Vocês sabem quanto o SBC é importante na minha vida...
Na verdade eu uso o SBC... pra falar de qualidade de vida, pra falar do valor das amizades, pra falar da arte e da poesia - da música, do cinema - como ferramentais fundamentais para a construção de visão de mundo, da consciência política - AMOR E POLÍTICA NA CAMA E NO MUNDO... um dos nossos slogans.
Já pensaram sobre a grande diferença entre a "cobrança externa", a obrigação, o dever - e a "cobrança interna", o desejo? Ou seja, a mudança, na vida, do "eu devo" para o "eu quero" e a FORÇA MOBILIZADORA que essa mudança nos traz? Acreditem, essa foi uma das grandes "viradas de chave" que o SBC me proporcionou.
Foi com o SBC que criei o hábito da escrita, que prezo tanto. Quando chega na quarta feira já fico "ansiosa"... sobre o que vou escrever essa semana... e na quinta ou sexta, às vezes na quarta mesmo, já sai o post... que publico, geralmente, no sábado. Ou não... Pode ser antes, o SBC também me ensinou uma certa anarquia boa pra vida.
Pois bem... com o lançamento da nossa terceira edição do Diário do SBC - que vai de 2011 a 2016 - cresceu aquela vontade dentro de mim de organizar o Diário do SBC 2.
Ai preciso de um tempo. Aliás, já comecei a selecionar as crônicas do blog. Trabalho divertido, interessante acompanhar a história do SBC ... e a minha história... e os nossos "casos", reuniões, discussões de filmes, conversas sobre a vida, as relações, sobre músicas e poemas. E sobre nossas "teorias" SBCenses. Tentando organizar por assuntos, de 2017 a 2024... vai ser um lindo livro, como o primeiro. Planos de terminar esse trabalho até final de janeiro. Ai vamos para o COMO tornar o livro concreto... e, com certeza, nessa fase iremos à "colaboração" de todas as pessoas SBCenses.
Entretanto esse trabalho é árduo - e prazeroso - demanda tempo... e o faço entre atendimentos a clientes em terapia e outras demandas de trabalho - e lazer. Por isso decidi interromper nossas publicações semanais... provavelmente até final de janeiro, quando me dedicarei à organização do nosso segundo livro.
Portanto, já me despeço de vocês com um ATÉ BREVE... FELIZ NATAL E UM ÓTIMO REVEILLON... e que no próximo ano de 2025 sejamos mais ativ@s no sentido de lutarmos mais pela democracia no nosso país, lutarmos pelos nossos direitos, lutarmos por relações mais simétricas e por um mundo melhor... é o grande desejo do SBC.
Dois últimos assuntos antes de nos despedirmos - aqui - de 2024:
Nosso carnaval de 2025:
TEMA: TODOS OS ECOS DO MUNDO
Uma construção a partir de uma série de 5 posts, que vão da ecossexualidade à ecoespiritualidade... e que pretendemos que se amplie no carnaval: Qual é o seu ECO? O que você deseja - e faz - para ECOAR no mundo, para torná-lo mais bonito?
💓💓💓
E a nossa homenagem de dezembro, como fizemos ano passado a grandes amigos e amigas - o SBC super valoriza o nível de relação de amizades, onde aprendemos a estabelecer relações mais simétricas, de trocas e crescimento mútuo, para nós deveria ser o "modelo" de relação para todos os níveis, do íntimo ao público, pois as relações simétricas são as que nos proporcionam maior prazer - como estava dizendo, nossa homenagem este ano vai para um amigo especial:
O grande jornalista e gestor cultural Airton Guimarães:
Vejam pelos seus livros que ele ama Minas... e "vizinhanças". E o que eu gostaria de compartilhar com vocês é sobre a sua generosidade. Ele acaba de nos doar uma coleção de mais de 400 livros de melhores autores e autoras do Brasil e internacionais, coleção essa que ele fazia há anos, selecionando autoras e autores... Eduardo Galeano, Ferreira Goulart, Fernando Pessoa, Henfil, Lima Barreto, João Cabral de Melo Neto, Proust, Pedro Nava, Simone de Beauvoir, James Joyce ... Olhando assim "por alto"... Mais 54 livros cubanos, que ele recebeu quando escrevia sua coluna de livros no jornal Estado de Minas ... e por aí vai... Enfim, uma preciosidade, que ele resolveu doar, pois " livros são para serem lidos e não pra ficar enfeitando estantes como aqui em casa", segundo o mesmo - no que concordamos inteiramente.
Ficamos por aqui, com a nossa gratidão ao querido Airton...
Até fevereiro... E, novamente:
Para 2025: Muitos amigos e amigas... e amiges ... Muitas piropas
E que tenhamos mais força para enfrentar e combater o fascismo que assola o Brasil e o mundo... Vamos junt@s...
Quero apresentar a vocês essa linda da foto, Ester, um dos encontros mais bacanas no evento dos Vales da semana que passou.
Escritora, Curadora de Arte, Membro Fundadora da Academia Mineira de Belas Artes, Membro Correspondente da Academia de Música Letras e Artes de Salvador.
Nossa nova SBCense, amiga de infância, a dela... como costumamos brincar...
E ela me manda dois poemas escritos na época das queimadas em todo o Brasil, quando participou de Sarau com essa temática. Apreciem:
Direito
Por Ester Costa e Silva
Nos campos verdejantes,
Em que o ar sempre toca a vida.
Posso te ver a caminhar,
E sob os teus sonhos singelos, puros, amáveis,
As estrelas hão de brilhar!
1 “O mundo é como um reflexo”.
O que há em cima corresponde o que existe em baixo.
E ao passear pelos prados, colinas e fontes de águas,
Não te incomodas a beleza,
Mas exultas em plena felicidade!
Há! Mas o “Mundo é como um reflexo” diz Veríssimo!
Então ao redor ardem as labaredas?!
Desordem espalhas por onde passas?
Sim, pois o que arde por dentro de Ti,
É a ira,
A infame ganância.
Pois tudo queres reduzir.
Para caber teu ego que sempre diz,
Sou humano, E tenho o direito de estar aqui.
1De autoria de Fernando Veríssimo.
Verso de amor entoado
Na vida a soar as paisagens tocam...
No coração a bater,
O amor sempre há de vencer!
E nas estradas que antes inseguras,
Agora a vida toma forma!
E se faz presente em cada flor cerrado,
Em cada verso entoado,
Em cada passo dado,
Sempre em direção,
A regeneração do viver.
Sim, é a vida!
Cerrado que emana,
Restauração!
Novos ramos irei brotar!
E em meus campos com luzes a cadenciar2,
Aqueles que me amam,
Plantarão em mim,
Tudo o que por pouco tempo perdi.
Sim, e cerrado novamente voltarei a ser,
Para enfim, em equilíbrio viver!
Por Ester Costa e Silva
2Harmonioso.
Nossa gratidão, querida Ester... esperamos estar com vocês em breve...
E a Ester estava filmando o recital do Herivelton, seu maridão... e eu pedi a ela pra gravar, também, nosso sarau... Obrigada mais uma vez, querida! Seguem três pedaços que publicamos no nosso canal do YouTube, onde conversamos sobre a história do SBC, a importância do SBC nas nossas vidas, o conceito de vida SBCence, além do nosso conceito de amor e as possibilidades da construção de um amor mais bonito, mais simétrico, mais prazeroso. Divirtam-se com os vídeos... e nos siga no Youtube:
Artesanato, literatura, comidas típicas e 27 shows de grandes - maravilhosas e maravilhosos - artistas, além da nossa Feira Literária, com saraus, performances e apresentações dos livros. Três dias de festa, grandes novos encontros e reencontros, abraços oxitocinados, risadas, chopp geladíssimo, ótimas conversas... tudo que o SBC adora. Assim foi o Segundo Encontro dos Vales - Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte de Minas - o Vale ampliado. Como disse nosso querido Tadeu Martins, grande apresentador do evento, junto com o querido Gonzaga, "O MUNDO É UMA ESQUINA... ONDE OS MINEIROS SE ENCONTRAM".
Nosso primeiro destaque, grande escritor @joaquimcelsofreire,
sarau super gostoso... no final distribuindo cartões e
convidando a platéia a ler cada um deles... eu peguei
os dois acima, ótimos...
Já o conhecia pelo livro das Jabuticabas Amarelas, a história
da Laura... adorei... minha filha se chama Laura...
💓💓💓
Segundo destaque: querida Elza Soalheiro, grande escritora e grande vendedora de livros, foi a que mais vendeu... livros do pai e do marido falecido, além dos livros dela mesma... nossa convidada no sarau de lançamento da 3a edição do DIÁRIO DO S B C.
Terceiro destaque, casal lindo em torno da Elza que está ao centro. Os dois são escritores de Diamantina, o Herivelton lançando o seu livro interessantíssimo, dentro de uma caixa de papelão.
E quarto destaque, inédito, nosso grande vendedor de café... e, entre um e outro café oferecido aos amigos e amigas, ele se inspira e escreve nos papéis à disposição. E adora ler seus escritos, olhando nos nossos olhos com seu olhar super expressivo. A seguir seus cafés e seu poema:
Por último não podemos deixar de agradecer a querida Filó, que nos ajudou a vender livros, um deles para nosso mais novo SBCense de carteirinha, Edmo Luiz...
E terminamos o domingo felizes...
Obrigada a todas as pessoas que nos acompanham... Abraços carinhosos...
Como sabem, tenho a honra de pertencer a essa região de Minas, o "Vale da Miséria", como queriam - e ainda querem - que acreditássemos, para nos explorar. Mas nós resignificamos: o Vale da Miséria virou VALE DA RIQUEZA, riqueza do seu povo, da sua arte, da sua cultura, do seu solo.
Então... sou de Salinas, norte de Minas, e tenho a honra de participar do SEGUNDO ENCONTRO DOS VALES, que acontecerá nos próximos dias 29.30.novembro e 1.dezembro, sexta, sábado e domingo.
Vejam as apresentações dos nossos grandes músicos:
E vejam a FEIRA LITERÁRIA, coordenado pelo querido Tadeu Martins, leia-se ALVA - Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha:
Isso tudo, além de FEIRA DE ARTESANATO e produtos da ECONOMIA SOLIDÁRIA!!!
E o nosso coletivo SBC estará no sábado, lançando a terceira edição do nosso livro:
Vocês sabem... além da honra de pertencer ao VALE, tenho também a honra - e a alegria - de pertencer e ser co-fundadora do SBC Samba, Bobagem, Cerveja... coletivo de "mudou a minha vida".
O SBC me trouxe o sentido de pertencimento, despertou minha "veia de escritora", me fez criar o hábito da escrita, onde - e quando - expresso nossa visão de mundo e das relações humanas...
Além da nossa vontade - e ação - de "mudar o mundo", para a construção de um mundo mais bonito, mais humano, mais justo e distributivo.
Nosso convite aos SBCenses- e jequitinhonhenses - e mineiros (e brasileiros... ou não) para visitar o SEGUNDO ENCONTRO DOS VALES... Esperamos vocês!!!
Uma semana antes fomos no SINPRO - Sindicato dos Professores de Minas Gerais, ver o filme ZÉ, com a presença do diretor Rafael Conde e da querida Jô Moraes, entre outras pessoas queridas. Encontro coordenado pela também querida Eliane de Andrade, psicanalista/SPRJ. Depois do filme tomamos vinho e conversamos:
Lançado em agosto de 2024, direção de Rafael Conde, roteiro dele e de Anna Flávia Dias Sales.
Inspirado no livro homônimo de Samarone Lima, o filme apresenta a trajetória de Zé (interpretado por Caio Horowicz), jovem que foi líder do Movimento Estudantil Brasileiro e participou de um grupo de resistência contra a ditadura militar no Brasil.
Zé foi um dos principais líderes do movimento estudantil contra a ditadura civil-militar no Brasil e dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista. Como muitos jovens da época, ele era movido por sonhos e viveu na clandestinidade para escapar da repressão, enquanto lutava por um Brasil mais justo.
Perseguido, ele escolhe a clandestinidade. Deixa sua vida de classe média alta para viver com o povo, realizando o trabalho de alfabetização e conscientização política dos mais pobres. Durante esse período, Zé conhece sua parceira Bete, com quem teve 2 filhos. Ainda como clandestino, ele recebe Gilberto, irmão de Bete, como um novo militante. Gilberto é, no entanto, um informante do regime repressivo. Zé morre sob tortura aos 27 anos, falsamente acusado pelos militares de ter traído todos os seus companheiros desaparecidos.
Filmes sobre a ditadura militar no Brasil não são novidade. No entanto, ao ser questionado sobre o desafio de abordar esse período, o diretor e roteirista Rafael Conde destaca a “grande responsabilidade” que a tarefa impõe. “É sempre importante revisitar esse tema. A ditadura é algo cíclico que, de tempos em tempos, volta à pauta. Precisamos continuar falando sobre isso, pois acreditávamos que esse período havia ficado para trás, mas a democracia e a liberdade estão sempre sob ameaça”, afirmou.
Embora trate de um dos momentos mais críticos da história do Brasil, o diretor oferece um olhar humano em seu filme, explorando a vida íntima das pessoas afetadas pelo regime. Além de retratar a violência física, a censura e as torturas, Rafael buscou expor a violência psicológica sofrida pelas vítimas. “O silêncio, o medo, e a incapacidade de revelar o próprio nome aos filhos são temas centrais. A linguagem do filme cria uma tensão crescente”, explicou. Ele também destacou a atuação dos artistas, que “estão sempre olhando para fora do quadro, como se estivessem sendo observados”.
Nos emocionou o depoimento da Jô, que contou parte da sua vida na clandestinidade, além de nos mostrar as inúmeras carteiras de trabalho, cada uma com um nome. E várias pessoas amigas deram depoimentos, trazendo o filme para a atualidade, algumas numa atitude desesperançosa. Mas terminamos apontando a esperança, ou melhor, o ESPERANÇAR de Paulo Freire, como atitude imprescindível às pessoas que estão, ativamente, na construção de um mundo mais justo, mais distributivo e mais bonito - um mundo sem fome e sem guerras... O esperançar nos leva à construção de um mundo justo, um mundo bom, forjado nos encontros, na arte, na poesia...
Tão bom e tão importante quando o "Ainda estou aqui", fazendo sucesso agora nos cinemas... Fomos assistir na semana seguinte.
"É possível resumir o filme como a história da mãe do escritor, Eunice Paiva (Fernanda Torres), uma dona de casa de uma família influente que é obrigada a se reinventar após o assassinato de seu marido pela ditadura militar nos anos 1970".
Sinopses são reducionistas, mas essa parece ainda mais do que o normal. "Ainda estou aqui", vai muito além. A primeira metade é o retrato ensolarado de um casal apaixonado e seus cinco filhos, com uma bela casa na beira da praia no Rio de Janeiro. Na segunda, cortinas se fecham e o lar se esvazia com a ausência de Rubens – o engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva (Selton Mello), levado pelo regime militar - e a interpretação imensa de Torres preenche esse espaço com o propósito furioso, porém contido de uma mãe que se recusava a chorar na frente dos filhos.
Walter Salles, grande diretor - Central do Brasil, Cidade Baixa, O céu de Suely - não precisa mostrar os horrores aos quais o engenheiro foi submetido até sua morte. O desespero da família com a falta de respostas e a absoluta falta de decência e respeito do regime estampadas na tela são mais do que suficientes para mostrar os perigos do fascismo.
A história de Eunice – que se torna uma das ativistas de Direitos Humanos mais importantes do país após voltar à faculdade com mais de 40 anos, ao mesmo tempo em que luta para que militares reconheçam o que fizeram com seu marido – é impactante para nós, mulheres do século passado (e deste século também). Mas penso que todo mundo vai encontrar algo com que se identificar e se relacionar em "Ainda estou aqui". A Iza, nossa querida SBCense, reclamou que o filme foi grande demais... no outro dia relata ter reconhecido que essa percepção sobre o mesmo era proporcional à sua angústia. Relata ainda que ficou com pé e joelho doendo quando viu a imagem do Médici, pior época da ditadura, segundo ela.
Na medida que o filme avança, não seguramos as lágrimas diante da felicidade absurda da protagonista que se recusa a não sorrir, a deixar que roubem sua dignidade. E, mais pro final, primeira vez que presenciamos uma pessoa ficar "feliz" diante do atestado de óbito do marido. Isso aconteceu somente em 2012, quando a Comissão Nacional da Verdade, instituída pela ex-presidente Dilma Roussef, apresentou documentos e depoimentos que atestaram a entrada de Rubens Paiva no DOI-CODI, em 20 de janeiro de 1971, provando que o político foi torturado e morreu.
Imaginem a dor do desaparecimento, sem saber de nada sobre a pessoa durante anos e anos. E imaginem que esse acontecimento não a "matou", pelo contrário, deu força a ela, força para a vida e a luta por um mundo melhor.
E foi aí que lembramos do nosso terceiro filme imperdível:
O documentário de 2019 TORRE DAS DONZELAS, que revisita a história de mulheres que sofreram torturas e lutaram contra o regime militar, e foram encarceradas na chamada Torre das Donzelas, nome dado ao conjunto de celas femininas no Presídio Tiradentes em São Paulo, demolido em 1971.A Diretora Susanna Lira se interessou por esta prisão porque dela tinham saído mulheres potentes, importantes para a história do Brasil, entre elas nossa grande presidenta Dilma.
Vejam na techtudo alguns outros filmes imperdíveis... além de inúmeros outros... estão nas redes... nós é que precisamos selecionar - joeirar, separar o joio do trigo, dentro das redes, ou seja, as "merdas" - Brasil Paralelo, por exemplo - das coisas que nos trazem "visão transformadora do mundo".
E, além do cinema memória na imagem acima, lembrar sempre para nunca repetir, outras manifestações da arte também se prestam a esse papel: a música! Terminamos cantando Geraldo Vandré: Uma das músicas brasileiras mais bonitas e significativas...
Tenho a alegria de fazer parte do MARIAS Coletivas. Através do Marias acolhemos mulheres em situação de vulnerabilidade e as encaminhamos para o atendimento necessário.
Mas o Marias é, também, uma oportunidade de nos encontrar e conversar sobre temas pertinentes à visão de mundo, à política em todos os níveis de relação. E, nesse sentido, o Marias "combina" com o SBC e com nosso lema: "amor e política, fazemos na cama e no mundo". Outra "combinação" do SBC com o Marias é a ARTE como ferramenta, ou "pretexto" (o texto nós fazemos), para o debate e a construção de conceitos orientadores para o ser sujeitos (e "sujeitas") transformadores do mundo (no micro e no macro).
Então, nosso último encontro foi no sábado dia 9.11, na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB. E foi sobre o filme BARBIE.
E nossa grande convidada para comentar sobre o filme foi a querida Débora Junqueira, jornalista com atuação no movimento
sindical há 30 anos e diretora do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de Minas Gerais. Débora nos trouxe preciosas reflexões sobre A
INFLUÊNCIA DA BARBIE
NO DEBATE SOBRE
FEMINISMO:
A evolução da boneca Barbie, criada
em 1959, pela Mattel, reflete
mudanças significativas no
comportamento feminino e na
sociedade em geral. Ao longo do tempo, a Barbie tentou
se adaptar às transformações nos
papéis de gênero, aspirações
profissionais, diversidade e
representações culturais. Também, sempre exerceu influência
na construção social do comportamento feminino.
Uma das críticas feitas a marca Barbie é que,
historicamente, ela perpetuou certos
estereótipos femininos, principalmente
relacionados aos padrões de beleza e
comportamento. Símbolo de alienação para a ala progressista,
ao mesmo tempo, a Barbie é rechaçada pelos
conservadores que fizeram críticas ao filme
Barbie, dizendo que ele era “ideologizado e
feminista demais”.
Em resumo, ponderou Débora, a Mattel quer passar a mensagem de que, ao
longo das décadas, a evolução da Barbie reflete a
transformação dos papéis das mulheres na sociedade. “Desde uma ênfase inicial em moda e glamour, passando
por profissões tradicionais e modernidade, até uma
representação mais diversificada e inclusiva, a Barbie
acompanhou as mudanças no comportamento feminino,
promovendo uma visão de mundo onde as meninas
podem ser qualquer coisa que quiserem.”
E o ponto alto do filme, segundo Débora:
O discurso sobre feminismo, no filme
Monólogo da personagem Glória interpretada por América Ferreira:
“É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda, tão
inteligente, e me mata ver que não se acha boa o suficiente. Tipo,
temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma
estamos sempre agindo errado. Você tem que ser magra, mas não muito. E você nunca pode dizer
que quer ser magra. Tem que dizer que quer ser saudável, mas
também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não
pode pedir dinheiro porque é mal-educado. Você tem que ser uma chefe, mas não pode ser má. Você tem
que comandar, mas não pode arrasar as ideias dos outros. Você
deve adorar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo
todo. Você deve ser uma mulher de carreira, mas também estar
sempre cuidando dos outros. Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens,
o que é uma loucura, mas se apontar isso é acusada de reclamar.
Você deve estar sempre bonita para os homens, mas não tão
bonita a ponto de tentá-los demais ou ameaçar outras mulheres,
porque deve fazer parte da sororidade. Mas sempre se destaque e sempre seja grata. Nunca se esqueça
de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira
de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca
deve envelhecer, ou ser grosseira, se exibir, ser egoísta, cair,
falhar, demonstrar medo, sair da linha.
É tão difícil! É muito contraditório e ninguém lhe dá uma
medalha ou agradece! E acontece que, na verdade, você
não apenas está fazendo tudo errado, como também é
tudo sua culpa. Estou tão cansada de ver a mim mesma e
a todas as outras mulheres se esforçando para que as
pessoas gostem de nós. E se isso tudo também vale para
uma boneca que apenas representa as mulheres, então
nem sei".
E o espaço foi aberto para falas:
. E eu falei primeiro: "confesso que me recusei a ver o filme quando foi lançado. Fui resistente, muito resistente... Pra mim devia ser um filme que reproduzia nosso sistema opressor, pior, devia encobrir, invisibilizar essa opressão, ... e continuo com essa crítica. No entanto, um dia antes desse debate, tive a "paciência" que Nietzsche me ensinou ("a paciência com o que me é mais antípoda", do seu livro "A Genealogia da Moral"). E, ao mesmo tempo que confirmei meu pressuposto, o filme também me surpreendeu. Exatamente no ponto que a fala aponta, ou seja, a necessidade absoluta do nosso processo de humanização, de nós, mulheres (não sei - ou não me cabe dizer - sobre o processo de humanização dos homens). É tão terrivelmente gravado a ferro e fogo na nossa "alma", nos nosso espíritos, que "temos que ser perfeitas para sermos amadas"!!! E isso nos causa tanto sofrimento! E esse sistema em que vivemos é tão cruel que, de alguma forma (sutil do tamanho de uma patada de elefante, como costumamos dizer) ainda captura isso e nos devolve na forma de mercadoria a ser consumida, em vez de na forma de reflexão transformadora..."
. E a querida Antonieta lembra da potente Marilena Chaui: "A pauta
identitária, como demonstra Marilena Chauí, é uma tática que, sozinha, não
resolve nenhum dos problemas estruturais do nosso país. Esses problemas são, sinteticamente: as desigualdades sociais o analfabetismo, a fome e os problemas
ecológicos vigentes. Apenas a luta identitária, não consegue solucionar os
grandes problemas dos países periféricos, como é o caso do Brasil . O sistema
capitalista que é o nosso grande inimigo, tem que ser questionado e superado. O
identitarismo nessa luta, tende a nos dividir e consequentemente nos
enfraquecer. Para alcançarmos o socialismo, temos que nos unir para além das
falas identitárias, pois, se não, ficaremos em "guetos" e bastante
limitados na nossa estratégia máxima que é a luta por um mundo mais justo, mais equânime, mais distributivo, mais bonito, enfim."
. A Bebela corrobora com nossos posicionamentos. E acrescenta que, ainda, não podemos "abandonar" as lutas identitárias, como Gênero, Raça e Classe Social, e a interseccionalidade entre todas elas; pois, será assim que encontraremos caminhos e soluções para chegarmos a uma convivência mais humana e respeitosa entre as pessoas. E, como o filme trata o feminismo com bastante superficialidade, nossa estrada ainda é longa! Sigamos juntas!
. E a querida Genoveva aprofundou nas considerações sobre o filme:
Primeiro, a forma como se dá a aparição da Barbie: Segundo a propaganda que o filme faz ele - o filme - veio para salvar as meninas de só brincarem de ser mães. E a Genô nos trouxe o dado: De acordo com a Famivita - Associação da união familiar e pais felizes (2023), 1 em cada 5 homens abandona as mulheres em caso de gravidez, 36% dos homens pedem a parceira para remover o feto e mais de 20 milhões de mulheres criam os filhos sozinhas. No ano de 2023 foram registrados 172,2 crianças sem o nome do pai.
As cenas iniciais das meninas destruindo as bonecas/bebês, não são os bebês que elas querem destruir, mas a ideia romantizada de serem mães. Seus mundos minúsculos dentro do patriarcado. Então o filme já começa com a intenção de desconstruir essa formação social romantizada de maternidade.
Um segundo aspecto levantado pela Genô: Para capturar a realidade é necessário sair da bolha da ilusão ( da Barbilândia) e buscar com afinco compreender como o mundo funciona, como ele foi construído e como as mulheres sustentam essa forma patriarcal que está dada. Essa captura da realidade é difícil, em face a solidificação do modelo capitalista que cria essa ilusão da felicidade, de um mundo sempre feliz com oportunidades para todas as pessoas, sem considerar as limitações, as condições históricas. Assim, percebe-se no decorrer do filme os desafios que Barbie vai passando. Choro, primeiro uma lágrima, depois muitas.....
A Barbie estereotipada tem pensamento de morte, ansiedade e celulite. Percebe a exigência do modelo de perfeição inatingível que é exigido para uma mulher.
Ao passar pelo mundo real a Barbie sente que os homens estão lhe tratando com violência e relata isso ao Ken, mas o Ken, que representa a autoestima do homem branco hétero, nega a violência como nossa sociedade a nega também. Ken diz que não percebe nada e se sente incrível. Esse fato retrata que a violência sexual é direcionada às mulheres, que é negada pelos homens e pelas Barbie estereotipadas.
Por último, Genô nos aponta os defeitos femininos que Barbie vai apresentando: medo da morte, celulite, ansiedade... Um pé que não se ajusta aos saltos altos... Trata-se de uma metáfora consistente da perfeição exigida para as mulheres. Ao capturar a realidade a Barbie se torna estranha e passa a atuar na luta para auxiliar as outras Barbies estereotipadas a saírem da ilusão, da bolha e também perceberem a realidade. Genô conclui: Tarefa difícil... arregacemos as mangas...
E a fala voltou à nossa querida Débora, que apresentou questionamentos 1- Ser feminina seria a principal competência da Barbie? O quanto essa competência é suficiente para contrapor o patriarcado e a desigualdade de gênero? 2- Como a Barbie estereotipada impacta nos transtornos de imagens das mulheres e até que ponto as novas versões da boneca e a repercussão do filme alteram isso? 3- A Barbie contribui para o avanço do feminismo ou ainda reforça os clichês sexistas?
Ela ainda nos ofereceu dicas de aprofundamento:
Modelos de Barbies:
https://en.barbiepedia.com/
Será o filme “Barbie” verdadeiramente feminista?
https://www.esquerda.net/artigo/sera-o-filme-barbieverdadeiramente-feminista/87193
A boneca Barbie e a comuna lúdica das crianças
https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2023/08/12/a-boneca-barbie-ea-comuna-ludica-das-criancas
Filme “Barbie” simplifica demais o feminismo? America Ferrera
responde https://rollingstone.com.br/cinema/filme-barbie-simplificademais-o-feminismo-america-ferrera-responde
E terminamos com a brincadeira de SUGESTÕES À MATTEL de novas Barbies :
Barbie revolucionária
Barbie feminista raiz
Barbie idosa anti etarista
Barbie tatuada
Barbie orgástica que vem com vários vibradores
Barbie professora de ferro para lidar com sistema escolar
Barbie autista
e por aí vai... saímos alegres, gratas... e um pouco mais humanizadas...
O SBC agradece à Débora, Antonieta, Genoveva, Bebela... e a todas as Marias presentes nesse nosso encontro... desejando outros mais...
Até a próxima e obrigada a todas as pessoas que nos leem...