quarta-feira, 11 de julho de 2012

Filosofias SBCenses


E esse papo pode acontecer até as 3 horas da madrugada!
-Você já foi chamada "dona da verdade"?
-Sim
-E isso te incomodou muito?
-Sim; porque isso foi falado de forma agressiva, como se fosse uma acusação de autoritária. Me magoou muito. Senti como uma fala cortante, parece um xingamento, isso encerrou o papo, fui acusada de não ouvir e não pude falar mais nada, recuei...
-É isso mesmo que acontece! acho que podemos pensar algumas coisas produtivas sobre relações humanas a partir daí. Na verdade o modelo relacional que conhecemos e praticamos em todos os níveis de relação vem a ser o do autoritário/submisso, então isso não é nenhum xingamento. Algumas pessoas, especiais, conseguem superar tal modelo e construir relações mais simétricas, de sujeito/sujeito (pressupondo o outro também enquanto sujeito).
-Então, o que posso fazer quando isso acontece?
Quando sou xingada de autoritária, primeiro posso pensar que isso seja verdade e corrigir o meu autoritarismo. Agora, outra coisa que posso também pensar é sobre o autoritarismo do submisso, é que o outro queira a minha submissão.
-Pensei também o quanto somos confundidas com autoritárias quando queremos passar uma convicção...
-É mesmo! a força de uma convicção pode muito bem ser confundida com "dona da verdade", isso externamente, pelo outro, pois internamente tem uma distância enorme entre força de convicção e "dona da verdade". Me lembrei de uma leitura das mais produtivas que já tive, grande filósofo o Nietzche, no seu melhor livro, A Genealogia da Moral, no prefácio, quando ele fala como veio a escrever sobre uma coisa que o encucava, a origem o bem e do mal, ele conta que quanto, depois de muito refletir, estavam bem claras  as suas posições, veio cair em suas mãos um livro que lhe parecia a coisa mais antípoda (adorei essa palavra, mais contrária) e ele leu esse livro com a paciência da pessoa convicta, axté mesmo para aperfeiçoar seus argumentos. Ou seja, para mim, internamente, quanto mais força de convicção eu tenho mais consigo ouvir o diferente, assim como me enriquecer com isso. Se isso parece ser "dona da verdade", querida, resta ao outro verificar o seu próprio autoritarismo, as suas convicções.
-Eu quero mais interlocutores, pessoas que me enriqueçam, que não sejam iguais, que não pensem da mesma forma (ou se submetam) mas que saibam ouvir e defender suas idéias, mesmo que sejam opostas.
-Aí vamos nos enriquecer. E isso vale para as relações íntimas, para as relações de amizade, de trabalho, para todas as relações.
-Que bom conversar com você! nos enriquecemos muito...
bjus



                                              Foto: Santuza Tu no Cartola Bar
                                                                                 

                                                                              texto: Santuza Tu



Um comentário:

  1. Olá Santuza! Concordo com a idéia de defender aquilo em que acreditamos, mesmo que sejamos criticados, mas... se tiver que mudar nosso ponto de vista, que mudemos, com segurança e argumento. Afinal, o mundo muda a cd instante e precisamos reciclat os nossos conceitos.
    Bjs, Rosária.

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