domingo, 14 de abril de 2024

Lembranças, histórias, afetos...

 Não existe possibilidade de, em nos encontrando na festa de70 anos de grande amiga dos anos 80 do século passado, não conversarmos sobre o passar do tempo... sobre perdas, lembranças ... e chorarmos e rirmos... quase ao mesmo tempo.

Ela, a aniversariante, trajando um lindíssimo vestido vermelho, meio soltinho e vaporoso, que a deixava a vontade para o esbanjamento na dança e na alegria; os cabelos presos num displicente "coque"  e um sapato baixo e confortável, claro, para o esbanjamento que já dissemos.

E todas (e todos) nós, também, esbanjando elegância, alegria, vitalidade... "parece que foi ontem!" todas nós dizíamos, continuamos "as mesmas", algumas de nós apresentando suas filhas adultas - nos anos 80 quase todas tinham menos de cinco anos - e algumas filhas, agora, completamente "a cara" das mães naquela época... 

Essa é uma característica da amizade: passa-se o tempo, a gente se encontra e "parece que foi ontem"... o tempo não "envelhece" a amizade. Lembramos Alberoni, escrevemos sobre ele em post do dia 30 de janeiro deste ano, também a propósito de "bons encontros":

Francesco Alberoni, jornalista, escritor e professor de sociologia italiano, hoje com 93 anos.  Publicou,  em 1979, "Enamoramento e Amor", o seu livro mais traduzido e mais vendido, o primeiro da trilogia  "A amizade" (1984) e "O erotismo"(1986).


"No livro A AMIZADE, Alberoni afirma que essa  é a única relação afetiva incompatível com a ambivalência. Já vimos que, no enamoramento podemos odiar a pessoa amada. Podemos ser ambivalentes em relação aos nossos pais ou aos nossos filhos. Não podemos, ao contrário, ser ambivalentes em relação ao amigos. Caso aconteça a ambivalência, a amizade sofre e, se a ambivalência continua, desaparece. É este, provavelmente, o motivo pelo qual os amigos preferem ver-se de quando em quando, quando têm vontade, em lugar de viveram juntos. Uma convivência contínua cria, inevitavelmente, motivos de dissabor, de ressentimento, pequenas coisas que, no entanto, somando-se, se podem tornar grandes. A convivência tende a consolidar as relações afetivas mas, ao mesmo tempo, divide. Os enamorados escolhem esta estrada a este risco porque tendem à fusão. A amizade, pelo contrário, prefere renunciar à fusão a favor do encontro. O encontro é sempre positivo. A amizade , então, pode ser definida como uma série de bons encontros".

 Voltando ao "displicente coque",  rimos muito das palavras que nos denunciam: provavelmente nenhuma pessoa que tenha nascido neste século saiba o que é "coque"... E "O conjunto está ótimo"! Não, minina, é banda! Conjunto musical é do tempo da fita cassete, do LP, já passamos até pelo CD, hoje é play list...

Quanto à memória, não é verdade que, com a idade, nossa memória diminui... de jeito nenhum! Na verdade nossa memória se torna pontual, ou seja, lembramos o que nos interessa, e lembramos muuuiiiitoooo... mas para as coisas menos importantes, nosso HD já está cheio, aí a gente deleta...

E, numa certa altura da conversa, apareceu a piada sobre os três Ks que matam os velhos: Katarro, kaganeira e keda.

Inevitável lembrarmos com saudade e admiração da pessoa que nos reuniu. Pensamos que ela seria, agora, como grande artista italiana, Barbara Alberti:

Escritora, roteirista, dramaturga e personalidade da TV italiana, atualmente com 81 anos, seu ultimo livro TREMATE TREMATE, deste ano de 2024. 




TREMAM, TREMAM! AS BRUXAS VOLTARAM!!!

E sua participação em filmes como roteirista: O Porteiro da noite (1974), O árbitro (2013) e Incompreendida (2014):





É como se, aquela  pessoa inspiradora que nos uniu, se estivesse entre nós, falaria sobre o passar do tempo como a Barbara Alberti:

"A velhice é anárquica por natureza... Por que é a nossa última cavalgada. Você tem que contornar o precipício... E, também, você sente a cada momento como se fosse um clandestino.
Agora, quanto você já viveu muito, já plantou muito, há essa sensação de milagre de ainda estar aqui, o que me parece, realmente, inédito no que me diz respeito.
Há, também, a sensação de que a festa está prestes a acabar... e você está aqui! dançando.
Muitos se foram antes de você, entende?
E você está aqui, dançando...
Mama mia, ainda bem...
Ou seja, enquanto me movo, falo e penso, sou dona de mim!
Se eles deixarem, daqui mais 200 anos eu estarei aqui... por que é verdade que estou mais velha, mas continuo sendo eu mesma! O problema não é a velhice, o problema é a morte!"...

Ao ouvir Barbara Alberti dizendo essas palavras, senti nossa mentora presente... 



E por falar em memórias e afetos, depois do parabéns a banda tocou, em homenagem à aniversariante, essa música que ela adora... e todas e todos nós também ...

E assim foi terminando a festa, com uma novidade interessante: a decoração era "desmontada" e transformada e buquês que eram oferecidos para levarmos, junto com fotos em preto e branco, lembranças  de outros encontros nossos... que venham muitos mais... e obrigada pela festa, querida amiga.

Deixando registrado mais uma vez que o SBC é completamente inspirado nessa nossa mentora, ela mudou nossas vidas...




Abraços carinhosos a todos e todas...

10 comentários:

  1. Oi Santuza,
    seu texto está muito bonito.Uma boa crônica da festa em estivemos juntas.
    Me emocionei bastante assim como também na festa!
    “Avelhice é anárquica por natureza”
    Genial essa afirmação! Uns mais que outros têm que se esbaldar para” contornar os precipícios “
    Há um certo imperativo no envelhecer: tudo pode se reduzir à última vez.É vero,Alberti!
    Também sinto que nossa mentora esteve na festa, comemorando a aniversariante .
    Parabéns mais uma vez,Santuza!
    Escrever depois de,ajuda a repetir, a prolongar os bons momentos!
    A crônica faz parte da festa!
    Bjs
    Sônia Macêdo

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    1. Sônia querida! Que bom que vc gostou, amei seu comentário... Obrigada, bjs

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  2. Tuza que homenagem fofa para sua amiga aniversariante. Que tal retocarmos "velhice" e transformá-la em amadurecimento? A nossa geração não é de velhos, mas de pessoas maduras e experientes. Bjus

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  3. Obrigada ju... Abraço carinhoso

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  4. Muito bom Santuza.”A velhice é anárquica por natureza” , amizades, memórias…Minha forma de anarquia foi dançar a noite toda ao som da banda maravilhosa. Velhos ainda tem corpo!!!

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  5. Santuza, embora não conheça qq uma de vocês, me senti contemplada no texto maravilhoso. Tanto que vou enviar para as amigas que, juntas, construimos história de vida. Obrigada!

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  6. Santuza, que texto lindo! Bacana demais! Imagino a alegria irreverente que rolou na festa da nossa amiga! Espero estar com vocês, na próxima! Beijo

    Marília

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    1. Sim Marília, não perca a próxima. Bjs

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