SBC: Conversas SBCenses: sobre segundo turno

Conversar vale a pena quando a alma não é pequena... fazendo uma "variação possível" do Fernando Pessoa... e como é bonito a gente 'ver' que, conversando, os afetos afloram e nos orientam para a construção de novas convicções, mais próximas do “bem viver”....

Eu estava em viagem e recebi o relato a seguir, de uma amiga do interior:

Estávamos num café gostoso aqui na minha terra quando começamos a conversar com a simpática senhora do caixa. Da conversa sobre filhas emendamos com política.
A minha filha teve coragem de perguntá-la em quem ela votou. Ela, parecendo um pouco envergonhada, balançando o ombro, disse:

- No primeiro turno eu votei "nele". Um tanto por ser cristã... E não no "outro" pela questão da corrupção. Fico pensando na pobreza da Venezuela...

A minha filha perguntou:
- Você tem convicção, está fechada no seu voto ou podemos conversar? Imediatamente eu ri e comentei: com esta balançadinha de ombro parece que podemos conversar!.

E a minha filha continuou: a mídia não fala pra gente sobre o imperialismo... a pobreza na Venezuela, em Cuba também, é por causa das sanções que os EUA impõem aos países que desejam autonomia, que não se submetem ao cabresto daquele país dominador...

- É mesmo, disse ela... sabemos tão pouco... por exemplo, não sei o que é esse negócio de “orçamento secreto”... me explica?

- Sim... 'Rios' de dinheiro estão sendo desviados para os deputados usarem sem nenhuma necessidade de comprovação, ou seja, para comprar votos e serem aprovados projetos políticos nada favoráveis à maioria do nosso povo. E para manter o orçamento secreto, “ele” está cortando verbas da educação e da saúde!

Eu completei: outra coisa absurda são os "100 anos de sigilo". Fico me perguntando para o que serve? Para esconder o quê ?

Neste ponto da conversa, entrou o rapaz que servia sorvete e disse: eu sou Lula fechado . Brigo por ele. Eu li que ele foi inocentado nas mais de 20 acusações que fizeram contra ele ainda este ano.

E a minha filha completou, como sempre lembrando Frida Kahlo "não quero que pense igual a mim mas quero que pense". Enquanto isso eu tirava uma foto de um cartaz atrás da nossa amiga do caixa.

E eu tive, ainda, coragem de perguntar: sua decisão no primeiro turno está ligada à religião?

E ela respondeu que sim, porém ela não era cega e fanática, não estava seguindo os pastores que estão ameaçando as fiéis do "fogo do inferno" se eles não votarem "nele"... aí foi que ela me deu oportunidade de falar sobre o que eu considero uma "crueldade", essa manipulação da fé das pessoas crentes. E lembrei de Brizola, Leonel de Moura Brizola (1922-2004) grande estadista brasileiro que alertava sobre os males de se juntar a politica com a religião:

Daí nos abraçamos e trocamos contatos... e tenho mandado pra ela algumas coisas sobre "amor e política", e ela me retorna que está gostando muito...

E, na saída do café, comentamos, eu e minha filha, sobre a convicção de que tínhamos que fazer isto sim! ... até o final de outubro.

Volto pra casa, abro meu 'Whats' e recebo outro relato, de uma SBCense voltando de Juiz de Fora:

- Saindo do hotel e indo para a rodoviária em um UBER, perguntamos sobre o local exato em que "ele" havia, supostamente, levado a "facada". O simpático motorista nos mostrou o lugar e ainda nos falou do hospital em que "ele" foi levado. Iniciamos então uma conversa sobre política, como não poderia deixar de ser. Mais uma vez fizemos a pergunta que não quer se calar: E aí em quem você vai votar? Foi quando ele comentou sobre as realizações do governo Lula: que sua filha havia formado através do ProUni, que na época do Lula as coisas eram bem melhores e que, numa conversa com uma advogada, de classe alta, ela havia falado para ele que este governo, se eleito, só iria continuar a governar para os ricos ... e quem iria governar de fato para a classe popular seria o Lula. Nos deu a impressão que isto o impactou bastante ao perceber que não há esperança para a população menos favorecida caso " ele "vença as eleições. Mais uma vez reafirmamos a questão do orçamento secreto e também dos 100 anos de sigilo do governo atual.
Chegamos na rodoviária convencidas de que, mais uma vez fizemos a coisa certa: reverter votos para que haja uma vitória da democracia, do "governo para tod@s".

E eu, cansada, dormi... e acordei lembrando do meu sonho: eu tinha mexido muito com a mão e o gesso do meu braço arrebentou... justamente pelos dedos ! Freud explica...