terça-feira, 1 de dezembro de 2020

HISTÓRIA BONITA DE UM PROCESSO DE EMPODERAMENTO

 

Fico tão orgulhosa dos meus amigos e amigas! Realmente, Vinicius (o Moraes) tinha razão, não conseguiria viver sem amigos. São, no meu entendimento, as relações mais preciosas, que mais fazem a gente crescer... e sempre em mão dupla, oferecer minhas reflexões, minha experiência de vida, para que elxs também cresçam comigo.

Conheço a Silvana há uns quinze anos... do samba... da diretoria do SBC. E nos identificamos tanto que ela parece que escreve como eu, parece meu alter ego. E isso lá da Bahia, pois ela voltou pra lá há uns cinco anos. E continuamos nossos contatos virtuais, escrevendo, falando, fazendo rodas de conversa com homens e mulheres que querem aprender a serem melhores consigo mesmxs e melhores relacionalmente.

Mas não podia deixar de publicar esta sua carta. Parece muito com o que estou também vivenciando. Obrigada minha grande amiga.

TU querida! Estou aqui na Bahia... acompanho seu blog, leio suas postagens e me lembro com saudades das nossas longas conversas sobre nós, mulheres, quem somos, o que queremos, nossa identidade reflexa (o que somos criadas para...) e nossa identidade construída por nós mesmas, um trabalho para a vida toda.

Como aprendi com você TU!, ou melhor, como você gosta de dizer: como aprendemos juntas!!!, pois o processo de aprendizagem só ocorre em mão dupla. E aqui na Bahia eu multiplico nossas teorias, construídas a partir da reflexão sobre nós mesmas, nossas vidas. Claro que apropriando de outras teorias já prontas, um filme, um livro, que servem como pretexto... ou pré-texto... o texto fazemos nós.

E agora acabo de ler estes dois posts no blog “quando amo, O QUÊ estou amando” e me deu vontade de escrever um depoimento sobre minha vida, sobre meu processo de empoderamento...

Lembra aquela reflexão que fizemos numa noite regada a muita cerva, sobre estar no palco ou estar nos bastidores, sobre os papéis de palco e os papéis de bastidor. Essa frase tão cravada na nossa alma “por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e ainda atual, acredite...) traduz o papel de bastidor exercido por nós nas relações íntimas... e, para exercermos “bem” este papel nossa auto estima tinha que “ir, aos poucos, sendo abaixada”...

Por isso, ou melhor, lutando historicamente contra isso, fui internalizando um juízo de valor depreciativo sobre o papel de bastidores. Claro, o que mais eu queria, e fui construindo, era caminhar para estar no palco, minha autoestima estava relacionada ao tanto que eu dava conta de me mostrar, pois foi isso que foi sendo destruído em mim para eu desempenhar o papel de bastidor.

Lembra do livro que você me deu uma grande “aula” sobre ele¿ “O feminismo espontâneo da histeria”... Nem li o livro TU, sua “aula”, sua “interpretação” do livro, foi melhor pra mim... e você me disse que a principal queixa das mulheres é: tenho medo de me arriscar e “não dar certo”... então, essa queixa está invertida, nosso maior medo é “dar certo”, pois dar certo questiona todos os nossos papéis internalizados, esses de bastidor... dar certo, agora entendi, sob vários aspectos, é estar no palco, protagonizando sua própria história, “dar certo” é, enfim, construir, para toda a vida, o “ser quem eu quero ser”, em todos os níveis de relação... Agora também, TU, estou entendendo aquilo que você dizia sobre os níveis de relação: intimo, pessoal, social e público... pois, caminhando para a construção do  “dar certo” profissionalmente, fazer o que gosto e ganhar dinheiro com isso (não tenho dúvida, agora, isso é uma construção valiosa) fui começando a perceber que, dando passos para além disso, começamos a nos perguntar: e, o que fazemos pelo mundo em que estamos, para construir um mundo melhor para além do nosso mundinho, aquele olhar horizontal que você diz... e aí é que começamos nossa consciência no nível mais amplo, enquanto cidadã, o que estamos fazendo, o que podemos fazer... e aí, TU, comecei a sair, digamos, do meu “casulo” de empoderamento, e comecei a procurar me engajar em grupos que discutem a questão da mulher, a questão de gênero, e assim por diante... e assim foi que me tornei “política” no sentido mais amplo da palavra TU!!! Agora entendo demais, profundamente, porque exerço isso, está na minha vida:  “amor e política na cama e no mundo”.

E então comecei também, agora, com a “mitideza” que você me ensinou (nem supermetida – arrogante, nem submetida, subserviente... autoestima ao ponto), me arriscando em papéis de palco e experimentando meu tamanho, o que dou conta e o que posso dar mais conta, construir mais...

E aí comecei a perceber também o papel importantíssimo de bastidor... e descobri que também posso e sei fazer este papel, porém, de uma maneira diferente daquela que eu fazia anteriormente, valorizando meu papel de bastidor e  desempenhando este papel da melhor forma possível, com a maior competência. Pois este papel é fundamental... tão importante quanto o do palco. Melhor, são papéis complementares.

E saber desempenhar com sabedoria e prazer os dois papéis é muito bom, transitar entre os dois papéis, traz um sentimento de liberdade de ser. Pois não é que voltei a ir pra cozinha e fazer umas coisinhas gostosas, lembra que neguei tudo que sabia fazer na cozinha, pois este era um lugar de bastidor da mulher. Agora adoro fazer umas receitas e convidar amigas e amigos pra tomar um vinho e comer uns petiscos feitos por mim. Parece um nada, mas pra mim é um orgulho pessoal  uma superação. E, ao mesmo tempo, me orgulho de pertencer a grupos políticos que estão pensando e agindo no sentido da construção de um mundo mais igualitário, mais fraterno, mais bonito. E, claro, me bancando ... “liberdade é de pensar, se sentir e de agir... mas passa pelo bolso”.

TU, não sei se foi o Guimarães Rosa que disse isso, mas agora me ocorre a frase:

“A vida é um espetáculo imperdível, um palco, onde cada um tem o seu trabalho de fazer o melhor desempenho”... realmente, procurei no google e não vi essa frase dele... então, agora é nossa... minha gratidão a você, querida amiga, por contribuir no meu caminho para ser uma pessoa melhor, ser quem eu quero ser...

Silvana Baiana

Gratidão querida amiga, por você existir na minha vida!

Santuza TU


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