Eis Oswald de Andrade,
e quem vem nos falar sobre ele é o nosso mais novo SBCense: Francisco Savoi de Araújo, mais um famoso Chico no nosso Coletivo. Seja muito bem vindo!
Lembram da Nilmara, que falou sobre a Annita Malfatti no nosso post sobre a Semana de 23 de janeiro? Então, na mesma noite lá em Ouro Preto, na fila pra ver o Tizumba, conheci o Chico. Na verdade conversamos mais, a Nilmara e eu... daí o Chico chegou, ele tinha ido buscar o seu pai, que é professor na UFOP. Mas estava chovendo e o pai não apareceu. A Nilmara me apresentou: este é meu namorado! conversamos rapidamente, a fila andou e nos perdemos... e foi a Nilmara que apresentou o SBC ao Chico, assim como o projeto Semana da Arte Moderna... e parece que ele se encantou... e nós também, com os dois. Melhor, os três, o casal e a Semana.
Eu ADOREI o "apanhado" que ele fez do Oswald, inclusive ligando com o Brasil pós Proclamação da República (1889), buscando nossa identidade, ou seja, construindo respostas à pergunta: "Quem somos nós...", este era o Brasil de princípio do século passado... daí o movimento Pau Brasil e o Movimento Antropofágico.
Mas deixa o Chico falar disso, em vídeo e em texto:
Oswald de Andrade... o Pau-Brasil, e a Antropofagia
Saudações! Meu nome é Francisco Araujo, eu sou antropólogo, e sempre fui um grande admirador e entusiasta da antropofagia oswaldiana, pelo fato de celebrar e valorizar a diversidade cultural brasileira. Confesso que fiquei muito feliz com a oportunidade de escrever e apresentar para o SBC, dado o meu interesse em aprender um pouquinho mais sobre as contribuições de Oswald de Andrade para a nossa identidade nacional.
Oswald de Andrade, como bom brasileiro, demonstra em suas obras uma preocupação que nos remete ao tal do “complexo de vira-lata” narrado pelo também escritor Nelson Rodrigues. No entanto, diferente do pessimismo que coloca o brasileiro em uma posição inferior devido à sua miscigenação, é justamente esta a característica exaltada por Oswald em seus dois movimentos: Pau-Brasil e Antropofagia.
Com a valorização da nossa cultura e identidade nacional, o grande modernista Oswald, nascido em São Paulo no ano de 1890, busca pelas origens do povo brasileiro. Origens até então esquecidas e/ou invisibilizadas pela sobrevalorização eurocêntrica herdada dos colonizadores, os quais consideravam os traços negros e indígenas como, talvez, as principais razões pelo atraso da emergente nação proclamada em 1889. Na literatura, foi certamente a discriminação com nosso sangue mestiço um dos fatores responsáveis pela excessiva erudição contra a qual Oswald tecia severas críticas, quando defendia em seu Manifesto da Poesia Pau-Brasil uma língua “natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos”.
Uma vez que a maior parte dos brasileiros não se expressam em conformidade com a assim chamada “norma culta”, Oswald julga mais pertinente a produção de uma poesia segundo a linguagem coloquial ela mesma, ou seja, uma poesia tipicamente brasileira, com a qual existe uma identificação real. Em alusão ao primeiro comodity levado de nossa terra pelos portugueses, a poesia do pau-brasil pretende ser um produto de exportação de caráter não simplesmente nacional, mas nativista.
Dessa maneira, ao olhar para os nativos de Pindorama, Oswald é capaz de aprofundar e sofisticar as suas concepções a respeito das origens, identidade e cultura do povo brasileiro. Na formulação de seu movimento antropofágico - do grego: anthropos (homem) + phagein (comer); ou seja, “comer homem” - o modernista percebe no simbolismo do ritual canibal de nossos aborígenes uma representação do próprio “ser brasileiro”, quem metaforicamente “devora” as culturas estrangeiras no intuito de incorporar as suas características positivas. Nesse processo de assimilação no interior da cultura brasileira, as influências externas são transfiguradas e transformadas em outra coisa, como bem podemos notar na célebre frase do Manifesto Antropófago que evoca Hamlet de Shakespeare, porém à maneira tupiniquim, quando afirma: “tupi or not tupi, that is the question”. Com brilhantismo, Oswald faz um belo trocadilho ao substituir o “to be” do escritor britânico por “tupi”, de modo a sintetizar todo o seu esforço por reconhecer aquilo que o brasileiro tem de mais “nativo” dentro de si.
Enfim, aceitando que “só a antropofagia nos une”, Oswald constata que o caráter nacional celebra nosso multiculturalismo. Trata-se, portanto, de uma diversidade existencial que assume o contraponto daquele “vira-lata” concebido por Nelson Rodrigues, uma vez que, na verdade, estamos diante da impossibilidade de dominação cultural sobre o brasileiro, tendo em vistas a sua criatividade e habilidade para inverter/subverter as imposições que lhe são acometidas desde os tempos da colonização. Como diria Oswald, “nunca fomos catequizados. [...] Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará”. E assim se perpetuou por nossa história, na Bossa Nova, Tropicália, Manguebeat, e tantas outras expressões culturais e artísticas que se caracterizam por essa identidade antropófaga tipicamente brasileira.
Foi uma delicia fazer essa pesquisa sobre o Oswald! Gratidão Santuza e comunidade SBC!!! 🙏🙏🙏 sucesso!! ✨✨
ResponderExcluirGratidão Chico...
ExcluirMuito bom! Aprendendo muito com as publicações SBCenses! Parabéns Santuza!!!
ResponderExcluirObrigada
ExcluirSucesso!!!
ResponderExcluir✨💛✨
Parabéns pelo conhecimento compartilhado com tanto carinho e viva o SBC.
Obrigada querida... bjs
ExcluirObrigado Francisco por nos contar esta linda historia, aprendi que a preocupaçao com a cultura e origens nativas, que e muito importante, nao e de agora, que todos sejam um Osvaldo de Andrade.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário Fabio
ExcluirGente, que alegria para o SBC ter o Chico nos agraciando com esta apresentação super bacana! Parabéns!
ResponderExcluirEstou pensando em falar da Tarsila.... mas fico sem jeito de falar para a câmera de vídeo...
ResponderExcluircoragem Ju! quando você fizer tenho certeza que vai gostar...
ExcluirAguardamos...