quarta-feira, 28 de abril de 2021

Conversas SBCenses: sobre ARTE e POLÍTICA



Frase atribuída a Ferreira Gullar, pseudônimo de José de Ribamar Ferreira (1930-2016), poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Abriu caminho para a "Poesia Concreta" com o livro "A Luta Corporal". Organizou e liderou o movimento literário "Neoconcreto".



Mas temos, também, outras frases inspiradoras de grandes SBCenses:







A ARTE é transformadora, a ARTE é revolucionária, a ARTE é libertadora!!!
O que seria de nós sem a ARTE, ainda mais em tempos difíceis como este que estamos vivendo... 

Coisas que jamais você faria, se não fosse esses tempos, todos me contam que têm... no meu caso, tenho um sobre armário com umas caixas de papelão com textos, livros em xerox, já amarelados pelo tempo,  como diz uma amiga, arquivos  do tempo do pergaminho (do grego pergaméne e do latim pergamina): é uma pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para nela se escrever. 
Pois não é que, vira e mexe, subo e tiro uma dessas caixas? e, com ela, começo a explorar minhas lembranças, me surpreender comigo mesma, com os textos ou trechos de livros que mudaram minha vida... assim como ler com um novo olhar, 30, 40 anos depois de já ter crescido com o texto ou livro, aproveitar para crescer de novo, e de novo, e de novo...

E me reencontrei com Ho chi Minh...

Ho chi Minh (Kiem Lan, 1890 – Hanói, 1969) foi um revolucionário, político, escritor, poeta e jornalista vietnamita. Também conhecido por seu nome de batismo Nguyễn Sinh Cung e pelo pseudônimo Nguyen Ai Quoc, Ho foi um dos principais responsáveis pela libertação do Vietnã do colonialismo francês e imperialismo norte-americano durante o século XX.

Ho chi Minh significa "aquele que ilumina". De uma sensibilidade rara, uma esperança inquebrantável, uma simplicidade absoluta, quase sempre se apresentava vestido com aquelas calças largas amarradas na cintura e sandálias de couro (como as nordestinas). Também de uma ironia e humor finos: Quando saiu da prisão, um jornalista lhe perguntou sobre a passagem do tempo, e ele respondeu que, na prisão, qualquer tempo é enorme! Outro lhe perguntou como   conseguia escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana? E ele respondeu: «Eu desvalorizei as paredes».

Já o tinha resgatado em 9 de dezembro de 2016 (veja nosso post desta data), portanto já neste século (rsrs), por ocasião de minha ansiedade com o lançamento do nosso  livro "Diário do SBC". Então, a sua lembrança me trouxe serenidade, pois ele dizia que, quando queremos muito alguma coisa, é preciso andar bem devagar... para "dar certo" o que queremos. 

Estava mesmo em "pergaminho" o xerox do livro "Diário de Prisão"... e foi nosso assunto no fim de semana, regado a cerveja e feijoada. Na crônica de 2016 eu disse que ele escrevia poemas estilo HAICAI, que são pequenos poemas de origem japonesa. Errei... Os poemas de Ho chi Minh são poemas TANG, também pequenos poemas, porém, a origem do nome TANG é da Dinastia Tang (618-915)  considerada o auge da cultura clássica chinesa. Foram aproximadamente 300 anos de uma sociedade caracterizada por uma vida urbana intelectual e esteticamente sofisticada. Então, não são Haicai... são Tang... mas "parece".

Antes de lermos os poemas, lemos a Introdução e o Prefácio do livro, escritos por um americano e um Vietnamita, que nos contam um pouco da história de vida desse grande comunista, um dos mais importantes da história contemporânea. E nossas principais descobertas:

A FUNÇÃO DA ARTE E DA POESIA

A RELAÇÃO DA ARTE COM A POLÍTICA

Função da poesia: conseguir enxergar beleza e  vida, mesmo diante de situações trágicas, de muito sofrimento

Política e poesia: dizer a verdade, com inteligência e sensibilidade, é tarefa e competência de grandes estadistas... E Ho chi Minh foi, sem dúvida, um grande estadista... e um grande poeta. Para ele, a visão do sofrimento invoca ação e expressão poética. 

Em Ho chi Minh inteligência e sensibilidade são uma só coisa. Aprendamos com ele, pois somos, todas, todos e todes, poetas e políticos.

Estes são alguns poemas TANG de Ho chi Minh, com seus ensinamentos singelos (e profundos) sobre si mesmx, sobre emoções, sobre a vida e as relações:


"A rosa se abre à tardinha, e então desaparece.

O seu abrir e o seu fechar continua por todos desapercebidos,

Mas a fragrância da rosa exala até às profundezas da prisão,

Dizendo aos lá encarcerados da injustiça e sofrimento".


INFORMAÇÃO A SI MESMO

Sem o frio e a desolação do inverno,

Não haveria a ternura e o esplendor da primavera.

As calamidades me temperaram e enrijeceram,

Transformando minha mente em aço.


É PROIBIDO FUMAR
Fumar aqui é totalmente proibido!
Seu fumo vai todo ele para o bolso do carcereiro.
Ele, claro, coloca-o no seu cachimbo - e para isso tem toda a noite,
Mas se você tentar fazer o mesmo,
há um par de algemas à sua espera.


VISITA A SEU MARIDO NA PRISÃO
O marido está no outro lado das grades
A mulher está fora, e olha para ele.
Estão próximos um do outro, separados por centímetros,
E, ainda assim, tão distantes, como o céu e o fundo do mar.
O que as palavras não dizem, seus olhos descrevem.
A cada palavra seus olhos marejam de lágrimas.
Quem pode observar impassível e indiferente esse encontro?

PARA SORRIR
O Estado se alimenta com arroz: habito seus palácios;
Seus guardas se revezam para me fazer companhia.
Suas montanhas e seus rios, eu os contemplo a vontade,
Com tais privilégios, um homem se sente realmente um homem!

TRISTEZA
O mundo inteiro queima com as chamas da guerra
E os homens competem para ver quem chegará primeiro na frente de batalha.
Na prisão, a inércia esmaga o preso.
Minhas nobres aspirações valem menos que um vintém!

MEIA NOITE
Todos os rostos parecem honestos durante o sono.
Só quando acordamos parecemos bons ou ruins.
Bem e mal não chegam pelo nascimento:
No mais comum das vezes, vem de nossa educação.

LENDO UMA "ANTOLOGIA DE MIL POETAS"
Os antigos costumavam cantar a beleza natural:
Neve e flores, lua e vento, névoa, montanhas e rios.
Hoje devemos fazer poemas  falando também de ferro e aço,
E o poeta também deve saber comandar e atacar.


E, terminando leitura do "pergaminho", feijoada e cerva, antes do cochilo, fiquei "arrogante" : me arroguei, inspirada na singeleza, ao direito de, também, fazer um TANG. Recomendo... é uma delícia!

  Verdades provisórias

Vejo da janela do quarto...

A lua está crescente... quase cheia  

Dizem que lua cheia é a lua da loba 

Eu me vejo loba em todas as luas. 

E  de todas as luas me vejo Lilith...   Libertária.  Lunática.  Enluarada.

24/4 18:07 - SantuzaTU


Terminando com o convite: Façam seus TANGs! e nos mandem

Publicaremos aqui no blog, no Projeto ARTES NA PANDEMIA.











8 comentários:

  1. Muito boa a sua crônica, Santuza! Que a sensibilidade, esperança e perseverança de Ho Chi Minh nos inspire num momento tão difícil como este. Uma das lições, que esse grande líder revolucionário nos deixou, foi que jamais conseguirão aprisionar nossos sonhos de liberdade.

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    1. SIIIMMM!!! NUNCA!!!
      obrigada Juraci... sigamos...
      SantuzaTU

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