terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Conversas SBCenses 3: Quando amo, O QUÊ estou amando?

Terminando nossa trilogia "quando amo, O QUÊ estou amando?", uma ampliação do conceito para outros níveis de relação, além da relação íntima.

Não me lembro nem onde nem quando li um artigo sobre o tema “relações simbióticas”, dizendo sobre as relações íntimas, afetivo-sexuais. Mas este tema me ocorreu a propósito da pergunta: quando amo O QUÊ estou amando?

Então... primeiro vamos ao google:  “...a simbiose nasceu da busca estratégica de interações entre organismos de diferentes espécies... os exemplos mais comuns são os de verminoses, o que muitas vezes pode levar o hospedeiro à morte...”

“o conceito de simbiose é uma metáfora biológica, que usamos na psicologia para descrever a situação de dependência emocional entre indivíduos. Essa dependência é normal em etapas muito iniciais da vida, principalmente do bebê com a mãe, logo após a gravidez, mas deixa de ser saudável se perdura...”

E, continuando na pesquisa googolistica (rsrs), os tipos de simbiose existentes:

. no Mutualismo, ambas as partes se beneficiam da relação, mesmo que não igualmente, tampouco existe uma avaliação do quanto custa a cada um tal benefício;

. no Comensalismo, uma das partes obtém benefícios sem prejudicar ou beneficiar a outra, ou seja, a parte beneficiadora se orgulha de ser protetora e a parte beneficiada agradece... pode ser uma relação produtiva para ambas as partes, embora assimétrica. Assim como pode ser produtiva somente durante um certo tempo... daí, pode passar, aos poucos, para o tipo a seguir, o parasitismo;

. já no Parasitismo, um dos simbiontes se beneficia às custas do outro, e pode levar à morte do beneficiante, o que está sendo sugado.

Obrigada Google...

Vamos à reflexão: quando li sobre relações simbióticas pensei mais nas relações afetivo-sexuais entre nós, mulheres, e os homens... acontece por demais! Quando as relações não estão na base da simetria... de pensar, de sentir, de agir... e que passa pelo bolso, o econômico, como já falamos... as relações acabam sendo simbióticas... e nós, mulheres, sofremos consequências terrivelmente “invisíveis”. Li uma vez num livro de um jornalista italiano contemporâneo, Francesco Alberoni, “Enamoramento e Amor”, que o homem se enamora “daquele ser explendoroso” e, rapidamente (ou aos poucos), a transforma “num ser domável”, ou seja, destrói exatamente aquela característica que o fez amá-la!  Que motivos o fariam realizar esse “movimento inconsciente”!!!

Pois bem, acham que isso só acontece nas relações afetivo-sexuais entre homens e mulheres? Nem pensar! rsrs. Eu achava que as relações homo afetivas aconteciam de formas mais livres... e, sim, acontecem de uma forma mais livre em outros aspectos. Porém, infelizmente, as relações homo afetivas reproduzem, também, obviamente, nossos padrões culturalmente enraizados. Portanto, não estamos imunes!!!

Atenção!!! Os conceitos enraizados de “amor” estão em todas as relações! “só sei viver se for por você”... ai... odeio Djavan...

Então, percebo também que as relações simbióticas parasitárias se desenvolvem, também, nas amizades! Assim como o “amor romântico”... pois a idealização da outra pessoa, a mitificação, é uma das principais características desse amor ... e da idealização é um pulo para o desprezo, é só um chutinho no pedestal onde colocamos a pessoa mitificada, qualquer “humanidade” da mesma é pretexto para o desprezo, perdemos a condição humana de admiração. E precisamos estar bastante atentxs a isso, corremos sérios riscos!

Essa “teorização” me vem a partir de relato de uma pessoa amiga que, segundo ela, quase sucumbiu à relação simbiótica. Pois  percebia que a outra pessoa, uma amiga,   a amava e admirava muito, e era recíproco. Então, o que foi acontecendo, sem que as duas percebessem (Freud tinha razão: inconsciente existe, daí o sentido da pergunta: “O quê” estamos amando, a fim de "irmos descobrindo...")? 

Uma delas foi incentivando a outra para o papel de palco em várias situações. E a primeira fazia o papel de bastidor, muitas vezes de uma maneira controladora e autoritária, minando aos poucos o brilho da outra. 

Perceberam a “sutileza” do vínculo destrutivo? E a saída possível seria a tomada de consciência do próprio brilho por parte de uma delas, e a tomada de consciência da vaidade por parte da outra, que facilmente caia na armadilha do reconhecimento, e ia ficando do jeito que a outra queria, ia se perdendo de si mesma.

E, pensando mais sobre a origem dessas relações: a INVEJA.

Que sentimento potente!!! Tanto para a destruição quanto para a vida... e o tanto que precisamos estar atentxs a este sentimento, enquanto objetxs da inveja e enquanto sujeitxs invejantes.




Salieri, compositor de óperas, italiano de final do  século XVIII e princípio do século XIX, conseguiu ir destruindo Mozart, até a morte, por não reconhecer seu próprio brilho. E Mozart, por imaturidade, e|ou vaidade, entre outras características, permitiu isso. Depois Salieri ficou louco. O filme “Amadeus”, de 1984, do grande diretor Milos Forman, mostra a destruição (do outro e de si mesmx) de uma maneira esplêndida.

Uma grande pessoa me disse, uma vez, uma metáfora valiosa pra minha vida: desde que nascemos, vamos aprendendo a construir uma prateleira dos sentimentos, das emoções. Nessa prateleira, as emoções que ocupam os lugares mais altos são as “emoções nobres”, aquelas que devemos ter, ou “fingir que temos”, o altruísmo, a generosidade... como se essas emoções fossem aprendidas numa sociedade capitalista... Ô dó... até a generosidade é manifestada na ação de forma arrogante, por uma classe social privilegiada... ou seja, os sentimentos e emoções são artefatos culturais, são, também, fabricados culturalmente!!!

Ai... vai descendo a prateleira e veem os sentimento “menos nobres”... vai descendo... lá embaixo na prateleira está um desses sentimentos: a inveja...

A inveja é um sentimento horrível! Um pecado, um dos sete pecados capitais. Não devemos ter inveja! E, se a reconhecermos, devemos fingir que não a temos!!! Vamos substituindo-a, por exemplo, por admiração... a admiração é um sentimento que coloca o admirado num pedestal, como já disse... e qualquer “humanidade” que a pessoa se manifeste ela será “destruída”.

E fico pensando: como é importante a gente tomar consciência dessas emoções “negadas” culturalmente, apropriar delas e ir construindo na direção das escolhas, que podem ser: . . ou de cortar a relação, porque não dou conta ou não quero lidar com isso, pelo menos agora; ou aprender a viver e relacionar com a  pessoa tendo consciência e minimizando essa faceta da relação; . e|ou tentar conversar com a pessoa (dar e receber feedback) para construir uma interpretação bonita e produtiva das coisas, hipótese mais bacana e menos provável; 

Enfim, podemos  escolher crescer com isso... e nos proteger enquanto objeto de inveja, admiração e simbiose parasitária.

E enquanto sujeito, também de admiração... que, necessariamente, para crescimento pessoal, deve ser enxergada como inveja, pelamordedeus, não me fale em “inveja boa”, me fale de “inveja potente”, que se transforma em desejo... o que invejo é o que desejo! Seja ter ou ser... persiga!!!

Não neguemos nossas invejas! Apropriemos delas como fontes de construção da nossa identidade... daquilo que queremos ser... só desse jeito ela será enriquecedora.

E, conversando sobre isso, um amigo me lembrou da expressão metafórica desse tipo de relação tóxica:

RELAÇÕES VAMPIRESCAS. Claro!!! relações vampirescas vem a ser um tipo de relação abusiva, relação em mão única, relação de exploração ... e ocorre em todos os níveis de relação: o homem vampiresco; a mulher vampiresca; X filho vampiresco; A mãe e|ou o  pai vampiresco; X amigx vampiresco; o colega de trabalho; o chefe; o cidadão e a cidadã vampirescos... e o politico vampiresco.

E lembrei de um filme super legal:


São vários pequenos vídeos de vários diretores, em homenagem a Paris... cada um rodado num lugar diferente de Paris... e um deles, de Vincenzo Natali, Quartier de la Madeleine,  apresenta de uma forma arrasante, uma cena vampiresca... na forma de amor, o amor que conhecemos, o amor romântico. Procurem no YouTube...

E concluo dizendo que precisamos rever urgentemente nossos conceitos de amor, em todos os níveis de relação. Grande trabalho que não podemos nos furtar, pois esse será um grande legado que deixaremos para as próximas gerações. Deusas e Deuses nos ajudem... Amém...

Santuza TU


 

4 comentários:

  1. Menos relações vampirescas hehe um brinde ao amor 🍻🍻🍻🍻

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  2. Amei vc escrever sobre esse tema. E estou pensando.A sociedade tem uma responsabilidade nisso. Somos talvez me corrija se estiver equivocada. Mas me lembro uma mulher sair sozinha vezes, nem bem visto é, somos criadas para casar e ter filho, viver sozinha é a encalhada. Longe de pensar em viver só, pq viver com é tbm uma necessidade para nossa completude. Acredito que a dependência seja algo a desconstruir e construir o amor próprio. E a dependência e a codependencia seja algo que precisa ser cuidada. Pois acredito ser uma dor da infância de rejeição e por isso saímos dependentes do outro a nos amar, a nos reconhecer, a nos dar algo que nos falta é irmos talvez mais livres para nossas relações. Assim sabendo cuidar e acolher nossas dores. Algo não aprendido nem as mulheres, nem aos homens.

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