terça-feira, 8 de agosto de 2023

SARAU S B C 03.agosto.23: "EMOÇÕES: combustível para a vida"


Com essa bela imagem de obra de Sara Ávila de 1998 o espaço cultural Comuna nos presenteou com o card/convite. 
Presentes no nosso Sarau a Alice e o Tiago, obrigada mais uma vez aos dois pelo espaço super bacana.
E, como combinado no sarau anterior, pai e filho, Aluísio e André nos ofereceram uma deliciosa degustação de queijos da Fazenda Boa Esperança em Itaguara. Qualquer dia faremos um sarau por lá...
Nosso querido Cláudio Sousa fez uma transmissão ao vivo no Jornal Alto Astral News... O SBC agradece enormemente...

Começamos com um trechinho do hino do SBC:

Agora é hora, é hora do SBC, 
samba bobagem cerveja,
c vai querer? ou c vai correr?

Em seguida apresentamos nosso tema:
EMOÇÕES - COMBUSTIVEL PARA A VIDA 
e vocês vão entender o título viu?
Começamos com uma frase:
"As emoções são artefatos culturais"... 
vamos refletir sobre essa ideia:
animal sente? quem tem animal em casa? cachorro sofre?
fica alegre quando o dono ou a dona chega? qual a diferença
do cachorro para o ser humano?
A PALAVRA.... A LINGUAGEM... 
a gente sabe dar nome para as emoções...
E... quando nomeamos... aí "aprendemos" as emoções...

E, na nossa cultura, aprendemos as emoções NOBRES...
É como se, desde quando aprendemos a falar, já
aprendemos a categorizar as emoções, a coloca-las numa prateleira... 
no alto da prateleira estão as
emoções nobres, aquelas que temos que ter, ou fingir que
temos... essa aprendizagem vem junto com o romantismo,
a aprendizagem de idealização... e a aprendizagem do
maniqueísmo... céu/inferno, bom/mal... amigo/inimigo...

E vai descendo a prateleira... e chega nas emoções
terríveis... as "más" emoções... que não podemos ter... até
o fundo da prateleira... eu acho a inveja a mais terrível...
no entanto, a inveja é ótima! uma ótima dica para o
desejo... mas esse é um outro sarau...

Agora eu pergunto: reprimir, negar... as emoções, faz com
que elas desapareçam, deixem de existir?

Claro que não... elas estão presentes nas minhas ações e
eu NÃO tenho consciência disso... essa é a questão... 
Um filósofo brasileiro, Rouanet, Sergio Paulo, fala sobre a
razão louca: ou seja, a loucura não está nas emoções, e
sim na razão que "APRENDE" a eliminar as emoções...
em vez de desenvolver a sabedoria de estar sempre
usando as mesmas a nosso favor...

E a arte está sempre nos ajudando a nos compreender e
compreender o mundo:
Me lembrei de uma música, me ajudem:
"Quando a gente tenta
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado, morto, amordaçado,
volta a incomodar"...
Obrigada Fagner, a música faz intensificar as emoções,
faz aumentar a compreensão, faz juntar o pensar e o sentir...
Enfim, conversar sobre as emoções, este é o nosso sarau...
E o vídeo do nosso querido Zum Noronha, que filmou e fotografou:

Ai eu me lembrei de uma dica - um fio condutor do nosso
sarau - que, há "trocentos" anos atrás, eu aprendi, que serve para
"reconhecer" as emoções:
A palavra é: M A R T A
Essa palavra nos ajuda a reconhecer o que podemos dizer
de emoções PRIMÁRIAS, ou emoções brutas, outras
emoções são derivadas - ou secundárias - dessas cinco:
Vamos ver se conseguimos reconhecer essas emoções?

M MEDO
A ALEGRIA
R RAIVA
T TRISTEZA
A AMOR
.....................................
Então... o convite agora é para procurarmos na arte, na música,
poesia, literatura, coisas que nos ajudem a ver como
essas emoções são retratadas, ver as emoções derivadas
e também como são retratadas... e, enfim, desenvolver a
sabedoria de criticar o que aprendemos, internalizamos,
através da arte (porque a arte reproduz a cultura) ... 
Assim como a competência para, além de reconhecer, CRIAR
arte ... que nos ajude a vivenciar todas as emoções a favor
do nosso crescimento como seres humanos e seres
relacionais...

Bora começar com o MEDO:
LENINE foi o que encontrei de  mais bonito (e certeiro) sobre essa emoção ...  e quem 'declamou' essa 'música' do Lenine foi nosso grande Rômulo, do Asa de Papel:
Aqui só um trechinho:
"O medo é medonho
o medo domina
o medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara, medo de encarar
medo de calar a boca, medo de escutar
medo de passar a perna, medo de cair
medo de fazer de conta, medo de iludir

Medo de se arrepender
medo de deixar por fazer
medo de se amargurar pelo que não fez
medo de perder a vez
medo de fugir da raia na hora H
medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo que dá medo do medo que dá
Medo que dá medo do medo que dá"

Vale a pena ouvir a música:

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Nossa segunda emoção: ALEGRIA:
Dois pequenos textos foram lidos pela Iza:

"Pode-se ficar alegre consigo mesmo durante certo tempo, mas a longo prazo a alegria tem de ser compartilhada por duas pessoas"  Henrik Ibsen 

"Era prazer? Era. Mas era mais que prazer. Era alegria. A diferença?. O prazer só existe no momento. A alegria é aquilo que existe só pela lembrança. O prazer é único, não se repete. Aquele que foi, já foi. Outro será outro. Mas a alegria se repete sempre. Basta lembrar". Rubem Alves.
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.Nossa terceira emoção: RAIVA:


Nossos amigos Júlia e Paulinho leram frases de filósofos sobre a raiva:
"Evite sentimos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causa-los" (dizem que do Nietzsche)
"A raiva é um veneno que bebemos esperando que outros morram" (dizem que do Shakespeare)
Enquanto a Lispector, Clarice, nos diz essa pérola sobre a raiva:
"A raiva é a minha revolta mais profunda de ser gente? Ser gente me cansa. Há dias que vivo da raiva de viver", da Clarisse Lispector.

E com essa introdução, falamos da raiva citando o livro: "4 gigantes da alma" ...O autor - Myra e López, Emilio, sociólogo espanhol - procura identificar origens biológicas
e sociais de cada emoção - medo, ira (agressividade, raiva),
 amor e ... dever, emoção social, segundo ele - as outras 3 são
emoções naturais. O livro se equilibra muito bem entre o
científico e a autoajuda. A primeira parte do livro - medo e ira - é
perfeita: surpreendente e convincente - o medo é a
emoção que nos faz retrair e a raiva é a emoção
mobilizadora...

E refletimos: A raiva reprimida pode se transformar em ressentimento...
que pode nos matar ... 
Ou pode se transformar em arte...
E também pode evoluir para o fascismo...

Assim como o medo "fabricado" na nossa cultura, que pode produzir o
preconceito - medo do diferente... e também  o fascismo....

E lembramos Lupicínio Rodrigues, VINGANÇA, emoção derivada da raiva, transformada em arte:
Aqui o próprio Lupicínio interpretando VINGANÇA...
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A quarta emoção da nossa palavra chave: MARTA: 
TRISTEZA:
A coisa mais bonita que já li sobre tristeza está no livro
CARTAS A UM JOVEM POETA, de Rainer Maria Rilke,
As Cartas a um Jovem Poeta, escritas entre 1903 e 1908
para Franz Xaver Kappus, um admirador dele e aspirante
a poeta, se tornaram a obra mais conhecida de Rilke, pelo
fato de que nela o autor se expõe diretamente, como
quem faz uma confidência, dando dicas a Kappus não
somente sobre a arte da escrita, mas também sobre a
vida, o amor, a solidão e o novo papel da mulher.
E  um trechinho dessa carta foi falado pela nossa convidada Denise Gomes:
"Quero conversar de novo com  o senhor por um momento, meu caro Kappus, embora não possa dizer quase nada que o ajude, quase nada de útil. O senhor teve muitas e grandes tristezas que passaram. E diz que mesmo esta passagem foi difícil e perturbadora. Mas, por favor, avalie se essas grandes tristezas não atravessaram o seu íntimo, se muita coisa no senhor não se transformou, se algum lugar, algum ponto do seu ser não se modificou enquanto o senhor estava triste. São são ruins e perigosas as tristezas quem carregamos em meio às pessoas para dominá-las; como doenças que são tratadas de modo superficial e leviano, elas apenas recuam e,  após uma pequena pausa, irrompem ainda mais terríveis. Essas tristezas se acumulam no íntimo e constituem a vida não vivida, desdenhada, perdida, de que se pode morrer. Se nos fosse possível ver além do alcance do nosso saber talvez pudéssemos suportar nossas tristezas com mais confiança do que nossas alegrias. Pois elas são os instantes em que algo de novo penetrou em nós, algo desconhecido; nossos sentimentos se calam em um acanhamento tímido, tudo em nós recusa, surge uma quietude, e o novo, que ninguém conhece, é encontrado bem ali no meio, em silêncio.
...
Se ainda posso acrescentar algo, é o seguinte: não acredite que quem procura consolá-lo vive sem esforço, em meio às palavras simples e tranquilas que às vezes lhe fazem bem. A vida dele tem muita labuta e muita tristeza e permanece muito atrás dessas coisas. Se fosse de outra maneira, nunca teria encontrado aquelas palavras.
Seu, 
Rainer Maria Rilke,
Suécia, 4 de novembro de 1904"




Em seguida cantamos com nossa querida Neide... e Caetano... Veloso:
"A tristeza é senhora
desde que o samba é samba é assim
a lágrima clara sobre a pele escura
a noite a chuva que cai lá fora
solidão apavora
tudo demorando em ser tão ruim
mas alguma coisa acontece
no quando agora em mim
cantando eu mando a tristeza embora
cantando...
cantando...

E emendando com uma música antiga, do século passado, de Niltinho e Haroldo Lobo:

"Tristeza, por favor vai embora, minha alma que chora, está
vendo o meu fim, fez do meu coração a sua fantasia, já é
demais o meu penar, quero volta aquela vida de alegria,
quero de novo cantar....
Laraiala... laialaialaiala... quero de novo cantar..."

...................................

... e chegamos à emoção 5 do nosso esquema MARTA: 
AMOR... 
TÃO CANTADO, DE FORMAS TÃO
DISTORCIDAS... E TAMBÉM DE FORMAS TÃO BONITAS...

Palco aberto para cantarmos o amor em prosa e verso e
música.... 

E teve Rupi Kaur, poeta indiana, do seu livro Outros jeitos de usar a boca :
"Acima de tudo, ame como se fosse a única coisa que você sabe fazer
no fim do dia, isso tudo não significa nada
esta página onde você está
seu diploma, seu emprego
o dinheiro, nada importa,
exceto o amor e a conexão entre as pessoas
quem você amou e com que profundidade você amou
como você tocou as pessoas a sua volta
e quanto você se doou a elas".

E teve nossa querida Márcia falando seus poemas, do livro APNÉIA:

e, por último, nossa música "medida certa" (somente a letra, falada por mim...):

Desafio aceito     Bora pesquisar
O que o amor não é      E o que o amor será...
É nessa roda de samba    Que vamos prosear
O que o amor não é    E o que o amor será...

Amor não é posse     Não é submissão
Mas é dar e receber     Na medida certa do coração

Amor não é sofrer      Não é bater nem machucar
A violência está     noutro lugar

Amor não rima com dor     E sim com liberdade
Respeito e admiração       Mesmo que não rime na canção

Antes de tudo o amor próprio     Pra rimar com alegrias
Do encontro com o outro     Pra passar ótimos dias

É nessa roda de samba       Que vamos prosear
o que o amor não é       E o  que o amor será... bis

Desafio cumprido
Vamos construir e multiplicar Um novo conceito de amor
E é nessa roda de bamba que todos vão sambar
Cantando o que o amor não é 
cantando o que o amor será...



Terminamos nosso sarau, durou mais ou menos uma hora e meia ... e foi emocionante... 
Obrigada pela presença todas as pessoas que também participaram ouvindo e com brilho no olhar...

Desafio cumprido... e próximo sarau anunciado para primeira quinta feira de setembro, que cairá no feriado do dia 7... deveremos começar mais cedo para nos divertir mais...
Até lá... 



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