quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O ESPÍRITO DE CARNAVAL


Foto significativa do nosso carnaval em Belo Horizonte, marcado pela alegria misturada com consciência política e visão de mundo, a maioria dos blocos manifestando apoio à Palestina e contra o genocídio que está acontecendo naquela região... O SBC, com o tema FAÇA AMOR NÃO FAÇA GUERRA, se manifestou na abertura do cortejo do bloco, com o poema da nossa querida Conceição.

Fotos do desfile do SBC, todo ano rodeando o quarteirão e passando pela casa das senhorinhas lindas, que aguardam ansiosas nossa parada por lá, além da alegria da concentração e da dispersão, estão no Instagram:

@sambabobagemcerveja

Vejam as fotos e acompanhem nosso insta...

Além de absorvermos o "espírito do carnaval", para nós uma manifestação política por excelência... política em todos os níveis de relação, como diz muito assertivamente nosso principal slogan:

AMOR E POLÍTICA, NA CAMA E NO MUNDO... acrescentamos ALEGRIA...NA CAMA E NA VIDA...

Outras duas características marcantes no nosso carnaval:

descentralizado e democrático - blocos não somente no centro mas por toda a cidade, todos os bairros e periferia era bloquinho pipocando, com a participação da comunidade local - e bloquinho, o diminuitivo, aqui, significa para nós um tratamento afetivo, são lindos os bloquinhos, uma alegria pura, realmente "O ESPIRITO DO CARNAVAL";


e  ampliado - praticamente todo o mês de fevereiro, desde o início do mesmo com os bloquinhos pré-carnavalescos como o excelente MAMÁ NA VACA, até os pós quarta feira, como o TOCA RAUL, na Avenida Olegário Maciel, centrão de BH, bar do Xaxá, no sábado pós carnaval... e o FILHOS DE CLARA, no domingo, linda homenagem a Clara Nunes, no bairro Renascença, onde ela trabalhava, numa fábrica de tecidos.

Para quem ainda tem dúvida sobre o carnaval como uma grande festa política, democrática, onde ocorre a manifestação mais autêntica e significativa sobre nossa arte e nossa cultura, fizemos um breve percurso pelo Brasil e o Carnaval 24:

No Rio a Portela levou para a Avenida o enredo "Um defeito de cor", baseado no romance da escritora Ana Maria Gonçalves, refazendo os caminhos imaginados da história da mãe Preta Luiza Mahim, e ficou em quinto lugar. No entanto, o livro foi reeditado e já está esgotado.


Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens. Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes.

E a campeã do Grupo Especial foi a Viradouro, com o enredo "Arroboboi, Dangbé", exaltando a força da mulher negra e abordando o culto às serpentes na tradição africana, assim como ressignificando o conceito de vodum.  Enredo inspirado na obra de Moacir Maia e Aldair Rodrigues, historiadores mineiros.

O livro conta a história de mulheres africanas, que foram arrancadas de suas terras, no Golfo do Benin, obrigadas a cruzar o Atlântico e escravizadas em Minas Gerais. Em território mineiro, elas mantiveram o cultos aos voduns, as divindades dos povos jejes. Na religião vodum, essas entidades conectam os vivos ao "mundo invisível" dos ancestrais.

Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII) reúne transcrições de documentos inéditos sobre a vida e as crenças de mulheres africanas perseguidas no Brasil por forças militares e pela Inquisição.

Essas mulheres pertenciam a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses de Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças de comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — a principal confraria negra mineira.

Os manuscritos dos processos contra as sacerdotisas foram localizados em Portugal no Arquivo da Torre do Tombo, entre os códices do Tribunal da Inquisição de Lisboa. O primeiro, de 1747, descreve um complexo culto em Paracatu (mg) dedicado ao “Deus da Terra de Courá”. O segundo e o terceiro referem-se a Ângela Gomes, “mestra” de práticas rituais africanas na comarca de Ouro Preto, coroada como rainha do Rosário. O quarto, datado de 1759, oferece detalhes sobre as práticas de Teresa Rodrigues e Manoel mina na comarca de Sabará.

Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário inclui também papéis preservados nos arquivos históricos de Minas Gerais. Embora registrados por agentes do Império português, os depoimentos reproduzidos nos processos desvelam a multiplicidade de vozes e das trajetórias de vida das mulheres africanas, evidenciando a ideologia e a violência do racismo religioso.

Já em São Paulo, com uma homenagem ao Brasil imaginado por Mário de Andrade, a escola de samba Mocidade Alegre foi a vencedora. Em 1922 ocorreu o movimento modernista liderado por Mário, porém foi em 1924 que o mesmo percorreu o pais "divulgando" o movimento.

“O ano de 2024 marca o centenário do início da histórica viagem que o poeta fez pelo Brasil profundo, em busca de compor a colcha de retalhos que forma a nossa identidade cultural nacional. Nosso desfile se propõe a abrir o diário de viagem do ‘Turista Aprendiz’ e percorrer com ele os passos de sua expedição. Junto com Mário, descortinar a riqueza de nossa arte, nosso território e nossa gente”, explicou o carnavalesco Jorge Silveira. 

E a Escola de Samba Vai-Vai apresentou um enredo que retratava policiais como demônios. A escola de samba do Bixiga causou polêmica ao comparar policiais a demônios na ala "Sobrevivendo ao Inferno". Os integrantes do "Batalhão de Choque" usavam capacetes com chifres e asas vermelho-alaranjadas. Para parte da classe política e membros das Polícias Civil e Militar, as alegorias desqualificaram os agentes da Segurança Pública. A escola Vai-Vai, conhecida por sua tradição no Carnaval, provocou discussões sobre a representação e crítica social em suas apresentações. Ficou em oitavo lugar.

No Recife o Carnaval mais parecido com o nosso... blocos por toda a cidade, toda hora, dia e noite, nos quatro dias de carnaval, que estão se estendendo para antes do sábado e depois da terça... delícia...

Em Salvador o bafão da Baby com a Ivete... melhor ir macetando, macetando... e parar de misturar o Deus cristão que a gente conhece mais, pois faz parte da história de dominação do nosso povo, do nosso país, um deus punitivo, autoritário, machista ...

Pois numa tarde do carnaval em BH, depois de um bloquinho no centro caminhamos em direção a Rua Sapucaí, atravessando o viaduto Santa Tereza, a fim de curtir outros bloquinhos por lá. Na travessia do viaduto rapazes e moças, adolescentes, estavam distribuindo panfletos do Deus autoritário e ameaçador, o que nos levou aos altos papos SBCenses...

E aprendemos que deus é uma ideia... e, quem sabe, poderíamos  incorporar a ideia do Deus de Spinosa, que é o que se parece com o deus do Carnaval... o deus dentro de nós, a alegria, o amor à vida, às pessoas...


Baruch Spinoza, também conhecido como Benedito Espinoza, foi um filósofo racionalista holandês, considerado um dos mais importantes da filosofia moderna. Nascido em Amsterdã, Holanda, em 1632, Spinoza morreu com 44 anos, vitima de tuberculose mas seu legado continua a influenciar a filosofia e o pensamento crítico.
  • Quem vive dirigido pela razão, se esforça, tanto quanto pode, por compensar pelo amor e pela generosidade, o ódio, o desprezo que tem outrem por ele.”

Além de seu racionalismo religioso radical, Spinoza defendeu o liberalismo político. Também ficou conhecido por sua ideia de analisar a natureza como sendo Deus.

  • As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo.”

Para Spinoza o que os seres humanos pensam reflete diretamente na sua maneira de viver. Na obra Tratado Teológico-Político (1670)  o filósofo trata do tema das superstições relacionadas com Deus, tentando provar a natureza racional de Deus, donde este seria o próprio Universo.

  • Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.”

Spinoza era descendente de judeus de origem portuguesa. Suas ideias e teorias tiveram grande impacto na filosofia e na compreensão do mundo.

Aprofundou suas pesquisas nas áreas da teologia, línguas, filosofia e política. No entanto, suas ideias, consideradas ateístas, resultaram na excomungação de Spinoza em 27 de julho de 1656 pela comunidade judaica de Amsterdã, da qual fazia parte.

Diante disso, resolveu abandonar Amsterdã, passando a viver em diversos locais na Holanda: Rijnsburg, Voorburg, Haia, Leyden e Utrecht.

Ao ser excluído da comunidade judaica e vivendo em outros lugares, Spinoza teve que ganhar dinheiro, o que o levou a trabalhar no comércio e na área da pintura, ministrando aulas de desenho durante um tempo.

Embora tenha sido convidado para ser professor da Universidade de Heidelberg, Spinoza preferiu estudar e escrever sobre suas teorias e pensamentos.

  • A paixão sem a razão é cega, a razão sem a paixão é inativa.”
De acordo com Spinoza, Deus era sinônimo de natureza, o qual estaria refletido na harmonia e na existência de todas as coisas. Ou seja, ele acreditava num Deus transcendental e imanente.
Segundo ele, que estudou profundamente os textos bíblicos (Bíblia Sagrada e Talmud), aponta que as obras religiosas eram interpretações humanas sem fundamentação racional.
Criticou também os dogmas rígidos e a ostentação da Igreja. Por esse motivo, ele foi excomungado da Sinagoga Judaica.
Sendo assim, criticou diversos tipos de superstições (religiosa, política e filosófica) que para ele eram geradas pela imaginação. Nas palavras do Filósofo: “A mente humana é parte do intelecto infinito de Deus.”
  • Os homens enganam-se quando se acreditam livres; essa opinião consiste apenas em que eles estão conscientes das suas ações e ignorantes relativamente às causas pelas quais são determinadas.”
Embora não tenha publicado sua obra mais famosa,  “Ética”, em vida, ela foi publicada postumamente, em 1677.
Nela, Spinoza abordou temas como superstições relacionadas a Deus e a natureza racional do Universo.
Ele enfatizou que o que os seres humanos pensam afeta diretamente sua maneira de viver.
  • "A sabedoria do homem livre  é uma meditação não sobre a morte, mas sobre a vida.”
Portanto, encerrando o carnaval 2024 com Spinosa, O Deus dentro de cada um de nós, nosso Deus,  deseja nossa alegria, nosso bem viver, nosso bem viver com os outros, nossa construção de um mundo mais bonito, mais participativo  mais distributivo, onde nenhum ser humano passe fome ou morra por nenhuma guerra...

Amém... Assim seja... lutemos por isso, em todos nos níveis de relação...


E mesmo na segunda, pós pós carnaval, ainda estávamos tomando nosso café da manhã como na foto acima...



E até nosso próximo carnaval... melhor, até nossos próximos projetos SBCenses...

SantuzaTU



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