sábado, 21 de novembro de 2020

ESTAMOS CANSADAS...





 No dia 20.10.20 a cronista Tati Bernardi publicou na Folha a crônica “Eu sou bonita, mas estou cansada” e vários grupos de mulheres a que eu pertenço multiplicaram essa crônica como reflexão, alerta, denúncia...  sobre nós, mulheres.

A Tati tem em torno de 40 anos, idade do meu filho mais velho, tenho um casal de filhos, um homem e uma mulher, e um casal de netos. O sentimento que me invadiu quando li a sua crônica foi de tristeza por nós. Tristeza pela constatação: se olhamos para um ponto de vista, da minha geração para a geração de mulheres de 40, nossa... quanto andamos... sim, verdade. Mas, se olhamos por outro ponto de vista, quanto ainda temos que andar... e, penso eu, uma das caminhadas possíveis é a do (ou para) o nosso interior... até para nos fortalecermos para a batalha que temos que fazer, diariamente, em relação ao exterior, ou seja, em relação a este mundo tão machista e misógino, e desigual... que ainda vivemos.

Eu sou uma mulher da segunda metade do século passado... foi nesses cinquenta anos que eu reproduzi... e superei... minha... nossa... condição de mulher culturalmente definida: nascíamos para sermos “belas, recatadas e do lar”... e não corresponder a esses papéis implicava em sérios riscos a nossa integridade psíquica, física... etc. No nosso tempo a grande frase era “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher”... esse era nosso “destino” e AI da mulher que se rebelasse... pois bem, fiz, com muito orgulho, parte das mulheres que se rebelaram... e, nessa época, anos 70 e 80, fizemos camisetas com os dizeres: Por trás de um grande homem existe uma mulher... (na frente) CANSADA (nas costas da camiseta). Foi libertadora essa frase!!! E quando eu digo “libertadora” quero dizer que muitas de nós trabalhamos para nos libertarmos do CANSADA... isso quer dizer, nos libertar interiormente, para sair pro mundo e lutarmos pela libertação de todas nós. Porque, claro, eu estou falando de mulheres brancas e de classe média. Mas, com essa consciência política foi que saímos do próprio ”umbigo” e evoluímos para feminismos mais inclusivos, que se identificam em algumas lutas e, ao mesmo tempo, diferenciadas nessas mesmas lutas... e chegamos aos feminismos emancipatórios, aos feminismos decoloniais, que incorporam lutas que nossas cabeças e “espíritos” eurocêntricos colonizados não percebiam nessa época.

E, por isso, agora, fazendo um exercício de humildade e, ao mesmo tempo, de arrogância (se arrogar ao direito de...) quero sugerir a todas nós que façamos outras camisetas que não essa do slogan da Tati: “Eu sou bonita, mas estou cansada”.

Faço sugestões:

“PERMITA O CAOS”

“DIGA NÃO”

“DIGA SIM PRA SI MESMA”

“MELHOR SER FELIZ DO QUE SER PERFEITA”

Quero, ainda, justificar estes slogans como mais libertadores do que o “...estou cansada”, e de uma maneira muito cuidadosa conosco: sem pensar que somos “culpadas” por este estado de coisas, porém, pensando que somos, ao mesmo tempo, objetos (reprodutoras) e sujeitos (transformadoras), da cultura e da história... e, ainda, que a transformação pode ocorrer do micro para o macro, ou seja, de nós mesmas e do mundo... quero propor que permitamos o caos... Que digamos NÃO dizendo SIM pra nós mesmas, pros nosso desejos... e por aí vai...

Pois este estado (de cansaço...)  vem, na minha maneira de interpretar a mim mesma e ao mundo, de uma característica terrivelmente enraizada, cravada a ferro e fogo na nossa “alma”... a onipotência, o perfeccionismo. Vejo isso em mim mesma e tento arduamente combater, e vejo isso nas mulheres das gerações após a minha... e como essa característica (culturalmente transmitida de mulheres para mulheres) nos escraviza!!!

Permitir o caos significa abrir mão do nosso território “do lar”, pois saímos para o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, não conseguimos abrir mão do “poder” de fazer tudo “do nosso jeito!”, porque foi esse que aprendemos como “O jeito certo”, “O melhor”, “O perfeito”.

Vejam o filme: Como nossos pais, de 2017, da diretora Laís Bodanzky.

Sinopse: Rosa é uma mulher que almeja a perfeição como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Filha de intelectuais e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja  engajada, moderna e onipresente.

E, ainda,  completando... linda (nos padrões, claro...)!!! Aff

E, para concluir, uma “oração da serenidade” que aprendi com uma mulher muito sábia: Ver, ver tudo, não ter medo de ver... deixar passar muitas coisas... mas fazer um pouco a cada dia... na direção que você deseja pra você e pro mundo.

Pronto... falei…

Santuza TU







                                    

9 comentários:

  1. Parabéns Tu. O projeto de camisetas libertadoras é excelente. �� �� �� ��

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  3. Estamos cansadas de machismo, misoginia e violência contra nós mesmas
    Parabéns Tu
    O projeto das camisetas é excelente.

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  4. Estamos cansadas de machismo, misoginia e violência contra nós mesmas
    Parabéns Tu
    O projeto das camisetas é excelente.

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  5. Obrigada nieta! Bora fazer o projeto camisetas... bjs

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Adorei Santuza. Projeto muito bacana.

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