Vocês já sabem que o SBC adora ressignificar palavras (ou conceitos), a fim de orientar nossas vidas para o bem viver e bem relacionar. Então, inúmeros conceitos já aprendemos (e reproduzimos) de uma forma distorcida, ou seja, de uma forma que a prática daquilo conceituado se desvirtua de qualidade de vida e qualidade de relações. Falamos também que a ressignificação de conceitos orientada pelo sentido estético, do belo, do bom para a vida, transforma nossas vidas para bem melhor.
Então, nossa primeira ressignificação,
importantíssima, é da palavra BOBAGEM. Bobagem, para o SBC significa “coisas
boas para a vida”, inclusive “bobagem” no sentido “restrito” da palavra (aqui
em Minas: bobiça, que pode ser ‘fazer sexo’ ou ‘ficar sem fazer nada’, curioso
os dois significados né?)
Outra palavra que já
conversamos e já fizemos grandes ressignificações, orientadoras do pensar,
sentir e agir: CONFLITOS...
Sim... e foi sobre conflitos
que conversamos nesse fim de ano. Pois nossa aprendizagem sobre conflito não
nos leva a temê-los, a fugir deles que nem o diabo da cruz? de maneira tal que
enxergamos as nossas vidas e as nossas relações de uma maneira linear... Os
conflitos estão escondidos, “fagocitados” como disse a SBCense Laura,
escondidos em bolsões...Em outras palavras, negados, reprimidos, escondidos,
protelados, procrastinados... E não estaríamos conversando sobre isso se essas “fagocitoses”
não nos causassem sofrimentos que, muitas vezes, só o corpo sente, ocorre que
não temos consciência mas eles estão aí
fazendo os estragos psíquicos.
Pois o que conversamos é que
os conflitos abertos geram CRESCIMENTO, enquanto os conflitos “engolidos” geram SOFRIMENTO. E o que seriam os conflitos abertos? Como aprender a abrir
conflitos? E antes, quais conflitos, que tipos de conflitos?
O exercício de PERGUNTAR já
é ótimo para o objetivo de abrir conflitos, tanto os conflitos internos quanto
os conflitos relacionais. Rever a história (nossa história e a história), ressignificá-la
para a vida... nos faz apropriar de nós mesmxs, assim como nos transformarmos
em sujeitos, construtores da própria história e da história, do nosso pais e do
mundo, ou seja, seres políticos.
E assim ia a conversa,
quando a Shirlene nos fez a proposta cineclubista: vamos ver (e conversar) sobre
o filme super recomendado? ‘A mão de Deus’, candidato ao Oscar 22. Trata-se de “película”
do cineasta italiano Paolo Sorrentino, famoso por outros filmes muito bacanas:
Le conseguenze dell’amore (2004), A grande beleza (2013), entre outros.
Para remontar e ressignificar sua história, Sorrentino transforma todos os personagens em peças essenciais para um quebra-cabeça, que revela toda a ambientação para a construção do seu próprio eu. É um drama gestáltico, de apropriação. E o mais bonito é que ele faz isso valorizando sempre as pessoas. Todas elas são fundamentais para essa apropriação da história e da vida. O Maradona, a tia voluptuosa, o amigo contrabandista, o pai e a mãe, irmão e irmã, a viúva do primeiro sexo... E o cineasta Capuano com quem o jovem Fabietto conversa antes de partir de Nápoles, com seus medos e paixões guardadas na paisagem que agora ele reconstrói com “a mão de Deus” (outro significado possível para o título do filme).
E foi nessa altura da conversa que “pontuamos” o Capuano, aquele cineasta que conversou com o jovem Fabietto, o protagonista da “película”. E o Capuano disse a ele, em alto e bom tom:
SEM CONFLITO É SÓ SEXO...
E SEXO É INÚTIL!!!”
Sim, claro, sexo é inútil... mas é
bom, nem tudo útil é bom, bonito, gostoso... Segundo SBCense famosa, sexo “mesmo
quando é ruim é bom”.
Mas é inútil!!! Afirmou outra SBCence:
“quase sempre esquecemos da expressão “relação sexual” e podemos “cair” na
mesmice do sexo enquanto performance alienada, sexo automático, apenas físico.
Nesse sentido o orgasmo seria apenas uma coceirinha... gostosa, mas coceirinha”.
Preferimos não entrar em conflito
“pela razão” dessa vez. Neste caso seria conflito desnecessário, melhor cada SBCense ficar com sua percepção sobre sexo. O exercício de respeitar o diferente
também faz parte do desenvolvimento da competência para lidar com os conflitos.
Então, caminhamos mais no conceito de conflito: só, e somente só, o conflito faz crescer... e crescer é o “destino” humano. Capuano diz que sem conflito não se progride. E ox filósofxs SBCences foram acrescentando, explorando os tipos de conflitos, como lidar com os mesmos, como superá-los e crescer com eles:
O Carlos, que tinha acabado de ver live do Miguel Nicolelis, famoso neurocientista brasileiro (Cérebro: O verdadeiro criador de tudo, live do Instituto Conhecimento Liberta), disse: "O cérebro humano é capaz de, em os fatos não sendo convenientes ou agradarem, brigar com eles ou desacreditá-los ou achar que, assim, eles não vão acontecer. Ou seja, nosso cérebro é capaz de nos enganar, se não fizermos sempre o exercício de juntar cérebro, coração e mãos (pensar, sentir e agir)". Conversamos sobre isso no nosso encontro anterior (veja post de 15.dezembro.21, quando conversamos sobre maniqueísmos).
Enfim, aprendemos muito com a Nice. E a Clarice lembrou sua xará, a Lispector:
Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Que eu saiba ficar com o nada e, mesmo assim,
me sentir como se estivesse plena de tudo."
LISPECTOR, Clarice. In: Um sopro de vida (pulsações)
"VER, VER TUDO, NÃO TER MEDO DE VER,... DEIXAR PASSAR UM TANTO DE COISA... E FAZER UM POUCO A CADA DIA".
Nem sei se a oração é mesmo desse jeito, mas eu aprendi assim, disse Santana. "E tem um significado libertador, pra mim: enfrentar o medo de me ver humano; deixar passar o que não dou conta de resolver, mas deixar à vista, consciente; e, diariamente, agir o tanto que eu der conta, na direção da construção que eu quero construir pra minha vida e minhas relações".
Quando conversamos sobre a categoria de 'conflitos relacionais', a contribuição foi da nossa querida SBCense Juliana: "Por causa do medo que aprendemos a ter de qualquer conflito, buscamos uma espécie de linearidade da vida e das relações... A paz... O 'foram felizes para sempre'. Mas sabemos que isso não existe. Trata-se de uma idealização, de si mesmx, dx outrx, da vida, das relações... enfim, um movimento de nos desumanizarmos". Uma amiga me disse, outro dia, do término de uma relação afetivo/sexual... muito triste: "eu estava contando pra ele um pouco sobre a minha história de vida e minhas relações afetivo-sexuais, tanto nos pontos bem sucedidos quanto nas frustrações, quando ele me interrompeu dizendo: Nossa, eu achei que você fosse "bem resolvida"! eu respondi: Não! sou humana!... foi daí que comecei a perceber que ele estava me mitificando e fiquei com medo, pois da mitificação para o desprezo é um pulo... perdemos a condição humana de admiração... e não deu outra: em pouco tempo ele arrumou um pretexto pra terminar". E Juliana continuou avaliando o quanto é difícil caminhar na superação de conflitos relacionais quando não existe mais x outrx. Por exemplo quando a pessoa não está mais disposta a conversar... ou quando não temos mais nossa mãe ou nosso pai ou nosso irmão ou nosso filho, para 'fechar gestalts". Quando queremos "fechar gestalts" (que significa crescer com as experiências, seja quais forem, mesmo as tristes, de perdas), e não temos x outrx para realizar isso conosco, precisamos ampliar nossa capacidade de sermos honestxs conosco, para lidar com esses conflitos nem com auto condenação nem culpando x outrx, tentar não omitir de nós mesmxs todas as emoções conflitantes... Olhar pra elas... rir, chorar... e seguir em frente.
E, como temos SBCenses de várias áreas de reflexão e atuação profissional, tivemos também o André, que, abordando a questão de conflito na filosofia, nos trouxe o 'encarte' abaixo, que aborda o sentido de CONFLITO numa perspectiva mais ampla:
Ao contrário do que estamos propondo, este é o conceito de conflito que recebemos e internalizamos. Ou seja, registramos nas nossas mentes e traduzimos em ações nas nossas relações e na nossa visão de mundo. E, quando começamos a realizar o movimento de ressignificação, vamos caminhando para 'ser' e 'relacionar' melhor.
Maravilha!!!! Parabéns Santuza!!!
ResponderExcluirObrigAda querida... bjs
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