terça-feira, 2 de abril de 2013

Quem não for louco que atire a primeira pedra!!!

Quem não for louco que atire a primeira pedra!!! Uai, mas atirar pedra é coisa de louco!!! contradição... Só prá dizer que todos somos loucos...Como saiu no face: “Não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”. Loucos são os “espíritos livres”, humanos, demasiado humanos... No SBC só tem gente doida! Tem alguém do SBC que não é doido? Acho que não fica no SBC, não suportaria... Esse trololó todo é prá fazer uma homenagem, como sugeriu o SBCense Filipe Roger (que incluiu Oscar Wilde na Galeria SBCense)  a um super louco, mais um SBCence famoso na nossa galeria... QUEM???

Nada mais nada menos que o maior filósofo do século passado (na minha modesta opinião), Nietzche.  “Ingênuo é quem acredita na própria esperteza”... bom demais, Fil!!! Tem essa também: “Ingrato é quem não se rende aos seus/meus favores”... profundo... reflexão: quando chamamos alguém de ingrato, vejamos se seria porque queríamos a sua submissão e não a tivemos, esse alguém exerceu sua liberdade ... sacaram? Poucos de nós sacamos as conseqüências danosas nas nossas relações da reprodução de um modelo relacional autoritário/submisso, senhor/escravo, quase sempre encoberto por uma moral cristã, tipo “do bem”, purista. Nietzche revela esses “avessos” de uma forma “dura”, penso que essa característica seja uma das causas da sua má compreensão, até de distorções das suas falas.  Mas vamos a uma breve história:


Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na Alemanha. Foi um aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, e aos 25 anos é nomeado professor de Filologia na universidade de Basiléia. Durante dez anos desenvolveu a sua filosofia em contacto com o pensamento grego antigo. Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar de ser professor. 

Sua voz ficou inaudível. Começou uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento. Em 1882, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra. Nietzsche não pára de escrever num ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 1889 com uma "crise de loucura" que, durou até a sua morte, colocando-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. Estudos recentes atribuem a sua morte um cancro do cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Sua irmã falseou seus escritos para apoiar uma causa anti-semita. Falácia, tendo em vista a repulsa de Nietzsche ao anti-semitismo em seus escritos. O sucesso de Nietzsche, entretanto, veio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888. Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença). Morreu em 1900, com 55 anos.

Então, depois da breve história, faço a minha leitura/apresentação da pessoa a vocês, lembrando que para conhecer e fazer a sua interpretação é sempre necessário ir à fonte, ler a própria pessoa e tirar as suas conclusões (provisórias), dialogar e... crescer, filosofar... (e aproveitar de tudo para a ação: viver melhor, relacionar melhor).

Nietzche enriqueceu a filosofia moderna com meios de expressão: o aforismo (vem a ser um ditado, um provérbio, uma afirmação em poucas palavras, como as de Oscar Wilde e da Marilyn) e o poema. Isso trouxe como conseqüência uma nova concepção da filosofia e do filósofo: não se trata mais de procurar o ideal de um conhecimento verdadeiro, mas sim de interpretar e avaliar. A interpretação procuraria fixar o sentido de um fenômeno, sempre parcial e fragmentário; a avaliação tentaria determinar o valor hierárquico desses sentidos, totalizando os fragmentos, sem, no entanto, atenuar ou suprimir a pluralidade. Em outras palavras, o filósofo contemporâneo reúne as competências do artista e do médico. O médico que considera os fenômenos como sintomas e fala por aforismos; e o avaliador que seria o artista, que considera a cria perspectivas, falando pelo poema.

Para Nietzche entre os pré-socráticos (mais de 300 anos antes de Cristo!) existia unidade entre o pensamento e a vida, esta “estimulando” o pensamento, e o pensamento “afirmando” a vida. Mas o desenvolvimento da filosofia teria trazido consigo a progressiva degeneração dessa característica, e, em lugar de uma vida ativa e de um pensamento afirmativo, a filosofia ter-se-ia proposto como tarefa “julgar a vida”, opondo a ela valores pretensamente superiores, medindo-a por eles, impondo-lhe limites, condenando-a. Em lugar do filósofo crítico de todos os valores estabelecidos e criador de novos, surgiu o filósofo metafísico. Essa degeneração, afirma Nietzche, apareceu claramente com Sócrates, que “inventou” a metafísica, diz Nietzche, fazendo da vida aquilo que deve ser julgado, medido, limitado, em nome de valores “superiores” como o Divino, o Verdadeiro, o Belo, o Bom. Balelas... Nietzche combateu a metafísica. Para ele o homem está destinado à multiplicidade, e a única coisa permitida é sua interpretação.

A crítica nietzschiana à metafísica tem um sentido ontológico e um sentido moral: o combate à teoria das idéias socrático-platônicas é, ao mesmo tempo, uma luta acirrada contra o cristianismo. E “A Genealogia da Moral”, onde ele faz essa crítica, é o seu melhor livro, em minha opinião.

Nietzche propôs a si mesmo a tarefa de recuperar a vida e transmutar todos os valores do cristianismo. Ele recupera, por exemplo, um significado esquecido da palavra “bom”. Em latim, bonus  significa também o “guerreiro”, significado este que foi sepultado pelo cristianismo. Outros significados precisam ser recuperados e com isso se poderia constituir uma genealogia da moral que explicaria as etapas das noções de “bem” e de “mal”. Para Nietzche essas etapas são o ressentimento (“é tua culpa se sou fraco e infeliz”); a consciência da culpa (momento em que as formas negativas se interiorizam, dizem-se culpadas e voltam-se contra si mesmos); e o ideal ascético (momento de sublimação do sofrimento e de negação da vida). A partir daí a vontade de potência torna-se vontade de nada e a vida transforma-se em fraqueza e mutilação, triunfando o negativo e a reação contra a ação.

Quando esse niilismo triunfa a vontade de potência deixa de querer significar “criar” para querer dizer “dominar”; essa é a mentira como o escravo a concebe. Assim, na fórmula “tu és mau, logo eu sou bom”, Nietzche vê o triunfo da moral dos fracos que negam a vida, que negam a “afirmação”; neles tudo é invertido: os fracos passam a se chamar fortes, a baixeza transforma-se em nobreza. Impotência vira bondade, baixeza se chama humildade, submissão forçada vira obediência. A covardia, que está sempre à porta do fraco, toma aqui um nome muito sonoro e chama-se “paciência”. Não se poder vingar chama-se “não querer vingar-se” e às vezes se chama “perdão das ofensas”.

Entenderam? Pensaram isso na vida? Prá mim Nietzche ensinou muitas coisas prá vida, dentre elas o medo que tenho de gente boa, que não tem raiva de nada, os puristas. Também me ensinou a pensar bem quando alguém me chama de egoísta, geralmente as pessoas mais próximas: não estaria essa pessoa justamente querendo me puxar o tapete, me submeter, me tirar do meu rumo que talvez não esteja sendo interessante prá ela?

Agora, quando li pela primeira vez a Genealogia da Moral, me dei ao luxo de fazer uma reinterpretação do prefácio. Quando o prefácio de um livro é bem escrito você já encontra no mesmo a pergunta, a perplexidade, a interrogação do autor, ou seja, o que o levou a escrevê-lo e como. Ele conta que desde que se conhece por gente já se perguntava sobre a origem, de onde vem isso que aprendemos sobre “bem” e “mal”. E aí fui lendo cada parágrafo e percebi que cada um deles poderia ser reinterpretado como ETAPAS PARA O CONHECIMENTO E O AUTO CONHECIMENTO, serve prá vida, tudo... aí está:

1. DESCONHECEMO-NOS: É claro: pois se nunca nos procuramos, como havíamo-nos de nos encontrar? Mas assim como uma pessoa distraída acorda sobressaltado, quando o despertador dá a hora, assim nós, depois dos acontecimentos, perguntamos entre admirados e surpresos : “O que há? O que somos nós?’ é que somos fatalmente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, “não há ninguém que não seja estranho a si mesmo”; nem a respeito de nós mesmos “procuramos o conhecimento”.

2. AUTO-ENGANO E ACASO: a segurança de que (as minhas idéias) não nasceram ao acaso, esporadicamente, mas que brotaram de um tronco comum, de uma fundamental vontade de conhecimento. É este o único modo de pensar digno de um filósofo. Não temos direito a viver isolados. Não nos é permitido enganar-nos nem encontrar a verdade por acaso. Antes, assim como é necessário que uma árvore dê frutos, assim nós frutificamos idéias.

3. CALAR PERGUNTAS:  ... a minha curiosidade e as minhas suspeitas sobre a origem das nossas idéias do bem e do mal ... Encontrei várias respostas: especializei o meu problema; a pouco e pouco as respostas foram-se transformando em novas perguntas,  até que, por fim, conquistei uma região própria, todo um mundo ignorado em, plena florescência e crescimento, semelhante a um secreto jardim cuja existência ninguém suspeitara ... Felizes somos os que procuramos o conhecimento, quando o sabemos calar por algum tempo! ...

4. O VALOR DA CONTRADIÇÃO: O estímulo que me moveu a publicar meu livro foi a leitura de um outro... de hipóteses genealógicas “invertidas”. Este livro atraiu-me com aquela força que possui tudo quanto nos contradiz, tudo o que nos é antípoda.  Talvez nunca tivesse lido coisa que despertasse a minha contradição com tanta energia, frase por frase, tese por tese, sem amarguras, sem impaciência. Na obra já mencionada, e que então eu estava preparando, aludo às teses deste livro, não para refutá-las - porque, que tenho eu que ver com as refutações? - senão, o que convém a um espírito positivo, para substituir o verossímil pelo inverossímil, e talvez um erro por outro erro.

5. CRÍTICA AOS VALORES: surgia em mim uma desconfiança cada vez mais profunda. Compreendia que esta moral de compaixão, era o sintoma mais perigoso da nossa civilização... até os dias de hoje estiveram de acordo os filósofos no valor negativo da piedade. Necessitamos uma crítica dos valores morais, e antes de tudo deve discutir-se o  VALOR destes valores: atribuía-se ao bem um valor superior ao valor do mal, ao valor do progresso, da utilidade, do desenvolvimento humano. E porque? Não poderia ser verdade o contrário? Não poderia haver no homem “bom” um sintoma de retrocesso, um perigo, uma sedução, um veneno?

6. COLABORADORES E HISTÓRIA: depois que se abriu ante os meus olhos esta perspectiva, procurei colaboradores eruditos, audazes e laboriosos, e ainda os procuro.

7. CAPACIDADE DE RUMINAR:            se alguns acharem incompreensível este livro, se o seu ouvido for tardio para lhes perceber o sentido, a culpa não é minha. O que digo é bastante claro ... Verdade seja que, para elevar assim a leitura à dignidade de “arte” é necessário, antes de mais nada, possuir uma faculdade hoje muito esquecida, uma faculdade que exige qualidades bovinas, e não as de um homem fim-de-século. Falo da faculdade de ruminar.

Para terminar, alguns aforismos dessa grande pessoa, sobre música, amigos, mulheres, sobre verdades e certezas. Grande SBCence que contribui para vivermos melhor, com mais arte. Sem comentários, as frases já dizem tudo!

“Sem a música, a vida seria um erro”.
“E os que foram vistos dançando foram julgados insanos pelos que não conseguiam ouvir a música”.
“As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física”.
“Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo ou calá-lo como se isso nos desse razão para nos envergonhar. Somos dois navios cada um dos quais com o seu objetivo e a sua rota particular”.
“Só o que se transforma continua meu amigo”.
“Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia”.
“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez”.
“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.
“Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.
“A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia”.
“Os grandes intelectuais são céticos”.
“Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões, não estamos tão seguros delas. Mas, talvez, por podermos ter nossas opiniões e podermos mudá-las”.
“Temos que aprender a desaprender, para afinal, talvez muito tarde, alcançar ainda mais: mudar de sentir”.
“O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte”.
“Certos pavões escondem de todos os olhos a sua cauda - chamando a isso o seu orgulho”.
“A vontade de superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos”.
“Culpamos as pessoas das quais não gostamos pelas gentilezas que nos demonstram”.
E, por fim: “Torna-te aquilo que és”.
Algumas frases me lembram Caetano (“ou não...”), outras Guimarães Rosa, ambos devem ter ido à fonte desse mestre. Acho que vou partir do “Torna-se aquilo que és” para refletir sobre autenticidade.
Esta é a minha leitura da pessoa... quem quiser que faça a sua, será bem vinda...

Beijos a todos e todas

TU

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