É com grande alegria que resgatamos nosso projeto ARTE NA PANDEMIA... ou melhor, repaginamos... agora podemos dizer de ARTE PÓS PANDEMIA... ou ARTE E VIDA...
Lembrando Freud, numa livre interpretação: dizia ele no seu livro "O mal estar na civilização" que aprendemos, a maioria de nós, a ter como objetivo de vida a evitação do sofrimento... poucas pessoas aprendem a orientar a vida para a busca do prazer. Porém, são pelos mesmos poros no nosso corpo que entram tanto a dor quanto o prazer... e, na evitação da dor, fechamos os poros... e a triste consequência, desaprendemos a sentir alegria de vida. Quando abrimos os poros por eles entram a tristeza e a alegria, entre outras emoções... entram e saem... e conseguimos nos voltar para a nossa orientação de vida, a busca do prazer, a alegria de vida.
Trata-se de uma aprendizagem difícil, principalmente numa sociedade em que o individualismo, a competitividade, a busca do sucesso se sobrepõem à empatia, à solidariedade, à busca do coletivo. Mas arregacemos as mangas! e busquemos este mundo mais bonito, tanto no plano do coletivo quanto nas nossas subjetividades...
É com esse espírito que compartilhamos o texto a seguir, da nossa querida SBCense Zeza... Maria José, que transforma em arte sua vivência de perda... e se volta para a vida.
Obrigada Zeza...
O FLORESCER DAS ORQUÍDEAS
Acordo. Começo a fazer o meu café. Olho pela janela, o lá fora não é capaz de diminuir a
melancolia e a nostalgia de dentro. Como em todas as manhãs, observo a minha orquídea que,
há dias, aguardo o abrir dos seus botões. Está sobre um armário branco a me esperar e eu a
esperar sua floração, num tempo que lhe é necessário, nem mais nem menos, por mais que
meu olhar urgente deseje a beleza e o seu frescor a enfeitar meus sentidos.
Agora são duas: uma branca que me acompanha há alguns anos e a cada floração parece não
se importar com meu anseio e impaciência.
A outra me faz companhia há pouco tempo. Trouxe-a da casa de minha mãe após a sua morte,
como um amuleto, um carinho, uma lembrança, a me fazer companhia na saudade.
Minha mãe gostava muito de plantas e de plantar, ela caminhava para sua despedida e sua
orquídea renascia. O renascer e o morrer. Não consigo lembrar-me da cor dessa orquídea, mas
sei que vai trazer um colorido para minhas manhãs mais sombrias.
Pus-me a observá-las, isso me trouxe um conforto, como se me acariciassem e fizessem com
que meu luto se tornasse mais leve. Parecem ensinar-me que eu dê tempo ao tempo para que
as lembranças se tornem apenas lembranças, saudade apenas saudade, sem dor, sem
arrependimentos: por palavras que não foram ditas, afagos que não foram feitos, e assim vou
curando-me no tempo a observar o crescimento de minhas orquídeas e o arrefecimento de
minha dor.
Ainda não havia reparado nesse poder curativo das orquídeas: o da paciência, o do abraço
diário, o do lamento escutado, o do renascer da florada, o do tempo impossível de acelerar, o
de me fazer sentir viva frente a esses sentimentos de tristeza e melancolia que com certeza
passarão, e poder agradecer a vida vívida e vivida a cada dia.
Maria José Birro Costa
27/07/2023
Obrigada mais uma vez querida Zeza!
E o convite para ARTE PÓS PANDEMIA... ou ARTE E VIDA... continua... mandem seus textos poemas, músicas, fotos, pinturas... toda arte que "não serve pra nada", senão para a vida...
Abraços carinhosos,
SantuzaTU
Obrigada Santuza.
ResponderExcluirLinda escrita para minha escrita.