O livro começa por narrar o velório. Depois, retorna no tempo para mostrar como Ivan Ilitch, um juiz respeitado, conhece a sua esposa, com quem se casa por dinheiro e pela sua beleza. Após lhe ser apresentada a proposta de se tornar juiz em outra cidade, Ivan Ilitch compra um apartamento para si, sua mulher e o casal de filhos que têm. Ivan muda-se primeiro e inicia as obras para decorar o apartamento da maneira que lhe agradava, mas cai e se fere na região do rim. Nesse ponto, Ivan Ilitch acredita ter contraído uma doença - que no entanto em momento algum é diagnosticada -, a qual gira sempre em torno de um rim ou intestino doente. Surge, então, a grande alavanca da narrativa: a continuidade da vida ou a morte.
À medida que o tempo passa, o ferimento agrava-se, até que a personagem atinge o ponto de não poder mais sair de casa: quando tenta ir trabalhar, não é mais capaz de desempenhar as suas funções adequadamente. Restrito ao ambiente familiar, passa a acreditar que em sua casa vive uma mentira, e que a sua família o esconde dos amigos. O seu único prazer é a companhia do filho, de apenas 14 anos, e de um criado seu, por entender que ambos jamais o enganariam.
Ivan Ilitch quer morrer, porque será o término da sua dor e da vida de mentiras em que acredita viver, mas o seu instinto de sobrevivência insiste em fazê-lo lutar pela vida, e ele interroga-se: "que tipo de vida quer ter?" O personagem inicia, então, um longo processo de busca pelo sentido da vida, durante o qual percebe terem sido poucos os momentos da sua existência que possuíam significado. Decisões, buscas, gestos, palavras, todas as respostas e necessidades foram-lhes impostas pelo meio social em que nasceu. Quando está prestes a morrer, despede-se da família.
Um trecho significativo, que provocou nossa reflexão:
"Talvez eu não tenha vivido como deveria", ocorreu-lhe de repente. "Mas como, se eu sempre fiz o que era esperado de mim?"
Daí começou nossa conversa sobre O SENTIDO DA VIDA. Como sempre, trouxemos para a roda nossas reflexões, junto com lembranças de filósofos, escritores, poetas e músicos e cineastas que nos acompanham nas nossas conversas, a arte nos provocando e nos fazendo refletir:
Contardo Luigi Calligaris (1948-2021) foi um renomado escritor, psicanalista e dramaturgo italiano radicado no Brasil. Ele nos brinda com seu livro "O Sentido da Vida". Entregue pelo autor poucos dias antes de sua morte, reúne três textos breves, e muito potentes, sobre a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida. Ele brincava, nas suas entrevistas, sobre o contraste entre uma "vida feliz" (padrões de sucesso...) e uma "vida interessante" (sair dos padrões...). Com uma linguagem única, Calligaris transita entre memórias de infância, experiências clínicas e observações sobre arte, história e a Bíblia para abordar temas tão particulares quanto universais. A obra póstuma e inédita de um dos maiores pensadores do país conta ainda com o prefácio do único filho do autor, o cineasta Max Calligaris. O sentido da vida é um livro para aqueles que se atentam, se arriscam e se aventuram verdadeiramente pela vida.
"A questão do sentido da vida é simples: o sentido da vida é a própria vida concreta. A que vivemos e da qual faz parte também morrer".
Para ele, a arte era uma forma de criar novos valores e de encontrar um sentido pessoal na vida. Ele acreditava que a arte era capaz de transformar a vida e de nos ajudar a encontrar um propósito mais elevado.
Em resumo, as ideias de Nietzsche sobre a busca pelo sentido da vida são profundas e provocativas. Ele nos convida a questionar os valores tradicionais e a buscar um propósito pessoal que seja autêntico e criativo. Através da vontade de poder, do perspectivismo - "tudo depende do ponto de vista" - e da arte, podemos transcender os limites da existência humana e encontrar um sentido mais elevado na vida.
O quadro a seguir nos faz um resumo do senso comum sobre Nietzsche (os mitos, ou seja, as "verdades fake" sobre o mesmo) e outra forma mais verdadeira de vê-lo que amplia a nossa compreensão - e humanização - do mesmo:
Mito | Verdade |
---|---|
Nietzsche acreditava que a vida não tinha sentido. | Nietzsche não acreditava que a vida não tinha sentido, mas sim que o sentido da vida não era algo dado, mas sim algo que cada indivíduo deveria criar para si mesmo. |
Nietzsche era um niilista. | Nietzsche não era um niilista, pois ele acreditava que a vida tinha valor, mas que esse valor deveria ser criado pelo indivíduo, por cada um de nós. |
Nietzsche acreditava que a felicidade era o objetivo final da vida. | Nietzsche não acreditava que a felicidade era o objetivo final da vida, mas sim que o objetivo final era a realização do potencial humano e a superação de si mesmo. |
Nietzsche era um pessimista. | Nietzsche não era um pessimista, mas sim um crítico da cultura e da moralidade de sua época, que ele via como limitadoras da liberdade e da criatividade humana. Duas grande mulheres brasileiras, com obras maravilhosas sobre nosso SBCense, vale a pena ver seus vídeos e/ou lê-las. São elas: |
Viviane Mosé é uma poetisa, filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005.
A professora Scarlett Marton, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e mestra em Filosofia pela Université Paris, entre outros livros sobre nosso SBCense, lançou no Brasil no ano passado Nietzsche e as mulheres: Figuras, imagens e tipos femininos, onde analisa as reflexões do escritor alemão sobre o gênero feminino e as relaciona com temas centrais do seu pensamento, como o experimentalismo, a crítica da metafísica e a luta contra o dogmatismo. "As reflexões do filósofo Friedrich Nietzsche sobre as mulheres não têm um lugar marginal em sua obra; elas não se reduzem a preferências pessoais e, menos ainda, a desvios eventuais".
Nietzsche, para nós SBCenses, dialoga com outro SBCense famoso, brasileiro, o Rosa:
Assim como também com o grande poeta, dramaturgo, ator e maior escritor inglês William Shakespeare (1564 -1616)
E o livro "O amor como Revolução", lançado em 2019:
"O amor não é destino, sorte e não pode ser uma idealização, ele é acima de tudo um caminho que se percorre, uma decisão e uma forma de se viver."
Enfim, acreditamos que criando espaços de acolhimento e escuta dos afetos, em todos os níveis de relação podemos ir recuperando - ou construindo - o que se podemos chamar de AFETOS SOCIAIS,: que vem a ser a alegria de estarmos junt@s, de compartilhar... e que podem superar o individualismo, a competitividade, a ânsia por desempenho, o medo do vazio e a falta de sentido para a vida.
E, para terminar, lembramos de outro grande SBCense: Oscar...
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