terça-feira, 5 de agosto de 2025

FESTIVALE 2025


POR DENTRO DO FESTIVALE:

Shows musicais, Mostra de Teatro, Mostra de Cinema, Festival da Canção, Rodas de Conversas, Mostra de Corais, Mostra de Cultura Popular, Rodas com Benzedeiras,  Feira de Artesanato e Oficinas... Tudo isso numa semana, Diamantina respirou Arte e Cultura, mais ainda pois a cidade já está plena dessa arte do Vale. Além de tudo, recebeu de braços abertos os festivaleiros que vieram, além das outras cidades do Vale, de todas as Minas Gerais e de todos os outros estados do Brasil. 

Oficinas maravilhosas todos os dias desde segunda. Algumas delas: Agentes Culturais, História e Cultura do Vale, ministrada pelo nosso querido Tadeu Martins, bombou; Imersão Canto Coral, outro Tadeu, o Oliveira, de Capelinha; Mulheres que Criam, Imagem Estilo e Marca Pessoal, Raissa Tossi Costa... de argila, de escrita criativa... e tantas outras. Só ouvi ótimos comentários sobre todas as oficinas.

Na quarta, lembrando da nossa primeira participação em Roda de Conversa no Festivale (vejam post de 7 de agosto de 2024: Um dia no FESTIVALE), ano passado em Couto Magalhães, fomos para a Escola de Música Orquestra Jovem no Encontro de Mulheres do Festivale. Desta vez nos surpreendemos com o esvaziamento da Roda e ficamos sabendo que no sábado teria outra Roda extra oficial... estranho... No entanto, as mulheres que participaram fizeram suas reivindicações em relação à participação equânime no Festivale. Foi relatado que em reunião preparatória sobre o evento alguém teria feito a colocação sobre a "qualidade técnica" dos trabalhos das mulheres, o que corresponderia à menor participação... nos questionamos: "qualidade" vista sobre que ótica, a dos homens? são aqueles tipos de micro violências que ouvimos diariamente no nosso mundo machista, misógino... principalmente nós, mulheres que estamos ocupando os espaços. Não 'competindo' com os homens, há espaços para todos e todas, como diz nossa querida Alba. "Nós vamos é 'metendo o cutuvelo', como diz o Caetano", disse outra amiga mulher phoda...

E dessa conversa, depois de reivindicarmos, também, espaços para crianças e adolescentes durante o Festivale, Oficinas para esse público, de Cirandas, Brinquedos e Brincadeiras, por exemplo, com esses espaços e essas oficinas muitas mulheres estariam mais liberadas para uma participação mais efetiva no Festivale, óbvio! ... A Bia,  agente cultural que já realiza projetos pela região, nos contou sobre sua vivência com mulheres e o Turismo de Experiência, ou seja, os turistas participarem do processo produtivo, por exemplo "como se faz o requeijão"... e sobre a necessidade de formação de gestores para essas atividades ... e sobre um campo de trabalho e renda para as mulheres da região... Vejam que maravilha esse projeto, ou projetos ... muito trabalho a ser feito, muitas possibilidades a se abrir ... bora arregaçar as mangas ... ideias temos, muitas, e boas... 

E saímos da Roda de Mulheres esperançosas ... e curiosas sobre a outra roda que aconteceria no sábado, queremos notícias, nos juntando é que multiplicamos possibilidades...

Enfim, a Noite Literária, na noite de quarta... a ALVA, organizadora da Noite,  brilhou... auditório do Centro Universitário UFVJM campus I lotado... Mestre de Cerimônia Gonzaga com muito bom humor e brilhantismo (temos, também, mulheres super competentes para Mestre de Cerimônia, poderia ter rodízio, o que acham?) 

A homenageada Carolina Antunes
O nosso livro PRA TUDO TEM UM SAMBA sendo lançado na Noite Literária
"Agora é hora... é a hora do SBC... Samba Bobagem Cerveja, C vai querer ou C vai correr..."
Os 10 poemas concorrentes, cada um mais maravilhoso do que outro...

E os três primeiros colocados na Noite Literária, acima.

Consegui o primeiro lugar, o poema do querido Allef, de Itinga:

Quando eu morrer, me faça ser rio

Allef Heberton

Quando eu morrer,
não me enterre em terra seca,
nem me feche em sete palmos de silêncio.
Não me dê cruz nem flores,
me dê correnteza.
 
Deixe que eu escorra pelas pedras,
que eu me faça espuma em tua fúria, que eu me dissolva em tua memória,
como os gritos antigos dos que te chamavam de casa.
 
Quando eu morrer,
me faça ser rio.
Não um qualquer,
quero ser você,
que canta e chora
com a mesma força.
 
Quero morrer e nascer em tua margem,
ser barranco que desaba no tempo da cheia,
ser barro moldado pelas mãos de uma mulher
que carrega histórias no colo
E bacia na cabeça.
 
Deixa minha morte ser recomeço,
meu fim ser lavoura nas tuas ilhas férteis.
Deixa meu sangue virar peixes,
minha pele, corrente,
meu coração, maré.
 
Quando eu morrer,
quero me misturar com os ancestrais,
ser lembrança no assovio do canoeiro,
eco no casco de um barco que parte
sem nunca se perder.
 
Que minha dor vire semente
nas margens do teu leito,
que minha ausência floresça
nas rezas das lavadeiras,
nos segredos que a água leva
e nunca devolve.
 
Não chore por mim com olhos secos,
chore como o Jequitinhonha chora em janeiro,
quando a enchente leva, mas também devolve.
 
Quando eu morrer,
não morrerei por inteiro.
Serei ave que pousa na beira do rio,
serei menino que nada rindo entre pedras,
serei lenda contada à noite,
fogueira acesa no fundo da alma.
 
Quando eu morrer,
me faça ser rio.
Livre, Doce, Vivo, Eterno.

E consegui, também, um poema maravilhoso que não foi um dos três primeiros:

DO RIO AO MAR, de Vitor Barreto Ribeiro

Mísseis cortam o céu de Gaza
Mísseis hipersônicos, ultrassônicos, ultrajantes
Ultrapassando as paredes das casas
Atravessando corpos infantes

Bombas caem como chuva ácida
Bombas antibunker, teleguiadas, bombas aladas
Alastrando o terror nas cidades
Derramando sangue nas calçadas

É o caos, é o conflito, é a guerra
É a morte em seu passo veloz
É a história que outra vez se repete
É a vítima que torna-se algoz

Erguei-vos filhos de Alá
Que a morte é bem menos que a vida
No horizonte já se avizinha
O findar da incursão genocida

É chegado o tempo vindouro
De alegria e de enorme pujança
Onde baixam bandeiras de guerra
E se hasteia o pendão da esperança

É a ideia, é o anseio, é o sonho
Com o final desse amor reprimido
Com a última lágrima rolada
Com o romper desse grito contido

Gaza, por mim espere
Até que esse horror tenha fim
Até que eu te toque com meus olhos
Gaza, espere por mim

Me espere para que eu ainda possa
Ao cessar-se a sanha assassina
Ver verdejar suas oliveiras 
Do rio ao mar, Palestina

Publico estes dois... pois descemos todos para a praça do Mercado, a divulgação do resultado seria lá.. e ficamos aguardando, e conversando sobre a noite. Já tínhamos o que chamamos de Juri Popular, e o poema sobre a Palestina estaria entre os três primeiros, pela emoção que causou em todas as pessoas na platéia. Quando saiu o resultado final ponderamos sobre as perspectivas diferentes dos jurados e da platéia. No primeiro lugar concordamos todos. No entanto queríamos muito que o poema sobre a Palestina estivesse entre os três primeiros, pela sua atualidade e força... sem desfazer de nenhum dos classificados ... Entre aplausos pelo resultado e brincadeiras sobre "protestos", sugerimos a criação do Juri Popular, oportunidade de todas as pessoas darem a sua opinião... e assim terminamos a noite, com o coral Vozes das Veredas, com vinho e amigos e amigas ... e com o show de Érica Timóteo.

Na quinta, sexta e sábado a noite, além das Barracas FESTIVALE Walter Hugo, artesanato maravilhoso de todo o Vale funcionando dia e noite durante todo o Festivale, Feira de Artesanato Mestre Inácio José de Souza Neto, foi a parte do Festival da Canção Saldanha Rolim, 20 músicas selecionadas, todas também maravilhosas, metade delas apresentadas na quinta, outra metade na sexta... e o encerramento do Festivale, com as vencedoras, no sábado. Não posso falar dessa parte pois tive que voltar pra Belo Horizonte... na maior tristeza... 

Mas deixo aqui o link no insta do perfil colaborativo do Festivale:


É uma pequena amostra de sete dias intensos... bem vividos...



                                            

    
                                                            

E o link de uma bela matéria do Tadeu Martins, nosso grande Presidente da ALVA, sobre a história do FESTIVALE:

https://diariodeminas.com.br/como-surgiu-o-festival/

Até ano que vem, em Botumirim:

https://maps.app.goo.gl/zmFEX8qi4hPQYP2KA?g_st=am

 💝💝💝

POR FORA DO FESTIVALE:

- Um dia antes da abertura do Festivale, dia 26 de julho, a ALVA - Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha realizou o lançamento do livro JEQUITILETRAS - A literatura do Jequitinhonha. 


"Mais do que um livro, JEQUITILETRAS é uma manifesto da força cultural do Vale do Jequitinhonha. Cada página transforma desafios em arte, saudade em palavras e a terra em inspiração, celebrando as memórias coletivas e projetando novas esperanças. ... o volume reafirma a importância da literatura como caminho de resistência e valorização do povo  jequitinhonhense."

O lançamento aconteceu com o apoio da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Diamantina. Pela primeira vez o órgão artesanal do século XVIII dessa igreja tocou músicas do Vale, acompanhando a cantora Luciana Vial que interpretou Canção pra Lira de Rubinho do Vale e Erivaldo Nascimento de Jesus em Diamantina em Seresta, lindíssimas, músicas e interpretações.

💓💓💓

- No domingo dia 27 lançamento do livro CAMINHOS E CERCANIAS, de Joaquim Celso Freire, com inauguração da LIVRARIA TERCEIRA FEIRA, pertinho do Mercado Novo de Diamantina:


💖💖💖

Ponto alto da semana, "mais ou menos por fora-por dentro do Festivale", pois faz parte do mesmo, no entanto  não estava na programação: o Projeto Com Amor Festivale, autoria do querido Marcus Vinicius, de Itaobim... Visita ao Lar dos Idosos, junto com a turma da Herena, uma lindeza de turma que canta, dança e alegra todo mundo. E junto com nossa mais nova "amiga de infância" Beth Guedes, grande poeta de Diamantina.

💗💗💗

E chegamos ao que temos de mais precioso no SBC, as amizades, a arte de fazer amigos e amigas e amigues ... nível de relação mais preciosa para o SBC, onde aprendemos a praticar a simetria, o dar e receber, a reciprocidade:
- A Nildete, do Lar dos Idosos;
- A Iza, de Campinas ... psi ... "um gambá cheira outro";
- A Alba, grande produtora Cultural do Vale;
- O Roney, da Biblioteca Antônio Torres, doamos um livro para a Biblioteca;
- O Cris, jornalista, conversamos sobre relações humanas;
- A Deyse, grande poeta de Minas Novas;
- O Aníbal, grande poeta de Salinas;
- A Marina Maricota, a Angélica, o Renato Paranhos, lição de humildade, entrava na fila enorme do almoço;
- A Parisina, da Roda de Conversa sobre fios e bordados: "Antes de nós,  nossos ancestrais teceram o fio da cura";
- A Dieslen, linda, não me lembro de qual Quilombo, ela me apresentou o museu de Tipografia de Diamantina, um dos únicos no mundo, se não me engano só temos três:


- A Elisa, de Contagem, doçura de pessoa, produtora de "perfumes afetivos":


- E a Beth Guedes, que doce de pessoa, que maravilha de poeta, já a admirava e tive a sorte de conhecê-la pessoalmente e nossas almas se encontraram, "amigas para sempre".

Enfim, sou uma pessoa de muita sorte... sorte de pertencer ao coletivo SBC... sorte de encontrar amigos e amigas pela vida...

Gratidão... até a próxima conversa SBCense... abraços carinhosos

Santuza TU






3 comentários:

  1. Quanta riqueza!!!!

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  2. Quanta beleza, em arte, em pessoas, em cores e músicas.

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  3. Tem coisas que só o Festivale consegue nos proporcionar. A narrativa acima, menciona cada detalhe desses dias.
    Para o leitor que não esteve presente no evento, ao ler o texto imagine como foi cada momento através de cada palavra, parágrafo. A Tu, conseguiu transmitir tudo que é o Festivale. Ah, Diamantina!

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