segunda-feira, 4 de março de 2013

SBCenses famosas!

Queridos SBCenses,
Foi com grande alegria que abri hoje o mail do SBC (sbccoletivo@yahoo.com.br) e encontrei dois mails em resposta àquela minha proposta do post de 10 de dezembro de 2012, que fala sobre D. Beja e convida os SBCenses a publicarem sobre SBCenses famosos e famosas.
Abrimos então a galeria com duas maravilhosas SBCenses: a primeira, Dolores Duran, publicada pela nossa querida SBCense Flávia, que não é a Maria Beijoqueira; e Chiquinha Gonzaga, publicada pela Rita, que não é a SBCenses Ritoca. 

Aguardamos novas publicações de SBCenses famosos, históricos e contemporâneos, da música, da arte, da vida, da alegria...

Beijos a todos e todas e obrigada!

SantuzaTU



Adiléa da Silva Rocha - a nossa Dolores Duran - nasceu no Rio de Janeiro em 07 de junho de 1930. Foi, com certeza, uma das maiores representantes do samba-canção brasileiro. Começou a cantar muito cedo - seu primeiro prêmio foi aos seis anos de idade. Aos 15 seu pai morreu - e a menina Adiléa teve que sustentar sua família, cantando, que é o que ela melhor sabia fazer.

Fiz uma meia cópia de uns dois link do Google, acrescentando minhas considerações sobre porque a considero uma das maiores SBCences. Vejam bem: ela viveu de 1930 a 59, numa época em que ser mulher auto afirmativa não devia ser fácil.
Aos 8 anos de idade contrai a febre reumática, que quase a levou a morte, e que deixou como seqüela um sopro cardíaco gravíssimo. Por pouco ela não resiste, para desespero de sua mãe.

Aos doze anos de idade, influenciada pelos amigos, resolve, com a permissão da mãe, se inscrever num concurso de cantores, mas ela tinha dúvidas se iria se sair bem. Surpreendentemente, ela cantou muito bem, como uma profissional, e conquistou o primeiro prêmio no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso. As apresentações no programa tornaram-se freqüentes, fixando-a na carreira artística.

Adiléia tenta terminar os estudos, ingressando no ginásio, pagando uma escola, mas como o dinheiro era pouco e as mensalidades da escola estavam atrasadas, ela é expulsa do colégio. Como ela tinha que se dedicar muito a música e ao teatro, ela decide de vez parar de estudar. Sua mãe não gosta desta atitude e mesmo após brigas, a mãe, a contra gosto, tenta aceitar a vocação de cantora da filha, já que a mãe dizia que artistas também estudavam e que a fama acaba um dia. Adiléia tinha uma personalidade muito forte e não levava desaforos para casa, respondia a quem quer que fosse, sabia se defender bem.

No final dos anos 40, ela conhece um casal rico e influente: Lauro e Heloísa Paes de Andrade, que já a tinham ouvido cantar. Eles passam a ajudá-la a se tornar realmente uma cantora e a levam em diversos lugares chiques e reconhecidos, freqüentado por famosos. Lauro passa a chamá-la de Dolores Duran, por ser um nome fino na época. Esse nome é espanhol e dramático que significa Dores. Ele é muito forte e traz uma carga de dor e sofrimento intenso, e o sobrenome Duran, que quer dizer durante, sempre, intensifica ainda mais, como se não tivesse fim essa dor. Eita carma, meu Deus! Bem que a gente deseja separar amor de dor, mas acontece... o jeito é cantar umas músicas de lama, como muitas das Dolores, até fazer uma catarse, rir da gente e partir prá vida.

Autodidata, dominou o inglês, francês, italiano e espanhol ouvindo músicas, a ponto de Ella Fitzgerald lhe dizer que foi em sua voz a melhor interpretação que ela já havia ouvido de My Funny Valentine - um clássico da música norte-americana.

Suas músicas se tornaram estrondoso sucesso. Eram dramáticas, belas e românticas, e expressavam os sentimentos mais puros de um coração. Prova disso é que Antônio Maria, grande jornalista da época,  publicou: "Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor!"

Cantava em diversas boates no boêmio e encantador Rio de Janeiro daquela época. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias rádios cariocas que reuniam artistas do país inteiro, e que na época só escolhia os melhores cantores.
Teve muitos namorados. O primeiro  foi um garçom da boate Vogue. O apelido dele era Serra Negra. O namorou por alguns poucos meses. Ele pediu para voltar, mas como ela era mulher de uma palavra só, não voltou. Viu que não deu certo na primeira vez, na segunda sairiam brigas novamente.

Depois dele, namorou por 6 meses o compositor Billy Blanco, de quem também gravou músicas, já que ele escrevia várias letras.

Em 1951, conhece um músico do Acre, tocador de acordeão, chamado João Donato. Eles se encontravam em frente ao Hotel Glória todas as noites. Eram grandes amigos, sempre saíam juntos e passeavam, também com outros colegas. Só não se casaram devido à oposição da família do rapaz e do preconceito da sociedade. Donato tinha 17 anos, enquanto Dolores tinha 21 e uma mulher mais velha não era bem vista com um homem mais novo. Ela lutou muito para tê-lo ao seu lado, mas ele preferiu ouvir sua família. O namoro chegou ao fim quando Donato foi morar no México. Donato e Dolores não agüentavam mais brigas e cobranças de suas famílias. Isso a fez sofrer, mas ela superou e seu sucesso na música aumentou. E olha que a Chiquinha Gonzaga, antes dela, na primeira metade do século passado, ficou durante anos, até a sua morte, com um portuga mais de trinta anos mais novo do que ela. Mulheres SBCenses do século passado, esse negócio de idade é igual chifre: coisas que colocam na nossa cabeça...

Muitas vezes, nas madrugadas, ela criava suas letras na mesa dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba. Se inspirava em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas, para compor suas inesquecíveis letras.

Em 1955 foi vítima de um infarto tendo passado trinta dias internada. Resolveu não seguir as restrições que os médicos lhe determinaram, agravando os problemas cardíacos que trazia desde a infância, problemas que só se agravaram com o tempo, pois abusava do cigarro (fumava mais de três carteiras por dia) e da bebida, principalmente a vodca e o uísque.

Nesse mesmo ano, conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios da gravadora Copacabana e rapidamente foram morar juntos. Antes de se casarem no papel, porém, Dolores engravidou dele e passou por uma gravidez tubária (gravidez de alto risco que acarreta esterilidade materna e perda do feto), interrompendo seu sonho de ser mãe, o que arruinou sua vida e a levou a piora do vício em cigarro e bebidas.

Um fato que a marcou foi que após ter perdido seu filho, ter entrado em depressão e resolvido se casar oficialmente com Macedo, ele proibiu sua mãe de comparecer ao casamento deles, por a mãe dela ser negra, fato que a deixou perplexa e enfurecida. A única que foi ao seu casamento foi a irmã Denise, pois sua mãe e suas outras irmãs não conseguiram ir por tamanha ofensa. Dolores só se casou para não se sentir tão só, pois nunca perdoou o marido por não ter deixado sua mãe ir ao seu casamento.

Após muitas discussões e brigas violentas, desquitou-se de Macedo Neto e passou meses na Europa cantando e se apresentando com seu conjunto musical, fazendo muito sucesso. Lá encontrou e viveu novos e intensos amores.

Em 1957 - então com 27 anos e recém separada, - Tom Jobim (um estreante!) mostra-lhe uma composição em parceria com Vinícius de Moraes. Ao ouvir a melodia, Dolores pega um lápis e escreve Por Causa de Você - e manda um bilhete a Vinícius pedindo-lhe para concordar com a nova letra - e Vinícius prefere a de Dolores.

Esta é mais de piropa do que de lama, não é uma bela cantada? Pedido de volta é música de piropa, de lama é falta de amor, desilusão, essas coisas.

Ah, você está vendo só do jeito que eu fiquei
E que tudo ficou
Uma tristeza tão grande nas coisas mais simples
Que você tocou
A nossa casa querido já estava acostumada
Aguardando você
As flores na janela sorriam, cantavam
Por causa de você
Olhe, meu bem, nunca mais nos deixe por favor
Somos a vida e o sonho, nós somos o amor
Entre meu bem, por favor
Não deixe o mundo mau te levar outra vez
Me abrace simplesmente
Não fale, não lembre
Não chore meu bem

Cantou no Uruguai, na União Soviética e na China, na companhia de músicos brasileiros, mas, por desentendimento dela com o grupo, Dolores muda de planos e realiza seu grande sonho, viajando da China sozinha para Paris. Ficou um bom tempo passeando e conhecendo as maravilhas da cidade-luz.
De volta ao Brasil algum tempo depois, pegou para criar uma recém-nascida, pobre e negra, a quem deu nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo, que foi registrada por Macedo Neto, mesmo estando ele separado de Dolores e a menina não ter com ele qualquer parentesco. Dolores se encantou perdidamente pela criança e deu todo amor e carinho possíveis. Passeava com a menina e lhe deu tudo de bom que o dinheiro e o amor podiam proporcionar.
A partir daí, durante os dois últimos anos de vida, compôs algumas das mais marcantes canções da MPB, como Castigo e Olha o Tempo Passando, A Noite do Meu Bem entre tantas outras. Esta é super lama, triste demais... reparem o AI!, é muito sofrido... quase todo samba de lama tem um AI! Sofrido.

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero, o alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ai eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero, a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ai! como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda ternura que eu quero lhe dar

Na madrugada de 23 de outubro de 1959, depois de um show na boate Little Club, a cantora saiu com seu último namorado e com seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair da festa, resolveram fechar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club. A cantora chegou em casa às sete da manhã do dia 24. Brincou e beijou muito a filha, já com 3 anos, na banheira. Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer", disse brincando. No quarto, sofreu um infarto fulminante - que, à época, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool.

SBCenses são também exagerados(as), humanos(as)...

Enviado por: Flávia





Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga 1847 a1935 foi uma compositora, pianista e regente brasileira.
Foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Em maio de 2012 foi sancionada a Lei 12.624 que instituiu o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, a ser comemorado no dia de seu aniversário.

Era filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de Rosa Maria Neves de Lima, uma negra muito humilde. Apesar de opiniões contrárias da família, casou-se após o nascimento da menina Francisca. Chiquinha Gonzaga foi educada numa família de pretensões aristocráticas. Ela conviveu bastante com a rígida família do seu pai. Fez seus estudos normais com o Cônego Trindade, um dos melhores professores da época, e musicais com o Maestro Lobo, um fenômeno da música. Mas  desde cedo, freqüentava rodas de lundu, umbigada e outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos.

As mulheres SBCenses são transgressoras, desde o século XIX.

Ó Abre Alas, marcha rancho, 1899, é a composição mais conhecida de Chiquinha, e aquela de maior sucesso. A canção foi feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro, citado na letra.O sucesso é considerado a primeira marcha carnavalesca da história.Era comum, naquele tempo, os cordões entoarem versos que anunciavam sua passagem, e a marcha de Chiquinha antecipou um gênero que só veio a se firmar duas décadas após.

Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira não posso negar O SBC é que vai chegar
Eu sou da lira não posso negar
Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Rosa de ouro é que vai ganhar  SBC é que vai ganhar
Rosa de ouro é que vai ganhar

Então, fiéis à história e à grande SBCense Chiquinha Gonzaga, abrimos nosso carnaval com a adaptação acima.

Voltando à vida da nossa SBCense, Chiquinha inicia, aos 11 anos, sua carreira de compositora com uma música natalina, Canção dos Pastores. Aos 16 anos, por imposição da família do pai, casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Imperial brasileira e logo engravidou. Não suportando a reclusão do navio onde o marido servia, (já que ele passava mais tempo trabalhando no navio do que com ela) e as ordens dele para que não se envolvesse com a música, além das humilhações que sofria e o descaso dele com seu sonho, Chiquinha, após anos de casada separou-se, o que foi um escândalo na época.

Leva consigo somente o filho mais velho, João Gualberto. O marido não permitiu que Chiquinha cuidasse dos filhos mais novos, Maria do Patrocínio e Hilário. Ela lutou muito para ter os 3 filhos juntos, mas foi em vão. Sofreu muito com a separação obrigatória dos 2 filhos imposta pelo marido e pela sociedade preconceituosa daquela época, que impunha duras punições à mulher que se separava do marido.

Anos depois, em 1867, reencontrou seu grande amor do passado, um namorado de juventude, o engenheiro João Batista de Carvalho, com quem teve uma filha: Alice Maria. Viveu muitos anos com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se dele, e mais uma vez perde a filha. João Batista não deixou que Chiquinha criasse Alice, ficando com a guarda da filha. Apesar disso tudo, Chiquinha foi muito presente na vida de todos os seus quatro filhos, mesmo só criando um deles.

Deu aulas de piano para sustentar o filho João Gualberto e mantê-lo junto de si, sofrendo preconceito por criar seu filho sozinha. Passando a dedicar-se inteiramente a música, onde obteve grande sucesso, sua carreira aumentou e ela ficou muito famosa, tornando-se também compositora de polcas, valsas, tangos e cançonetas.

E tome polca!!! Já ouvi Maria Alcinda cantando... mas cançoneta não sei, nunca ouvi...

Aos 52 anos (mesmo ano da vitória do cordão Rosa de Ouro no carnaval com Ó Abre Alas), após muitas décadas sozinha, mas vivendo feliz com os filhos, a música e os amigos (viram só: temos que estar felizes para incluir um amor bacana na vida, isso é super SBC...), conheceu João Batista Fernandes Lage, um jovem cheio de vida e talentoso aprendiz de musicista, por quem se apaixonou. Ele também se apaixonou perdidamente por essa mulher madura que tinha muito a ensinar-lhe sobre música e sobre a vida. A diferença de idade era muito grande e causaria mais preconceito e sofrimento na vida de Chiquinha, caso alguém soubesse do namoro. Ela tinha 52 anos e João Batista, apenas 16. Temendo o preconceito, fingiu adotá-lo como filho, para viver o grande amor. Esta decisão foi tomada para evitar escândalos em respeito aos seus filhos e à relação de amor pura que mantinha com João Batista, da qual pouquíssimas pessoas na época entenderiam, além de afetar sua brilhante carreira. Por essa razão também, Chiquinha e João Batista Lage, ou Joãozinho, como carinhosamente o chamava, mudaram-se para Lisboa, Portugal, e foram viver felizes morando juntos por alguns anos longe do falatório da gente do Rio de Janeiro. Os filhos de Chiquinha, no começo, não aceitaram o romance da mãe, mas depois viram com naturalidade.

Joãozinho aprendeu muito com Chiquinha sobre a música e a vida. Eles retornaram ao Brasil sem levantar suspeita nenhuma de viverem como marido e mulher. Chiquinha nunca assumiu de fato seu romance, que só foi descoberto após a sua morte através de cartas e fotos do casal. Ela morreu ao lado de Joãozinho, seu grande amigo, parceiro e fiel companheiro, seu grande amor, em 1935, quando começava o Carnaval, dia 28 de fevereiro.

Ó Abre Alas... deixa passar esta preciosa SBCense... aplausos...

Enviado por: Rita

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