Uma semana antes fomos no SINPRO Minas - Sindicato das Professoras e Professores, ver o filme ZÉ, com a presença do diretor Rafael Conde, da querida Jô Moraes, encontro coordenado pela também querida Eliane de Andrade, psicanalista/SPRJ. Depois do filme tomamos vinho e conversamos:
Lançado em agosto de 2024, direção de Rafael Conde, roteiro dele e de Anna Flávia Dias Sales.
Inspirado no livro homônimo de Samarone Lima, o filme apresenta a trajetória de Zé (Caio Horowicz), jovem que foi líder do Movimento Estudantil Brasileiro e participou de um grupo de resistência contra a ditadura militar no Brasil.
Zé foi um dos principais líderes do movimento estudantil contra a ditadura civil-militar no Brasil e dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista. Como muitos jovens da época, ele era movido por sonhos e viveu na clandestinidade para escapar da repressão, enquanto lutava por um Brasil mais justo.
Perseguido, ele escolhe a clandestinidade: deixa sua vida de classe média alta para viver com o povo, realizando o trabalho de alfabetização e conscientização política dos mais pobres. Durante esse período, Zé conhece sua parceira Bete, com quem tem 2 filhos. Ainda como clandestino, ele recebe Gilberto, irmão de Bete, como um novo militante. Gilberto é, no entanto, um informante do regime repressivo. Zé morre sob tortura aos 27 anos, falsamente acusado pelos militares de ter traído todos os seus companheiros, desaparecidos até hoje.
Filmes sobre a ditadura militar no Brasil não são novidade. No entanto, ao ser questionado sobre o desafio de abordar esse período, o diretor e roteirista Rafael destaca a “grande responsabilidade” que a tarefa impõe. “É sempre importante revisitar esse tema. A ditadura é algo cíclico que, de tempos em tempos, volta à pauta. Precisamos continuar falando sobre isso, pois acreditávamos que esse período havia ficado para trás, mas a democracia e a liberdade estão sempre sob ameaça”, afirmou.
Embora trate de um dos momentos mais críticos da história do Brasil, o diretor oferece um olhar humano em seu filme, explorando a vida íntima das pessoas afetadas pelo regime. Além de retratar a violência física, a censura e as torturas, Conde buscou expor a violência psicológica sofrida pelas vítimas. “O silêncio, o medo, e a incapacidade de revelar o próprio nome aos filhos são temas centrais. A linguagem do filme cria uma tensão crescente”, explicou. Ele também destacou a atuação dos artistas, que “estão sempre olhando para fora do quadro, como se estivessem sendo observados”.
Nos emocionou o depoimento da Jô, que contou parte da sua vida na clandestinidade, além de nos mostrar as inúmeras carteiras de trabalho, cada uma com um nome. E várias pessoas amigas deram depoimentos, trazendo o filme para a atualidade, algumas numa atitude desesperançosa. Mas terminamos apontando a esperança, ou melhor, o ESPERANÇAR de Paulo Freire, como atitude imprescindível às pessoas que estão, ativamente, na construção de um mundo mais justo, mais distributivo e mais bonito - um mundo sem fome e sem guerras...
Tão bom e tão importante quando o "Ainda estou aqui", fazendo sucesso agora nos cinemas... Fomos assistir na semana seguinte.
"É possível resumir o filme como a história da mãe do escritor, Eunice Paiva (Torres), uma dona de casa de uma família influente que é obrigada a se reinventar após o assassinato de seu marido pela ditadura militar nos anos 1970".
Sinopses são reducionistas, mas essa parece ainda mais do que o normal. "Ainda estou aqui", dividido pelo desaparecimento do engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva (Selton Mello), vai muito além.
A primeira metade é o retrato ensolarado de um casal apaixonado e seus cinco filhos, com uma bela casa na beira da praia no Rio de Janeiro.
Na segunda, cortinas se fecham e o lar se esvazia com a ausência de Rubens – e a interpretação imensa de Torres preenche esse espaço com o propósito furioso, porém contido de uma mãe que se recusava a chorar na frente dos filhos.
Walter Salles, grande diretor - Central do Brasil, Cidade Baixa, O céu de Suely - não precisa mostrar os horrores aos quais o engenheiro foi submetido até sua morte. O desespero da família com a falta de respostas e a absoluta falta de decência e respeito do regime estampadas na tela são mais do que suficientes para mostrar os perigos do fascismo.
A história de Eunice – que se torna uma das ativistas de Direitos Humanos mais importantes do país após voltar à faculdade com mais de 40 anos, ao mesmo tempo em que luta para que militares reconheçam o que fizeram com seu marido – é impactante para nós, mulheres do século passado (e deste século também). Mas penso que todo mundo vai encontrar algo com que se identificar e se relacionar em "Ainda estou aqui". A Iza, nossa querida SBCense, reclamou que o filme foi grande demais... no outro dia relata ter reconhecido que essa percepção sobre o mesmo era proporcional à sua angústia. Relata ainda que ficou com pé e joelho doendo quando viu a imagem do Médici, pior época da ditadura, segundo ela.
Na medida que o filme avança, não seguramos as lágrimas diante da felicidade absurda da protagonista que se recusa a não sorrir, a deixar que roubem sua dignidade. E, mais pro final, primeira vez que presenciamos uma pessoa ficar "feliz" diante do atestado de óbito do marido. Isso aconteceu somente em 2012, quando a Comissão Nacional da Verdade, instituída pela ex-presidente Dilma Roussef, apresentou documentos e depoimentos que atestaram a entrada de Rubens Paiva no DOI-CODI, em 20 de janeiro de 1971, provando que o político foi torturado e morreu. Imaginem a dor do desaparecimento, sem saber de nada sobre a pessoa durante anos e anos. E imaginem que esse acontecimento não a "matou", pelo contrário, deu força a ela, força para a vida e a luta por um mundo melhor.
E foi aí que lembramos do nosso terceiro filme imperdível:
Vejam na techtudo alguns outros filmes imperdíveis... além de inúmeros outros... estão nas redes... nós é que precisamos selecionar - joeirar, separar o joio do trigo, dentro das redes, ou seja, as "merdas" - Brasil Paralelo, por exemplo, das coisas que nos trazem "visão de mundo".
E, além do cinema memória, lembrar sempre para nunca repetir, outras manifestações da arte também se prestam a esse papel: a música! Terminamos cantando Geraldo Vandré:
Uma das músicas brasileiras mais bonitas e significativas...