sábado, 21 de outubro de 2023

Mais conversas sobre o SENTIDO DA VIDA

 

- Você tinha que viver pra ver isso, Contardo! Krenak na ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS!

Ailton Alves Lacerda Krenak,  mais conhecido como Ailton Krenak  é um líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta, escritor brasileiro da etnia indígena krenaque e Imortal da Academia Brasileira de Letras. Ailton é também professor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas gerais,  e é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional.

Nasceu em 1953 no município de Itabirinha, em Minas Gerais. Ainda adolescente mudou-se com sua família para o estado do Paraná, onde se alfabetizou e se tornou jornalista. Na década de 1980 passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 85, fundou o Núcleo de Cultura Indígena, uma organização não governamental, com sede atualmente na Serra do Cipó em Minas Gerais.

Nos anos 80 do século passado Krenak  participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Brasileira de 1988, onde  protagonizou uma das cenas mais marcantes da mesma:

Em discurso na tribuna, pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo, segundo o tradicional costume indígena brasileiro, para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos dos povos indígenas brasileiros.


Krenak participou da série na Netflix Guerras no Brasil produzida em 2018, que relata com detalhes a formação do Brasil ao longo de séculos de conflito armado, começando com os primeiros conquistadores até a violência na atualidade. A série documental apresenta, em 5 episódios com duração de cerca de meia hora cada, os fatos e as diferentes versões dos principais conflitos armados da história do país. A narrativa é costurada pelos depoimentos dos principais conhecedores dos fatos, um deles o Krenak, no primeiro episódio, que mostra como as guerras geradas pela invasão e colonização do Brasil há mais de 500 anos afetaram os povos indígenas. Nesse episódio, Ailton Krenak narra a resistência e a luta dos indígenas contra os colonizadores, e também fala sobre a importância da cultura e da memória indígena para o Brasil.
Em 2000 protagonizou o documentário Índios no Brasil produzido pela TV Escola que, dividido em dez partes, aborda a identidade, línguas, costumes, tradições, a colonização e o contato com o branco, a briga pela terra, a integração com a natureza e os direitos conquistados dos indígenas até fins do século XX. Sendo o narrador principal, Krenak dialoga constantemente com o interlocutor no decorrer do documentário, e mostra, sem intermediários, como vivem e o que pensam os índios de nove povos dispersos pelo território nacional.
Em 2021, lançou o livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo, uma das obras mais vendidas nas livrarias brasileiras, com versões lançadas em inglês, francês, espanhol e alemão.

Em março de 2023 assumiu a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras, tornando-se o primeiro indígena a ingressar na instituição. E em 5 de outubro de 2023 foi eleito para a cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se o primeiro imortal de origem indígena.

Contardo, e por que o nosso Krenak está entre as pessoas que nos revelam, nos fazem pensar melhor sobre o 'sentido da vida'

- Porque ele nos mostra a falta de sentido desse mundo em que estamos vivendo, o mundo do consumo, da exploração da natureza até a 'ultrapassagem do ponto de não retorno', até o possível extermínio do planeta.  E nos diz como aprender com nossos ancestrais a "adiar o fim do mundo".

A cidade de Itabirinha, onde nasceu Krenak, se situa na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de mineração. No livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo Krenak critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”.

Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata - e insana -  em direção ao abismo.

“Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. [...] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história.”

Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19,  Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

Publicado em 2020 pela editora Companhia das Letras, o livro é uma coletânea de entrevistas e palestras do autor, organizado por Rita Carelli. Aborda temas como a pandemia de covid-19, o consumismo, a devastação ambiental, a ideia de humanidade e a relação com a Terra. O livro é dividido em cinco capítulos:

Dinheiro não se come: Neste capítulo, Krenak critica a lógica capitalista que transforma tudo em mercadoria e que ignora os limites ecológicos do planeta. Ele questiona a ideia de progresso e de desenvolvimento que nos leva a consumir cada vez mais e a explorar os recursos naturais sem respeito pela vida. E também fala sobre a resistência dos povos indígenas que defendem seus territórios e suas culturas contra o avanço do agronegócio e da mineração.

Sonhos para adiar o fim do mundo: Aqui ele reflete reflete sobre o papel dos sonhos na construção de um outro mundo possível, mais solidário e sustentável. Afirma que os sonhos são uma forma de comunicação com a Terra e com os outros seres vivos, e que eles nos permitem imaginar novas formas de existir e de conviver. E cita exemplos de artistas, poetas e filósofos que nos inspiram a sonhar, como Carlos Drummond de Andrade, Milton Nascimento e Eduardo Viveiros de Castro.

A máquina de fazer coisas: Nesse capítulo é analisado  o impacto da tecnologia na nossa forma de perceber e de interagir com o mundo. Ele argumenta que a tecnologia nos aliena da nossa conexão com a natureza e nos torna dependentes de objetos fabricados que nos distanciam da nossa essência. E alerta para os riscos da inteligência artificial e da colonização espacial, que podem nos levar a perder o sentido da vida.

O amanhã não está à venda: Agora Krenak discute as consequências da pandemia de covid-19 para a sociedade e para o planeta. Ele afirma que a pandemia é um sintoma da crise sistêmica que vivemos, causada pela nossa forma predatória de habitar a Terra. Propõe que aproveitemos aquele momento de suspensão das atividades econômicas para repensarmos nossas prioridades e nossos valores, e para reconhecermos nossa vulnerabilidade e nossa interdependência com os outros seres vivos.

A vida não é útil: Por último, ele questiona o conceito de utilidade que orienta nossa cultura ocidentalizada capitalista. Afirma que a vida não é útil, mas sim um dom, um mistério, uma dádiva. Defende que devemos valorizar a vida pelo que ela é, e não pelo que ela produz ou consome. E critica a ideia de humanidade como uma categoria universal e homogênea, que exclui as diferenças e as singularidades dos povos indígenas e de outras formas de existência.

Escritora,  diretora de cinema e teatro, atriz,  Rita Carelli, tem seu romance de estreia TERRAPRETA  assinado por Krenak, que diz: "Trata-se de um romance de formação para leitores que vislumbram outras cartografias do país”. O romance conduz o leitor, com extrema habilidade, pelo universo dos afetos, da inteligência e da sensibilidade indígena, no qual cada gesto e cada palavra estão permeados por uma visão mítica do mundo. Uma verdadeira jornada rumo ao autoconhecimento.

E Rita diz sobre Krenak, no livro A vida não é útil: “Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global. Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia”.

E em 2022 a Companhia das Letras lançou FUTURO ANCESTRAL, uma coleção de ensaios com alguns dos escritos de Krenak de 2020 e 2021, também organizados por Rita Carelli.

Quando Krenak foi questionado sobre o conceito em torno do título do livro, ele respondeu: "Quando dizemos que o futuro é ancestral, tem mais a ver com DNA do que com genealogia. Essa é a visão de mundo: é a capacidade de voltar a um evento que criou o mundo e que está vivo em você. Queremos uma criação constante de tudo e de nós mesmos. É isso que acontece no DNA, esse código repassado por nossos ancestrais. Isso pode nos reintroduzir na constelação da vida dentro do planeta, onde deixamos de ser especialistas e percebemos que temos uma origem comum". 

Através deste conceito, Krenak nos convida a resistir às narrativas sobre o fim do mundo, imaginando um futuro ancestral, moldado pelas memórias que podem ser encontradas no núcleo da Terra e que são carregadas por nossos ancestrais. Diz ele: “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.” 

O livro contém cinco capítulos,  organizados por Rita Carelli a partir das seguintes conversas, entrevistas e palestras com Ailton Krenak:

- Políticas cósmicas.- Diálogo de abertura do Festival Seres Rios, com Marisol de la Cadena, antropóloga peruana reconhecida por seu trabalho em etnografia, teoria feminista e estudos sobre povos indígenas na América Latina,   em agosto de 2021;
- Os rios e as cidades.- Aula espetáculo com Krenak, na segunda edição de Amazônia das Palavras, em novembro de 2021;
- Cartografias para Adiar o Fim do Mundo.- Mesa virtual da Flip, com Muniz Sodré, em dezembro de 2021;
- Espaços para Respirar.- XV Seminário Internacional da Escola da Cidade, com Wellington Cançado, em agosto de 2020;
- UOL Entrevista: Ailton Krenak, Liderança indígena.- Uma entrevista por Fabióla Cidral, Leonardo Sakamoto e Maria Carolina Trevisan, em agosto de 2020;
- A Vida Não é Útil.- Live da TV Canal 26 e Canal HD 526 da NET-Rio, uma entrevista por Rosangela Coelho;
O Templo e a Educação: A Importância dos Saberes Ancestrais.- Fala no Segundo Congresso LIV Virtual, em outubro de 2020.

Como você pode ver, Contardo, o SBC, em vez de buscar a felicidade, estamos nos divertindo, lendo e conversando sobre o sentido da vida. Claro que as conversas, às vezes nos deixam tristes... mas, principalmente, nos provocam e nos enchem de coragem para, além  aprender com essas pessoas maravilhosas sobre a vida e o viver, sobre a superação desse modelo de mundo que conhecemos, seguir em frente nas nossas convicções sobre um mundo mais bonito - e arregaçarmos  as mangas, assumirmos nosso protagonismo na construção desse mundo. Obrigada Contardo...

E, para terminar, lembramos - e recomendamos -  o filme:


E o livro:

A Última Floresta é um filme  brasileiro de 2021  dirigido por Luiz Bolognesi , com roteiro de Bolognesi  e do xamã yanomami Davi Kopenawa  e a colaboração de outros indígenas .O filme tem parcialmente o caráter de documentário e é baseado no livro  A queda do Céu - palavras de um Xamã Yanomami, escrito pelo antropólogo Bruce Albert e lançado em 2015, estando focado nas vivências e tradições do povo yanomami e suas lutas pela sobrevivência contra as múltiplas ameaças representadas pelo homem branco, reconstruídas principalmente através das falas de Kopenawa, que é o personagem central do livro e do filme.


Boa leitura, apreciem o filme, conversam, troquem ideias sobre a vida e sobre as relações, façam a vida ficar interessante, isso é uma tarefa de cada pessoa. E, junt@s, construiremos um  mundo mais bonito e fraterno... abraços carinhosos...

Um comentário:

  1. Esse moço é sabedoria e igualdade a flor da pele , literalmente.
    Orgulho e amor por esse conterrâneo.🎁💖💯

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