E esse papo pode acontecer
até as 3 horas da madrugada!
-Você já foi chamada "dona
da verdade"?
-Sim
-E isso te incomodou
muito?
-Sim; porque isso foi falado
de forma agressiva, como se fosse uma acusação de autoritária. Me magoou muito.
Senti como uma fala cortante, parece um xingamento, isso encerrou o papo, fui
acusada de não ouvir e não pude falar mais nada, recuei...
-É isso mesmo que acontece!
acho que podemos pensar algumas coisas produtivas sobre relações humanas a
partir daí. Na verdade o modelo relacional que conhecemos e praticamos em todos
os níveis de relação vem a ser o do autoritário/submisso, então isso não é
nenhum xingamento. Algumas pessoas, especiais, conseguem superar tal modelo e
construir relações mais simétricas, de sujeito/sujeito (pressupondo o outro
também enquanto sujeito).
-Então, o que posso fazer
quando isso acontece?
Quando sou xingada de
autoritária, primeiro posso pensar que isso seja verdade e corrigir o meu
autoritarismo. Agora, outra coisa que posso também pensar é sobre o
autoritarismo do submisso, é que o outro queira a minha submissão.
-Pensei também o quanto
somos confundidas com autoritárias quando queremos passar uma convicção...
-É mesmo! a força de uma
convicção pode muito bem ser confundida com "dona da verdade", isso
externamente, pelo outro, pois internamente tem uma distância enorme entre força
de convicção e "dona da verdade". Me lembrei de uma leitura das mais produtivas
que já tive, grande filósofo o Nietzche, no seu melhor livro, A Genealogia da
Moral, no prefácio, quando ele fala como veio a escrever sobre uma coisa que o
encucava, a origem o bem e do mal, ele conta que quanto, depois de muito
refletir, estavam bem claras as suas posições, veio cair em suas mãos um livro
que lhe parecia a coisa mais antípoda (adorei essa palavra, mais contrária) e
ele leu esse livro com a paciência da pessoa convicta, axté mesmo para
aperfeiçoar seus argumentos. Ou seja, para mim, internamente, quanto mais força
de convicção eu tenho mais consigo ouvir o diferente, assim como me enriquecer
com isso. Se isso parece ser "dona da verdade", querida, resta ao outro
verificar o seu próprio autoritarismo, as suas convicções.
-Eu
quero mais interlocutores, pessoas que me enriqueçam, que não sejam iguais,
que não pensem da mesma forma (ou se submetam) mas
que saibam ouvir e defender suas idéias, mesmo que sejam opostas.
-Aí vamos nos enriquecer. E
isso vale para as relações íntimas, para as relações de amizade, de trabalho,
para todas as relações.
-Que bom conversar com você! nos enriquecemos
muito...
texto: Santuza Tu
Olá Santuza! Concordo com a idéia de defender aquilo em que acreditamos, mesmo que sejamos criticados, mas... se tiver que mudar nosso ponto de vista, que mudemos, com segurança e argumento. Afinal, o mundo muda a cd instante e precisamos reciclat os nossos conceitos.
ResponderExcluirBjs, Rosária.