Um encontro cheio de boas energias, de muitas trocas, muito crescimento mútuo, como é o SBC e como são (ou deveriam ser) as AMIZADES.
Começamos com as citações das grandes amizades: Cora Coralina e Drummond, Diadorim e Riobaldo, entre outras. E falamos sobre os conceitos de AMIGO, ADVERSÁRIO, INIMIGO: quem deseja a minha submissão a elx e|ou suas ideias não é meu amigo, pois amigo é aquele que me permite (e eu também permito) o não, a divergência. Portanto, adversário pode ser um grande amigo. E o maniqueísmo de pensar que quem não concorda comigo é meu inimigo e muito perigoso... e mais: meu inimigo e deve ser "eliminado". NÃO!!! Nosso grande Guimarães Rosa dizia: "sou quando divirjo", lição de vida e de relações de crescimento. Dizer isto no princípio do nosso encontro e ver "olhos brilhando", na expectativa de uma conversa pra lá de boa, já me animou demais...
Daí fomos para a apresentação do SBC, este grupo de amigos que se transformou num "conceito" de "bem viver". Conseguimos um pequeno vídeo gravado pela Cléo falando sobre isso:
Daí apresentamos o nosso grande amigo SBCense, que já estava arrasando no violão e voz, Romário Araújo, e sua música sobre Itabira, lindíssima:
Falamos sobre a amizade com Fernando Pessoa, grande poeta e filósofo Lisboense:
Fernando Pessoa (1888-1935)
"Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril" (aqui só uma palinha do mesmo, mas no encontro falamos dois poemas).
E outro que não podia faltar:
Vinicius de Moraes (1913-1980)
Nosso grande poetinha camarada: "A gente não faz amigos. Reconhece-os".
E a nossa poetinha camarada Antonieta Shirlene, grande SBCence em viagem, mas mandou dois poemas, um deles é este:
FLORISBELA E ANABELA
Não existe coisa mais bela
Do que o outono
Do que a primavera
Do que a amizade
Amarrada com fita amarela
Tal a amizade de Florisbela e Anabela
Que detardinha na janela comem pipoca
Vão juntando seus pedacinhos
Qual beija flor, de flor em flor
Contam seus sonhos e desafios
Contam também sobre o amor.
E foi ela, também, que teve a grande ideia do varal de frases, que ficou lindo! E as pessoas animaram de ir puxando do varal cada frase e leram no microfone frases super marcando sobre A AMIZADE , inclusive essa da música Canção da América, do Milton Nascimento e Fernando Brant:
AMIGO É COISA PRÁ SE GUARDAR
DEBAIXO DE SETE CHAVES
DENTRO DO CORAÇÃO.
Foi com uma parte dessa música, também, que terminamos nosso encontro:
QUALQUER DIA, AMIGO, A GENTE VAI SE ENCONTRAR...
Mas não sem, antes, falarmos sobre livros e filmes que nos ensinam sobre a amizade, tudo sempre permeado com as lindas interpretações de músicas sobre o tema.
Inclusive cantamos umas músicas sobre amizades nos anos 80 do século passado, quando alguns brasileiros e brasileiras estavam exilados por causa da repressão do regime militar que vivíamos, nessa época. Durante o governo do último presidente militar, General Figueiredo, tivemos a "abertura", e algumas pessoas que estavam fora do Brasil, por terem se exilado ou por terem sido expulsas do país, voltaram... e tínhamos músicas lindas falando sobre isso. Uma delas: O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e do saudoso Aldir Blanc. E falamos um pouco sobre essa época histórica, e como a histórica é importante para entendermos o mundo e nossa atualidade.
E conseguimos gravar uma parte no celular do grande SBCense Paulinho... a seguir, uma "palinha" pra quem não foi animar de ir no próximo, último domingo de outubro, que vai ser sobre o tema SOBRE VIVER.
Aproveite e se inscreva no canal e dê um LIKE viu?
O SBC também agradece todas as pessoas que participaram deste encontro, Cléo, Zezé, Gilvana, Vanessa, Salime, e as novas pessoas amigas que ainda vamos decorar os nomes. E o nosso querido Zum, que fez o convite virtual, bacanérrimo!
Ahhhh: ao final do encontro tivemos sorteio de livros, todo mundo adorou (principalmente os que ganharam... rsrs)... mas a coisa que mais me alegra de montão é terminar um encontro desses e olhar pras pessoas e perceber os olhos brilhando... ai, como isso é bom... os meus também brilham e eu agradeço à vida que me tem dado tanto... mas esse é o tema do nosso próximo encontro...
Até lá...
GENTE!!! e o nosso próximo encontro será no dia das BRUXAS!!! Então, combinamos de ir fantasiadxs... e fazer ligações entre os temas: SOBRE VIVER e BRUXAS, porque, afinal, nós, mulheres, somos sobreviventes de um sistema que queria matar todas nós, as DIVERGENTES. Preparem suas fantasias!!! Nos montemos!!! todxs nós!!!
Paulo Barreto (João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto; pseudônimo literário: João do Rio), jornalista, cronista, contista e teatrólogo (1881-1921).
Diálogo entre Angel e Rochelle... eu de "butuca":
Angel: Rochelle, li alguns contos do João do Rio e me interessei pela sua biografia. Aí fui pesquisar e descobri que o seu pai, numa época de recessão, no Brasil e no mundo, há cerca de 100 anos, perdeu o emprego e então foi trabalhar num hospício, no almoxarifado. Depois de algum tempo ele ficou louco. Isso me deixou encucada. Você que entende mais do humano do que eu, me responda: trabalhar em hospício faz a pessoa ficar louca?
Rochelle: Minina... nunca vi isso não... mas tô pensando numa coisa: será que a pergunta não seria "em quanto tempo a pessoa fica louca trabalhando num hospício?" ; outra possível: "foi bom pra essa pessoa ficar louca?". Porque eu tenho pra mim que quanto menos tempo ela ficar louca depois que começar a trabalhar no hospício melhor pra ela, né?
Angel: Você é que é muito louca Rochelle! Eu aqui impressionada com o conto e você mangando de mim!
Rochelle: Angel, você me fez lembrar um grande brasileiro, nordestino: Ariano Suassuna. Ele morreu em 2014 e eu tive a alegria de assistir uma aula-espetáculo dele, um pouco antes da sua morte... e foi ele que inspirou nosso conceito SBCense de vida, no item RISO, rir da vida, da gente mesmo, riso é revolucionário, libertador, desoxida talentos.
Nessa aula-espetáculo ele conta estórias de pessoas num hospício que ele tinha ido visitar por ocasião da inauguração do mesmo. Ele era secretário da Cultura de Pernambuco e estava acompanhando o Governador. O Diretor do Hospício queria mostrar o valor do tratamento pelo trabalho, os loucos estavam todos muito contentes carregando pedras num carrinho de mão. Mas um deles ia de lá pra cá com o carrinho emborcado! Então ele perguntou pro louco: Porque você anda com o carrinho emborcado quando todos os outros estão carregando pedras ? No que o louco respondeu: eu sou louco! não sou burro! se eu virar o carrinho eles vão encher de pedras! Eu heim... não vou fazer isso não! não vou me submeter a essa exploração!
Então Angel, com esse caso do Suassuna você entende o que eu disse? por que quanto menos tempo a pessoa levou pra ficar louca mais saudável ela é! Podemos refazer sua pergunta: nós, no sistema em que vivemos, somos saudáveis? Pessoas normais são saudáveis? Pessoas adaptadas são saudáveis?
E concluíram: é preciso muito humor, muita alegria e esperança, para fazer a revolução, para construirmos um mundo melhor, mais humano, mais distributivo, mais justo. Será que Ariano conversava com o Paulo?
Angel: Que Paulo, Rochelle?
Rochelle: Paulo Freire minina! Estamos hoje, 19 de setembro, comemorando os 100 anos desse gênio da EDUCAÇAO LIBERTADORA, que forma o sujeito crítico, contrapondo à EDUCAÇÃO BANCÁRIA, que significa "enfiar" conhecimento pronto "goela abaixo" do educando. Para Paulo, educação é uma construção conjunta, educador, educando, olhar para o mundo, se colocar como sujeito... e por aí vai. Tem gente que tem muito medo do Paulo! Pois é revolucionário!
Angel: claro que eles eram amigos! e o Paulo é, também, um dos mentores do SBC! Eles também estarão no nosso encontro dia 26.setembro lá no Botequim Madureira.
E eles também estão convidando todas as pessoas que se identificam com esses conceitos: o SBC é um grupo ABERTO, INCLUSIVO, ANÁRQUICO, DEMOCRÁTICO, ECOLÓGICO... E FEMINISTA...
Valorizamos o RISO, a alegria, o nível de relação de AMIZADE, são as que mais a gente cresce, o SBC acredita nisso... e o SENTIDO ESTÉTICO na vida e nas relações, a arte é transformadora.
Grande LENINE!!! Freiriano e SBCense... também nos convidando.
Aí está o convite, chamem seus amigxs. O SBC estará lá para recebê-los, para cantar, conversar, falar poemas sobre o tema... enfim, rever pessoas queridas.
Cora Coralina e Carlos Drummond convidam para o nosso segundo encontro
ARTE, PROSA E SAMBA: A AMIZADE
Será no dia 26 de setembro a partir das 13 horas no Botequim Madureira, no Bairro Aparecida, em Belo Horizonte. Vamos conversar sobre o conceito SBCense de AMIZADE, o que diferencia esse sentimento do AMOR, grandes amizades na História, como a da Cora e do Drummond, do Riobaldo e Diadorim, da Anabela e da Florisbela, sobre o VALOR DA AMIZADE para a vida, entre outras coisas. Claro, tudo permeado pela Arte: poemas, músicas... e vamos, enfim, comemorar a AMIZADE, um conceito fundamental para o SBC.
O card a seguir é um convite para o nosso evento:
Não percam! vai ser lindo!!! e convidem as pessoas amigas.
Este foi o fogão da nossa conversa sobre DEMOCRACIA. A foto foi tirada depois, no dia estávamos tão envolvidxs com a conversa que não lembramos. Algumas pessoas levaram informações do GOOGLE, outras levaram referências de livros e filmes... e eu fiquei encarregada de fazer a resenha (e ilustrações)... a seguir:
A palavra
democracia tem
origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa "povo") e kratos
(que significa "poder" ou "forma de governo").
A democracia é
a possibilidade de exercício político por parte do povo. Trata-se de um regime
político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente
ou através de representantes eleitos. Os gregos
antigos criaram a ideia de cidadania, aquele que é considerado
cidadão poderia exercer o seu poder de
participar da política da cidade. Reparem que não era inclusiva a democracia
grega, e isso foi a uns 300 anos antes de Cristo. Os escravos e as mulheres não
estavam incluidxs, eram serem "inferiores".
A democracia grega era,
portanto, restrita. E essa ideia começou a mudar a
partir da Revolução Francesa que, por meio do republicanismo, passaram a
advogar por uma participação política de todas as classes sociais. Ainda na
Modernidade, apesar de avanços políticos e de uma ampliação do conceito de
democracia, as mulheres não tinham acesso a qualquer tipo de participação
democrática ativa nos países republicanos, fato que somente começou a ser revisto
com a explosão do movimento feministadas sufragistas,
que culminou na liberação, pela primeira vez na história, do voto feminino, na
Nova Zelândia, em 1893 (ou seja, pouco mais de 100 anos).
As democracias podem ser
classificadas quanto aos tipos diferentes, com base no modocomo
se organizam. E, também, podem apresentar diferentesestágiosdedesenvolvimento. Por
isso, o termo é amplo e de difícil definição, pois o simples ato de dizer que
“a democracia é o poder do povo" ou de associar democracia à prática de
eleições não define o conceito em sua totalidade.
Temos três
tipos básicos de democracia:
§Democracia direta
É a forma
clássica de democracia exercida pelos atenienses. Não havia eleições
de representantes. Havia um corpo de cidadãos que legislava. Os cidadãos
reuniam-se na ágora, um local público que abrigava as chamadas
assembleias legislativas, onde eram criadas, debatidas e alteradas as leis
atenienses. Cada cidadão podia participar diretamente emitindo as suas
propostas legislativas e votando nas propostas de leis dos outros
cidadãos. Os cidadãos preparavam-se, mediante o estudo da Retórica,
do Direito e da Política, para as
assembleias. As decisões, então, eram tomadas por todos. Exercemos,
agora, esse tipo de democracia? Sim, claro, podemos e devemos exercê-lo nas
nossas comunidades. E mais, nos preparar para isso, para defender nossas
opiniões, argumentar, ouvir x outrx e elaborar consensos. Isso vem a ser
a aprendizagem do "exercício da cidadania" ou "fazer
política".
§Democracia representativa (ou indireta)
Pela
existência de vastos territórios e de inúmeros cidadãos, é impossível pensar em
uma democracia direta, como havia na Grécia. Vários fatores contribuíram para a
formação desse segundo tipo de democracia: o voto (sufrágio universal); a Constituição, que regulamenta
a política, a vida pública e os direitos e deveres de todos; a igualdade de
todos perante a lei, o que está estabelecido pela Constituição. Vejam que Direitos
Humanos está diretamente relacionado à Democracia.
Então... as democracias
representativas são regidas por constituições que estabelecem um Estado
Democrático de Direito. Nessas organizações políticas, todo cidadão é
considerado igual perante a lei, e todo ser humano é considerado cidadão. Não
pode haver desrespeito à constituição, que é a carta maior de direitos e
deveres do país, e os cidadãos elegem representantes que vão legislar e
governar em seu nome, sendo representantes do poder popular nos poderes
Executivo e Legislativo.
A vantagem desse
tipo de organização política é a exequibilidade, e sua desvantagem é
a brecha para a corrupção e para a atuação política em benefício
do bem privado e não do bem público. Por ser um sistema em que a
participação política não é exercida diretamente, mas por meio de
representações, ele é chamado de democracia indireta. E a
característica principal da democracia representativa é a eleição dos nossos
representantes.
§Democracia participativa (ou semi direta)
Nem uma democracia direta,
como era feita na Antiguidade, e nem totalmente indireta, como acontece com a
democracia representativa, a democracia participativa mescla elementos de uma e
de outra. Existem eleições que escolhem e nomeiam membros do
Executivo e do Legislativo, mas as decisões somente são tomadas por meio
da participação e autorização popular.
Essa participação acontece
nas assembleias locais, em que os cidadãos participam, ou pelaobservação
de líderes populares, nas assembleias restritas, que podem ou não ter direito a
voto. Também acontecem plebiscitos para ser feita uma consulta popular antes de
tomar-se uma decisão política. Esse tipo de democracia permite uma maiorparticipaçãocidadã, mesmo
com a ampliação do conceito de cidadania e pode ser chamada democracia
semidireta.
O sistemapolíticobrasileiro pode
ser chamado de representativo, mas a nossa Constituição Federal de 1988 permite
uma ampla participaçãopopular que, caso
fosse efetivamente aplicada, poderia colocar-nos
no patamar de democracia participativa, inclusive prevendo a possibilidade de
uma iniciativa popular legislativa.
Perceberam que DEMOCRACIA está intimamente relacionada com EDUCAÇÃO, com DIREITOS HUMANOS,
com PARTICIPAÇÃO e CIDADANIA. E com POLÍTICA, que fazemos o tempo todo,
"na cama e no mundo", e precisamos aprender a fazer politica de um
jeito mais bonito, mais inclusivo, mais saudável, enfim, uma politica que
defenda, essencialmente, a VIDA.
Quando um Estado Democrático
de Direito, representado pela Constituição, é, por algum motivo, suspenso,
interrompido ou deixado de lado, podemos dizer que há a formação de um Estado
de exceção, que é uma das características de uma ditadura.
Dessa breve elucidação do conceito, partimos para a compreensão da Democracia no Brasil: Como tantas outras coisas no nosso país, a relação entre democracia e política aqui é complicada. Na Primeira República, ou RepúblicaVelha, tivemos um período provisório comandado por setores militares (1889 - 1894). Um período em que a chamada “política café com leite” deu início a um longo conchavo entre líderes de São Paulo e Minas Gerais para a presidência do país. Em 1930, uma chapa liderada por Júlio Prestes, paulista, é indicada e eleita. Porém os políticos mineiros não aceitam a eleição, iniciando a Revolução de 1930, que acaba com a república e inicia a Era Vargas. Uma característica da Primeira República era o voto de cabresto, em que os coronéis locais mandavam e fiscalizavam as pessoas quando votavam, criando uma fraude que descaracteriza a legitimidade do processo democrático. A democracia só foi restabelecida no Brasil em 1945. E, em 1964, o país vive outro golpe contra a república brasileira e contra a democracia. Trata-se do golpe civil-militar, que impôs um regime de exceção, suspendendo direitos civis e a constituição, impondo a censura contra a imprensa e fechando, o Congresso Nacional.
Pois, como podemos ver, só existe democracia com o funcionamento dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, cada um com suas atribuições específicas.
Imprescindível, para entender melhor a democracia no nosso país, principalmente nos últimos anos, o filme "Democracia em vertigem", documentário de 2019 indicado ao Oscar em 2020, dirigido por Petra Costa, que relata os bastidores do impeachment da Presidenta Dilma, o julgamento de Lula e o pleito que elegeu o candidato de extrema-direita.
Voltando a história, em 1985, a ditadura militar acaba, mas deixa como marca as eleiçõesindiretas para presidente. O grande movimento, iniciado ainda no fim da ditadura, o "Diretas Já", pedia o estabelecimento de eleições diretas para presidente. Em 1988, acontece a Assembleia Constituinte que cria a Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, e restabelece a possibilidade da democracia plena, reforçando direitos e promovendo a igualdade.
Percebemos que nossa Democracia ainda é muito frágil. O respeito a essa democracia, até mesmo por parte de representantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, e por parte da população civil, ainda é um problema, pois o que mais temos visto é a violação dos valores constitucionais por parte de políticos eleitos pelo povo. E o povo, nós, ou um tanto de nós, na alienação, na falta de educação política, nos deixamos levar pela "superfície" das informações, pelas informações falsas, que nos impõe um Simulacro, um modelo cultural, que seguimos sem reflexão.
Pois com conversas e reflexão fica fácil de ver que um conceito (e a prática) de democracia é aquele onde o governo preserva o legítimo direito de expressão e de existência das minorias, um governo para todos. E outro conceito (e a prática) de democracia é o "governo da maioria", a "minoria" tem que se adaptar, ou se submeter, ser explorada, massacrada, vilipendiada. Com todo o "encobrimento" necessário, isto é, a ideologia, ou o que se chama "Guerra Cultural" que, num sentido geral, significa a tentativa de imposição de padrões, entendida (e praticada) como "o meu jeito de pensar, meus princípios, meus valores, são a verdade absoluta... e quem não compartilha dessa verdade deve ser eliminadx... este é o entendimento atual de "guerra cultural". A "polarização", o maniqueísmo, "certo ou errado", feio ou bonito, céu ou inferno, homem ou mulher... só interessam à dominação. O humano é muito maior do que dois lados... é uma construção constante...
Jacques Rancière. 1940...
O seu livro O ódio à democracia, o filósofo francês contemporâneo Jacques Rancière fala sobre a crise democrática que tem assolado os países no século XXI. Segundo ele, o mundo tem agido contra a democracia por uma espécie de medo que ela pode colocar no cidadão médio: o medo de que a democracia seja o regime político por excelência.
Rancière afirma que a democracia é o regime do dissenso, e isso tem promovido a cisão da população. É normal que haja discordância dentro de um regime democrático, mas deve haver também respeito mútuo por todas as partes que respeitam a democracia, e deve haver uma tentativa de construir-se um projeto comum com base na discordância.
A partir do momento em que setores autoritários não respeitam os seus adversários, tem-se início um processo de ódio contra a democracia que pede o fim dela para que o adversário e a sua posição política sejam eliminados. É daí que surge o anseio pela ditadura.
"Neste
ensaio, publicado em 2005 na França, Jacques Rancière, um dos mais importantes
filósofos da atualidade, conduz o leitor por um passeio pela história da
crítica à democracia para situá-la no cerne político do momento atual,
procurando esclarecer o que há de novo e revelador no sentimento antidemocrático,
uma manifestação tão antiga quanto a própria noção de democracia. Dessa forma,
Rancière repensa o poder subversivo do ideal democrático e o que se entende por
política, para assim encontrar o caráter incisivo de sua ideia. O livro ganha
edição em português pela Boitempo Editorial em um momento único da política
brasileira, no contexto de um cenário eleitoral surpreendente, que sintetiza a
efervescência social dos últimos anos, revelada com mais intensidade nas
manifestações sociais de junho de 2013. A obra mostra-se atual também em
relação ao debate que vem crescendo sobre participação e representação popular,
democracia direta e o desejo de que a política signifique mais do que uma
escolha entre oligarcas substituíveis. "É justamente essa recusa da hierarquia
que tem a ganhar com a leitura deste livro de Jacques Rancière que, à luz dos
clássicos como da experiência francesa e mundial, continua um trabalho sempre
renovado, jamais concluso, de afiar o gume da democracia", afirma o
filósofo Renato Janine Ribeiro no texto de orelha do livro".
Renato Janine Ribeiro, !949-... professor de filosofia, cientista político, escritor e colunista brasileiro, também autor do livro A DEMOCRACIA, que acrescentamos como referência importante para nossas conversas.
E assim terminamos nossa conversa, com sugestões de outros temas, que estão elencados no post do "lançamento" do projeto, assim como sugestões de outros lugares para a próxima conversa... e lembrando (e cantando) o grande GONZAGUINGA:
A música "Comportamento Geral", foi lançada em 1973. Ao apresentar a música a um júri do antigo programa Flávio Cavalcanti, Gonzaguinha foi "massacrado". Um dos jurados sugeriu sua deportação. A música teve sua execução pública proibida, mas a venda em disco para audição particular foi permitida.
E como é atual! Vejam a letra! Afinal, nem no tempo da ditadura militar tentaram acabar com os direitos trabalhistas, com a aposentadoria, só falta, como diz a letra da música, acabarem com o carnaval. "Você deve notar que não tem mais tutu / e dizer que não está preocupado Você deve lutar pela xepa da feira / e dizer que está recompensado Você deve estampar sempre um ar de alegria / e dizer: tudo tem melhorado Você deve rezar pelo bem do patrão / e esquecer que está desempregado Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval? Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval? Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre: "Muito obrigado" São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado Deve, pois, só fazer pelo bem da Nação / Tudo aquilo que for ordenado / Pra ganhar um Fuscão no juízo final / E diploma de bem comportado Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval? Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé / Se acabarem com o teu Carnaval? Você merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal E um Fuscão no juízo final / Você merece, você merece E diploma de bem comportado / Você merece, você merece Esqueça que está desempregado / Você merece, você merece/tudo vai bem, tudo legal"
E outra, que cantamos, do mesmo Gonzaguinha e da mesma época, anos 70, aqui interpretada pela maravilhosa Elza Soares:
"Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata
São tantas lutas inglórias São histórias que a história Qualquer dia contará
De obscuros personagens As passagens, as coragens São sementes espalhadas nesse chão
De Juvenais e de Raimundos Tantos Júlios de Santana Dessa crença num enorme coração
Dos humilhados e ofendidos Explorados e oprimidos Que tentaram encontrar a solução
São cruzes sem nomes Sem corpos Sem datas
Memória de um tempo onde lutar por seu direito É um defeito que mata
E tantos são os homens por debaixo das manchetes São braços esquecidos que fizeram os heróis São forças, são suores que levantam as vedetes Do teatro de revistas, que é o país de todos nós
São vozes que negaram liberdade concedida Pois ela é bem mais sangue Ela é bem mais vida São vidas que alimentam nosso fogo da esperança O grito da batalha Quem espera, nunca alcança
Ê ê, quando o Sol nascer É que eu quero ver quem se lembrará Ê ê, quando amanhecer É que eu quero ver quem recordará
Ê eu, não posso esquecer Essa legião que se entregou por um novo dia Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada Que nos deu tanta alegria E vamos à luta"
E terminamos como a Elza:
QUE PAÍS É ESSE!!!
VAMOS LUTAR POR UM PAIS MAIS INCLUSIVO, MAIS HUMANO, MAIS DEMOCRÁTICO!
Sérgio
Miguel Cardoso, ou Sérgio Cardoso... mais recente “aquisição” do SBC:
Iniciou
carreira artística como ator muito cedo, aos
cinco anos de idade atuando em peças infantis no Grupo Escolar Barão do
Rio Branco onde cursou o primário.
Em 1955,
com a inauguração da extinta TV Itacolomi canal 04, atuava
em teleteatros, levado por seu pai, Otavio Cardoso, que foi convidado para
montar e dirigir o elenco de teleteatro daquela emissora onde permaneceu por 14
anos, até sua extinção.
Participou
de vários espetáculos como, por exemplo, o famoso “Grande
Teatro Lourdes”, ao lado de grandes atores tais como: Ary Fontenelle,
Lady Francisco, Rogério Falabella, Mauro Gonçalves (o Zacarias
dos Trapalhões), Antônio Naddeo, Elvécio Guimarães, Ana Lúcia
Kathá, Clausi Soares, Glória Lopes, Ricardo Luiz, Jacy Campos (no
famoso programa Câmera Um),e vários outros grandes atores e atrizes.
Atuou
também como Double na Herbert Richer’s no Rio de janeiro, onde
residiu por muitos anos ao lado de Sadi Cabral, Carlos Imperial, e outros
Participou como cantor em programas musicais ao lado Clara Nunes,
Agnaldo Timóteo, Bando dos Cariúnas (Grupo musical do Professor
Elias Salomé), bem como atuou como cantor lírico na ópera O Verter
de Verdi produzida pela Sociedade Coral de Minas Gerais pela
temporada lírica de Belo Horizonte comandado por seu pai que ali
atuava como regisseur.
Atuou
ainda, já nas décadas de 80, 90 e 2000 nas peças “Pobre Vila Rica” de
autoria de Carl Schumacher pelo projeto “Caminhos da Liberdade”
produzido pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais
em 1989, “A Paixão de Um Deus” de Jair Raso em 1999 e “Lola”,
adaptação livre para musical baseado na obra de Fassbinder, por
Roberto Cordovani.
Juntamente
com Magdalena Rodrigues, Presidenta do SATED/MG (Sindicato
dos Artistas), produziu, dirigiu e atuou no Condomínio Morro do
Chapéu a peça “O Natal na Praça”, com elenco amador formado
por moradores daquele condomínio residencial por ocasião das festividades
natalinas.
Formado
em Direito exerce a profissão de Advogado em Minas Gerais.
Sempre
gostou de ler, escrever e compor poemas. Às vezes crônica, às vezes conto. Viajando de
um gênero para o outro, “Cardoso
escreve contos e crônicas como quem elabora um roteiro. A sugestão da imagem parece
ser mais importante que rebuscar a linguagem ou penetrar em divagações
descritivas. São as situações que se encadeiam, sem perda de tempo, para
surpreender o leitor em finais impressentidos. Mesmo quando, aparentemente, é
possível prever a sequência, o autor inverte o jogo e, subitamente, parte para
um desfecho inesperado, um típico “golpe de cena”, que os dramaturgos
conhecem de sobejo” , escreve Jota Dangelo na apresentação do seu livro CONTOS.
E foi
este livro que o Sérgio nos “presenteou”, depois que ficamos nos conhecendo em
encontro das Artes (e da cerva...) na rua Grão Mogol, no Carmo. Lugar bacana, gente bacana, ótima música, e tudo mais...
E ,
claro, depois que ele conheceu o SBC, nosso conceito de BEM VIVER, e se
identificou imediatamente.
Então,
lemos o livro de uma “sentada” só, e fizemosapreciações sobre cada um dos sete contos, especialmente este:
O CAVALHEIRO E A DAMA ou TIMIDEZ e HONESTIDADE, inusitado, excitante como as coisas “proibidas”.
Então pedimos para publicá-lo no nosso projeto ARTES NA PANDEMIA. E aí está,
para o nosso deleite.
Obrigada caro amigo SBCense.
O trem, afinal, encostou à plataforma com toda a sua característica zoeira.
O Homem desviou o olhar da Mulher e travou a batalha dos lugares. Venceu. Ajeitou-se, cansado pela refrega, na poltrona
suja.
Por mero acaso, a Mulher estava à sua frente, num assento virado ao contrário (o tal “cara dura”), tendo à esquerda um
cidadão.
O trem partiu. Ele cochilou. Quatro estações adiante,
desceram os cidadãos: o da esquerda e o da direita, dela e dele, respectivamente.
O Homem – por simples gentileza – ofereceu à Mulher o assento ao seu lado (direito, junto à janela): -É desagradável,
minha senhora, viajar nesse banco “cara dura”. Viramos mira dos
demais.
A Mulher concordou; agradeceu, e passou-se para o lado dele, é claro.
Por longo tempo não mais se falaram. Ele fingia dormitar; ela não fingia nada.
Por
fim, o Homem abriu os olhos e a Mulher – por educação, ofereceu-lhe um sanduíche diminuto: pão, alface, bife, salsicha, tomate,
dois ovos e mostarda.
—
Não, muito obrigado. Estou sem fome, disse o Homem. E comeu o
sanduíche.
—
Horríveis aqueles camaradas
que desceram, disse
a Mulher. Antipáticos, sem
assunto e mal cheirosos; não
lhes dei a mínima confiança.
—
Concordo, concordo, sem dúvida, com a sua
opinião, falou o Homem, lembrando-se
de que a Mulher
e os cidadãos haviam conversado
o tempo todo.
—
O senhor está com
bastante sono, não? – perguntou
a Mulher – pelo menos
dormiu bastante.
—
Sim, respondeu o Homem.
Ando muito sem sono.
—
Depois – continuou
– sou um tanto acanhado
e não sei bem iniciar
uma conversação.
Assim,
prefiro dormir nas viagens,
concluiu passando o braço
casualmente por trás dos
ombros da Mulher.
—
Aprecio homens acanhados,
disse a Mulher. Eu, na
qualidade de casada, honesta
e fiel, não aprecio homens
“entrões” . E ajeitou-se melhor no braço do Homem.
—
É casada? Perguntou o Homem, com evidente surpresa, pois já havia
visto a aliança grossa e brilhante no anular esquerdo da Mulher.
Então, conte comigo para despachar audaciosos que a queiram
desrespeitar, acrescentou enquanto apertava-a suavemente
de
encontro a seu peito.
—
Vê-se logo que é um cavalheiro, articulou a Mulher. Sinto-me segura
e protegida a seu lado, uma vez que é indivíduo que não abusa.
Sou também muito tímida e encostou sua face na dele.
—
Muitas vezes surpreendo perguntando-me como pode haver tipos avançadores
(de desodorante Avanço), expressou-se o Homem, examinando
delicadamente a contextura do tecido que a vestia nas
partes mais anatômicas.
—
Bem grande esse túnel, gaguejou a Mulher, ao conseguir libertar a
boca que o Homem beijava ainda. Meu marido, sempre me diz ter
desagradáveis impressões ao passar por túneis.
—
De fato, há indivíduos sem vergonha que
se aproveitam da escuridão para
atitudes
pouco recomendáveis e desrespeitam
senhoras por acaso ao seu
lado, tartamudeou o Homem, enquanto
fazia discreto “bilu-bilu” na Mulher.
—
Não tolero tais camaradas, ciciou a Mulher.
Costumam até fazer-nos indecorosos
convites.
—
Isto é verdade, disse o Homem e conceituou
distraído:
—
conheço um desses descarados, que certa
vez, teve a audácia de convidar distinta
dama com quem viajava, para
interromperem a viagem e pernoitar
com ele na primeira estação onde desceria, alegando,
–
veja
a senhora que desfaçatez – o fato de estar muito frio . E, assim
falando, o Homem media o diâmetro das pernas da Mulher.
—
A um convite de tão baixa espécie, articulou a Mulher reunindo sua
bagagem – não seria possível resposta digna.
—
Lógico, disse o Homem, descendo do trem. Felizmente sou bastante
reservado para tentar tal aventura.
—
E teve a sorte de viajar ao lado de uma senhora correta, sempre pronta
a rebater qualquer insinuação descabida, exclamou a Mulher,
ao entrarem no Hotel.
—
Perfeitamente, sem dúvida, sem dúvida, - falou o Homem – e por isso
me felicito, concluiu ao assinar o livro de registro com o seu verdadeiro
nome falso.
—
Imagine se eu me prestasse ao que se prestam essas... “quaisquer” que
andam por aí... ciciou a Mulher entrando no quarto.
—
Se assim fosse, tartamudeou o Homem, acompanhando-a, creia que
a senhora não mereceria sequer minha consideração; sempre apreciei a virtude...e fechou a porta do
quarto!
'FIM
Aproveitando para fazer um convite especial: A partir do dia 15 deste mês comemoraremos os 100 anos de Clarice Lispector, no mesmo lugar onde conhecemos o Sérgio. SuperSBCence!!!