Quando eu era menina sempre ouvia o ditado “sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro”, significando que cada indivíduo tem o direito de viver sua vida da forma que desejar, desde que não prejudique ou interfira na liberdade e nos direitos dos outros.
“Liberdade é o direito de fazer o que não prejudica os outros.” – John Stuart Mill
Sim, porém sempre pensava sobre um outro aspecto: podemos ser livres juntos, todos e todas nós?
Marx e a Liberdade:
Para Marx, a liberdade individual está intrinsecamente ligada à liberdade coletiva. Ele argumentava que a propriedade privada, característica do sistema capitalista, era uma forma de opressão que impedia a liberdade dos trabalhadores. A verdadeira liberdade só poderia ser alcançada quando as condições materiais que limitavam o indivíduo fossem superadas
Ele criticava a ideia de que o livre mercado era um mecanismo justo e eficiente para alocar recursos. Para Marx, a liberdade não se restringia apenas à esfera individual, mas também à coletiva.
Produção Livre e Humanidade:
Marx via a liberdade como algo mais profundo do que simplesmente a ausência de restrições. Para ele, a verdadeira liberdade estava ligada à capacidade de produzir livremente, independentemente das necessidades materiais imediatas. Quando produzimos de forma criativa e gratuita, afirmamos nossa humanidade e nos diferenciamos das outras criaturas animais.
Essa visão ressalta a importância da emancipação humana por meio da transformação das estruturas sociais e econômicas.
Crítica à Ideologia Liberal:
Marx criticou o pensamento liberal que vinculava a liberdade apenas à esfera individual. Ele acreditava que a verdadeira liberdade só poderia ser alcançada quando todos tivessem igualdade de oportunidades e acesso aos meios de produção.
Sua análise da liberdade estava profundamente enraizada na luta contra as desigualdades e na busca por uma sociedade mais justa.
Em resumo, para Marx, a liberdade não era apenas uma questão individual, mas sim um objetivo coletivo que exigia mudanças estruturais e transformações sociais profundas. A busca pela liberdade estava intrinsecamente ligada à luta por uma sociedade mais igualitária e emancipada.
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E chegamos, com nossa SBCense cinéfila, aos
Filmes sobre liberdade:
Na Natureza Selvagem
Início da década de 90. Christopher McCandless (Emile Hirsch) é um jovem recém-formado, que decide viajar sem rumo pelos Estados Unidos em busca da liberdade. Durante sua jornada pela Dakota do Sul, Arizona e Califórnia ele conhece pessoas que mudam sua vida, assim como sua presença também modifica as delas. Até que, após dois anos na estrada, Christopher decide fazer a maior das viagens e partir rumo ao Alasca.
"A felicidade só existe se for compartilhada", esta é a frase final do filme, grande aprendizagem.
Início dos anos 70. Harvey Milk (Sean Penn) é um nova-iorquino que, para mudar de vida, decidiu morar com seu namorado Scott (James Franco) em San Francisco, onde abriram uma pequena loja de revelação fotográfica. Disposto a enfrentar a violência e o preconceito da época, Milk busca direitos iguais e oportunidades para todos, sem discriminação sexual. Com a colaboração de amigos e voluntários, Milk entra numa intensa batalha política e consegue ser eleito para o Quadro de Supervisor da cidade de San Francisco em 1977, tornando-se o primeiro gay assumido a alcançar um cargo público de importância nos Estados Unidos.
É o primeiro filme da série Trilogia as Cores, baseada nas três cores da bandeira francesa, e nas três palavras do lema da Revolução Francesa - liberdade, igualdade e fraternidade. Foi seguido pelos filmes Tris couleurs: Blanc (1994) e Trois couleurs: Rouge (1994)
Julie é a esposa de um renomado maestro e compositor francês que morre em um desastre automobilístico com a filha do casal, de apenas cinco anos de idade. A mulher, única sobrevivente da tragédia, vê-se na situação de ter que lidar com essas perdas e seguir sua vida, recebendo a encomenda de finalizar uma composição para coro e orquestra que havia sido encomendada ao seu esposo, uma canção pela unificação da Europa. A tarefa a levará a descobrir detalhes da vida do esposo que ela desconhecia, e a se envolver com um outro homem, amigo do casal.
E aqui fizemos uma reflexão importante, lembrando do cartaz do filme:
Logo após o título: A LIBERDADE É AZUL, temos a frase: O MITO DA LIBERDADE, e mais abaixo "aprendemos que ao escolhermos o amor tivéssemos que abrir mão da liberdade". Vejam que cruel essa "aprendizagem", a internalização desse mito que nos faz termos que escolher entre dois valores fundamentais para a vida, o amor e a liberdade. E o triste é que todos e todas nós, de formas diferentes, vivemos esse mito. Portanto, precisamos desvendar o mito e transformar nossas realidades relacionais. Não é fácil, significa mudar a história, a cultura... mas, com muita reflexão e ação, conseguiremos...
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Jonathan Livingston Seagull (Fernão Capelo Gaivota) é uma fábula em forma de novela, publicada em 1970, sobre uma gaivota tentando aprender sobre a vida e o voo, e uma homilia sobre a auto perfeição, escrita pelo autor estadunidense Richard Bach e ilustrada por Russell Munson. Publicado originalmente nos Estados Unidos com o título de Jonathan Livingston Seagull — a story, foi lançado neste mesmo ano no Brasil como A História de Fernão Capelo Gaivota pela editora Nórdica. Uma gaivota de nome Fernão decide que voar não deve ser apenas uma forma para a ave se movimentar. A história desenrola-se sobre o fascínio de Fernão pelas acrobacias que pode modificar e em como isso transtorna o grupo de gaivotas do seu clã. É uma história sobre liberdade, aprendizagem e amor, referência importante sobre o tema para adolescentes dessa década do século passado.
A história de Candido Urubu é um livro feito para ser lido e re-lido diversas vezes. Cheio de criticas sociais ao modo de sociedade vigente no ocidente, o livro não abre mão de ter uma pegada cômica e ao mesmo tempo lúdica. Indicado para todas as idades é um prato cheio para se desligar da realidade e ao mesmo tempo questionar nosso modo de vida.
Amor como prática da liberdade
O amor como prática da liberdade é uma ética essencial na luta política, dizia a pensadora, que morreu em 2021. Para ela, a vida em comunidade exige resgatar esse sentimento como cura coletiva à desesperança e impotência – e forma de resistência à brutalidade neoliberal.
"Todos na nossa cultura desejam, até certo ponto, estar amando. Contudo, de fato muitos não estão. Portanto, concluo que o desejo de amar não é amor. O amor é expresso amando. É um ato de vontade — isto é, tanto uma intenção quanto uma ação. A vontade também implica escolha. Nós não temos de amar. Escolhemos amar".
"Sem uma ética do amor para moldar a direção da nossa visão política e das nossas aspirações radicais, muitas vezes somos seduzidos, de uma forma ou de outra, por uma lealdade contínua a sistemas de dominação — imperialismo, sexismo, racismo, classismo. Fico intrigada com mulheres e homens que passam a vida trabalhando para resistir e se opor a uma forma de dominação, mas apoiam sistematicamente outra. Já fiquei intrigada com líderes negros visionários influentes, que conseguem falar e agir com empolgação, resistindo à dominação racial, e, ao mesmo tempo, aceitar e abraçar a dominação sexista das mulheres; e com mulheres brancas feministas que trabalham diariamente para erradicar o sexismo, mas têm grandes pontos cegos quando se trata de reconhecer o racismo e a dominação supremacista branca do planeta e resistir a eles. Ao analisar esses pontos cegos de maneira crítica, concluo que muitos de nós estamos motivados e motivadas a agir contra a dominação apenas quando sentimos nosso próprio interesse ser diretamente ameaçado. Muitas vezes, então, o anseio não é pela transformação coletiva da sociedade, pelo fim da política de dominações, mas simplesmente pelo fim do que sentimos estar nos machucando.
É por isso que precisamos desesperadamente de uma ética do amor para intervir em nosso desejo egocêntrico por mudança. Essencialmente, se estamos comprometidos apenas com uma melhoria nessa política de dominação que sentimos resultar diretamente em nossa exploração ou opressão individual, não apenas permanecemos ligados ao status quo como também agimos em cumplicidade com ele, nutrindo e mantendo esses mesmos sistemas de dominação. Até que todo mundo consiga aceitar a natureza interligada, interdependente dos sistemas de dominação, e reconhecer as formas específicas da manutenção de cada um deles, continuaremos a agir de maneira a comprometer nossa busca individual pela liberdade e a luta coletiva pela libertação".
A capacidade de reconhecer pontos cegos somente emerge conforme expandimos nossa preocupação com políticas de dominação e nossa capacidade de nos importar com a opressão e a exploração dos outros. Uma ética do amor torna essa expansão possível.
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
(In: Poemas de recordação e outros movimentos, 3.ed., p. 24-25)
Esse poema é um dos mais belos da autora, fala sobre mulheres de várias gerações que pertencem à mesma família. Descrevendo seus cotidianos e sentimentos, o eu-lírico vai narrando uma história de sofrimento e opressão.
Frida nos mostra o amor libertário, aquele oposto ao amor romântico, que aprisiona...
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Nossa SBCense feminista - e nacionalista, nos apresenta:
1 – Nísia Floresta (1810-1885)
Nísia é o apelido para Dionísia, filha de pai português e mãe brasileira, foi professora, escritora e filósofa. É considerada a primeira professora brasileira a lutar abertamente a favor dos direitos das mulheres.
Começou sua educação no Convento das Carmelitas, em Goiânia, onde aprendeu canto e trabalhos manuais. Seu pai tinha tendências liberais, e, inspirada nisso, Nísia começou a ler os livros da biblioteca do convento sobre o assunto, assim como sobre cultura europeia.
Seu primeiro casamento acontecera aos 13 anos, com um proprietário de terras. Sentia-se infeliz e por isso abandonou o esposo e foi aceita de volta na casa dos pais, apesar de ser socialmente julgada. Meses depois, fugindo dos movimentos separatistas, a família se muda para Olinda.
Aos 17 anos, se envolve com o estudante de direito Manuel Augusto, com quem, anos depois, se casa e tem filhos.
Um ano após o nascimento da primeira filha, Nísia se torna uma das primeiras mulheres a publicar um artigo seu em um jornal brasileiro. Em 1831, ela publica uma série de artigos sobre a condição feminina no jornal “Espelho das Brasileiras”, no ano seguinte faz a publicação do seu primeiro livro intitulado “Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens”.
As publicações de Nísia são marcadas por denunciarem o estado de inferioridade que as mulheres brasileiras viviam àquela época, a autora lutava contra os preconceitos presentes na sociedade e por igualdade de gênero.
“Não há ciência, nem cargo público no Estado, que as mulheres não sejam naturalmente próprias a preenchê-los tanto quanto os homens.”
Anos depois a autora se especializa em Educação, propondo um modelo voltado para as meninas, em que elas aprendessem as mesmas coisas que os meninos, além de ser voltado para a emancipação feminina.
2 – Maria Firmina dos Reis (1822 – 1917)
Em tempos de escravidão, Maria Firmina se tornou a primeira romancista negra do Brasil. Aos 22 anos foi a primeira mulher de sua cidade, Guimarães, no estado do Maranhão, aprovada em um concurso para professora. Começava ali sua jornada como escritora. Publicou poesias e ensaios em alguns jornais e revistas locais, até que, em 1859, lançou seu primeiro livro: Úrsula, um romance que mostrava a crueldade da escravidão, relatado pelo ponto de vista dos escravos.
Sua luta abolicionista ficou conhecida no ano de 1887 quando publicou o conto “A Escrava”, que narra a luta de uma ex-escrava no movimento de abolição.
Uma curiosidade interessante é que até hoje não existem imagens precisas sobre a aparência de Maria Firmina, a imagem que é relatada como sendo sua na verdade faz referência a outra pessoa.
Maria morreu aos 92 anos, cega e pobre, sem que sua obra tivesse recebido o reconhecimento necessário. Apenas em 1960 seu livro, Úrsula, foi encontrado no fundo de um sebo e começou a ser reimpresso.
3 – Leolinda Daltro (1859 – 1935)
Um dos elementos base da democracia é o poder do voto, você consegue pensar na possibilidade de não votar? De não ser capaz de manifestar a sua opinião? Imagina não poder fazer isso por causa do gênero que te foi imposto no nascimento? Parece absurdo, mas até pouco tempo atrás as mulheres eram proibidas de votar no Brasil.
A Constituição de 1891 dizia que o voto poderia ser realizado por todos aqueles que tinham mais de 21 anos, porém, na prática, as coisas ficaram um pouco complicadas. Os deputados precisaram intervir sobre aquilo e queriam estabelecer um lei impondo que apenas homens poderiam votar. Nesse ponto da história aparece Leolinda Daltro: professora; mãe; divorciada, juntou suas alunas e começou uma série de manifestações a favor do poder do voto para mulheres.
Em 1910, fundou o Partido Republicano Feminino. Após a legalização do voto feminino, Leolinda concorreu em 1933 para o cargo de deputada federal, não chegou a ser eleita, mas as suas ações foram o motor que impulsionou a eleição da primeira mulher deputada federal: a médica paulista Carlota Queiróz.
4 – Antonieta de Barros (1901 – 1952)
Antonieta lutou por educação de qualidade para os mais pobres, em 1922 fundou uma instituição particular que oferecia alfabetização para população carente.
Em 1934, se candidatou a deputada estadual em Santa Catarina e se tornou a primeira mulher negra a ser eleita deputada na região. Fez um mandato voltado à causas educacionais, entre as suas pautas estiveram: exigir concurso para cargos de magistério, formas de escolha de diretoria para as escolas e concessão de bolsas para alunos carentes cursarem o ensino superior.
Sua luta também foi destaque na imprensa, onde atuou como jornalista escrevendo para jornais e revistas sobre os impactos positivos que a educação causa na sociedade, lutando para que os mais pobres tivessem acesso a uma educação digna e emancipadora.
5 – Bertha Lutz (1894 – 1976)
Bertha foi filha de um importante cientista brasileiro com uma enfermeira inglesa, passou a adolescência na França onde concluiu o ensino médio e fez licenciatura em Ciências. Retornou ao Brasil em 1919 trazendo nas malas o sentimento sufragista.
No mesmo ano fundou a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher que lutava para que as mulheres pudessem votar, escolher onde iriam morar e poder trabalhar sem pedir autorização do marido.
Bertha teve seus movimentos inspirados na atuação de Leolinda Daltro – que foi fundadora da primeira escola para enfermeiras no Brasil -, e em 1922, organizou o 1º Congresso Feminista do Brasil, que tinha como objetivo discutir sobre a proteção da mulher no trabalho.
Conseguiu a suplência do cargo de deputada federal e assumiu o posto de deputada em 1936, quando o titular Cândido Pessoa morreu. Seu mandato foi marcado por propostas pedindo condições de igualdade no trabalho para mulheres e menores, licença maternidade de três meses para gestantes e redução da carga de trabalho de 13h para todos.
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E chegamos às...
Músicas que falam de liberdade:
“O Canto dos Escravos” (domínio público, 1928) – Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca da Portela
“Tributo a Martin Luther King” (samba, 1967) – Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli
“Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” (rasqueado, 1968) – Geraldo Vandré
MESTRE SALA DOS MARES: A canção fala da figura de João Cândido, o líder da Revolta da Chibata (1910), no Rio de Janeiro. O “Almirante Negro”, como foi apelidado pela mídia na época, foi o porta-voz na ação dos marinheiros contra o racismo, os castigos físicos (chibatadas que deram nome à revolta) e as péssimas condições de trabalho na marinha brasileira. O motim, que aconteceu entre 22 e 27 de novembro de 1910, teve como estopim a punição ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes com 250 chibatadas e sem direito a tratamento médico.
"Uma nota final : a igualdade de
possibilidades sexuais ameaτa os homens com o fantasma da traição feminina.
Diante da mulher insubmissa todo homem se sente um corno em potencial. Se os
homens soubessem do esforço que a mulher apaixonada (claro, a não apaixonada
não tem por que ser fiel) tem de fazer para ser infiel! A infidelidade da mulher que ama tem duas
possibilidades. Pode ser uma vinganτa contra o macho-paralelepφpedo, prepotente,
o intranscendente que come mas não ama, que caga-regras mas não escuta, que
penetra e não se deixa penetrar; e, nesse caso, quem for esperto que aprenda
alguma coisa com a traição. Ou pode ser
uma disciplina. Uma disciplina de liberdade. Tentativa feminina de superar um
desejo de posse/dominaτπo/submissão que parece gravado a fogo em nós junto com
a paixão. Rebeldia do espírito que se quer livre contra a carne que se quer
posse. Mesmo que a carne se chame coração.
Quando a infidelidade feminina não é uma vingança, ela é uma tentativa (arriscada, perigosa - corajosa, e por isso mesmo ...) de amar melhor".
Grande aprendizagem para a vida, para o amor e a liberdade... Obrigada Kehl.
Não é por acaso que a imagem símbolo do SBC é a pipa...
Abraços carinhosos...
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