No dia seguinte fomos nas Andorinhas... que não é uma cachoeira, apenas.
Trata-se de um Parque Natural Municipal das Andorinhas, com suas
piscinas ... e com muita beleza da natureza:
E a pedra do Jacaré, entre outras atrações maravilhosas que a natureza nos oferece...
E sentamos nas pedras e continuamos nossa conversa:
- Percebo, então, que VIRAR A CHAVE é um movimento para a vida toda...
exige coragem... e humildade... mas tem um começo: quando "viramos a
chave" não é que deixamos tudo que está para trás da chave, de jeito
nenhum! Me parece que significa olhar para trás... e para o que pode ser
visto, construído depois dessa porta que se abre com a VIRADA DE CHAVE.
Uma 'teorização' sobre esse tema é o que os cientistas chamam de
'mudança de paradigma":
Thomas S. Kuhn iniciou sua carreira universitária como físico. As circunstâncias
levaram-no ao estudo da história e a preocupações de natureza filosófica.
Múltiplas áreas, desde as exatas até as humanas, convergem para as agudas
análises, que levam o autor, questionando dogmas consagrados, a ver o
progresso da ciência não tanto como o acúmulo gradativo de novos
dados, e sim como um processo contraditório, marcado pelas evoluções do
pensamento científico. Tais revoluções são definidas como o momento de
desintegração do tradicional numa disciplina, forçando a comunidade de
profissionais a ela ligados a reformular o conjunto de compromissos em que
se baseia a prática dessa ciência.
Um dos aspectos mais interessantes do livro é a análise do papel dos fatores
exteriores à ciência na erupção desses momentos de crise e transformação
do pensamento científico e da prática correspondente.
E temos, em 2013, em comemoração aos 50 anos do livro de Thomas Kuhn,
o novo livro A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS, onde
vários autores prestam homenagem àquele que influenciou a todos no
sentido de "virar a chave":
"As múltiplas possibilidades de abordagem e inserção de "A Estrutura das
Revoluções Científicas presentes neste livro mostram, não apenas a riqueza
da obra de Kuhn, mas também como esse autor influenciou de modo diverso
os diferentes pesquisadores que aqui escrevem. Todos nós, filósofos e
historiadores da ciência, fomos impactados por Kuhn".
- Velha roupa colorida, música de Belchior, lançado no álbum
Alucinação em 1976, é um hino sobre a dialética do tempo e da
mudança social: reciclar o velho como novo e, ao mesmo tempo,
descartar o velho como velho. A mudança é sorrateira, gradual
e discreta: "você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de
dizer. meu amigo; que uma nova mudança em breve vai
acontecer; e o que há algum tempo era jovem, novo, hoje é
antigo; e precisamos, todos, rejuvenescer".
- Devo ter lido, ainda na década de 80 do século passado, um
outro "livro da minha vida" como falamos no SBC, um
livro que me marcou muito e 'me produziu reflexões':
Primeira edição em 1982, Fritjof Capra nos apresenta um
paradigma holístico de ciência e de espírito: "A dinâmica
subjacente aos principais problemas de nosso tempo - o
câncer, o crime, a poluição, o poder nuclear, a inflação, a
carência de energia - é sempre a mesma. Chegamos a uma
época de mudança dramática e potencialmente perigosa,
um ponto de mutação para o planeta como um todo.
Estamos precisando de uma nova visão da realidade, que
permita que as forças que estão transformando o nosso
mundo possam fluir como um movimento positivo de
mudança social".
- E em 1991, no álbum CIRCULADÔ, Caetano Veloso canta
"Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial"...
- E caminhamos pelos lugares mais bonitos do Parque
das Andorinhas... e caminhamos nas nossas reflexões, para um
sentido mais amplo do "virar a chave": virar a chave no sentido
histórico, e virar a chave no sentido político... uma relação
intrínseca entre essas duas dimensões.
- SANKOFA: Esta palavra é proveniente da língua twi ou axante,
sendo composta pelos termos san, que é “retornar; para retornar”,
ko, que significa “ir”, e fa, que quer dizer “buscar; procurar”.
Pode ser traduzida como “Volte e pegue” .A palavra Sankofa,
que na verdade tem dois símbolos que a representam, um
pássaro mítico e um coração estilizado, simboliza a volta para
adquirir conhecimento do passado, a sabedoria e a busca
da herança cultural dos antepassados para construir um
futuro melhor.
- Lembramos, da Roda de Conversa de ontem, de Catarina
Mendes e da história da Princesa Isabel ...
e lembramos de 7 de setembro:
No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro 1º proclamou
a independência às margens do rio Ipiranga..."e o Brasil
se consolidou como uma nação independente".
No entanto, temos também uma outra história:
"Na madrugada de 2 de Julho de 1823, a cidade de Salvador
amanheceu quase deserta: o exército Português deixou em
definitivo a província da Bahia. Dizem que o dia nasceu bonito,
sem as chuvas de junho. O sol brilhou! Os baianos conhecem
esta data como sendo a Independência do Brasil na Bahia,
que celebra a vitória dos brasileiros na guerra travada na então
província da Bahia, por mais de 17 meses (de fevereiro de 1822
a julho de 1823) contra as tropas portuguesas. Com a vitória
do Exército e da Marinha do Brasil na Bahia, consolidou-se a
separação política do Brasil de Portugal. Sendo assim, com base
nos estudos de Luís Henrique Dias Tavares, historiador, professor
emérito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o 07 de
setembro de 1822 é uma data simbólica, não se tratando da real
data da independência do Brasil, até porque um pedaço enorme
do país (região Nordeste) ainda não era independente".
- Entendemos, de uma forma mais profunda, que "olhar pela ótica
do povo, dos movimentos populares, da nossa força enquanto
sujeitos, para transformar o mundo para "...mais bonito, mais
justo e equânime"... significa uma "virada de chave" necessária
e urgente.
- Aqui, um grande SBCense deu um depoimento importante:
- eu estava na savassi em Belo Horizonte, caminhando no
sentido do supermercado. Atravessando a rua, na porta de
uma padaria estava sentada uma senhora com dois pequenos,
não tinham mais do que 6 anos, talvez. Ela me pediu um
biscoito pros meninos... e, antes que eu entrasse na padaria e
comprasse os biscoitos, um senhorzinho, passeando com dois
cachorrinhos na coleira, super bem cuidados, passando por ali
ouviu ouviu a senhora e me disse: Não compre! ela é uma
pedinte profissional, ora fica aqui na porta da padaria e ora na
porta do supermercado! E repetiu: é PROFISSIONAL! Vive disso!.
Acho que estou começando a virar a chave, pois em outra ocasião
eu ouviria isso e deixaria passar... mas, nesse momento,
consegui elaborar uma resposta a este senhor, ou melhor
uma pergunta - na verdade algumas perguntas: - Certamente ela
não deve ganhar bem com essa profissão, não é mesmo? E o senhor
acha que ela tem alguma escolha? Teria uma profissão "melhor"?
Com quem ela deixaria os filhos? Ela poderia "escolher" uma
creche? Será com com essa - ou com outra profissão - ela ganharia
o suficiente para oferecer ao filhos uma vida digna? Talvez até ela
pudesse ganhar o tanto que o Senhor gasta com os seus cachorros...
Tive medo de falar... mas saiu... e saiu num tom de voz legal, sabe!
quase como eu mesmo estivesse refletindo, pensando comigo mesmo...
e ele me ouviu...
e respondeu: É... é bom tentar compreender... Dei 'bom dia' a ele
e entrei na padaria... e me senti bem na "virada a chave"
- E continuamos "VIRANDO A CHAVE", buscando a perspectiva das
"pessoas invisibilizadas na história"... fazendo " amor e política" em
todos os níveis de relação - na cama e no mundo - como é um "exercício
SBCense". E lembramos, de novo, Ailton Krenak, que nos ensina, muito,
a "virar a chave". Vejam e ouçam o videoclipe da canção O RELÓGIO DO
JUÍZO FINAL, de Carlos Rennó, Makely Ka e Rodrigo Quintela, interpretada
por mais de 20 músicos e com fotos de grandes fotógrafos brasileiros,
ativistas da causa do meio ambiente. A música é baseada na obra de
Krenak "Ideias para adiar o fim do mundo, e o videoclipe foi feito pelo
cineasta Marcos Prado:
https://youtu.be/LoGVGdR4Uxg
- E, terminando nossa conversa, disse uma SBCense: "Olhando
para o que está acontecendo no mundo hoje, considero que um movimento
importantíssimo no sentido da "virada de chave" é o que podemos
verificar de "declínio do império americano" e do mundo unipolar, construído
desde meados do século passado... para a emergente construção de um
mundo multipolar. Um maior equilíbrio de poderes muda o mundo.
Precisamos buscar muita informação sobre isso... e criticar...
e construir nossas reflexões...".
Abraços carinhosos e todas, todos e todes... aguardamos mais depoimentos...
e até nosso próximo passeio-conversas-reflexões.
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