terça-feira, 6 de abril de 2021

DUAS CRÔNICAS

                  A CURA ou No tempo da pandemia

E as pessoas ficaram em casa
E leram livros e ouviram músicas

E descansaram

E fizeram exercícios
E fizeram arte

E jogaram
E aprenderam novas maneiras de ser
E pararam

E ouviram mais fundo

Alguém meditou
Alguém rezava
Alguém dançava
Alguém conheceu a sua própria sombra...

E as pessoas começaram a pensar de forma diferente.

E as pessoas se curaram.

E, na ausência de pessoas que viviam
de maneiras ignorantes,
Perigosas,
Sem sentido e sem coração,
Até a terra começou a curar...

E quando o perigo acabou
E as pessoas se encontraram
Elas ficaram tristes pelos mortos.

E fizeram novas escolhas
E sonharam com novas visões
E criaram novas maneiras de viver
E curaram completamente a terra
Assim como elas estavam curadas.

Viralizou nas redes que esse poema seria de 1869... de Kathleen O’Meara. Mas não... O texto é recente e a verdadeira autora é Catherine O’Meara, uma advogada americana. De qualquer maneira, é um poema para acalmar nossas almas.

E eu pensei que também pode ser um poema sobre um mundo melhor, sobre uma sociedade mais igualitária, mais fraterna, onde nossa riqueza seja COMUM a todas, todos e todes.

Estamos lutando pela construção desse mundo!!!

VAMOS!!!



Tempos sombrios... o que mais teremos que aprender, creio eu, será conviver com as perdas: perda de alegrias de bons encontros, perdas de pessoas queridas que se foram... ai...

No dia 31 de março ouvi numa live de mulheres, que era uma espécie de “levante” contra o “golpe” de 64 - que instaurou um governo autoritário e ditatorial no nosso país por 20 anos, até a ‘abertura democrática’ e a nossa CONSTITUIÇÃO DE 1988 - a seguinte frase, que me marcou profundamente:

“O oposto da vida não é a morte, é o MEDO”.

E, juntando o poema “A CURA”, que me emocionou muito, com essa frase, pensei em MORTE enquanto PERDAS, claro... porque cada perda é, simbolicamente, uma morte...

E, lembrando novamente de Hegel, na dialética senhor|escravo, ele diz que “aquele que treme diante da morte, vira escravo”. E morte, aqui, entendida no sentido simbólico:

. o medo da “morte|perda” dos privilégios de estar aliada ao dominador, como diz Simone de Beauvoir, faz a mulher se submeter, virar escrava... do homem... dos papéis a ela atribuídos pelo sistema opressor;

. o medo da “morte|perda” dos privilégios de ser o opressor, o senhor, no caso do homem, que o faz, também,  virar escravo, se submeter aos “padrões de ‘SER’ masculino”;

. o medo da “morte|perda” do(a) trabalhador(a) do seu sustento, que nos faz submeter às regras do capital;

E, na verdade, a “morte|perda” está sempre presente na nossa vida, desde que nascemos... o outro lado da moeda são as escolhas, a liberdade, a vida... diariamente estamos vivenciando mortes|perdas e fazendo o exercício da escolha – por morrer ou viver, simbolicamente - mesmo que não tenhamos consciência disso.

Li um artigo muito interessante de Luana Garcia de Oliveira, na Revista Labirinto de dezembro de 2010. Ela propõe uma análise sobre como o discurso da pulsão de vida transformou a sociedade e continua transformando. Considera que a pulsão de morte é um grande obstáculo para a vida em sociedade, pois o ser humano, por natureza, segundo Freud, possui ambas. No entanto, a partir do convívio social, a pulsão de vida é ativada, através das renúncias do instinto animal do indivíduo. A pulsão de Eros é ativada a partir do outro (o convívio social), e parte da energia destrutiva do indivíduo (Thanatos), tende a ser renunciada para que haja o convívio em sociedade, assim essa renúncia ocorre quando o indivíduo olha para o outro e se compara, e tende a querer ser mais, ou igual.

Sigmund Freud

Segundo Freud, o indivíduo possui a pulsão de vida e a pulsão de morte. A pulsão de vida, que vamos refletir em primeiro lugar,  faz com que o indivíduo sinta vontade de satisfazer suas vontades, buscar o prazer e satisfação da libido, no entanto, para o indivíduo que vive em sociedade, sua libido se concretiza através do instinto organizado. O instinto organizado é a consciência social implantada no indivíduo para viver coletivamente. Essa retórica, que castra o desejo do indivíduo, (o instinto organizado) era proferida na Idade Média por um líder (Estado e Igreja), na Modernidade pelas instituições.

                                                                    Michel Foucault
                                                                    Herbert Marcuse

Foucault, ao refletir sobre pulsão de vida, através da manutenção das instituições e a adestração do indivíduo, fala de ‘sociedade disciplinar’. E o filósofo Alemão Herbert Marcuse, da escola de Frankfurt, em seu livro ‘Eros e civilização’ (1966), classifica essa época da Sociedade disciplinar de Foucault como ‘O nascimento do indivíduo Reprimido’ e da ‘sociedade repressiva’. Ele caracteriza a sociedade reprimida como sendo uma sociedade que perdeu seus desejos, suas vontades, sua capacidade de indagar, e o indivíduo reprimido como coadjuvante desse modelo de sociedade. Ou seja,  Foucault descreve a sociedade disciplinar como manipuladora do corpo, Marcuse coloca a sociedade como repressora da libido (Eros), ou seja, a sociedade canaliza a energia do sexo para o trabalho, e o desejo e a libido para o consumo.

 

                                                                                    Gilles Deleuze

Deleuze (1990), fala de uma transição da sociedade disciplinar, para a sociedade de controle. Segundo ele, as instituições passam por uma reforma, por transformações discursivas na questão do adestramento e da vigilância dos sujeitos. “Trata-se apenas de gerir sua agonia e ocupar as pessoas, até a instalação de novas forças que se anunciam. São as sociedades de controle que estão substituindo a sociedade disciplinar”.

 


No livro “A revolução dos bichos”, de George Orwell (1946), existe uma passagem em que os animais do celeiro estavam se rebelando contra o líder da revolução, o porco Napoleão. Quando ocorre uma discussão entre eles, os bichos do celeiro começam a se rebelar contra as atitudes dos porcos, todavia, para cessar a manifestação dos bichos, os porcos colocam uma TV na frente deles, que jamais haviam visto tecnologia em sua frente. Os bichos param e ficam perplexos com tal maravilha moderna e se esquecem da revolução, tentando entender como funcionava a TV, a imagem, a voz. 

O mesmo aconteceu com a sociedade Ocidental após a segunda guerra mundial: em meio a tantas revoluções ideológicas, guerras, e revoltas, o capitalismo vem e traz coisas fascinantes e acessíveis para o mundo, e a sociedade assiste ao espetáculo da tecnologia, sem questionar como acontece.

A pulsão de vida, ao longo da transformação da sociedade nesse período (final da primeira metade do século XX), além de manter as instituições vivas, passa a ser também a necessidade da competição. A fábrica, além de produzir coisas, produziu também a política de mercado, a concorrência, a disputa de consumidor, e a competição entre as pessoas dentro da empresa.

                                                                    Gilles Lipovetsky

Gilles Lipovetsky, filósofo francês, autor da “A Era do Vazio”, analisa que, se há um boom no consumo, há o fenômeno denominado de Hiperconsumismo, hipoteticamente, diz ele, há um boom na competição, e com isso se a pulsão de vida, no indivíduo, não é bem sucedida, segundo Freud, ela é convertida para a pulsão de morte (Thánatos).

Na mitologia grega, Thanatos (Thánatos, uma palavra que vem do grego) era a personificação da morte. Freud (1921) se utiliza da história de Thanatos, na mitologia grega, para explicar a pulsão de morte no indivíduo. A pulsão de morte, à qual Freud se refere, é a morte simbólica, a morte social; Para, Freud, Thanatos (a pulsão de morte) é retraída pelo indivíduo, para que se obtenha prazer ao viver em sociedade, porém quando o indivíduo não é bem sucedido socialmente (me refiro a todos os gêneros sociais: social, econômico, familiar, etc.), ele tende a ser tomado pela pulsão de morte,  que corresponde à loucura, a pulsão da exclusão, a não aceitação social e cultural do indivíduo na sociedade, ou a morte em seu real significado, é assim a pulsão de desunião e destrutividade.

Então, vivenciar as “mortes|perdas” diárias e fazer o exercício de escolher a vida... é inerente ao ser humano. E, muitas vezes, não o fazemos muito bem. Quando, por exemplo, negamos as “mortes|perdas”, “o que muito se evita se convive”, como diria Guimarães Rosa, aí não sentimos e isso nos impede de voltarmos para a vida, porque é sempre um movimento dialético de superação, ao fazermos as escolhas estamos superando a morte e nos voltando para a vida – sem nos alienar, sem deixar de considerar, de vivenciar as “mortes|perdas”.



Num livro lindo de 1929, “Cartas a um jovem poeta”, de Rainer Marie Rilke, numa das cartas, fala sobre as tristezas: não devemos evitá-las quando elas nos ocorrem; devemos, sim, “conversar” com elas, elas nos dizem muito. Realizamos grandes descobertas quando penetramos nas nossas tristezas, descobertas importantes para a vida, até mesmo para o exercício diário de “escolher” a vida.

E, nesses tempos sombrios que estamos vivendo, as perdas são mais intensas, e o movimento para a vida torna-se também intenso, de escolhermos a vida a cada momento, sem negar as mortes, as perdas, sem deixar de vivenciá-las.

E aqui termino uma crônica. Se quiserem ler até aqui... é uma crônica que poderia se chamar “ESCOLHENDO A VIDA”.

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 Se quiserem continuar, leiam e reflitam sobre a difícil tarefa de exercer o EQUILÍBRIO ENTRE O DAR E RECEBER nas relações em geral... para o bem viver e bem relacionar:

Com as reflexões até aqui me lembrei de uma grande perda, que me ocorreu no final do ano passado, 2020, uma amiga|irmã, daquelas que a gente pratica o exercício mais fundamental do humano: crescer através do outro e se oferecer ao outro pra ele também crescer comigo: a Tânia... Foi com ela que aprendi uma das coisas mais preciosas na minha vida agora: a inclusão. Ela era agregadora, fazíamos ótimas viagens pelas cachoeiras de Minas; a Tânia “organizava” a turma, ficamos todxs grandes amigxs; meu filho e minha filha, naquela época em torno de dez e cinco anos, eram incluídos e adoravam aquelas viagens. E novxs amigxs eram incluídos a cada viagem. Ela tinha um gesto com a mão, assim com os dedos pra baixo e fazendo um círculo, dizia: “tá tudo articulado...” Viajávamos também só nós duas, eram longas conversas, sempre sobre relações humanas, e sempre o “encerramento” – provisório – da conversa era ela dizendo: é phoda...

É que eu estava mexendo nas minhas caixas de papéis, procurando algum texto antigo, tenho caixas de textos que estão amarelados pelo tempo... do tempo do “pergaminho”, como diz uma outra amiga querida. Devagar vou digitalizando uns, jogando fora outros que não têm mais sentido, transformando outros em reflexão e em crônicas como esta... e me deparei com um texto da Tania, dos anos 80: “O corpo-a-corpo do dar e receber”. Não consegui ler o texto, estava apagado! Mas me emocionei lembrando o que a Tânia elaborava sobre o dar e receber, principalmente no que diz respeito a relações íntimas, mas, já sabem, vale para todos os níveis de relação:

. O aprender a receber antecede o aprender a dar: o bebê que “não consegue, não tem força” para sugar o peito da mãe é um exemplo – o receber é ativo, ao contrário do que pensamos. A teoria sistêmica usa ainda a expressão “dar e tomar”, dando um caráter mais ativo para a pessoa que recebe. É necessário tomar o que é dado, de forma consciente, e não apenas receber de forma passiva o que é oferecido; 

. pessoas que se dão em demasia, desconfiem: pode ser para controlar, para ter ao seu redor outras pessoas submissas;

. pessoas que se dão pouco, gostam de receber, acham que o “mundo lhes deve”, são perigosas... muitas vezes sedutoras...;

. um equilíbrio entre o dar e o receber é fundamental para o bem viver: imagine uma pessoa bocão e peitinho; ou outra, peitão e boquinha!;

. reciprocidade – equilíbrio entre o dar e receber -  não se cobra, se escolhe ficar (ou não) com uma pessoa sem reciprocidade. Mas essas relações onde existe o desequilíbrio entre o dar e receber são sofridas, desgastantes... abusivas.

                                                                                    Bert Hellinger

E, para acrescentar o texto da Tânia, já que ele me falta, recorri à teoria sistêmica, especialmente a “Constelação Sistêmica Familiar” de Bert Hellinger. Sabendo que, nos anos 80, época do texto da Tânia, já tínhamos (Tânia e eu),de alguma forma, “superado” essa teoria, pois já naquela época procurávamos entender e praticar as teorias numa perspectiva antropológica-cultural, considerando o ser humano (e as teorias) num contexto bio-psico-social, além de histórico, econômico, político e ideológico. Qualquer teoria vista e praticada, se excluirmos essa análise, corre o risco de se transformar numa prática alienada e reacionária, a serviço do conservadorismo.

Mas vale a pena rever “As Leis Sistêmicas”, chamadas por Hellinger de “Ordens do Amor”, que, segundo ele,  exercem papel fundamental no equilíbrio e manutenção do sistema familiar. Essas ordens são compostas por três leis: Hierarquia, Pertencimento e Equilíbrio de troca. A Lei do Dar e Receber, também chamada de Lei do Equilíbrio de Troca, foi observada nos grupos sociais pelo autor, como algo de fundamental importância para o funcionamento e manutenção dos sistemas de uma forma geral. Uma relação equilibrada, quando ambas as pessoas compartilham, dando e recebendo aquilo que cada um é capaz, é uma relação que promove o amadurecimento, a liberdade e o bem-estar.

Os textos sobre constelações familiares, em geral, primeiro falam sobre a relação com os pais e o sentimento de “gratidão” a ser desenvolvido pelos filhos para essa busca do equilíbrio:

Os filhos só poderão caminhar com equilíbrio e força na vida se aceitarem o fato de que receberam mais dos pais e de seus antepassados por terem lhes transmitido a vida”.

“Ter gratidão pela vida é reconhecer, antes de tudo, que ela chegou a nós por intermédio dos nossos pais e antes deles pelos pais deles e, assim, sucessivamente, independentemente de como eles fizeram ou deixaram de fazer”.

Outra relação abordada é a relação de casal e família, homem, mulher e filhos: a descrição é, sempre, bastante conservadora, não vejo nos textos uma abordagem alternativa de família, tampouco vejo a questão de gênero, no sentido de diferenças culturais fundamentais nas relações citadas.

                                                                                    Friedrich Engels
 

Uma pergunta que podemos fazer: de qual família eles  (Hellinger e seguidores) falam? parece que é da "família margarina", "até que a morte os separe", "in-felizes para sempre". Sabemos sobre a instituição família, para que (e a quem) ela serve, desde anos 80 (não do século passado, mas do século retrasado!), especificamente 1884: "A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", de Engels. E conversávamos sobre isso nos anos 80 do século passado, Tânia, Gaiarsa, eu e outrxs amigxs psicólogos, confiram no nosso post de 1.março.21: "Conversas SBCenses sobre família e outras relações". Em resumo, precisamos parar de "mitificar" - super valorizar - este nível de relação (família), valorizar na medida certa! E aprender a valorizar outros níveis de relações importantíssimos para o "bem viver", as relações de amizade,  nós costumamos nem aprender a valorizar estas relações!

“Entre casais cuja dinâmica compromete a Lei do Dar e Receber, um dá mais ao outro do que ele ou ela possam retribuir, prejudicando assim, o equilíbrio de troca. Nesse caso quem deu demais, sente-se no direito de cobrar e quem recebeu demais, sente-se na dívida e tem dificuldade de permanecer na relação. Muitas vezes, num relacionamento afetivo quem deve e não consegue pagar, acaba indo embora. Isso diz respeito a tudo que se possa dar ou receber: carinho, cuidado, dinheiro, atenção, compreensão, tempo, proteção, tolerância, etc. Quem deu em excesso também é responsável por sua atitude, pois ao dar demais acabou desrespeitando o outro na sua dignidade”.

Lembro-me com tamanha lucidez, pois que repercute em toda minha vida, anos 80, Tânia e eu conversando sobre gêneros e nossa cultura, (feminina e masculina) enraizada, cravada a ferro e fogo no nosso espírito, liamos Nietzsche: “A cultura é nossa segunda natureza, nossa segunda pele”. Conversávamos sobre a “matriz feminina” do “dar”, do “amor incondicional”, do “ter que ser perfeita para ser amada”, e por aí vai essa construção. Assim como ouvimos, de um colega: “A gente que é homem aprende que trocas de afeto é só receber”, o pleno reconhecimento das diferenças culturais no “dar e receber”. Outrx amigx falava da “síndrome do salvador”, que dá mais do que seria necessário ou é solicitado; e, ainda, da “síndrome do vitimismo”, que está sempre se considerando que deva receber, pois “o mundo lhe deve”; e, por último, não esgotando, outrx amigx que dizia: na reciprocidade não existe espaço para cobrança, pois o que estou dando ao outro estou, ao mesmo tempo, dando a mim mesmx”. E por aí iam nossas reflexões...

E não vejo estes aspectos (gênero, cultura, história, economia, ideologia) sendo abordados pelos psicólogos hellingerianos!!!

É, também, triste constatar a abordagem dos hellingerianos à questão do “equilíbrio no dar e receber” nas relações de trabalho:

Na relação entre empresa e colaborador, a primeira oferece um salário e condições de trabalho compatíveis com as necessidades do segundo. O colaborador, por sua vez, reconhece aquilo que lhe é oferecido e retribui com seu esforço colocando suas competências e habilidades a serviço da empresa que o contratou. O resultado dessa troca equilibrada traz realização e sucesso para ambas as partes.

O contrário, porém, uma relação na qual as partes não cumprem com seus deveres e responsabilidades ou quando uma das partes acaba dando muito mais do que a outra possa retribuir, gera conflitos na relação. Essa relação desequilibrada poderá evoluir para o término da relação de trabalho. Assim, temos as seguintes situações:

1. A empresa deu mais ao colaborador do que ele poderia retribuir. A consequência é que uma vez cobrado e não podendo retribuir, o colaborador se sentirá na dívida para com a empresa.

2. O colaborador deu mais a empresa do que ela poderia retribuir. A consequência é que o colaborador se sentirá desvalorizado e com maiores direitos do que a empresa.

Em ambas as situações o desequilíbrio estará instalado e a demissão será inequívoca”.

Então, voltando às nossas conversas, qualquer ‘teoria’ fora de uma perspectiva antropológica cultural, histórica, social, corre o risco de estar se prestando à reprodução de um modelo dado, que pode estar “invisível”, o modelo capitalista, que ‘penetra’ na nossa forma de “ver” o mundo, de pensar, sentir e agir. E, ao contrário, precisamos pensar|construir outros modelos possíveis, onde inclusive existam mais possibilidades de trocas mais profícuas entre nós, em todos os níveis de relação, desde íntimas até as de trabalho e as de cidadania.

Pensar em como anda o equilíbrio das ações em nossas relações, em todos os níveis (íntimas, pessoais, sociais, públicas), ou seja, desde a menos relação (a dois) até “eu enquanto cidadã(ão)” vem a ser um exercício bastante profícuo para a vida... porém, sempre dentro do contexto político, econômico, social, de gênero, e todas essas variáveis? 

E termino prestando uma homenagem a Tânia, a quem sou extremamente grata pelas trocas:

“Não chore à beira do meu túmulo, eu não estou lá. Estou no soprar dos ventos, nas tempestades de verão e nos chuviscos suaves da primavera. Não chore à beira do meu túmulo, eu não estou lá. Estou no brilho das estrelas e no cantar alegre dos pássaros. Não chore à beira do meu túmulo, eu não estou lá, eu não parti”. (Mary Elizabeth Frye)

 Tânia, presente!!!

 



10 comentários:

  1. Gostei do seu texto. Mas não sei se entendi bem no final da sua reflexão sobre equilíbrio em dar e receber referente a família. entendo que a família são nossas raízes e o que não resolvido carregamos como travas para nossa vida. Vezes não fazem sua função de nos apoiar ou ser o que queremos dentro da família " margarina". Mas no que entendo da Constelação é que cada um tem responsabilidade da sua vida, enquanto adulto, e se não amo minha família, por causas destintas devo horar pela vida, " não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim" Jean Paul Sartre. Ou ainda só sou a pessoa que sou pelo o que vivi. Quanto o equilíbrio em dar e receber na relação trabalho. O que eu entendi pelo seu texto é que as teorias de hellinger sustentam e reforçam o capitalismo. E aí estou pensando algo levantado ao seu texto, quando será proporcional o operário receber ao nível de seu trabalho no capital? Talvez não sejam as teorias de hellinger que reforçam o capital. Mas que o equilíbrio entre o dar e receber não se aplica ao capital. To pensando.

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    1. Que ótimo que o texto suscitou sua reflexão! Gosto muito da Frida Khalo que diz: "não quero que pense igual a mim, quero que pense!" E é justamente esse o objetivo da minha escrita, promover debates sobre o mundo em que vivemos, as relações humanas, as superações de modelos e padrões que geram sofrimentos, enfim, debatermos e construirmos novas formas de "bem viver".
      Eu penso que a família, este nível de relação, é supervalorizado na nossa cultura, em detrimento de outros níveis muito valiosos para o bem viver. E penso que todos os níveis de relação são igualmente importantes, a supervalorização da família tem um propósito na nossa sociedade. Grande abraço, conversaremos pessoalmente qdo der... SantuzaTU

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  2. Bela lembrança e homenagem a nossa amiga Tânia. Estará sempre presente entre nós pelo afeto. TANIA PRESENTE!

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  3. Parabéns Santuza...Excelente edição de texto...Profundas reflexões para se pensar neste complicado momento.Grande Abraço!!!

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  4. Obrigado por compartilhar, excelente reflexão.

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