" (Peace and Love), rejeitando o projeto da "Grande Sociedade" do presidente Lyndon Johnson. Data também dessa década de 1960 a afirmação do feminismo e o surgimento dos Panteras Negras (The Black Panthers) que, abandonando a não violência pregada por Martin Luther King Jr (assassinado em 1968), propunha o confronto aberto com a cultura racista do país.

O repúdio à guerra foi também um dos estopins da revolta que explodiu nas Cidades Universitárias, particularmente em Berkeley e na Universidade de Kent, em 1970,  onde vários jovens morreram num conflito com a Guarda Nacional. Passeatas e manifestações espalharam-se por todo o país, irradiando-se para outros continentes.

Enquanto o morticínio vitimou, massivamente, os "piolhos humanos" (assim eram chamados)  asiáticos, a opinião pública norte-americana apoiou a luta "em defesa da liberdade e da democracia". Mas quando uma quantidade cada vez maior de jovens americanos passou a retornar dentro de sacos fúnebres, a guerra foi se tornando antipática e os protestos cresceram. Ao lado disso, a divulgação de atrocidades praticadas pelos soldados americanos no Vietnã - bombardeios indiscriminados, uso de napalm e outros agentes químicos, instituição de Campos de Concentração (eufemisticamente chamados de "aldeias estratégicas") e massacre de civis, sobretudo camponeses (dentre os quais o de Mi Lay tornou-se emblemático): Assassinato em massa de civis Sul-vietnamitas desarmados por tropas dos Estados Unidos, considerado um crime de guerra dos EUA - em março de 1968 cerca de 504 civis sul-vietnamitas, sendo 182 mulheres (17 grávidas) e 173 crianças, foram executados por soldados do Exército dos EUA no maior massacre de civis cometido por tropas americanas durante a Guerra do Vietnã.


Tudo isso fez com que surgisse uma crescente rejeição à guerra, inserida no contexto maior do grande movimento da contracultura, que revolucionou a década de 1960, na maior parte do mundo ocidental.



O movimento hippie foi um comportamento coletivo de contracultura dos anos 1960.  A célebre máxima "paz e amor" (em inglês, "peace and love"), que precedeu a expressão "ban the bomb" ("proíbam a bomba"), a qual criticava o uso de armas nucleares. As questões ambientais, a prática de nudismo e a emancipação sexual eram ideias respeitadas e difundidas por estas comunidades.

O termo derivou da palavra em inglês hipster, que designava as pessoas nos Estados Unidos que se envolviam com a cultura negra, como Harry The Hipster Gibson. A eclosão do movimento foi antecedida pela chamada Geração Beat, os beatniks, uma leva de escritores e artistas que assumiram os comportamentos que viriam a ser copiados posteriormente pelos hippies. Com a palavra "beat", John Lennon, transformado em um dos principais porta-vozes pop do movimento hippie, criou o nome da sua banda -  The  Beatles

Optaram por um modo de vida comunitário, a um estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a natureza. Negavam as guerras e abraçavam aspectos de religiões orientais como o budismo e o hinduísmo,  e o Xamanismo indígena norte-americano. Estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana e das economias capitalistas. Enxergavam o patriarcalismo, o militarismo, o poder governamental, as corporações industriais, a massificação, o capitalismo, o autoritarismo  e os valores sociais tradicionais como parte de uma instituição única sem legitimidade.

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Aqui entre nós, cantávamos a versão da música italiana  C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, um single de Gianni Morandi, lançado em  1966. A letra em português foi escrita por Brancato Júnior, empresário da banda OS INCRÍVEIS, primeiro single da banda, lançado em julho de 1967. Em 1990 a banda Engenheiros do Hawaii regravou,  segunda faixa do disco "O Papa é POP". 


E nos perguntamos - e conversamos, nós, os velhinhos e velhinhas que viveram essa história que foi contada aqui, e os jovens que nos ouviram  com tanta atenção... e  estão|estamos vivendo, agora,  tamanha crueldade, tamanho cinismo, distorções da verdade... e tudo mais que envolveu recentemente - e ainda - a guerra Rússia x Ucrânia (leia-se EUA), e essa guerra cruel Palestina x Israel (leia-se EUA): 

- são bastante óbvias as semelhanças dessa guerra Israel x Palestina com a guerra do Vietnã, como podemos ver;

- o que aprendemos com essa breve história da segunda metade do século passado sobre guerras, imperialismo, dominação, hegemonia... essas coisas;

- como se tornará possível a emergência, como ouvimos muito atualmente, de um mundo multipolar, que poderá se opor à polarização do pós segunda guerra mundial, cujas consequências podemos avaliar como super danosas, como a corrida armamentista para a manutenção do poder, do domínio;

- como também podemos aprender com aquela|essa geração da segunda metade do século passado: sobre  visão de mundo; sobre consciência de classe, sobre luta, sobre conscientização do nosso poder, o poder das massas;

- como nos transformar de objetos - meros reprodutores do pensar, consumidos pelos sistemas de comunicação tradicionais - em sujeitos - pensantes, percebedores (e buscadores) de outras explicações e outras realidades possíveis - e sujeitos que agem - se juntam para a construção de um mundo mais justo?

Tantas perguntas... e terminamos com elas, possivelmente serão orientadoras para, talvez, nos apropriando da história, construirmos um jeito de pensar diferente do que nos é imposto...


E nossas conversas não terminam ... até a próxima...

Abraços esperançosos a todas as pessoas SBCenses









8 comentários:

  1. Presente uma velhinha, que vive novamente esta história e questionando sempre ...Realmente tornar a ouvir, contar, já nos deveria dar aquela sensação, que marchamos de costas agora e o Erethus vai se encurvar cada vez mais e encostar as "patas" dianteiras no chão. Regresso ao Neandertal. Ótimo texto Santuza. All you need and love!

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    1. Obrigada pelo comentário clau. Abraços carinhosos

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  2. Escrevi sobre o amor, digo sempre que só o amor salva. Tudo que li , vivenciei, construí, se não teve amor, ruiu. E não é só o amor romântico ou literário; é o político, também. O amor pelo outro, é o que salvará esse planeta.

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  3. Texto instigante, lembra o ontem, no século passado e o hoje bárbaro e estupendo das guerras atuai

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  4. Texto instigante do ontem, século passado e do hoje, com as guerras brutais, estúpida, que so tem um objetivo a ganância do poder sobre outros e o lucro exorbitante do capitalismo bélico!

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  5. Isso... obrigada pelo comentário

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  6. Santuza, que texto! Tenho cantado com meus alunos adolescentes, a música "Era um Garoto". A própria letra virou palco para discussões sobre as malditas guerras! Parabéns!

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