Seu último filme "Mães paralelas" é sobre o tempo, sobre amor, sobre história... e sobre política, segundo SBCense presente na conversa: "Nosso grande diretor conta, neste filme, a história de Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), que se encontram pela primeira vez no hospital, quando seus filhos estão 'quase' nascendo. Ambas são mães solteiras, e nenhuma das duas planejou a gravidez. Mas Janis conta com uma carreira sólida que lhe dá alguma segurança financeira, enquanto a jovem Ana não tem nem mesmo o apoio dos pais. Paralelamente, Janis luta contra a burocracia governamental para tentar realizar uma escavação em seu povoado de origem, que poderia recuperar os restos mortais de seu bisavô, morto pelo franquismo. Desse enredo é que nascem as 'entrelinhas' mais fascinantes de Madres Paralelas. Almodóvar analisa o passado ditatorial sangrento da Espanha e o conecta diretamente com o drama íntimo que se desenvolve entre Janis e Ana - não é a toa, por exemplo, que um dos momentos mais importantes da relação entre as duas aconteça diante de uma parede decorada com as fotos de todas as descendentes de Janis, mulheres que escolheram ou foram obrigadas a criar outras mulheres sozinhas".
Claro que imediatamente associamos essa sinopse com nosso melhor slogan do SBC: AMOR E POLÍTICA FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO! pois, como disse nossa SBCense famosa:
"Tanto fazemos revoluções (de conceitos e de ação) na cama, nas relações afetivo-sexuais, passando pelas relações pessoais, família, escola, trabalho, e a mais ampla, enquanto cidadãs e cidadãos... quanto reproduzimos padrões aprendidos (de pensar, sentir e agir) em todos os níveis de relações. Ou seja, na cama e no mundo somos reprodutores e|ou transformadores ... e, enquanto transformadores e transformadoras - para um mundo mais justo e com relações mais bonitas, estamos SEMPRE fazendo AMOR e POLÍTICA".
Voltando ao nosso filme, vale muito a pena relembrar essa guerra:
A Guerra Civil Espanhola começou em 1936 e logo se tornou um acontecimento mundial. Toda a Europa parecia um barril de pólvora prestes a explodir. E na Espanha, comunismo e fascismo se enfrentaram. Não é errado dizer que, além de ter sofrido uma sangrenta guerra civil, a Espanha foi palco do último ensaio antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Contudo, ainda que tenha ganhado o mundo, uma guerra civil é uma batalha entre conterrâneos, entre grupos do mesmo país. E, no caso da Guerra Civil Espanhola, todo tipo de questão veio à tona de modo muito intenso: religião, conflito de classes, interesses corporativos, luta pela reforma agrária, ideias de supremacia cultural e de identidade nacional, utopias. Tudo isso somado às manobras dos interesses individuais mais mesquinhos.
As duas principais linhas de combate da guerra civil: a Frente Popular, que concentrou as forças da esquerda, e o Movimento Nacional, que concentrou, por sua vez, grande parte das forças da direita, lideradas pelo general Francisco Franco. Os nacionalistas partidários de Franco tiveram apoio dos fascistas e nazistas, enquanto os republicanos da Frente Popular receberam apoio do comunismo internacional.
O período que se seguiu ao fim da guerra civil na Espanha ficou conhecido como FRANQUISMO -polo vencedor – e Francisco Franco assumiu o comando do país. Daí se seguiu a Segunda Guerra Mundial.
Almodóvar é um cineasta do feminino. Além de tudo, o filme nos faz pensar sobre a ausência paterna, a história é sobre duas "mães solo". Em Almodóvar as mulheres são fortes, elas sobrevivem, amam, sofrem, fazem idiotices, mentem e, sobretudo, seguram todas as barras, "aquelas de que os homens fogem". Em "Mães..." Almodóvar mostra que "as verdadeiras heroínas da guerra são as viúvas". Como ele transita do nível íntimo, subjetivo, até o público, a cidadania, a história, nos incitando a refletir sobre nossos papéis em TODOS OS NÍVEIS DE RELAÇÃO.!!!
"Mas por que esse retorno à guerra? Esse fantasma que
assombrou por tantos anos a Espanha não foi sepultado quando o rei Juan Carlos
subiu ao trono, após a morte de Franco? Ao menos essa era a intenção", pondera o psiquiatra Filipe Batista. Porém, menos de 100 anos depois, o fantasma do fascismo nos ronda, comentamos...
E Almodóvar nos incita a pensar sobre isso, a encarar esse fantasma. Por isso este é o seu filme mais político, nos mostra a política tanto no sentido amplo quanto no sentido estrito: a política por trás da maternidade e, ao mesmo tempo, o político de viver. "Mostra, também nas entrelinhas, um mundo de homens pusilânimes, bêbados, estupradores, traiçoeiros – homens que ensejaram o horror franquista/fascista, em suas mentiras e perversões." - e que estão ensejando, agora, essas guerras que vivemos.
Mas nem todas as mulheres se salvam, apontou nosso SBCense. Tem as que reproduzem o modelo patriarcal, machista, autoritário e, num sentido mais amplo, individualista e imperialista: a mãe de Ana, Tereza, interpretada pela atriz espanhola Aitana Sánchez-Gijón, vem da burguesia, sabe bem dar as costas ao passado (o marido) e ao presente (a filha) em favor de sua realização individual. Contenta-se com a salvação pessoal e se diz apolítica.
Não é a toa que, ontem, em reunião do SBC com a PASTORAL NACIONAL DO POVO DA RUA sobre nosso projeto CARNAVAL "TÁ CAINDO FLOR", o Felipe, filósofo, que pertence a esta instituição (e nosso mais novo SBCense), elaborou a 'teoria' que explica em parte - ou aponta como um dos motivos - o fato de que 80% das pessoas em situação de rua são do sexo masculino: é que, segundo ele, as mulheres são mais capazes de construir redes de apoio entre elas. Ou seja, o machismo, o individualismo, a falta de solidariedade, são conceitos 'construídos' nesse nosso mundo. E que determinam o nosso pensar, sentir e agir... e reproduzir um mundo triste...
Mas, outro mundo é possível, e talvez ele começa no "feminino presente em todxs nós".
E, junto com Almodóvar, o SBC cantamos:
AMOR E POLÍTICA FAZEMOS NA CAMA E NO MUNDO!!!
Nosso desafio é redefinir e resignificar esses dois conceitos!
E praticarmos os novos conceitos, construídos, de AMOR e POLITICA, em TODOS os níveis de relação, na CAMA e no MUNDO...
BORA!!!
Adoro Almodovar. E também do amor w da política.
ResponderExcluirAdoramos Alexandre! grande abraço
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