Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu na freguesia de São Lourenço do Bairro, concelho (município) de Anadia, no distrito de Aveiro... mas cresceu em Lisboa. foi economista, matemática e escritora luso-brasileira.
Trabalhou na elaboração do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e foi professora titular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), ela também foi deputada Federal pelo estado do Rio de Janeiro entre 1995 e 1999, e é autora de diversos livros sobre desenvolvimento econômico.
Após iniciar o curso de Engenharia na Universidade de Lisboa, Maria transferiu-se para Ciências Matemáticas, licenciando-se em 1953. Para fugir da ditadura salazarista em Portugal, transferiu-se para o Brasil em fevereiro de 1954, já casada com seu primeiro marido, o engenheiro Pedro José Serra Soares, e grávida de sua filha Laura. Ela se estabeleceu com a família no Rio de Janeiro.
Quando chegou ao Brasil, ela começou a participar das atividades e debates promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência(SBPC). Por não conseguir a equivalência de diplomas que lhe permitiria dar aulas em universidade, em 1955 começou a trabalhar como estatística no Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), atual Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Em 1957, adotou a cidadania brasileira. Nessa época, depois de ter percebido que o conhecimento da matemática não era suficiente para o caminho profissional que pretendia seguir, matriculou-se, ainda em 1957, no curso de Economia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. No ano seguinte, tornou-se Analista Matemática do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde trabalhou até 1960. Entre 1958 e 1960 ela foi também membro do Grupo Executivo de Indústria Mecânica Pesada (Geimape), um dos grupos executivos surgidos durante o governo do presidente JK. Seu trabalho era ligado ao Conselho do Desenvolvimento, organismo central de planejamento subordinado diretamente à presidência da República, encarregado de elaborar e coordenar os programas setoriais definidos pela política econômica do governo.
Seu trabalho sofreu influência de três grandes economistas brasileiros: Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel, que a despertou para as questões relacionadas ao capital financeiro.
Contrariamente aos que se entregaram de "consumo e ideologia" à globalização, este outro livro da Conceição retoma o tema esquecido do desenvolvimento nacional e se propõe o estudo das relações entre os Estados, as moedas e o processo de desenvolvimento das nações. Propõe também algumas perspectivas frente às atuais políticas neoliberais que estão desintegrando o espaço econômico e desmantelando o Estado nacional brasileiro.
Destruição Não Criadora, lançamento da Editora Record, é mais do que uma compilação dos textos mais representativos de Maria da Conceição Tavares: é a representação por escrito da extensão política alcançada pela autora. "Em tempos de incertezas e de ameaças à economia e à soberania brasileira, poucos têm tanta autoridade para apontar os equívocos e as malícias dos responsáveis pelas escolhas políticas do que Maria da Conceição. Dona de uma cultura notável e de forte sensibilidade social, ela mantém-se coerente na defesa de uma nova ordem: uma reforma no pensamento político e nos conceitos de trabalhismo, democracia e socialismo". A autora defende o fim do pacto que, segundo ela, é o mais 'esperto' mecanismo de perpetuação do conservadorismo já criado em nossa história republicana. "Este [o Executivo] vem se impondo sobre as demais instituições políticas e sociais da nação a ponto de retirar-lhe grande parte da autonomia requerida para uma luta democrática eficaz. O Congresso foi submetido a um rolo compressor, o Executivo legislou sem parar por meio de medidas provisórias, os sindicatos foram submetidos a pressões intoleráveis", afirma já na apresentação de Destruição Não Criadora. Em seus artigos, publicados principalmente na Folha de São Paulo, a professora de economia política denuncia sistematicamente as rachaduras e incoerências das atuais estruturas sócio-econômicas. Mesmo os que discordam de suas posições reconhecem a força dos comentários, das análises e das 'profecias' de Maria da Conceição Tavares, contraponto fundamental dos discursos oficiais.
"Polêmica, combativa, sagaz, emotiva, mas sempre lúcida. A argúcia e a coragem de Maria da Conceição Tavares são marcas tão indeléveis de seu temperamento quanto a paixão com a qual defende seus pontos de vista. Crítica ferrenha das "inconseqüências" do neoliberalismo, denunciadora da catástrofe do capitalismo globalizado e seus desmandos, ela se tornou uma das vozes mais representativas da oposição brasileira."
Destruição Não Criadora reúne artigos publicados entre os anos de 1995 e 1998, agrupados em sete grandes temas: "As ilusões da globalização"; "O Plano Real, a destruição não criadora"; "Os caminhos da privatização"; "A crise do sistema financeiro"; "Uma agenda de reformas negativas", "Concentração fundiária e desemprego: eixos da exclusão social" e "A transição democrática fraudada".
Celso Furtado escreveu sobre ela:
"Maria da Conceição Tavares reúne uma poderosa mente analítica, nutrida em sua formação matemática, a uma profunda sensibilidade social. A primeira geração de economistas brasileiros possuía formação jurídica ou de engenharia civil. Viam a sociedade como um quadro institucional cristalizado ou como um conjunto de mecanismos. Maria da Conceição pertence à geração seguinte, primeira formada nas recém-criadas escolas de economia de nível universitário. Sua formação matemática não a levou para um cientificismo positivista, isso graças a uma forte dose de historicismo que lhe veio da leitura precoce de Marx.
Esse rico equipamento intelectual foi posto a serviço de um forte senso de solidariedade social. Sua vida tem sido um combate sem quartel para injetar racionalidade e sentido ético na política deste país que se notabiliza pelas desigualdades sociais. Creio que existe um consenso entre nós no reconhecimento de que, no Brasil, ninguém pôs mais inteligência e vontade na luta pelas causas sociais do que esta brasileira por opção que é Maria da Conceição Tavares."
Em outubro de 1968, foi designada para o escritório da Cepal no Chile, onde também foi convidada a lecionar na Escolatina, ligada à Universidade do Chile. Sua presença no Chile nessa época evitou que fosse presa ou punida pelo AI-5 lançado em dezembro de 1968. Em outubro de 1971 licencia-se da Cepal para iniciar uma pós-graduação na Sorbonne em Paris. Com a piora da situação econômica, voltou ao Chile e passou a trabalhar, entre maio de 1972 e março de 1973, como assessora econômica voluntária no governo da Unidade Popular do Presidente Salvador Allende. Em fins de 1973, foi para a Universidade Autônoma do México como professora visitante, e trabalhou no escritório da Cepal daquele país durante o ano de 1974. Em novembro de 1974, quando se preparava para embarcar do para uma reunião em Santiago, foi detida e ficou alguns dias sequestrada pelos órgãos da repressão da Ditadura Militar Ela foi liberada por intervenção direta do ministros Severo Gomes, da Indústria e Comércio, e Mário Henrique Simonsen, da Fazenda, junto ao Presidente Ernesto Geisel.
Nos anos 1980, Maria da Conceição Tavares era um dos principais nomes da assessoria econômica PMDB e lecionava no Instituto de Economia da Unicamp, onde ela ajudara a implantar os cursos de mestrado e doutorado do departamento. Trabalhou no assessoramento da elaboração do Plano Cruzado, programa do governo Sarney destinado a combater a hiperinflação da época. A imagem de Conceição Tavares e a do seu departamento de economia que ficaram associados ao Plano Cruzado, por causa da emoção demonstrada por ela quando ocorreu o lançamento do plano, em março de 1986. Conceição Tavares emocionou-se e chorou em rede nacional por considerar que de partida o Plano Cruzado não era prejudicial aos assalariados e desfavorecidos da sociedade brasileira. Em entrevista de 2015, ela disse que se comoveu por ser o primeiro plano anti-inflacionário que não prejudicava o trabalhador; que "foi uma experiência amarga, depois, capotou tudo de maneira estrondosa". Pela presença pública conquistada na época, ganhou uma imitação no programa humorístico Escolinha do Professor Raimundo, interpretada por Nádia Maria.
Tendo sido eleita deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro em 1994, se tornaria uma das críticas mais contundentes da orientação econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. No ano de 1998, venceu o Prêmio Jabuti na categoria 'Economia'.
Em setembro de 2018, foi lançado um documentário sobre sua vida, dirigido por José Mariani, com a duração de 75 minutos. Em 2021, ficou subitamente popular nas redes sociais, quando usuários começaram a compartilhar trechos de entrevistas e aulas gravadas suas, particularmente uma disciplina de economia política ministrada na Unicamp, em 1992.
Maria da Conceição Tavares nos deixa em 8 de junho de 2024, aos 94 anos. Morreu dormindo, durante a madrugada.
Hildegard Angel, jornalista, ex-atriz, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante político Stuart Angel Jones.
"Perder Maria da Conceição foi perder uma inspiração, um motor, uma alavanca transformadora", escreve Hildegard Angel no Brasil 247...
Quando envolve tantos sentimentos de admiração e perda falar a respeito é difícil demais. Maria da Conceição Tavares, uma força da natureza humana, um furacão branco, preto, marrom, uma apoteose fumegante de conhecimento, emoção, garra e compromisso com a justiça social. Mulher linda, que as lutas e a idade tornaram ainda mais formosa.
Eu me aproximei dela por ocasião da primeira campanha de Dilma à Presidência, em disputa contra Serra. Então, a convidei, e ela aceitou o convite, para almoço pró-Dilma que organizei em casa de Lily, a viúva de Roberto Marinho. Eram 50 mulheres, várias lideranças femininas. Na mesa principal, com a homenageada e as anfitriãs, Maria da Conceição Tavares, Benedita da Silva, Lucy Barreto, enfim, éramos 10 à mesa.
A repercussão do almoço levou a equipe responsável pela campanha de Dilma na internet, que ainda engatinhava, a me procurar, pedindo que reunisse em minha casa um grupo de mulheres para gravar vídeos com declarações de apoio ao site da campanha.
Convidei, é claro, Maria da Conceição. Ainda tateando na seara política, perguntei a Conceição, que fora professora, tanto de José Serra quanto de Dilma, em que eles diferiam. Ela respondeu com a voz da sinceridade: "No conhecimento da economia, os dois sabem igual. O que os diferencia é que Dilma tem sensibilidade social". E tocou no coração. Ah, que bom ouvir isso!
Naquele ano 2010, Conceição celebrava seus 80 anos. Houve várias homenagens, inclusive no grande auditório lotado do Clube de Engenharia, então presidido por meu marido, Francis Bogossian. No palco, a mesa com a economista e outros ilustres, mas eu só lembro dela, prestava atenção, tentando não esquecer sequer uma palavra sua. Claro que esqueci. Mas ficou aquele rasgão de luz e consciência na minha incipiente formação.
Por tudo isso, hoje sinto mais, e mais me comovo, do que por tantas perdas recentes sofridas, e sem subestima-las. Perder Maria da Conceição foi perder uma inspiração, um motor, uma alavanca transformadora. Não foi uma perda solitária minha. Foi uma perda da Nação brasileira. Uma perda do povo, que certamente não vai sofrer por isso, pois o povo é, foi e sempre será o último a saber.
Um trecho tirado de uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura em 1995, repetido na segunda feira dia 10.junho, viralizou: "Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata".
“A distribuição determina a proporção (o quanto) de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina os produtos que o indivíduo exige através da sua parte na distribuição".
“Produção, distribuição, troca, consumo formam então um silogismo correto; a produção é a generalidade, distribuição e troca são a particularidade, o consumo é a individualidade, no qual o todo se funde” .
Impossível não chamarmos Marx, nessas três citações, para lembrarmos do óbvio, a fim de homenagear a grande mulher Maria da Conceição Tavares. Uma das críticas que ouvi sobre ela, inclusive de discípulos e admiradores, eles diziam que ela não era uma pessoa dialógica, ela dizia monólogos.
Pensamos: Ora, para coisas óbvias não é necessário o diálogo. Ela, Conceição, uma mulher auto afirmativa, dizia coisas óbvias! Como a questão da distribuição, que antecede e determina a produção e o consumo.
Na relação dialética entre distribuição, produção e consumo temos:
A distribuição da riqueza afeta o consumo e a produção. Se a riqueza estiver concentrada em poucas mãos, isso pode afetar negativamente o consumo, pois a maioria das pessoas terá menos recursos para gastar.
Por outro lado, uma distribuição mais equitativa da riqueza pode estimular o consumo, pois mais pessoas terão poder de compra.
Além disso, a produção também é influenciada pela distribuição da riqueza. Empresas e empreendedores precisam de capital para investir na produção de bens e serviços. Se a riqueza estiver concentrada, pode haver menos investimento produtivo.
Porém, existem obviedades que o nosso mundo, a ideologia capitalista, não deseja que enxerguemos... pois "enxergar" pode gerar ação. Já dizia Hegel, antes de Marx: "A informação gera a ação e a desinformação gera a conformação"
Terminamos com essa ideia: "O conhecimento é o motor para a ação transformadora". E viva Maria da Conceição... eternamente presente... nossa gratidão...
Santuza TU
Se cada mulher tomasse consciência de que não foi gerada do barro tirado da costela de ninguém e sim da energia poderosa capaz de produzir um Big Bang. Ela foi um.
ResponderExcluirE entre as grandes e essenciais mulheres do Brasil sempre são alimentadas da força vital do universo, que eu creio é o grande SENHOR que todos aclamar. Viva CONCEIÇÃO!
Isso clau... obrigada pelo comentário querida. Bjs. SantuzaTU
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