terça-feira, 16 de março de 2021

ARTES NA PANDEMIA: Juraci Bergamini

 

Desde o dia em que eu te vi, Juraci,

Desde então só tive alegria...

Meu coração ficou daquele jeito,

Dando pinote dentro do meu peito

Não poderia perder a oportunidade... de fazer uma "repaginada" na música...

Lembram dessa música? Juraci, de  Roberto Silva, conhecido como "O Príncipe do samba", deve ter sido gravada pelo autor da mesma lá pela década de 50 ou 60, foi regravada bem mais tarde pelo Caetano Veloso... e eu ouvia na casa da minha tia, no LP (bolacha) "As Melhores Mulheres", eu adorava esse disco, ouvia o dia inteiro quando vinha passar as férias em Belo Horizonte, eu ainda era criança e morava em Salinas.

Essa "Introdução" para apresentar nosso mais novo SBCense (de carteirinha, daquelas com carimbo "Gente que não presta..." , Juraci Bergamini, que manda para publicação um "poemeto" (como diz ele...) sobre a queda do viaduto da Avenida Pedro I, lembram? época da Copa do Mundo no Brasil, tudo tinha que ser feito às pressas...

O "poemeto" está em vídeo e em texto. Muito bom... uma importante reflexão sobre o mundo atual...

Obrigada Juraci...




NÃO FOI POR ENGANO, ou Aos Inocentes da Avenida Pedro I

(Escrito três dias depois da queda do viaduto da Avenida Dom Pedro I, em Belo Horizonte)

 

"Acidentes acontecem, diz o prefeito.
Acidentes acontecem, diz o engenheiro.
Acidentes são inevitáveis, diz o mestre de obras.
Acidentes são coisas do dia a dia, diz o motorista.
Mas...ela...ela não pode dizer mais coisa alguma.
Sua voz calou-se para sempre nas profundezas do concreto armado.
Esse não foi por engano.
Enganados somos todos nós.
Enganados são aqueles que acreditam que tudo pode ainda ser diferente; que haverá tempo para recuperar-se das dores sofridas em acidentes fortuitos e inevitáveis (inevitáveis?!).
Acidentes acontecem, dizem os que observam de cima
E podem conduzir os destinos à sua escolha e para sua pessoal satisfação.
Amanhã, ninguém se lembrará dos inocentes que se perderam na busca de um caminho.
Apenas um caminho, num trecho de via pública, de uma res pública que solenemente os ignora, pois é preciso transportar a cidade.
E a cidade se transporta através de suas veias e o sangue derramado em acidentes fortuitos
é o estritamente necessário.
A hemorragia será contida sempre e a cidade, em pouco tempo, passará indiferente pelas marcas indeléveis que restaram escondidas por entre os escombros.
E por suas artérias continuará circulando o mesmo sangue, levando os mesmos materiais indispensáveis à continuidade.
No balanço de perdas e danos, ainda se observará que os lucros são bastante razoáveis.
Apesar de tudo, apesar das lágrimas vertidas, dir-se-á que a vida continua e que tudo, tudo mesmo, ainda vale a pena."

(Juraci Bergamini- 06/07/2014)


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