Conversa bastante proveitosa entre SBCenses - pais e mães e avós e avôs, que vale a pena registrar no nosso blog:
Estavam, os quatro, conversando sobre educação de filhos - e netos... dificuldades, conquistas, repetições de modelos que não servem mais... por aí. E a avó, uma mulher de 70 anos que se descreve assim: "eu me vejo como uma mulher atualizada, que busca uma visão de mundo e das relações de maneira aberta. E, principalmente em relação ao mim mesma, faço o esforço necessário no sentido da minha humanização... por consequência a humanização das pessoas ao meu redor...".
E ela disse:
Pois bem... há pouco tempo minha filha me chama a atenção em relação à minha relação com meu neto - sou uma pessoa exigente, comigo mesma e com as pessoas ao meu redor - e estava "reclamando", ou "brigando" diretamente com ele, sobre um vaso sanitário esparramado de xixi por todas as partes, até no chão.
E a mãe disse pra avó: mãe, você não precisa se ocupar da educação do meu filho, deixa que isso é o meu papel, procure estabelecer com ele uma relação de avó com neto!
E a avó: Confesso que, num primeiro momento, me opus completamente a ela. Pois penso que educar seja um movimento que perpassa por todas as relações, ou seja, mãe e pai educa, avô e avó educa, amigos educam uns aos outros... educar, no meu conceito, passa pelo crescimento mútuo.
E ela convida: Vamos ao nosso grande filósofo Paulo Freire: a educação é o processo constante de criação de conhecimento e de busca de transformação-reinvenção da realidade pela ação-reflexão humana. Além dessa definição, ele fala da educação dominadora - a educação bancária, onde o educador apenas deposita conhecimento no aluno (sem luz, etimologicamente); e a educação libertadora, no meu entendimento a educação que possibilita o crescimento mútuo, a busca de simetria nas relações... diferente da relação senhor-escravo - essa que a gente aprende e internaliza - que "apenas ensina" a mudança de posição. Disse nosso mestre Paulo Freire: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor".
E cita grande filósofo SBCense: Superando, no movimento dialético, aquela minha oposição, como também no movimento de me humanizar, não me fechando em "verdades", continuei me questionando... aprendi um pouco disso com o grande filósofo Nietzsche, "permanecer com a pergunta...", como dizia ele... às vezes isso causa angústia, mas quando a suportamos, isso significa caminhar para nossa humanização, sair do maniqueísmo certo-errado, "concordar" - suportar, receber, tolerar - com o diferente, mesmo que lhe pareça o mais antípoda... e por aí vai...
E a avó continua: me movimentei para pensar essa coisa de certo-errado na história: me lembrei da educação dos meus filhos. Família tradicional dos anos 80, um casal de filhos, dona de casa e profissional, dupla, tripla jornada, reclamações constantes da participação do marido no trabalho de casa e com os filhos... e ele, no papel de pai, se comportava de maneira ... eu diria condescendente, protetora, afetuosa, incondicional... enfim, o paizão... e quanto mais ele se comportava dessa forma, mais eu "puxava" pro outro lado, ou seja, mais exigente, chata, limitadora, reclamadora - e por aí vai - eu me tornava. Nesse movimento eu corria o risco de quase perder a afetuosidade, eu me impunha sempre o papel de "equilibrar" pelo oposto... o que, definitivamente, não dá certo!!!
E ela continua: Pois não é que me vejo, agora, repetindo esse modelo que já sei que é falho! falho, principalmente, no sentido de me gerar muito sofrimento muita angústia! e gerar o distanciamento do outro, no caso, do neto...
Uma angustia que vivo, e coloquei a mesma outro dia para meu ex marido, o avô: "pensando sobre esse papel de educadora, ou melhor, nas dúvidas a respeito desse papel, vi você, outro dia, dizendo: "meu neto pode tudo".. fiquei "horrorizada" com essa fala! Pensei: será esse o papel de avó e avô? - a condescendência total! isso não cria delinquentes?
E, nessa, wibe, foi que me vi repetindo o modelo de exagerar pro outro lado pra ver se equilibra... triste repetição... continuo com o papel de durona com o meu neto... não consigo mudar o modelo, virar a chave...
E ele, o avô, responde: meu modelo com meu neto é o da reciprocidade: "faço tudo pra ele e ele faz tudo que eu peço"... e explicou bastante esse modelo, às vezes numa atitude defensiva, negacionista... às vezes retratando a repetição do modelo senhor-escravo... e, às vezes, com a coerência suficiente para a avó invejá-lo - e aprender com ele...
No entanto ela voltou a perguntá-lo: "Você concorda com "meu neto pode tudo" criar delinquentes...
Sim, o avô responde...
A conversa foi até aí... com a proposta da avó sobre o movimento de pensarmos, cada um pro seu lado, sobre esse diálogo entre pais e avós ... quem sabe...
E assim continuo - ou continuamos - mais perguntas do que respostas. Como é difícil!!! Paulo Freire!!! Nietzsche!!! e todos os santos e santas, todos os orixás, todo mundo, me ajudem!!!
Certa vez ouvi que a sabedoria do oriental é perguntar... no entanto, uma cabeça que só pergunta pode virar uma cabeça vazia; e a sabedoria do ocidental é responder... mas uma cabeça cheia de respostas, muitas vezes respostas prontas, vem a ser uma cabeça fechada, pequena e, pior, autoritária, impositiva. No nosso caso, o ocidental, precisamos aprender a perguntar mais ... permanecer com as perguntas
A propósito, cantamos a música do Beto Guedes, Sol de Primavera:
"A lição sabemos de cor, só nos resta aprender..."
Obrigada Beto Guedes... grande artista mineiro - do Vale, Montes Claros, músico e compositor nos álbuns I e II do Clube da Esquina, com Milton Nascimento e Lô Borges... Gratidão pela arte - que educa.
Muito bom! Estamos precisando de estudar mais sobre Educação Popular. Paulo Freire é muito rico e deixou muitas contribuições.
ResponderExcluirA Santuza e de mais com essas reflexões sobre as verdadeiras artes @wanderson.waleg77
ResponderExcluirQue boa reflexao! Pra mim o diálogo e as perguntas educam, entretanto, o nosso exemplo continua sendo a melhor maneira…
ResponderExcluirEnsinar é aprender junto, eu penso
ResponderExcluirAdorei essa matéria.leve e profunda ao mm tempo. Como sempre, o exemplo é uma escola gratuita!
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