sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Nova homenagem: Gil - BRAGIL

Filme do Reino Unido, de 2018,  com o incrível Kenneth Branagh na direção no papel de Shakespeare e Judi Dench no papel da sua mulher, Anne Hathaway. Assim como os franceses, apreciamos também os filmes ingleses, tanto comédias quanto dramas, são muito inteligentes.

O filme se passa em 1613. Depois do desastroso incêndio no The Globe, teatro dirigido por ele, o célebre escritor William Shakespeare para de escrever e retorna para Stratford, sua cidade natal. A volta para seu ambiente familiar o remete a profundas reflexões sobre as relações familiares estabelecidas ao longo de sua vida. O dramaturgo relembra da morte de seu filho de apenas onze anos e questiona seus erros e acertos no desempenho do papel de pai e marido. Humano, demasiado humano...

E foi sobre este filme que começamos nossa conversa nessa semana:

Primeiro citando Papo de Cinema, que fez um  'resumo' bacana do filme:
"A Pura Verdade constitui um belo título para uma história marcada por tantos segredos espetaculares e revelações inesperadas que mal parece retirada da vida real do escritor inglês. “All Is True”, título original, faz referência a uma das peças de Shakespeare, porém entra em contraste com o verso “Nada é verdade”, escrito por ele mesmo em mais de uma obra. A narrativa começa a demonstrar um olhar crítico, um interesse genuíno pelo poder da palavra (seja ela dentro da arte, seja nas palavras proferidas por alguém para magoar ou seduzir), um olhar metalinguístico a respeito das ficções que as pessoas criam para si mesmas, e para o olhar dos outros".
Trata-se de análise sobre as relações humanas, comentou nossa SBCense: o filme, com ótimos diálogos, aborda o sentimento sobre a perda do filho, a tristeza das peças que não existirão mais, a saudade do teatro que pegou fogo, o receio das filhas difamadas na cidade, o ressentimento da esposa abandonada.
E as personagens femininas, a esposa e as duas filhas do grande autor inglês,  mostram o machismo daquela época... e tão atual. A esposa Anne enfim confessa ao marido a dor de ser analfabeta e, portanto, nunca ter lido as elogiadas obras do marido; a filha Judith despeja com ferocidade a raiva e ressentimento contra o pai machista. 
E o filme mostra, também, o esforço das personagens, tanto no sentido de se moldarem aos papéis esperados delas na época, pela sociedade, quanto o esforço para o questionamento e para se livrarem desses papéis e para "ser sujeitos da própria vida, da própria história, do próprio destino". Trata-se de uma construção humana, segundo reflexão do nossa SBCense.
E temos também, no filme, o homoerotismo entre Shakespeare e o personagem Earl de Southampton, interpretado pelo magnífico Ian McKellen. Este personagem tem direito a uma troca repleta de provocações com o escritor e culmina na impressionante cena em que um rei declama Shakespeare ao próprio Shakespeare, cena lindíssima.
Mas a cena mais impressionante para nós do SBC é a que, segundo nosso entendimento, fala sobre o movimento para a "sabedoria humanizada", que é o movimento Teoria, Afeto, Prática (TAP)... movimento diário de reflexão a partir de tudo que vemos e ouvimos, tudo que 'existe pronto', que não passa de uma elaboração a partir de dentro de si mesmx, dos afetos|reflexões de uma outra pessoa (um livro, um filme, uma fala, tudo...) e que, necessariamente, deve passar pelos meus afetos, por dentro de mim, me provocar reflexão... e algo na minha prática de vida, nas minhas relações, na minha visão do mundo (e|ou de mim mesmx) vai ser alterado... e, passando de novo pelos meus afetos, pelas minhas reflexões, eu 'elaboro' novas teorias, eu sou sujeito... e assim vai: teoria, afeto, prática, afeto, teoria, afeto, prática... trata-se de movimento para a vida toda, no sentido da "sabedoria que nos torna mais humanxs"... um "virar a chave", como elaboramos nas nossas conversas anteriores.
Nosso SBCense afetado com essa cena, que lhe provocou grandes reflexões sobre "virada de chave", teve o cuidado e o carinho de, praticamente, transcrevê-la para nós:
A cena começa no ponto 32,24 do filme. Shakespeare está no jardim, mexendo com as plantas, quando chega um jovem admirador seu. Ele nem consegue acabar a pergunta que gostaria de fazer e Shakespeare já começa a responder pensando ser a mais comum que lhe fazem: - A melhor maneira de ser um escritor é começar a escrever... Não tenho peça favorita... Admiro meus colegas igualmente... e creio que mulheres devem interpretar papéis femininos...
Aí o admirador diz: - eu só queria saber como você sabia? - De que? pergunta ele. - De tudo!
- Amigo, eu sequer sei como livrar as alceas das lesmas!

E o admirador: - Não há um canto deste mundo que não tenha explorado. Nenhuma geografia da alma que não saiba navegar... Como?
Shakespeare responde: - O que eu sei, se é que sei, e não estou dizendo que sim, eu imaginei!
O admirador: - Mas dizem que você saiu da escola com 14 anos e nunca viajou. Imaginou de onde?
- De mim! responde ele.
- De você???!!!
- SIM!!! Tudo o que fiz, tudo o que vi, todos os livros que li, todas as conversas que tive, incluindo (Deus me ajude) esta... Se quiser ser um escritor e falar aos outros ou pelos outros, fale primeiro por si. BUSQUE DENTRO! Considere o conteúdo de sua própria alma, sua compaixão. E, se for honesto consigo mesmo, então, o que quer que escreva, TUDO É VERDADE.
- Então... porque parou de escrever? questionou o admirador.
Shakespeare não soube responder e deu ADEUS ao moço. Provavelmente, - pensamos nós - ele estava exatamente nessa busca... pois ela é para a vida toda... 
E uma SBCense completou essa reflexão com uma lembrança de 'trocentos' anos anos atrás, do seu filho adolescente àquela época: - eu encontrei no lixo todo amassado um papel com um poema: "A verdade, que você quer saber, sempre esteve, dentro de você..." E esse "poema" foi, pra mim, uma 'virada de chave'. Pra ele eu não sei... ele cresceu, virou adulto e talvez tenha se 'enquadrado' aos papéis que, se por um lado o fizeram realizado, por outro o frustraram, disso eu sei... e sei, ainda, que até hoje ele não começou ainda a construir a resposta "quem sou eu", de uma forma mais livre dos papéis...

Imagina quantxs de nós, de todas as idades, vivemos este conflito e, quase sempre, o 'abafamos'...  ou mesmo durante a vida toda ... refletiu outro SBCense... 

Este movimento exige esforço, completou outrx SBCense... e quase sempre, também, estamos tão "ocupadxs" com o "desempenho" que não nos dedicamos a esse "trabalho" de "ser quem eu quero ser"...


Daí lembramos do grande SBCense... o homenageado: GILBERTO GIL...

Primeiro, a música DRÃO, um grande TAP  - o movimento Teoria, Afeto Prática que conversamos acima -, uma lindíssima ressignificação do AMOR... um movimento de 'sair' desse conceito de amor que aprendemos e internalizamos, o amor romântico, idealizado, que nos tiram nossa humanidade e a dx outrx,  e que nos causam tantos sofrimentos... e a construção, para a vida toda, do "AMOR QUE TEM QUE MORRER PARA GERMINAR..."


E então entramos no nosso tema: GIL E O CINEMA:



A história de Gil nos cinemas começou ao compor a trilha sonora do pouco lembrado “As Cariocas” (1966), adaptação dos contos do livro homônimo escrito por Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta dirigido pela dupla Fernando de Barros e Roberto Santos. Dois anos depois, ele trabalhou em “Balada de Página Três”, de Luiz Rosemberg Filho. Foi em 1970, o baiano reuniu nomes fundamentais da Tropicália como Gal Costa e Rogério Duprat para a trilha de “Copacabana, Mon Amour”, de Rogério Sganzerla.

Depois de “Copacabana, Mon Amour”, Gilberto Gil fez a trilha do documentário “Passe Livre” (1974) e voltou aos longas de ficção em “Terra dos Milagres” (1977), do mestre Nelson Pereira dos Santos. Para este trabalhou, o artista compôs a bela “Babá Alapalá”. Ainda trafegando pela música africana, ele compôs a trilha de “Quilombo” (1986), de Cacá Diegues, e voltou a firmar parceria com o diretor de “Rio 40 Graus” no projeto “Jubiabá”.


Para “Um Trem Pras Estrelas”, Cacá Diegues resolveu chamar novamente Gil para compor a trilha sonora. Na canção-tema do longa, o mestre da Tropicália contou com a colaboração de um gigante do Rock Brasil dos anos 1980, Cazuza. A música chegou a ser regravada pelo ex-líder do Barão Vermelho no disco Ideologia de 1988..

Com a crise do cinema brasileiro devido ao fim da Embrafilme na Era Collor, Gilberto Gil também deu um tempo na sétima arte. O retorno aconteceu 13 anos depois, ao trabalhar na trilha sonora de “Eu, Tu, Eles”. E para essa volta,  no filme de Andrucha Waddington, ele compôs a já clássica “Esperando na Janela”.


E terminamos nosso encontro com o segundo homenageado do dia: o grande SBCense RONALDO LEÓN, pessoa amiga e generosa que, por sua vez, homenageia seu grande ídolo, o Gil, com a música BraGil, letra de Júlio Costa Val, uma das classificadas na segunda eliminatória do 9º  @premiodemusicaminas que aconteceu em Divinópolis - MG no sábado dia 23 de julho. 


 O SBC aguarda essa grande final, dia 02 de setembro no TEATRO SESC PALLADIUM, em Belo Horizonte,  para torcer pro nosso querido León...

Agraços carinhosos a todas, todos e todes...




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