No dia 23 de março passado, domingo, no Museu Clube da Esquina, tivemos uma festa bacanérrima, de lançamento do livro da Professora DasDores, PÁSSARO AMARELO, uma importante obra que, entre prosa e verso, relembra e mantém viva a memória do saudoso artista Verono, filho da DasDores, nossa grande amiga SBCense.
E, conforme convite acima, iremos em maio a Salvador, para outro lançamento! Maravilha!
Claro que não faltará, também, lançamento no nosso grande FESTIVALE, neste ano o quadragésimo, em Diamantina, de 27 de julho a 02 de agosto. O FESTIVALE - Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, um dos maiores eventos de cultura popular do Brasil.
Terminando de ler o livro da DasDores. Emocionada... Me pareceu umparto ao contrário. Mark se foi em 2006, no auge da sua promissora carreira.
"Partida 23 de outubro de 2006, com 26 anos de idade, na 381, há 5 min de Matias Lobato e 30 km de Valadares...Tomado pela 1620, cor azul, dirigida por Wanderley, da proprietária Cleni, da cidade de Bento Gonçalves, Canoas Rio Grande do Sul, carregada com uma Patrol, o caminhão estava carregado por máquina , o Siena , azul celeste de Mark Gladston / Verono , carregando 3 jovens, músicos, violão, baixo e percussão , que carregavam alegria , em cada canção ...quis o destino que Mark Gladston/ Verono e Fernando Tião , cantassem na luz e Thiago Araújo , nesta terra , seus passos seduz".
(relato da nossa querida DasDores).
Qualquer pessoa, mesmo no auge da sua empatia, nem passa perto de imaginar a dor da perda de um filho. E, quase 20 anos depois, ela consegue "parir" um livro de poemas, permeado de depoimentos lindíssimos de grandes amigos e amigas, nos dando a grande dica de superação: A AMIZADE. Me lembrei da metáfora da descida ao inferno, primeira parte da Divina Comédia, poema épico escrito pelo italiano Dante Alighieri, obra publicada no século XIV e considerada um dos maiores clássicos da literatura universal.
Virgílio, o grande poeta romano autor de Eneida, surge para guiar Dante pelo inferno e purgatório em direção ao paraíso. Antes de encontrar Virgílio ele estava numa selva escura. Pois então, a descida ao inferno acontece nas nossas vidas, grandes perdas, sofrimentos... e o caminhar para a superação será sempre mais bonito e enriquecedor com a companhia de pessoas amigas.
"Quem tem um amigo tem tudo", lembrando também nosso grande Emicida... "AmarElo", outra coincidência bacana! O nome do álbum faz referência ao famoso poeta Paulo Leminski (amar é um elo | entre o azul | e o amarelo), assim como também ao grande Belchior (Tenho sangrado demais Tenho chorado pra cachorro Ano passado eu morri Mas esse ano não morro). Tudo dialoga com Das Dores... toda poesia...
Seu nome: Mark Gladston... Verono, fiquei sabendo agora, Ver + Ono (Verão + Outono) = transição, mudança. A metáfora PÁSSARO AMARELO me soou lindíssima, representa o amor de mãe que "deixa ir". E também fiquei sabendo que foi em Salinas, minha terra natal, em 2004, que ele ganhou o primeiro lugar no Festivale, com sua música, uma linda canção que fala do orgulho de um povo por seu lugar, sua terra, e que se transformou num hino do Vale:
E Das Dores nos conta, no livro, em poesias, a história desse "minino" (como falamos no Vale), a história da sua dor e da sua superação, sempre junto a amigas e amigos...
"Pra quem chega a conhecer o caminho,
Recebe, aconchega e convida,
já enxerga que o Vale é pra mostrar,
De trevas em mãos de coronel,
Sapiente, em astúcia canta que a cultura vai reinar."
Obrigada querida amiga DasDores, pela poesia... e pela amizade.
Espero estarmos juntas em julho na linda Diamantina, também lançando nosso segundo livro, "Caminhando e cantado a liberdade", crônicas do SBC, "Uma
bonita história, de um movimento que reúne liberdade, paixão e alegria".
Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos acompanham... Inté...
A propósito do 8M, dia internacional da mulher, tivemos eventos durante todo o mês, para lembrar da nossa luta histórica por igualdade de direitos. E no sábado dia 22 o Movimento Quem Ama não Mata promoveu, dentro da programação Sábados Feministas, o encontro com a Dra. Ela Wiecko, Jurista e Ouvidora Geral do MPF.
MPM - Movimento Popular da Mulher e SBC presentes. A Dra. Ela, segunda à esquerda na foto acima, de vestido branco, nos conta a história anterior à lei Maria da Penha, a construção da lei e o que temos, atualmente, de impactos positivos e negativos, assim como debates em relação à mesma.
O que ficou, pra nós, em relação a esse encontro:
. Sem dúvida, um dos impactos positivos é que a lei nos trouxe a discussão de gênero, a criação de comitês de gênero e raça, pois antes não tínhamos nada disso;
. Sabemos que, na nossa sociedade patriarcal, a mulher é subalternizada, objetificada. E a lei vem a ser uma ação afirmativa em relação a isso. O coração da lei são as medidas protetivas, disse a Dra. Ela;
. E, com a lei e os debates suscitados, ficamos sabendo que violência de gênero não se reduz à violência doméstica, perpassa por todos os setores da sociedade (por exemplo no ambiente de trabalho);
. Algo relativamente novo na lei vem a ser a construção de "Grupos reflexivos para o agressor", ideia defendida por algumas pessoas e criticada por outras que defendem a punição;
. Por último, estamos vivendo momento de transição, e o aumento da violência ocorre em função de disputa de poder.
E observamos, nas colocações após as palestras, como até mesmo o nosso raciocínio é maniqueísta, o ou/ou. E, na disputa de poder, raciocinamos dentro da noção de "poder sobre", o poder de dominação, que é o que aprendemos e internalizamos culturalmente. Difícil é raciocinar o "poder para" transformar o mundo, sermos sujeitos na construção de um mundo mais igualitário... o que vem a ser um exercício diário nessa direção.
Pois a Lei Maria da Penha está construída a partir de um paradigma do que se conhece como "Justiça Restaurativa", em contraposição ao paradigma da "Justiça Punitiva", o mais conhecido e praticado. E mudança de paradigma - conjunto de conceitos, pressupostos, valores, ... que orientam (determinam, até...) nossa maneira de pensar, sentir, agir - nos posicionar no mundo e nas relações - já sabemos: como tudo no humano, vem a ser movimento... processo, transição... construção humana, enfim.
Pois com o debate sobre a lei Maria da Penha pulamos diretamente para o "outro lado da mesma moeda", o lado masculino. Todas nós comentando sobre a série ADOLESCÊNCIA, na Netflix, quatro capítulos... todas impactadas com a série. Quase como se estivéssemos falando a mesma coisa sobre outro "ponto de vista" (expressão interessante e pertinente essa, pois se viramos o olhar enxergamos outras coisas, "outros pontos").
Inúmeras leituras e reflexões sobre a série, sob inúmeras perspectivas: a família, o pai (descrito pela mãe e mostrado na série como tendo reações impulsivas violentas), a perplexidade, o assombro da família toda com o acontecimento, o filho se esforçando para atender expectativas do pai...; a escola, o modelo de educação (uma escola pública inglesa, de classe média baixa); a violência do sistema policial com uma determinada classe social; a paternidade e seus dramas, seu distanciamento e ignorância - sentimento de culpa - a respeito do que está ocorrendo com os filhos e filhas... e por aí vai.
E todas essas reflexões fazem uma convergência do nosso olhar sobre o sistema em que vivemos e sobre como as redes sociais estão interferindo decisivamente na construção histórico social e cultural do que está sendo chamado de MASCULINISMO. Pensamos que esse movimento, essa ampliação de visão da questão da violência na adolescência, por um lado, minimiza um sentimento de culpa profunda que sentimos enquanto pais, quando "absorvemos", como esponjas, as consequências da "educação" que damos aos nossos filhos e filhas... e o sentimento que culpa não produz absolutamente nada no sentido de caminharmos para qualquer alternativa possível. Por outro lado, quando ampliamos nossa visão para a perspectiva antropológica-histórica-cultural, criamos a possibilidade do movimento de CULPA para RESPONSABILIDADE na construção de masculinidades - e feminilidades também, evidentemente - mais saudáveis e, enfim, de um mundo mais saudável, na perspectiva micro e macro.
Lembrando que a adolescência nada mais é que um "fenômeno cultural" produzido pelas práticas sociais em determinados
momentos históricos, manifestando-se de formas diferentes e nem sequer existindo em alguns lugares, em algumas culturas. Foi no século XVIII que surgiram as primeiras tentativas de definir, claramente,
suas características.
Chegamos ao questionamento, à perplexidade: O que está acontecendo atualmente com essa faixa etária, esse tempo de transição para a vida adulta? Como chegamos a este ponto? A série nos aponta como a existência de comunidades online influenciam a juventude atual, seja exercendo pressão social para seguir tendências de comportamento... e até mesmo facilitando a circulação de discursos de ódio.
O que é INCEL? O que é red pill? Porque pais e mães - e todos e todas nós - precisamos saber sobre isso? A série aborda esses temas e a necessidade de conhecermos sobre isso, pois esses termos estão
associados a questões tão delicadas como misoginia e violência.
A princípio, o termo INCEL descreve indivíduos que, apesar de desejarem ter relacionamentos afetivo-sexuais, não conseguem encontrar parceiros. A palavra “incel” é uma abreviação de “involuntary celibate”, que em português significa “celibatário involuntário”. No entanto, o conceito de “incel” vai muito além dessa definição literal. Na internet, “incel” se refere a uma comunidade online, predominantemente masculina, que compartilha uma visão de mundo pessimista e misógina. E se constrói uma ideologia, fundamentada na frustração, no ódio e na crença em um "direito" ao sexo.
O movimento RED PILL surgiu e se popularizou por volta da década de 20 do ano 2000. Defende que homens não devem se casar ou namorar, mas apenas fazerem sexo, por dizerem que mulheres não são fiéis e nem possuem bom caráter para com os homens.
E as "pesquisas científicas" desses movimentos dizem dos 20% das mulheres que se interessam pelos MACHOS ALFA - as "esposas tradicionais", belas, recatadas e do lar, trad wives, e/ou as dondocas, arm candy, mulher troféu; e os 80% dos MACHOS BETA, pelos quais as mulheres não se interessariam, ou que estes serão enganados, roubados, explorados, pelas mulheres, as "putas", as interesseiras. E que, por consequência, podem/devem ser violentadas, até mesmo exterminadas.
Concluímos propondo a questão levantada pela querida Iza Indômita, "especialista em homens", na sua tese de mestrado: O que é ser homem pra você? Se questione e questione os homens sobre isso, todos os homens ao seu redor? Questione também as mulheres...
E uma "conclusão-constatação" que veio à tona a partir dessas conversas: "agora entendo um pouco como o fascismo se instala muito mais facilmente entre os jovens, como a ideologia conservadora, maniqueísta, o raciocínio fácil, polarizado, vai se infiltrando... e "forma", os adultos... e como a tecnologia se presta a esse trabalho... assim como podemos, devemos, utilizar da tecnologia como ferramenta importantíssima para o letramento de "visão de mundo" - tanto no geral como no particular, nas relações humanas desde as íntimas até o exercício da cidadania.
E a querida Vicentina nos lembra linda canção, para terminarmos o mês de março:
A música 'Woman in Chains', da banda britânica Tears For Fears, é uma poderosa balada que aborda temas de opressão e libertação feminina. Lançada em 1989, a canção é marcada por sua melodia suave e pela emotiva performance vocal, que transmite uma mensagem de empatia e conscientização sobre as lutas enfrentadas pelas mulheres na sociedade. Ouçam a música e entendam a tradução da mesma.
Mulher Acorrentada
É melhor gostar de amar e é melhor se comportar
É melhor gostar de amar e é melhor se comportar
Mulher acorrentadaMulher acorrentadaEla chama seu homemDe A Grande Esperança BrancaEla diz que está bemEla sempre aguentará...Mulher acorrentadaMulher acorrentada Bem, eu sinto que sentar e esperarÉ um péssimo negócio (um péssimo negócio)E me sinto desesperadamente oprimidoPelos seus olhos de aço (seus olhos de aço) Bem, é um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentada ...Mulher acorrentadaMulher acorrentadaTroca sua alma como pele e osso(É melhor gostar de amar e é melhor se comportar) Vende a única coisa que ela possui(É melhor gostar de amar e é melhor se comportar)
... Mulher acorrentada
(O Sol e a Lua)
Mulher acorrentada Homens de pedra!Homens de pedra!Ei, babyNão, não...
Bem, eu sinto que no fundo do seu coraçãoExistem feridas que o tempo não pode curar(Feridas que o tempo não pode curar)E eu sinto que alguém, em algum lugarEstá tentando respirarVocê sabe o que quero dizerÉ um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentadaIsso me incomodaMas não posso controlarVou destruí-loMas não vou entenderEu não vou aceitarA grandeza do homemÉ um mundo enlouquecidoQue mantém a mulher acorrentadaEnlouquecidoMulher acorrentada
Então liberte-a
Então liberte-a
Então liberte-a
...................
E o grito SBCensence: LIBERTEMO-NOS, TODAS, TODOS E TODES!!!
Em Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta, seu filme para a Netflix, a atriz e diretora Amy Poehler foca no momento em que a importância do feminismo e da sororidade entre mulheres bate à porta na juventude
O que acontece quando se junta uma garota de uma cidade pequena do Texas com o movimento feminista? Uma revolução!
Sinopse: Inspirada por uma nova amiga confiante e pelo passado rebelde da mãe - como antiga integrante do feminismo punk dos anos 90 - Vivian (Hadley Robinson), uma adolescente tímida, decide começar uma mobilização na própria escola. Começa a elaborar e circular textos anônimos na escola, convocando à revolução feminista.
O filme é baseado na obra homônima de Jennifer Mathieu.
Amy Poehler. Vivian Carter está cansada. Cansada da direção da escola, que nunca acha que os jogadores do time de futebol estão errados. Cansada das regras de vestuário machistas, do assédio nos corredores e dos comentários babacas dos caras durante a aula. Mas, acima de tudo, Viv está cansada de sempre seguir as regras, os padrões que nos aprisionam.
No século passado, a mãe de Viv era dura na queda: integrante das Riot Grrrls nos anos 90, era revolucionária... Inspirada por essas histórias, Viv pega uma página do passado da mãe e cria um fanzine feminista que distribui anonimamente para as colegas da escola. Era só um jeito de desabafar, mas as garotas reagem. Logo Viv está fazendo amizade com meninas com quem nunca imaginou se relacionar. E então ela percebe que o que começou não é nada menos que uma revolução feminista no colégio.
O livro - e o filme - trazem reflexões sobre regras impostas pela sociedade até no jeito que a mulher se veste... Assim como precisamos - nós, mulheres - estarmos atentas sobre como reproduzimos esse mundo patriarcal e machista. Sim, pois fazemos parte dele. Daí começou nossa conversa:
. Vi a sinopse do Filme, indicado por minha filha hoje com 40 anos, e gostei. Ela me indicou dizendo que me identificou como "a mãe de passado rebelde"! Me senti orgulhosa, lisonjeada com a semelhança apontada por ela. Então fui ver o filme... e adorei! Claro que não é um filme francês, rsrs... no entanto serve de pretexto - ou pré-texto, nós fazemos o texto - para boas conversas e aprofundamentos.
. A propósito, no dia 8 de março tivemos o nosso 8M, vários coletivos de mulheres se encontrando na Praça Raul Soares e caminhando em direção à Praça Sete para lá nos reunirmos com outros coletivos... muitas manifestações, muitos discursos, muitos encontros... Pois bem, já estávamos atravessando as avenidas que contornam a praça Raul Soares para começarmos nossa caminhada, o caminhão já se colocando para abrir o cortejo, e as falas continuavam. Foi quando ouvimos uma manifestante ao microfone: - Podemos ser frágeis? Penso que ela queria a resposta: SIM!!! pois sua fala girava em torno da necessidade de nossa humanização. Pois não é que o grito, em resposta, foi: NÃO!!! Nossa impressão foi que ela se assustou com a resposta... e gritou, em retorno: - Podemos sim!!! e continuou falando algo a respeito da nossa cultura que deseja que internalizemos que temos que ser sempre fortes, a fim de desempenharmos os papéis destinados a nós, de esposa perfeita, mãe perfeita... etc.
Já estávamos, umas cinco mulheres, seguindo a passeata, e continuamos a conversa - não sem antes rirmos do susto da pessoa ao microfone - e de nós mesmas. Concordamos que a obrigação de sermos fortes, perfeitas, nós vamos internalizando desde que nascemos. Temos que ser ótimas em tudo, ótimas esposas, ótimas mães, ótimas donas de casa... e ótimas profissionais ... e, ainda mais, lindas!!! e magras!!!
Daí outra das cinco continua a reflexão: concordo com a internalização dos padrões de forte, perfeita, etc... por outro lado, também internalizamos profundamente o estereótipo de fragilidade - para sermos "protegidas", para buscarmos, sonharmos com o "salvador", o "príncipe encantado", o "protetor" - este também é um estereótipo do patriarcado, não acham?
No que concordamos.: ficamos oscilando entre essas duas polaridades, a frágil, meiga, a ser protegida... e a forte, perfeita, que dá conta de tudo... e identificamos um "esticamento" entre essas duas posições - o maniqueísmo, ou/ou - que nos desgasta enormemente, que nos faz sofrer, assim como causa danos às relações ao nosso redor.
E mais: essa polarização constrói a impossibilidade de nos humanizarmos, nos descobrirmos - ou nos construirmos - enquanto serem humanos que somos. Esta é a grande estratégica de uma cultura que nos deseja objetos, reprodutoras - e infelizes... e perpetuadoras de relações assimétricas, de dominação e servidão, que vem a ser, também, uma característica dessa nossa sociedade.
. Então, disse outra de nós: com essa "descoberta", a "saída" é a busca do equilíbrio entre forte e frágil?
No que a outra respondeu: não se trata de busca de equilíbrio, e sim de busca de superação. Aquela superação dialética que já conversamos através de grande SBCense, Marx: Nem forte, nem frágil, HUMANAS, que contém forte e frágil...
Temos o direito de sermos frágeis quando "ser forte" nos descaracteriza; e temos o dever de sermos fortes quando ser forte não significa ser perfeita e, sim, torna-se necessário para a nossa humanização...
Abraços humanos e carinhosos a todas e todos que nos acompanham...
SÔ Marcelo, nos homenageando com a camisa do SBC, cantou seu mais novo samba na terça feira de carnaval, no desfile do nosso bloco.
Olê olê olê olê olá, vamos sambar!
Viva o nosso samba, esse gênero musical criado no Brasil, cuja origem são os batuques trazidos pelos negros escravizados, misturados aos ritmos europeus, como a polca, a valsa, a mazurca, o minueto, entre outros. Viva as festas de roda dos negros na Bahia. Viva o Rio de Janeiro, nossa capital no início do século XX, para onde os negros foram em busca de trabalho, e qualquer manifestação cultural era reprimida e criminalizada, como a capoeira, o candomblé... e o samba, claro. Viva Tia Ciata e todas as "tias" ou "vós", verdadeiras matriarcas afro-descendentes que acolhiam os batuques.
Viva Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth... E Viva Donga! Em 1917 foi gravado no Brasil aquele que é considerado o primeiro samba com o título "Pelo Telefone", com letra de Mauro de Almeida e Donga.
E Viva SÔ MARCELO!!!
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História do Riso e do Escárnio. Georges Minois. UNESP - 2003. Tradução de Maria Elena Ortiz Assumpção.
O livro "História do Riso e do Escárnio" explora como o ser humano utilizou o riso ao longo da história. O autor analisa o humor como um fenômeno que pode esclarecer a evolução humana e revela os dilemas de cada época. Além disso, o livro investiga o grande mistério que envolve o riso, estudado por diversas disciplinas ao longo dos séculos.
O humor, para Minois, é um fenômeno que pode esclarecer, em parte, a evolução humana. O riso é uma das respostas fundamentais do ser humano perante o dilema da existência. Verificar como ele foi e é utilizado ao longo da História constitui o objetivo deste livro. Exaltar o riso ou condená-lo, para o autor, revela a mentalidade de uma época e sugere uma visão de mundo, podendo contribuir para esclarecer a própria evolução humana.
Não é simplesmente um livro de história. É um senhor livro. São 653 páginas de uma memorável pesquisa e que exigiram de seu autor um profunda dedicação e muita erudição. Esta pesquisa passa diversas vezes por toda a história, se detendo, especialmente, nos campos religioso, filosófico, histórico e literário. Também do leitor é exigido bastante. Não é um livro para principiantes.
O livro começa pelos gregos, passa pelos latinos, pela alta e baixa Idade Média, chegando ao Renascimento, ao Esclarecimento, passando pelas reformas religiosas, pelas revoluções, pelas guerras, até chegar ao século XX, parando por aí, uma vez que o livro foi publicado no ano de 2003. Todos os grandes nomes da teologia, da filosofia, da literatura, do teatro e do cinema merecem a análise do autor. Ao todo são 15 capítulos, além da introdução e da conclusão. O riso e o escárnio é visto em todas as suas formas, quer as maléficas, quer as benéficas.
Georges Minois, historiador francês, esquematizou a história do riso em três períodos: o riso divino, o diabólico e o humano. No primeiro, associado à Antiguidade clássica, o riso está ligado à suprema liberdade dos deuses. É, portanto, vinculado à recriação do mundo, seja nas sátiras escritas pelo grego Aristófanes seja nas críticas sociais dos comediógrafos latinos Plauto e Terêncio.
O cristianismo, na Idade Média, opõe-se a essa visão. Prega que o homem deve temer o inferno, regido pelo diabo, rei do riso, da zombaria e do escárnio, atitudes toleradas apenas em festas pagãs como o Carnaval. A partir do Renascimento, com o progressivo abalo de todas as crenças, o riso renasce, penetrando nas fissuras do absoluto para questionar a religião, no século XVIII, a monarquia, no século XIX, e o autoritarismo, no século XX.
Em pleno século XXI, para Minois, o ser humano, infelizmente, teria domesticado o poder do riso. No atual mundo do "politicamente correto", o seu componente agressivo estaria desvitalizado. Embora pareça estar por toda parte - na publicidade, na televisão, nos jornais, nas transmissões esportivas -, o riso não passaria, mais do que nunca, de uma máscara para esconder a profunda agonia do existir".
"O ser humano é o único que sabe que vai morrer... e que ri..."
O livro nos lembra filme famoso no SBC, já conversamos sobre ele:
"O Nome da Rosa" é um filme franco-teuto-italiano de 1986, dirigido por Jean-Jacques Annaud e baseado no romance "Il nome della rosa" de Umberto Eco. A história se passa em um mosteiro na Itália Medieval, onde ocorrem assassinatos misteriosos de monges. Enfim, o monge detetive descobre que as mortes eram provocadas pelo veneno das páginas dos livros apócrifos, livros proibidos, que alguns monges conseguiam alcançar na biblioteca e, ao folhearem, passavam o dedo nas páginas e na boca...aí morriam envenenados. E o filme explora a tensão entre conhecimento e fé, criticando a repressão do conhecimento pela Igreja Católica e a utilização da inquisição para manter o poder.
E sabem o principal livro apócrifo que era lido, e morriam por isso? O livro que falava sobre o riso!
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Por último, conversamos sobre SENTIDO ESTÉTICO para a vida, grande valor para o SBC, a sensibilidade para perceber e valorizar a estética presente em tudo ao nosso redor.
Senso estético :faculdade de apreciar a beleza e a arte pelo prazer estético que estas proporcionam.
Senso moral : a consciência do bem e do mal.
Senso prático : capacidade de agir com praticidade; entendimento do útil.
A palavra "estética" vem do grego aisthetiké, que significa "percepção" ou "sensibilidade".
A expressão "senso estético" é formada pela junção de "senso", do latim sensus, que significa faculdade de julgar, com "estético", do grego aisthetikós, que está relacionado com sentimento.
"O sentimento estético é a alegria que se experimenta ao ver obras da natureza ou obras de arte. A alegria estética é doce, pacífica e desinteressada".
A estética é uma disciplina filosófica que se preocupa com a natureza da beleza e do gosto. Examina a filosofia do valor estético, que é determinado por julgamentos críticos do gosto artístico.
Nesta terça, 4, já cantamos a adaptação da marchinha Aurora, escrita por Mário Lago e Roberto Roberti em 1941: Se você fosse sincera, ô ô ô ô, Aurora, Veja só que bom que era, ô ô ô ô, Aurora.
Agora assim:
"Se você fosse sincera, ô ô ô ô, Anora. Devolvia o nosso Oscar, ô ô ô ô, agora"...
E a Fernanda Torres foi homenageada em todo o Brasil, com máscaras, com homens e mulheres vestidxs de preto e com o Ocar na mão... E com o Boneco (ou a Boneca) no Recife!
Ganhamos!!! Ganhamos o OSCAR de melhor filme estrangeiro!!!
Para nós o grande valor do filme ter sido projetado nos EUA e no mundo é a abertura de possibilidade de inúmeras pessoas aqui no Brasil que não viveram essa época, ou seja, pessoas de final de século passado e pessoas deste século, ficarem sabendo do que aconteceu de 1964 a 1985, a ditadura militar... Imprescindível as pessoas saberem o que significa a construção, o processo, de uma democracia - ainda frágil no nosso país.
Assim, pode ser que essas (e outras que viveram essa época e negam, por ignorância, alienação, ou por interesses) pessoas sejam incitadas a verem outros filmes sobre tal época. Na internet cabe tudo de bom e tudo de ruim, de alienação. Nosso convite é para largarem um pouco o Tictoc, o Insta, o WhatsApp e procurarem bons filmes. Só entrar na internet, gente! E pesquisar "Filmes para conhecer o Brasil", "Filmes sobre a ditadura no Brasil", encontrarão ótimos filmes...
E conversamos sobre uma das nossas indicações, grande cineasta brasileira:
Lúcia Maria Murat de Vasconcelos, nasceu no Rio de Janeiro em 1948, cineasta brasileira e ex-integrante da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Lúcia entrou para a faculdade em 1967 e como estudante de economia participou do movimento estudantil. Com a edição do AI-5, em dezembro de 1968, entrou para a luta armada integrando o MR-8. Presa pela repressão do regime em 1971, passou três anos e meio encarcerada. A experiência da prisão e das torturas durante a ditadura militar exerceu forte influência em sua obra. Em 2004, tratando desse tema em Quase dois irmãos, ganhou o Prêmio de Melhor Filme Ibero-Americano do júri oficial e de Melhor filme do júri popular do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata.
“O Oscar é um evento muito voltado para os filmes americanos, ou de língua inglesa, pelo menos. O Oscar foi criado por Hollywood e existe basicamente em função do mercado americano. O que teve de diferente é que nos últimos anos começa a abrir mais, quando O Parasita foi premiado como Melhor Filme. Mas continua sendo muito difícil. Em Melhor Filme Estrangeiro, ele concorre com outros filmes de língua não inglesa”, disse Murat, sobre o Oscar 2025. Mas o grande prêmio de Ainda Estou Aqui, para a cineasta, é outro: furar a bolha dos filmes que tratam sobre a ditadura militar brasileira e levar o tema a um público muito maior que a média. “A gente sempre fez filmes sobre a ditadura, mas é o primeiro que atinge um grande número de espectadores. Passou de 5 milhões no Brasil. Esse é o grande mérito”, escreveu Lucia.
Ela faz filmes que revelam o Brasil por dentro. Além do Quase dois Irmãos, o SBC recomenda:
A nação que não esperou por Deus: O documentário de 2015 gira em torno da tribo indígena Kadiwéu que vive no Mato Grosso do Sul. A diretora visitou a tribo primeiramente em 1999 para gravar outro filme e em 2013/2014. Nesses quase 15 anos, a luz elétrica, a televisão e as igrejas evangélicas chegaram ao local, além da luta de terra dos Kadiwéu contra os pecuaristas. A intenção é analisar os diferentes caminhos da tribo perante os acontecimentos.
Com Cabra Marcado Para Morrer (1985) - escrevemos sobre esse filme em 14 de fevereiro, homenageando Elizabeth Teixeira, leiam no blog - o diretor Eduardo Coutinho voltava à comunidade de camponeses que tentou filmar nos anos 1960 mas tinha sido interrompido pela ditadura militar. A intenção do documentarista, lá trás, era fazer um filme de ficção com os locais sobre o assassinato de um líder deles. O filme inicial nunca aconteceu e o resultado, 17 anos depois, foi o início de um documentário sobre a trajetória dos remanescentes. Da mesma forma, com A Nação que Não Esperou por Deus, a diretora Lucia Murat documenta, 15 anos depois, a situação dos mesmos.O filme é um bom retrato da influência do homem branco. Murat justapõe as imagens dos mesmos personagens “antes” e “depois”, o que ilustra bem a dimensão da passagem do tempo. Não são mais índios que “apenas” usam shorts Adidas, mas que comem macarrão - e se recusam a acender vela para defunto, por influência da nova religião.
Que bom te ver viva, documentário drama de 1989 sobre ex-presas políticas da ditadura militar brasileira analisam como puderam enfrentar as torturas e prisões, relatando as situações e como sobreviveram à esse período, onde delírios e fantasias são recorrentes. O filme intercala cenas documentais com um monólogo ficcional, que é um amálgama dos relatos e das memórias dessas corajosas mulheres.
O Mensageiro, filme de 2024 dirigido por nossa Lúcia, é um drama nacional ambientado no Brasil durante a Ditadura Militar, selecionado para o Festival do Rio de 2023. A história gira em torno de Vera (Valentina Herszage), uma jovem que, em 1969, é presa em uma fortaleza militar devido ao seu envolvimento político. Durante seu encarceramento, ela conhece o soldado Armando (Shico Menegat), um jovem de origem rural. Diante das crueldades e torturas que presencia, Armando aceita levar mensagens de Vera para sua família, o que o aproxima de Maria (Georgette Fadel), mãe de Vera. Apesar das profundas diferenças sociais e de origem, uma relação afetiva improvável começa a se desenvolver entre o soldado e a mãe da prisioneira. O filme explora essa conexão, mostrando como, em meio aos horrores da repressão, é possível encontrar momentos de humanidade e solidariedade. Anos depois, Vera, agora com 70 anos e professora universitária, reflete sobre política, perdão e as lições de Hannah Arendt em suas discussões com os alunos, mostrando como as marcas do passado ainda influenciam o presente.
Voltando ao Ainda Estou Aqui, será ótimo o filme para provocar o letramento - Visão de mundo... e do Brasil. Trazer esse filme - e outros, para a atualidade é muito importante, pois vivemos, no mundo e no Brasil, um processo de facistização que pode ser traduzido, entre outras características, essa de considerar "o outro" como não humano e, portanto, pode ser aniquilado, destruído, morto, enfim... E isso acontece todo dia aqui no Brasil, de forma explícita e de forma sutil ( do tamanho de uma patada de elefante, como dizem os SBCenses), com populações "minorizadas" (pois, na verdade, não são as minorias: negros, indígenas, mulheres, LGBTQIA+) ...
Daí que passamos para outros destaques do Oscar, vale a pena dois outros Óscares:
- O melhor documentário: NO OTHER LAND. Ainda na quarta feira de cinzas já estávamos recebendo nos nossos grupos o filme... e vimos na quarta mesmo, de ressaca de carnaval... e choramos muito. É muito triste o que o ser humano faz com nós mesmxs!
Assistam... Vale da pena...
E outro Oscar: "Flow", filme da Letônia, venceu o Oscar de melhor animação
É a história de um gato preto - em Ouro Preto, no Espaço Casa da Árvore, temos uma gata preta, a Minerva, é uma musa do Espaço. Acreditem, ela já está saciada e pede ração, aí a gente bota a ração e ela chama seu amigo, um gato branco, para comer. Alguns o chamam de Hóspede, eu o chamo de Invasor, está sempre por lá, rondando o espaço e a Minerva.
Normalmente solitário, o gato do Oscar, após a destruição de seu lar por uma grande inundação, encontra refúgio em um barco habitado por várias espécies. Para sobreviver, ele precisa se adaptar e colaborar com os outros, apesar das diferenças. O longa, que não possui diálogos, foi inteiramente produzido com o software livre Blender. Dirigido pelo cineasta letão Gints Zilbalodis, venceu o Globo de Ouro de Melhor Animação em janeiro.
Por último, comentamos sobre a trilha sonora do filme Ainda estou aqui: dizem que são 26 músicas, não contamos, mas são lindas... Cantamos algumas delas...
É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, do saudoso Erasmo Carlos;
Baby, de Caetano, Gal Costa cantando;
Jimmy, Renda-Se, de Tom Zé.
E outras músicas brasileiras... e uma música francesa:
“Je t’aime moi non plus“, de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, que na época foi proibida de tocar em rádios de diversos países...
E a gente cantava fazendo amor...
A vida presta!!! O amor presta!!! a liberdade presta!!!