No dia 20.10.20 a cronista Tati Bernardi publicou na Folha a crônica “Eu sou bonita, mas estou cansada” e vários grupos de mulheres a que eu pertenço multiplicaram essa crônica como reflexão, alerta, denúncia... sobre nós, mulheres.
A Tati tem em torno de 40 anos, idade do meu filho mais
velho, tenho um casal de filhos, um homem e uma mulher, e um casal de netos. O
sentimento que me invadiu quando li a sua crônica foi de tristeza por nós.
Tristeza pela constatação: se olhamos para um ponto de vista, da minha geração
para a geração de mulheres de 40, nossa... quanto andamos... sim, verdade. Mas,
se olhamos por outro ponto de vista, quanto ainda temos que andar... e, penso
eu, uma das caminhadas possíveis é a do (ou para) o nosso interior... até para
nos fortalecermos para a batalha que temos que fazer, diariamente, em relação
ao exterior, ou seja, em relação a este mundo tão machista e misógino, e
desigual... que ainda vivemos.
Eu sou uma mulher da segunda metade do século passado... foi
nesses cinquenta anos que eu reproduzi... e superei... minha... nossa...
condição de mulher culturalmente definida: nascíamos para sermos “belas,
recatadas e do lar”... e não corresponder a esses papéis implicava em sérios
riscos a nossa integridade psíquica, física... etc. No nosso tempo a grande
frase era “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher”... esse era
nosso “destino” e AI da mulher que se rebelasse... pois bem, fiz, com muito
orgulho, parte das mulheres que se rebelaram... e, nessa época, anos 70 e 80, fizemos
camisetas com os dizeres: Por trás de um grande homem existe uma mulher... (na
frente) CANSADA (nas costas da camiseta). Foi libertadora essa frase!!! E
quando eu digo “libertadora” quero dizer que muitas de nós trabalhamos para nos
libertarmos do CANSADA... isso quer dizer, nos libertar interiormente, para
sair pro mundo e lutarmos pela libertação de todas nós. Porque, claro, eu estou
falando de mulheres brancas e de classe média. Mas, com essa consciência
política foi que saímos do próprio ”umbigo” e evoluímos para feminismos mais
inclusivos, que se identificam em algumas lutas e, ao mesmo tempo, diferenciadas
nessas mesmas lutas... e chegamos aos feminismos emancipatórios, aos feminismos
decoloniais, que incorporam lutas que nossas cabeças e “espíritos”
eurocêntricos colonizados não percebiam nessa época.
E, por isso, agora, fazendo um exercício de humildade e, ao
mesmo tempo, de arrogância (se arrogar ao direito de...) quero sugerir a todas
nós que façamos outras camisetas que não essa do slogan da Tati: “Eu sou
bonita, mas estou cansada”.
Faço sugestões:
“PERMITA O CAOS”
“DIGA NÃO”
“DIGA SIM PRA SI MESMA”
“MELHOR SER FELIZ DO QUE SER PERFEITA”
Quero, ainda, justificar estes slogans como mais libertadores
do que o “...estou cansada”, e de uma maneira muito cuidadosa conosco: sem
pensar que somos “culpadas” por este estado de coisas, porém, pensando que
somos, ao mesmo tempo, objetos (reprodutoras) e sujeitos (transformadoras), da
cultura e da história... e, ainda, que a transformação pode ocorrer do micro
para o macro, ou seja, de nós mesmas e do mundo... quero propor que permitamos
o caos... Que digamos NÃO dizendo SIM pra nós mesmas, pros nosso desejos... e
por aí vai...
Pois este estado (de cansaço...) vem, na minha maneira de interpretar a mim mesma
e ao mundo, de uma característica terrivelmente enraizada, cravada a ferro e
fogo na nossa “alma”... a onipotência, o
perfeccionismo. Vejo isso em mim mesma e tento arduamente combater, e vejo
isso nas mulheres das gerações após a minha... e como essa característica
(culturalmente transmitida de mulheres para mulheres) nos escraviza!!!
Permitir o caos significa abrir mão do nosso território “do
lar”, pois saímos para o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, não conseguimos
abrir mão do “poder” de fazer tudo “do nosso jeito!”, porque foi esse que
aprendemos como “O jeito certo”, “O melhor”, “O perfeito”.
Vejam o filme: Como nossos pais, de 2017, da diretora Laís
Bodanzky.
Sinopse: Rosa é uma mulher que almeja a perfeição como
profissional, mãe, filha, esposa e amante. Filha de intelectuais e mãe de duas
meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem
que ela seja engajada, moderna e
onipresente.
E, ainda,
completando... linda (nos padrões, claro...)!!! Aff
E, para concluir, uma “oração da serenidade” que aprendi com
uma mulher muito sábia: Ver, ver tudo, não ter medo de ver... deixar passar
muitas coisas... mas fazer um pouco a cada dia... na direção que você deseja
pra você e pro mundo.
Pronto... falei…
Santuza TU
Parabéns Tu. O projeto de camisetas libertadoras é excelente. �� �� �� ��
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ResponderExcluirEstamos cansadas de machismo, misoginia e violência contra nós mesmas
ResponderExcluirParabéns Tu
O projeto das camisetas é excelente.
Estamos cansadas de machismo, misoginia e violência contra nós mesmas
ResponderExcluirParabéns Tu
O projeto das camisetas é excelente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigada nieta! Bora fazer o projeto camisetas... bjs
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ResponderExcluirAdorei Santuza. Projeto muito bacana.
ResponderExcluirParabens , Santuza! Grande trabalho!
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