Terminando nossa trilogia "quando amo, O QUÊ estou amando?", uma ampliação do conceito para outros níveis de relação, além da relação íntima.
Não me lembro nem onde nem quando li um artigo sobre o tema “relações simbióticas”, dizendo sobre as relações íntimas, afetivo-sexuais. Mas este tema me ocorreu a propósito da pergunta: quando amo O QUÊ estou amando?
Então...
primeiro vamos ao google: “...a simbiose
nasceu da busca estratégica de interações entre organismos de diferentes
espécies... os exemplos mais comuns são os de verminoses, o que muitas vezes
pode levar o hospedeiro à morte...”
“o conceito
de simbiose é uma metáfora biológica, que usamos na psicologia para descrever a
situação de dependência emocional entre indivíduos. Essa dependência é normal
em etapas muito iniciais da vida, principalmente do bebê com a mãe, logo após a gravidez, mas
deixa de ser saudável se perdura...”
E,
continuando na pesquisa googolistica (rsrs), os tipos de simbiose existentes:
. no Mutualismo, ambas as partes se
beneficiam da relação, mesmo que não igualmente, tampouco existe uma avaliação
do quanto custa a cada um tal benefício;
. no Comensalismo, uma das partes obtém
benefícios sem prejudicar ou beneficiar a outra, ou seja, a parte beneficiadora
se orgulha de ser protetora e a parte beneficiada agradece... pode ser uma
relação produtiva para ambas as partes, embora assimétrica. Assim como pode ser
produtiva somente durante um certo tempo... daí, pode passar, aos poucos, para
o tipo a seguir, o parasitismo;
. já no Parasitismo, um dos simbiontes se
beneficia às custas do outro, e pode levar à morte do beneficiante, o que está
sendo sugado.
Obrigada
Google...
Vamos à
reflexão: quando li sobre relações simbióticas pensei mais nas relações
afetivo-sexuais entre nós, mulheres, e os homens... acontece por demais! Quando
as relações não estão na base da simetria... de pensar, de sentir, de agir... e
que passa pelo bolso, o econômico, como já falamos... as relações acabam sendo
simbióticas... e nós, mulheres, sofremos consequências terrivelmente
“invisíveis”. Li uma vez num livro de um jornalista italiano contemporâneo, Francesco
Alberoni, “Enamoramento e Amor”, que o homem se enamora “daquele ser
explendoroso” e, rapidamente (ou aos poucos), a transforma “num ser domável”,
ou seja, destrói exatamente aquela característica que o fez amá-la! Que motivos o fariam realizar esse “movimento
inconsciente”!!!
Pois bem, acham que isso só acontece nas relações afetivo-sexuais entre homens e mulheres? Nem pensar! rsrs. Eu achava que as relações homo afetivas aconteciam de formas mais livres... e, sim, acontecem de uma forma mais livre em outros aspectos. Porém, infelizmente, as relações homo afetivas reproduzem, também, obviamente, nossos padrões culturalmente enraizados. Portanto, não estamos imunes!!!
Atenção!!! Os conceitos enraizados de “amor” estão em todas as relações! “só sei viver se for por você”... ai... odeio Djavan...
Então,
percebo também que as relações simbióticas parasitárias se desenvolvem, também,
nas amizades! Assim como o “amor romântico”... pois a idealização da outra pessoa, a
mitificação, é uma das principais características desse amor ... e da
idealização é um pulo para o desprezo, é só um chutinho no pedestal onde
colocamos a pessoa mitificada, qualquer “humanidade” da mesma é pretexto para o
desprezo, perdemos a condição humana de admiração. E precisamos estar bastante
atentxs a isso, corremos sérios riscos!
Essa “teorização” me vem a partir de relato de uma pessoa amiga que, segundo ela, quase sucumbiu à relação simbiótica. Pois percebia que a outra pessoa, uma amiga, a amava e admirava muito, e era recíproco. Então, o que foi acontecendo, sem que as duas percebessem (Freud tinha razão: inconsciente existe, daí o sentido da pergunta: “O quê” estamos amando, a fim de "irmos descobrindo...")?
Uma delas foi incentivando a outra para o papel de palco em várias situações. E a primeira fazia o papel de bastidor, muitas vezes de uma maneira controladora e autoritária, minando aos poucos o brilho da outra.
Perceberam a
“sutileza” do vínculo destrutivo? E a saída possível seria a tomada de
consciência do próprio brilho por parte de uma delas, e a tomada de consciência
da vaidade por parte da outra, que facilmente caia na armadilha do
reconhecimento, e ia ficando do jeito que a outra queria, ia se perdendo de si
mesma.
E, pensando
mais sobre a origem dessas relações: a INVEJA.
Salieri,
compositor de óperas, italiano de final do século XVIII e princípio do século XIX,
conseguiu ir destruindo Mozart, até a morte, por não reconhecer seu próprio
brilho. E Mozart, por imaturidade, e|ou vaidade, entre outras características,
permitiu isso. Depois Salieri ficou louco. O filme “Amadeus”, de 1984, do
grande diretor Milos Forman, mostra a destruição (do outro e de si mesmx) de
uma maneira esplêndida.
Uma grande
pessoa me disse, uma vez, uma metáfora valiosa pra minha vida: desde que
nascemos, vamos aprendendo a construir uma prateleira dos sentimentos, das
emoções. Nessa prateleira, as emoções que ocupam os lugares mais altos são as
“emoções nobres”, aquelas que devemos ter, ou “fingir que temos”, o altruísmo,
a generosidade... como se essas emoções fossem aprendidas numa sociedade
capitalista... Ô dó... até a generosidade é manifestada na ação de forma
arrogante, por uma classe social privilegiada... ou seja, os sentimentos e
emoções são artefatos culturais, são, também, fabricados culturalmente!!!
Ai... vai
descendo a prateleira e veem os sentimento “menos nobres”... vai descendo... lá
embaixo na prateleira está um desses sentimentos: a inveja...
A inveja é um
sentimento horrível! Um pecado, um dos sete pecados capitais. Não devemos ter
inveja! E, se a reconhecermos, devemos fingir que não a temos!!! Vamos substituindo-a,
por exemplo, por admiração... a admiração é um sentimento que coloca o admirado
num pedestal, como já disse... e qualquer “humanidade” que a pessoa se manifeste ela será
“destruída”.
E fico pensando: como é importante a gente tomar consciência dessas emoções “negadas” culturalmente, apropriar delas e ir construindo na direção das escolhas, que podem ser: . . ou de cortar a relação, porque não dou conta ou não quero lidar com isso, pelo menos agora; ou aprender a viver e relacionar com a pessoa tendo consciência e minimizando essa faceta da relação; . e|ou tentar conversar com a pessoa (dar e receber feedback) para construir uma interpretação bonita e produtiva das coisas, hipótese mais bacana e menos provável;
Enfim, podemos escolher
crescer com isso... e nos proteger enquanto objeto de inveja, admiração e
simbiose parasitária.
E enquanto
sujeito, também de admiração... que, necessariamente, para crescimento pessoal,
deve ser enxergada como inveja, pelamordedeus, não me fale em “inveja boa”, me
fale de “inveja potente”, que se transforma em desejo... o que invejo é o que
desejo! Seja ter ou ser... persiga!!!
Não neguemos
nossas invejas! Apropriemos delas como fontes de construção da nossa
identidade... daquilo que queremos ser... só desse jeito ela será
enriquecedora.
E lembrei de um filme super legal:
São vários pequenos vídeos de vários diretores, em homenagem a Paris... cada um rodado num lugar diferente de Paris... e um deles, de Vincenzo Natali, Quartier de la Madeleine, apresenta de uma forma arrasante, uma cena vampiresca... na forma de amor, o amor que conhecemos, o amor romântico. Procurem no YouTube...
E concluo dizendo que precisamos rever urgentemente nossos conceitos de amor, em todos os níveis de relação. Grande trabalho que não podemos nos furtar, pois esse será um grande legado que deixaremos para as próximas gerações. Deusas e Deuses nos ajudem... Amém...
Santuza TU
Menos relações vampirescas hehe um brinde ao amor 🍻🍻🍻🍻
ResponderExcluirao amor, Carlitos!!!
ExcluirAmei vc escrever sobre esse tema. E estou pensando.A sociedade tem uma responsabilidade nisso. Somos talvez me corrija se estiver equivocada. Mas me lembro uma mulher sair sozinha vezes, nem bem visto é, somos criadas para casar e ter filho, viver sozinha é a encalhada. Longe de pensar em viver só, pq viver com é tbm uma necessidade para nossa completude. Acredito que a dependência seja algo a desconstruir e construir o amor próprio. E a dependência e a codependencia seja algo que precisa ser cuidada. Pois acredito ser uma dor da infância de rejeição e por isso saímos dependentes do outro a nos amar, a nos reconhecer, a nos dar algo que nos falta é irmos talvez mais livres para nossas relações. Assim sabendo cuidar e acolher nossas dores. Algo não aprendido nem as mulheres, nem aos homens.
ResponderExcluirobrigada pela reflexão, querida! abraços carinhosos...
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