“Nossa
força depende da capacidade de dizermos não”.
Entendo como nossa força para dizermos “não” aos padrões que nos escravizam, a coragem para ser “saudável” numa sociedade doente, e mais, a coragem de se juntar e construir novas formas de ser e de relacionar nesse mundo mesmo, até que o transformemos para melhor...
Entendo como nossa força para dizermos “não” aos padrões que nos escravizam, a coragem para ser “saudável” numa sociedade doente, e mais, a coragem de se juntar e construir novas formas de ser e de relacionar nesse mundo mesmo, até que o transformemos para melhor...
Mas
a frase em aspas é do nosso mais novo SBCense famoso: John Holloway , nasceu em
1947 na Irlanda, radicado no México desde 1994, é advogado, filósofo e
economista de linha marxista.
Seus
principais trabalhos são associados ao movimento zapatista no México. Sua
preocupação sempre esteve centrada no estabelecimento dos vínculos existentes
entre o Estado e a opressão do capital, culminando na percepção de que todo
Estado constitui uma forma de poder que não pode negar a si mesmo, incluindo-se
nessa categoria os Estados revolucionários.
Em
2002 escreveu o livro "Mudar o Mundo sem tomar o Poder" em conjunto
com Subcomandante Marcos. A filosofia prega a possibilidade de revolução, não
pela tomada do poder do Estado, mas nos atos diários de recusa a sociedade
capitalista.
“A
questão não é tomar o poder, mas romper com a lógica do capital.” Certamente é
uma das obras que mais causou polêmica na esquerda mundial recentemente. Como o
título aponta, sua proposição"incendiária" – fundamentada no marxismo – é a da
construção de uma nova sociedade a partir da destruição do poder e não da
tomada do Estado.
"É
claro que não sabemos como mudar o mundo sem tomar o poder". Não sabemos como fazer a revolução, se
soubéssemos já a teríamos feito. O que sabemos é que as tentativas do século XX
fracassaram, e desses fracassos podemos aprender que é necessário conceber a
revolução de outra forma. Mas não temos respostas. Parte do repensar a questão
da revolução é justamente partir do fato de que não sabemos como fazê-la, por
isso precisamos pensar, discutir. Mas além disso, dizer que não sabemos, porque
se eu digo que eu sei como fazer a revolução, parto do pressuposto que eu tenho
que explicar a vocês como se faz, o que implica uma política de monólogo. Se
dizemos que não sabemos, então a conversa se faz necessária, isso implica uma
política de diálogo, horizontal e, suponho eu, mais honesta.
No
seu novo livro "Crack Capitalism", em português “Fissurar o Capitalismo” (Editora Publisher Brasil), ele constrói
propostas de como caminhar em direção a uma mudança do mundo sem tomar o poder.
“É
preciso construir outras formas de se viver cotidianamente”.
“Paremos
de produzir o capitalismo!”
Somos
apresentados todos os dias a um sistema preexistente que dita nosso agir e até
nosso pensar e sentir, mas não se pode esquecer que o capitalismo fazemos nós, todos os
dias. Podemos escolher não fazê-lo, e isso não é meramente utópico pelo simples
fato de já estar em curso, defende Holloway. Criamos todos os dias a sociedade
da qual queremos nos libertar: “A revolução não é a destruição do capitalismo,
mas a recusa de criá-lo”
Fissurar o capitalismo contém 8 partes e 33 teses que
explicam como criar rupturas no sistema para não continuar a reproduzi-lo. Do
idoso que cultiva hortas verticais em sua sacada como forma de revolta contra o
concreto e a poluição que o cerca. Do funcionário público que usa seu tempo
livre para ajudar doentes com aids. Da professora que dedica sua vida contra a
globalização capitalista. São diversos exemplos trazidos pelo autor, de pessoas
comuns que recusam a lógica do dinheiro para dar forma a suas vidas. No
entanto, após a rejeição, é preciso tentar fazer algo diferente. É aí que surge
o problema. “As fissuras são sempre perguntas, não respostas.”
São
também rádios comunitárias, centros sociais, comunidades ou municípios
autônomos, revistas alternativas, enfim, uma série de rompimentos que não são
necessariamente territoriais, podem também se referir a uma atividade, como os
protestos do ano passado.
Ou
pode se dar também na relação entre homem e mulher, mulher e mulher, homem e
homem, amigos, irmãos, filhos... tratar o amor como uma tentativa de criar uma relação em
que não se aceita a lógica gananciosa e mercantil do capital. A única forma de
pensar na revolução é em termos desses espaços ou momentos que se podem
conceber como fendas no tecido social da dominação capitalista.
Sinônimos
de Fissura no Dicionário
informal.com.br:
tesão, fenda aberta, abertura,
brecha, buraco, comissura,
corte, falha, fresta, frincha, greta, racha, rima, rombo, sulco, incisura,
crena, cissura, resquício,
rachadura, fisga.
A
questão de ruptura é central, romper com
a lógica do capitalismo. E fazê-lo de milhares de formas diferentes. Vamos
criar espaços onde não vamos reproduzir a lógica do capital, onde vamos fazer
outra coisa, ter outros tipos de relações, desenvolver atividades que tenham
sentido para nós.
Em
entrevista para a Revista Fórum Holloway acrescenta: “Creio que seria
importante uma confluência das fendas. Que as fendas se conectem”. Podemos
entender a ideia das fendas imaginando um lago congelado: estamos tentando
romper o gelo, jogando pedras no lago. Criam-se buracos e fendas, rachaduras,
certo? E do outro lado também estão
jogando pedras e pelo outro lado também, que é um pouco o que se está passando
hoje. Vão formando-se uma multiplicidade de fendas que por vezes expandem-se e
por outras se regeneram, de modo que o buraco pode congelar-se outra vez. Mas
se as fendas se juntam, elas se fazem maiores, mais potentes. Às vezes se
juntam, se separam outra vez. Eu penso no movimento das fendas como um processo
que inclui junções, mas que não devem ser impostas a partir de uma perspectiva
particular. Se eu estou aqui desse lado do lago jogando pedras e vejo que você
está fazendo o mesmo do seu lado, não tem nenhum sentido que eu te diga que
você deveria estar aqui comigo. É necessário reconhecer que as pessoas estão
tentando romper o gelo do capitalismo de muitas formas diferentes, tenho que
respeitar que você esteja aí. E respeitar implica criticar, uma confluência é
importantíssima, o diálogo.
Segundo
ele, a ideia tradicional de unidade da
esquerda é equivocada e acaba sendo muito destrutiva. ... “É impossível e
também não é desejável. Porque queremos criar uma sociedade onde podemos fazer
o que gostamos, queremos, o que nos faz sentido, uma sociedade heterogênea. O
argumento das fendas é que não temos outra opção a não ser começarmos pelo particular. Estamos aqui, cada qual em
seu lugar e temos que nos mover a partir daí. Vocês poderiam me dizer “não, o
que necessitamos é a união da esquerda. Temos que nos mover a partir de um
centro, e pensar na totalidade, a partir de um programa nacional, global”, o
que seja. Isso me parece que em primeiro lugar não é realista. Em segundo
lugar, abre as portas para a burocratização do movimento, e em terceiro
implica uma repressão a muitos movimentos reais que existem por todos os lados.
Acredito que seja justamente o contrário: ao invés de pensarmos a partir da
totalidade, temos que começar do nosso particular e nos confluirmos. Não
juntando-nos de uma forma que uma linha política unitária seja imposta”.
É esse
o desafio proposto pelo livro: uma convocação para sair de toda esfera do
poder, para pensar e fazer juntos, sem verdades e ideias prefixadas, em busca
da esperança e do impossível. Então, não estamos numa ótima hora para fissurar
o capitalismo? lutemos a partir do particular, lutemos onde estamos, aqui e
agora, assim podemos criar micro poderes que se ampliarão.
E,
para Holloway, as fissuras seriam exatamente “a insubordinação do aqui e
agora”, uma mudança de temporalidade da rebelião, afirmações da subjetividade
negada. São a “abertura de categorias que em sua superfície negam o poder do
fazer humano, para descobrir em seu núcleo o fazer negado e encarcerado”.
Façamos
aberturas na nossa própria repetição do capitalismo. Criemos fissuras e
deixemos que se expandam, deixemos que se multipliquem, deixemos que ressoem,
que fluam juntas. Ao final, fica o que gerou a obra: perguntas. Mas o
perguntar como sabedoria, abertura para o novo.
Prá mim, o sentido do belo, a arte, a música, desenvolvidos a aplicados à vida e às relações possibilitarão rupturas dos padrões, fissuras, aberturas de brechas, que poderão nos conduzir à construção de novas formas de poder. O belo, a música, a dança, a alegria, são revolucionários!!!
Prá mim, o sentido do belo, a arte, a música, desenvolvidos a aplicados à vida e às relações possibilitarão rupturas dos padrões, fissuras, aberturas de brechas, que poderão nos conduzir à construção de novas formas de poder. O belo, a música, a dança, a alegria, são revolucionários!!!
Para
falar sobre Holloway colhi alguns trechos de artigo de Júlio Delmanto, jornalista
e mestre em História
Social pela USP. E me lembrei também de um ótimo livro de um
brasileiro, Ladislau Dowbor, “Democracia Econômica”. Ele tem um site onde
disponibiliza para download todos os seus livros e outros autores, assim como
artigos sobre este tema, são ótimos para uma reflexão/discussão/ação no mundo
em que vivemos. Entrem no google e digitem Ladislau Dowbor que vão encontrar...
E então,
me digam agora: O SBC faz fissuras? É uma fissura? Ou as duas coisas? Acabo de
pensar de são as duas coisas: faz fissuras pois busca construir relações mais
bonitas, mais livres, entre as pessoas, em todos os níveis: nas relações
afetivo/sexuais, nas relações de amizade, no trabalho, enquanto cidadãos. E é uma fissura, um tesão, pois essas relações,
elas próprias, somente podem ser construídas com fissura, com tesão, com
alegria. Como diz nossa outra SBCense famosa: “Se não há dança/música/alegria não é a revolução que queremos!!!”.
Abraços de oxitocina a todxs...
Santuza TU
Já li do livro!!! Concordo com você, não construímos outro mundo, entramos nesse mesmo e o modificamos obrigada pelo texto. abraços Luisa
ResponderExcluirobrigada Luisa!!! beijos TU
Excluir