Fico tão orgulhosa dos meus amigos e amigas! Realmente, Vinicius (o Moraes) tinha razão, não conseguiria viver sem amigos. São, no meu entendimento, as relações mais preciosas, que mais fazem a gente crescer... e sempre em mão dupla, oferecer minhas reflexões, minha experiência de vida, para que elxs também cresçam comigo.
Conheço a
Silvana há uns quinze anos... do samba... da diretoria do SBC. E nos
identificamos tanto que ela parece que escreve como eu, parece meu alter ego. E
isso lá da Bahia, pois ela voltou pra lá há uns cinco anos. E continuamos
nossos contatos virtuais, escrevendo, falando, fazendo rodas de conversa com
homens e mulheres que querem aprender a serem melhores consigo mesmxs e
melhores relacionalmente.
Mas não podia
deixar de publicar esta sua carta. Parece muito com o que estou também
vivenciando. Obrigada minha grande amiga.
TU querida!
Estou aqui na Bahia... acompanho seu blog, leio suas postagens e me lembro com
saudades das nossas longas conversas sobre nós, mulheres, quem somos, o que
queremos, nossa identidade reflexa (o que somos criadas para...) e nossa identidade
construída por nós mesmas, um trabalho para a vida toda.
Como aprendi
com você TU!, ou melhor, como você gosta de dizer: como aprendemos juntas!!!,
pois o processo de aprendizagem só ocorre em mão dupla. E aqui na Bahia eu
multiplico nossas teorias, construídas a partir da reflexão sobre nós mesmas,
nossas vidas. Claro que apropriando de outras teorias já prontas, um filme, um
livro, que servem como pretexto... ou pré-texto... o texto fazemos nós.
E agora acabo
de ler estes dois posts no blog “quando amo, O QUÊ estou amando” e me deu
vontade de escrever um depoimento sobre minha vida, sobre meu processo de
empoderamento...
Lembra aquela
reflexão que fizemos numa noite regada a muita cerva, sobre estar no palco ou
estar nos bastidores, sobre os papéis de palco e os papéis de bastidor. Essa
frase tão cravada na nossa alma “por trás de um grande homem existe uma grande
mulher” (e ainda atual, acredite...) traduz o papel de bastidor exercido por
nós nas relações íntimas... e, para exercermos “bem” este papel nossa auto
estima tinha que “ir, aos poucos, sendo abaixada”...
Por isso, ou
melhor, lutando historicamente contra isso, fui internalizando um juízo de
valor depreciativo sobre o papel de bastidores. Claro, o que mais eu queria, e
fui construindo, era caminhar para estar no palco, minha autoestima estava
relacionada ao tanto que eu dava conta de me mostrar, pois foi isso que foi
sendo destruído em mim para eu desempenhar o papel de bastidor.
Lembra do
livro que você me deu uma grande “aula” sobre ele¿ “O feminismo espontâneo da
histeria”... Nem li o livro TU, sua “aula”, sua “interpretação” do livro, foi
melhor pra mim... e você me disse que a principal queixa das mulheres é: tenho
medo de me arriscar e “não dar certo”... então, essa queixa está invertida,
nosso maior medo é “dar certo”, pois dar certo questiona todos os nossos papéis
internalizados, esses de bastidor... dar certo, agora entendi, sob vários aspectos,
é estar no palco, protagonizando sua própria história, “dar certo” é, enfim,
construir, para toda a vida, o “ser quem eu quero ser”, em todos os níveis de
relação... Agora também, TU, estou entendendo aquilo que você dizia sobre os
níveis de relação: intimo, pessoal, social e público... pois, caminhando para a
construção do “dar certo”
profissionalmente, fazer o que gosto e ganhar dinheiro com isso (não tenho
dúvida, agora, isso é uma construção valiosa) fui começando a perceber que,
dando passos para além disso, começamos a nos perguntar: e, o que fazemos pelo
mundo em que estamos, para construir um mundo melhor para além do nosso
mundinho, aquele olhar horizontal que você diz... e aí é que começamos nossa
consciência no nível mais amplo, enquanto cidadã, o que estamos fazendo, o que
podemos fazer... e aí, TU, comecei a sair, digamos, do meu “casulo” de
empoderamento, e comecei a procurar me engajar em grupos que discutem a questão
da mulher, a questão de gênero, e assim por diante... e assim foi que me tornei
“política” no sentido mais amplo da palavra TU!!! Agora entendo demais,
profundamente, porque exerço isso, está na minha vida: “amor e política na cama e no mundo”.
E então
comecei também, agora, com a “mitideza” que você me ensinou (nem supermetida –
arrogante, nem submetida, subserviente... autoestima ao ponto), me arriscando
em papéis de palco e experimentando meu tamanho, o que dou conta e o que posso
dar mais conta, construir mais...
E aí comecei
a perceber também o papel importantíssimo de bastidor... e descobri que também
posso e sei fazer este papel, porém, de uma maneira diferente daquela que eu
fazia anteriormente, valorizando meu papel de bastidor e desempenhando este papel da melhor forma
possível, com a maior competência. Pois este papel é fundamental... tão
importante quanto o do palco. Melhor, são papéis complementares.
E saber
desempenhar com sabedoria e prazer os dois papéis é muito bom, transitar entre
os dois papéis, traz um sentimento de liberdade de ser. Pois não é que voltei a
ir pra cozinha e fazer umas coisinhas gostosas, lembra que neguei tudo que
sabia fazer na cozinha, pois este era um lugar de bastidor da mulher. Agora
adoro fazer umas receitas e convidar amigas e amigos pra tomar um vinho e comer
uns petiscos feitos por mim. Parece um nada, mas pra mim é um orgulho
pessoal uma superação. E, ao mesmo
tempo, me orgulho de pertencer a grupos políticos que estão pensando e agindo
no sentido da construção de um mundo mais igualitário, mais fraterno, mais
bonito. E, claro, me bancando ... “liberdade é de pensar, se sentir e de
agir... mas passa pelo bolso”.
TU, não sei
se foi o Guimarães Rosa que disse isso, mas agora me ocorre a frase:
“A vida é um
espetáculo imperdível, um palco, onde cada um tem o seu trabalho de fazer o
melhor desempenho”... realmente, procurei no google e não vi essa frase dele...
então, agora é nossa... minha gratidão a você, querida amiga, por contribuir no
meu caminho para ser uma pessoa melhor, ser quem eu quero ser...
Silvana
Baiana
Gratidão querida
amiga, por você existir na minha vida!
Santuza TU
Amigos são um dos pilares que nos sustentam nos momentos mais difíceis!
ResponderExcluirLindas.
ResponderExcluirgrata Alexandre...
ExcluirLindas.
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