Pois não é que nossa conversa continuou! Do assunto "privatização" caminhamos para a ampliação no sentido do que chamamos de "visão de mundo"...
A Rita começou perguntando, pois perguntar nos orienta, uma cabeça que não pergunta é uma cabeça fechada em certezas, autoritária... e a busca de respostas suscitam novas perguntas e, assim, vamos "ampliando nosso globo pensante", como diz o Duca:
- Porque a comunicação da direita é mais fácil do que a comunicação da esquerda? Já criticando os termos "direita" e "esquerda"...
"Desde o turbulento evento denominado Revolução Francesa (1789-1815), o qual, de acordo com alguns historiadores, inaugurou a Idade Contemporânea, os conceitos de direita e esquerda fazem-se presentes nos debates políticos e ideológicos, sobretudo no mundo ocidental."
Essa polarização tem suscitado inúmeros problemas e demasiadas polêmicas, sobretudo porque, a partir do século XIX, houve uma radicalização ideológica tanto de um lado quanto do outro.
E nós nos perguntamos: a quem mais interessa a polarização? - nós, de "esquerda" queremos a superação!
Pior ainda, no nosso entendimento, seria o uso do termo "progressista" para nós, da "esquerda"... afinal, que progresso queremos? nenhum! queremos que se escancarem as contradições desse sistema ... e que possamos construir um mundo mais justo, mais distributivo, mais bonito, enfim...
Mas, na nossa conversa, na carência de outro termo, voltamos à pergunta da Rita:
- A direita comunica sobre as ideias dominantes, o senso comum é da direita. Por isso a comunicação é mais simples, mas acessível, mais direta... Ou seja, as ideias dominantes são as ideias da classe dominante. Daí que se comunicar à esquerda claro que dá mais trabalho!
Mas... o que fazer, então? como nós, da esquerda, podemos nos comunicar de maneira mais eficaz?
Marilena de Souza Chauí, (1941 - hoje com 82 anos) escritora, considerada uma das filósofas mais importantes do Brasil e uma das mais influentes intelectuais do país, com vasta e reconhecida obra... Professora emérita de História da Filosofia Moderna na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
- Um dos livros que mais "ampliou meu globo pensante": O que é ideologia, da Coleção Primeiros passos, livro de bolso escrito de maneira simples e acessível...
Marilena fala de quatro movimentos que nos ajudam a melhorar a nossa comunicação... e conversamos sobre esses movimentos:
1. desmontar o senso comum... Por exemplo: - "Eu acredito em Deus"... - Mas, qual Deus, não temos várias "ideias" de Deus, construídas em épocas históricas várias, assim como civilizações diferentes constroem ideias de Deus diferentes? ; outro exemplo: - "A família é a coisa mais importante..." - Mas, qual família? essa onde crianças, mulheres e idosos, pessoas mais vulneráveis, são violentadas?... e por aí vai...
2. desmontar a aparência da realidade, sobre a qual está construída a comunicação da direita, a comunicação simples e direta, fechada em "verdades" não questionáveis, ou seja, as "ideias dominantes";
3. explicitar os fundamentos do senso comum, e o que tem de invisível operando por traz deles. Ora, o que existe é uma "disputa material" na sociedade... Você acha, por exemplo, que a Justiça é para todos? ela é igual para um branco e um negro periférico aqui no nosso país? A resposta é NÃO, e os exemplos são diários, inúmeros, é só fazer o exercício de sair da sua bolha...
4. Por último, o movimento de transformar o ouvinte, o seu interlocutor, em agente, em sujeito - ou seja, fazer com que o movimento de transformação da visão de mundo se transforme em ação, em desejo de transformar o mundo, desde o "pequeno mundo" ao seu redor...
E Rita, voltando à conversa, diz:
- Quando o povo entende uma ideia transformadora, isso leva à ação. Trata-se da "força material"... Então, quando a gente desmonta o sendo comum, mostra que aparência não é essência, mostra o que está por traz do discurso do senso comum e mostra que o mundo muda quando você se juntar a pessoas do seu lado, ao seu redor, a gente conseguiu produzir "COMUNICAÇÃO DE ESQUERDA"... E AÇÃO TRANSFORMADORA...
Afinal, o que queremos é caminhar para um mundo mais distributivo, mais justo e mais bonito... em todos os níveis de relação... Para isso é preciso criticar o sistema em que vivemos, um sistema cruel, que prevê o lucro para poucos e a miséria para muitos, um sistema que produz ilusões de consumo... que produz "miséria humana" em todos os sentidos, numa lógica perversa e excludente.
Temos "pronto" um "novo sistema", que substitua este? Claro que não, se fosse assim esse novo sistema seria imposto e autoritário... Mas o que precisamos fazer é ir abrindo essas contradições e ir construindo alternativas possíveis...
Encontrar formas de dizer NÂO e esse sistema, em pequenas ações, é imprescindível... conversar é imprescindível... abrir contradições é imprescindível! E vamos caminhando, tudo é movimento...
Sim queremos um mundo melhor e mais justo para todos... mas (fica aí a questão da subjetividade quando se fala de tratar e tentar transformar)
ResponderExcluirExcelente esse movimento! Essa é uma postura realmente transformadora!
ResponderExcluirExcelente e reflexivo!
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