quarta-feira, 20 de agosto de 2025

MALADO, CHIQUE MESMO, DAORA, É ESPINOZA... E O S B C

Em tempos de colonização de corações e mentes, chique mesmo é conversarmos sobre ÉTICA... sobre MORAL... e sobre a possibilidade de construirmos uma moral autônoma (de dentro pra fora) em vez de nos submetermos à moral heterônoma (de fora pra dentro)... isso a partir do desenvolvimento do sentido crítico, da ampliação da consciência - sair do maniqueísmo certo/errado -  e de uma visão de mundo mais ampla e inclusiva.


Chique mesmo, MALADO, DAORA, é conversar com SBCenses jovens sobre quem foi Aristóteles e sua importância para nossas vidas AGORA... e com ele aprender a juntar razão e emoção, cabeça e coração: quanto mais apaixonado - tomado por alguma emoção, mais racional devo estar, "eu administro minhas emoções", e não "elas tomas conta de mim", como aquele outro cara de trocentos anos atrás nos enfiou goela abaixo, o Platão, ele era da mesma época de Aristóteles. 

Os dois estiveram por esse mundo, na Grécia, antes de um grande cara chamado Jesus, um revolucionário que mudou o mundo. E foi muitíssimo distorcido quando outros caras "foram escrevendo" a Bíblia, e reescrevendo de acordo com o que queriam que nos enfiassem goela abaixo como "moral cristã"... 

E Sócrates!!! Ele dizia que a sabedoria é  "quanto mais a gente fica sabendo das coisas" mais a gente  "sabe que nada sabe", olha que malado! E não é mesmo! "Quanto mais eu sei, mais aumenta minha ignorância, ou minha curiosidade de saber mais". Irado demais! Sócrates chama isso de Ignorância Douta, Doutora... ou Ignorância Sábia...

Platão
Sócrates
Aristóteles, filósofo grego
Jesus Cristo

E mais chique ainda é saber que temos todas essas histórias na IAIA... não sabem o que é IAIA? A IAIA de IOIÔ... como a tratamos no SBC... não conhecem a música? aí vai:


'Linda Flor', samba-canção de 1929, composta por Henrique, Vogeler, Luis Peixoto e Marques Porto, cantada aqui por João e Bebel Gilberto. 

Mas aqui no SBC a IAIA é a Inteligência Artificial, tudo que queremos saber ela nos diz... No entanto,  o senso crítico, somos nós que desenvolvemos. Até mesmo para pesquisar a IAIA e obter informações que nos provocam reflexões, nos instigam, conhecimentos da história e essas coisas chiques, daora. O segundo nome da IAIA pode ser vários: GPT, META, GEMINI, GROK, entre outros.

Pois então... MALADO foi a nossa conversa entre SBCenses de 13 a 80 anos - assim como nossa pesquisa na IAIA,  sobre um filósofo do século XVII:

Baruch (de) Espinoza (em hebraico ברוך שפינוזהBaruch Shpinoza, também referido como Baruch (de) Espinosa ou Baruch Spinoza; na literatura em português, também como Bento (de) Espinosa e, após o Cherém ou Herém - o mais alto grau de punição dentro do judaísmo, em que a pessoa é totalmente excluída da comunidade judaica - como Benedictus de Spinoza.

Principais Ideias: Espinoza é famoso por sua identificação de Deus com a natureza, expressa na frase "Deus, sive Natura" (Deus, ou Natureza). Para ele, Deus não é um ser separado que intervém no mundo, mas sim a totalidade da realidade, que se manifesta nas leis da natureza. Essa visão panteísta desafiou as concepções tradicionais de Deus e teve um impacto profundo na filosofia moderna. 

Entre suas obras mais significativas estão:


Em resumo, Baruch Espinoza foi um pensador revolucionário que desafiou as normas de sua época e cujas ideias continuam a ressoar na filosofia contemporânea.

Tratado teológico-político de 1670 de Espinoza: publicado em 1670, é uma obra que impactou  a filosofia e a política. Foi publicado de forma anónima, porém seu conteúdo foi amplamente reconhecido e analisado nos séculos posteriores, até agora. A obra se centra na dicotomia entre a servidão e a liberdade, argumentando que a liberdade humana se consegue através da autonomia política em relação à religiãoO livro é estruturado em vários capítulos que abordam temas como a "consciência", a "letra divina", e a interpretação das Escrituras, assim como o papel da política na construção da  liberdade. Espinoza argumenta que a potência da política é  mais eficaz quanto maior é sua autonomia em  relação com a religião. oi objeto  A obra foi objeto de controvérsias e perseguição desde sua publicação, porém sua influencia na filosofia moderna e na  política segue sendo significativa.


E daí começa conversa chiquérrima com grande amigo de juventude - tipo 'primeiro namorado' -  a gente nunca se esquece:

- Nos anos 80 do século passado, uma reflexão sobre trecho desse Tratado "mudou minha vida" como falamos no SBC. Em algum lugar do mesmo, Espinoza diz mais ou menos isso: "Todo homem pertence a outro homem, por direito, tanto quanto caia sob seu poder... E se pertence a si mesmo na medida em que repelir toda violência, reparar os prejuízos e, em poucas palavras, fizer o que lhe aprouver"... mais tarde, no mesmo Tratado ele também diz que não existe 'poder de um', a não ser quando é exercido de forma autoritária... Você não imagina o tanto que essas duas frases me provocou: eu, uma mulher, "educada" para a subalternidade - 'pertencer' a um homem - comecei a perceber o significado de "repelir toda violência", reparar os danos causados por essa violência... e "fazer o que me aprouver", ou seja, caminhar no sentido de construir, conquistar... minha liberdade... 
E mais: NOSSA liberdade, como diz Spinoza na segunda parte "não existe poder de um", ou seja, nos juntar, nós mulheres, na construção de um mundo mais livre e onde existam relações mais simétricas... começou a ser a minha batalha desde então... ou melhor, nossa batalha... Aprendi com ele que LIBERDADE não é algo dado, e sim uma conquista a cada dia... hoje sou um pouco mais livre do que ontem e um pouco menos do que serei amanhã... e NOS JUNTANDO, ou seja, o coletivo vem a ser POLÍTICA, no sentido que o Baruch Espinoza nos ensina... 

- Então... o que mais me toca, me afeta, no Baruch, é o seu conceito de Deus. Li no seu livro Tu,  PRA TUDO TEM UM SAMBA, no capitulo Carnaval 24: Faça amor não faça guerra, página 52 3 53, quando você fala do 'Espírito de Carnaval', você fala do conceito de Deus de Espinoza, Deus é Natureza, Deus é tudo ao redor e também 'Deus dentro'... Deus é a alegria do Carnaval, Deus é liberdade...
E mais: a IAIA me apresentou um vídeo sobre Espinosa que faz um questionamento esplêndido sobre Jesus Cristo, coisas que eu sempre pensei... Vou resumir aqui, já fazendo links com outros autores, filmes, músicas e a arte em geral que, como você diz, nos liberta, abre nossas corações e mentes:

- Dizendo que a 'verdadeira libertação' é questionar o que é proibido, Baruch questiona o mito Jesus Cristo, a fim de nos incitar a começar a sair da "cegueira do pronto e acabado, enfiado goela abaixo". Me lembrei imediatamente do Ensaio sobre a cegueira", livro e filme 'arrasantes'.  Livro do grande português José Saramago, 'publicado em 1995, uma obra de ficção que explora temas como a humanidade, a sociedade e a condição humana, através de uma narrativa surreal e filosófica' ... resposta aqui da IAIA. E o filme, de 2008, de Fernando Meirelles, mesmo diretor - brasileiro - de "Cidade de Deus".

- TUZA, o Espinosa nos coloca, numa análise histórico crítica sobre a Bíblia,   três argumentos que 'destroem' a natureza divina de Jesus Cristo:
1. Os textos bíblicos foram escritos por homens e refletem uma época histórica, ou seja, os textos que serviam àquela 'unificação doutrinária' específica. Tanto que em cada época alguns textos eram excluídos e outros acrescentados - li o que você já escreveu sobre Lilith, primeira mulher de Adão, feita do mesmo barro - uma matriz relacional simétrica  homem mulher, transformado num livro apócrifo, proibido - depois Adão e Eva, nossa 'matriz' masculino-feminina, assimétrica, gravada (e reproduzida)  a ferro e fogo no nosso espírito ... Ou seja, a Bíblia, longe de ser um 'ditado divino', é um documento humano, portanto, histórico, contextual; e imperfeito, como toda obra humana... um documento que reflete as crenças, preconceitos e 'agendas políticas' dos seus vários autores ao longo dos séculos;
2. A noção de milagre: por definição, "o que ultrapassa a compreensão humana", ou seja, buscar explicações sobrenaturais para o que não compreendemos, para o acaso, o unaudito, o desconhecido, o novo... aí então a exageração, a mitificação, se transforma em milagre. 
Pois, para Espinosa, a noção de Deus não vem a ser uma "projeção antropomórfica" da tradição judaico-cristã - pois essa projeção 'criou' um Deus semelhante ao homem e diz que ELE nos criou à sua imagem e semelhança, ou seja, projetamos e invertemos, numa tentativa de 'humanizar o divino'. 
Para ele, Deus é "a substância única que constitui a totalidade da existência", Deus está na natureza, Deus está em nós, pois fazemos parte dela;
3. A 'natureza divina' de Jesus: Espinoza nos fala como Jesus, que existiu, foi um revolucionário, tanto que uns trezentos anos depois aconteceu a queda do Império Romano - impérios demoram um pouco entre o declínio e a queda definitiva, como acontece agora! ... 
Como - e porque -  essa pessoa revolucionária foi divinizada vem a ser um questionamento importante. Ou seja,  a construção do mito "filho de Deus" - mito no sentido de crenças, que vão sendo 'enfiadas" goela abaixo, que não questionamos, e se transformam em 'verdades absolutas'   que estão "orientando" nossas vidas e nossas relações.

Pensando sobre Espinoza e suas reflexões sobre religião e política,  não posso deixar de lembrar de filme recente - 2024, imprescindível para entendermos as consequências dessa mistura. O filme Apocalipse nos Trópicos, documentário de Petra Costa, já na Netflix:


Enfim, meu caro CAN,  nosso já SBCense Espinosa nos diz que Jesus foi um mestre da vida ética e humana. E diz mais: diz que o verdadeiro propósito da vida ética não é obter uma recompensa sobrenatural num além da vida... e, sim, alcançar plenitude na própria vida, no aqui e agora, na realidade e na nossa participação\construção\transformação dessa realidade para o que pensamos ser um mundo melhor. Brincamos no SBC que não é a toa que, depois dele, surgiram outros SBCenses famosos - Nietzsche, Marx...

E veja que a HUMANIZAÇÃO de Jesus feita pelo Espinoza o torna muito mais relevante! Despojá-lo da mitologia faz dele um modelo, uma referência a ser seguida, pois o motivo da construção de mitos vem a ser a alienação das pessoas e o exercício do PODER SOBRE elas (o poder de dominação-submissão). Dito de outra maneira: a obediência baseada no medo suprime o pensamento crítico e produz a submissão. E sabemos, por outro lado,  que a o caminho para a LIBERDADE começa com o pensamento crítico. 

Pensando numa música, a primeira que me vem à mente: Balada do louco, Os Mutantes,  grande Rita Lee... e Arnaldo Baptista, interpretação majestosa de Ney Matogrosso: "Eu posso pensar que Deus sou eu!"(muito Espinosa, pois Deus é natureza, e eu faço parte da mesma).

- TUZA, recentemente tomei conhecimento de uma  jovem francesa , possivelmente uma das primeiras feministas da história, no século XVII, que,  tendo lido o Tratado de Espinosa, percebeu  algo que ele talvez não tenha pretendido. Ela o questionou. Veja:
 “- Li seu tratado e percebi algo que talvez não tenha pretendido. Se a autoridade religiosa é questionável por ser baseada em tradição humana em vez de verdade demonstrável, então o que dizer da autoridade masculina sobre mulheres? Você argumenta que governos derivam legitimidade do consentimento dos governados, porém, maridos governam esposas sem qualquer consentimento. Você diz que supressão do pensamento livre é tirania. Mulheres são proibidas de estudar filosofia, teologia, ciências. Suas ideias sobre liberdade de pensamento se aplicam apenas aos homens ou são universais?”

Esta pergunta deixou Espinosa perturbado. Ele havia focado suas críticas em autoridade religiosa e política, mas não havia considerado como seus princípios se aplicariam a relações entre homens e mulheres. Sua resposta foi cuidadosa, mas reveladora: 

- “Cara leitora, você identifica uma inconsistência real em meu pensamento.  Se a capacidade de raciocinar é o que distingue seres humanos e lhes dá direitos naturais, então essa capacidade não pode ser limitada por gênero. Mulheres que demonstram capacidade intelectual igual a dos homens deveriam ter direitos intelectuais iguais. A exclusão das mulheres do estudo sério é baseada em preconceito tradicional, não em evidência racional. Admito que não havia considerado completamente essas implicações, você me fez um favor intelectual ao apontá-las.” 

Essa troca de cartas plantou sementes para desenvolvimentos futuros no pensamento de Espinosa sobre igualdade humana e direitos naturais, veja que interessante...

- Muito chique CAM! Malado! Daora! Talvez o primeiro 'homem feminista', com a característica principal da humildade, não muito própria, culturalmente, nos homens. A humildade, essa primeira de todas as virtudes, a base para todas as outras, segundo André Comte-Sponville, "Pequeno Tratado nas Grandes Virtudes": ..."é o reconhecimento das próprias limita
ções e o olhar honesto sobre si mesmo". 


Assim terminamos - provisoriamente - nossa conversa, que não pode deixar de ser compartilhada, pois pra isso serve a amizade, para as trocas e crescimento mútuo. Não sem antes cantar Beto Guedes, Sol de Primavera:

"A lição sabemos de cor, só nos resta aprender..."


Gratidão querido amigo...

Obrigada a todas as pessoas que nos leem... até a próxima...

Santuza TU




Nenhum comentário:

Postar um comentário