sábado, 14 de abril de 2012

Aos brasileiros e brasileiras


Santuza Tu e Mozart
A cena: dois homens jovens (em torno de 25 anos) e lindos, ambos, um branco e um negro, amigos num samba. Passou uma mulher meio chapadinha e disse: você é bonito (para o branco) e você é gostoso (para o negro) e se foi... então o negro comentou demonstrando irritação: no Brasil não seremos nunca bonitos...
Isso já aconteceu há algum tempo, mas de vez em quando me lembro e fico matutando, bolada...  realmente fiquei muito intrigada com aquele rapaz, nunca vou saber o que o motivou a fazer aquele comentário.
Levantei duas hipóteses: a primeira é que ele estaria irritado em função dos padrões de beleza, ou seja, no Brasil, um país com grande população negra, mas que copia padrões de beleza americanos, europeus, enfim, colonizados. Assim, ele seria, enquanto negro, “apenas” gostoso, nunca bonito, bonito são os brancos. Tem sentido...
Mas uma segunda hipótese e sentimento me invadiram: um sentimento de “semelhança histórica”...
Explico: ocorreu-me que tudo que aquela pessoa queria era ser “bonito e gostoso”, e me deu medo e tristeza de, em vez de negros e negras estarem crescendo para serem sujeitos, estão “gostando de ser objeto”.
Olha só, eu faço parte de uma geração de mulheres que lutaram muito para sermos sujeitos, a história não é linear, as vezes quando achamos que estamos num caminho interessante percebemos algum retrocesso e reafirmação do “status quo”. Ainda hoje vemos mulheres em que o “destino” ou até o “desejo” é se tornarem objeto. De objeto desprezível a objeto de luxo, não deixa de ser objeto, e “querer ser objeto” prá mim significa abrir mão de uma vida autenticamente vivida, do trabalho que dá ser sujeito, se apropriar da sua vida, ser o que você quer ser e combater o que querem que você seja.
Então, vamos prestar atenção a esse substrato negativo do caminhar para sermos sujeitos. Temos mais, muito mais, a ser e mostrar do que sermos bonitos(as) e gostosos(as). Ser bonito(a) e gostoso(a) também, é lógico, o problema é o “só isso”. Uma frase de Boaventura Souza Santos que serve para homens e mulheres, negros e brancos, todos os brasileiros: “Temos direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza e temos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”

                                                                                                      Santuza Tu

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