Esta é Iza... Izabela Miranda. Mestra em Educação, feminista, educadora social, advogada e dançarina,
Co-fundadora da @indomitascoletivafeminista - Coletiva Feminista Indômitas
izabelafmbh no Instagram.
Revolucionária e transgressora. Como a Pagu, que a inspirou. E exigente consigo mesma. me lembra meu mestre de capoeira, Agostinho: ele faz a gente repetir o exercício inúmeras vezes... e quando perguntamos "igual, Mestre?", ele responde "Não, melhor!"
No seu processo de humanização, Iza e eu estamos aprendendo juntas o orgulho pessoal pelo que já conquistamos ...e a humildade necessária de nos ver repetindo modelos que não queremos mais, que lutamos contra e, no entanto, vira e mexe repetimos, nos submetemos. Pois processo de humanização está longe da fala "agora superamos esses modelos" e próximo do riso que nos faz enxergar a repetição... e caminhar na direção que queremos construir, individualmente e coletivamente.
Desafiada a pesquisar e falar sobre PAGU, ela nos mandou o primeiro vídeo acima. E eu já escrevendo sobre ela neste post e aguardando o texto, quando ela me manda um vídeo "melhor"... junto com o texto sobre essa figura inspiradora de mulher que também participou da Semana de Arte Moderna, invisibilizada. A seguir o segundo vídeo, vale a pena ver os dois.
E o texto:
“(...)
Pagu, Patrícia Galvão, uma apelido que eu
vim a saber que ela não gostava pois decorrente de uma confusão relacionada ao
seu sobrenome. Nasceu em 1910, dentro de uma família de classe alta do interior
de São Paulo.
“Fama de porra louca”, o que quer dizer apenas
que ela foi uma mulher que tentou ser livre, o quão livre possível para o
contexto em que vivia.
Jornalista, escritora, poetisa, aos 15
anos já era colunista.
Uma mulher muito à frente do seu tempo.
Muito nova, desde os 12 anos já andava entre intelectuais da Semana da Arte
Moderna e dentro da cena cultural do país. A ela foi dado até o título de Musa
da Semana da arte moderna, um título a se questionar... O que é uma musa???
Sexismo a vista
Pagu foi Uma mulher notada e descrita por
várias pessoas, mas muitas vezes sua auto descrição foi deixada de lado. Suas
cartas, seus dizeres, são de outra natureza. Suas palavras trazem angustia, ela
se lança no seu corpo angustiado, existindo no mundo. Existia em Pagu a
tentativa de se fazer viva.
Ela engravidou aos 14 anos de um homem
casado (casado era ele né?) e é deixada sem que ele saiba da gravidez. Seu pai,
por sua vez, a espanca e a joga contra as paredes. Ela fica 1 ano acamada, sem
poder mexer os braços e as pernas e sem poder escrever.
Pagu se envolve com um outro aí, famoso
intelectual, e engravida dele aos 18 anos. Grávida ela se joga no rio Tietê e
perde esse emaranhado de células que alguns dirão que era uma criança.
Dizia
Pagu, “Eu não tive infância.... Eu sempre fui, sim uma mulher-criança. Mas
mulher.”
“Não tive
precocidade sexual. Praticamente, só fui sexualmente desperta depois do
nascimento de Rudah. E não por precocidade mental que entreguei meu corpo aos
doze anos incompletos.... Nesse dia eu devia encontrar meu parente Ismael
Guilherme ,para uma volta de avião. Deixei a aula, indo procurar na Gazeta,
Olympio Guilherme, que me ia levar ao campo. Quando chegamos, assistimos ao
desastre. A poucos metros da morte, fui possuída. Não houve a menor violência
de Olympio, nessa posse provocada por mim.”
Veja aí uma mulher que aprendeu perfeitamente que seu corpo e sexualidade poderia ser
utilizados para conseguir as coisas. Ser livre, o quão livre quanto possível.
Afinal, cada uma joga com as cartas que tem e, convenhamos, em uma sociedade
patriarcal, fundada na cultura da pedofilia, nada mais genial que uma
adolescente “pra frente”.
Ela não
era uma criança, mas era uma criança também. Uma mulher acima de tudo e que
queria existir... Quem há de julgar?
Aos 18 anos ela engravida novamente e
nasce Rudah, que ela amava muito, mas não do jeito que o patriarcado manda
amar. Ela amava do jeito dela, reconhecendo as limitações dela...
É difícil compreender Pagu, é difícil
desvendar Pagu. Ela se comportava “mal”,
fumava na rua, falava palavrões e usava roupas pouco convencionais, acabava com
casamentos (quem acaba com casamento é quem casa né?).
Pagu inicialmente não tinha domínio teórico sobre comunismo, confessou que achava esse povo até muito chato. Mas ela
sentia que tinha que estar ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras. Pagu sente, Pagu vive.
Mais tarde acaba militando no Partido
Comunista e se torna a primeira mulher presa política no Brasil. Foi presa mais
de 20 vezes, torturada.... O que nos choca é que ela quase não falava sobre
isso.
Pagu teve câncer de pulmão e morreu em
1960, aos 52 anos. Ela não conseguia viver acamada, ou aceitar esse destino.
Imersa em uma profunda depressão, tentou tirar a própria vida com um tiro. Sobre o episódio, escreveu no panfleto "Verdade e
Liberdade": "Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças
estraçalhadas".
Quem lutou tanto para ser livre, avança o
suficiente para decidir sobre as prisões que quer estar. Uma vida acamada, não
era uma vida para Pagu e eu sou da opinião que é preciso muita coragem para
tramar a própria morte. Quem gosta da agonia, que viva. Liberdade é se lançar
no desconhecido é conseguir desapegar do próprio corpo, esse aqui, físico, que
a gente conhece. E Pagu, assim como muitas de nós, teve um corpo marcado pelas
violências do mundo dos homens.
Pagu me inspira. Pagu me humaniza. Pagu
me traz a constatação de que eu posso fazer minhas escolhas e que não existe o
certo. Existe o que me liberta.
Obrigada Pagu, por sua vivência que me
faz hoje mais viva.
E nós do SBC agradecemos imensamente a você, querida Iza.
Abraços carinhosos
Todos nos temos escolhas,isto e individual,sofrimento precoce mas mulher de coragem e intelectual, mulher de enfrentamento, e que se colocou do lado dos fracos: nosso respeito.
ResponderExcluirNosso respeito e admiração...
ResponderExcluirObrigada Fábio
SantuzaTU
O que dizer de mulheres que entenderam sua importância no mundo, em qualquer época, e viveu/ vive essa realidade? Os misóginos sempre abusarao deles/ nós, pois só o conseguem dessa forma. E Iza revira o mundo vivido pela Pagu e com um lirismo todo particular, se permeia a ela, posto ser também tão feminista quanto Pagu. Maravilhoso e reflexivo texto.
ResponderExcluirEssa Semana está maravibela.
Sim Dora! Obrigada pelo comentário
ExcluirValeu, Iza! Obrigado por trazer essa Pagu humana, que muitas pessoas desconhecem.
ResponderExcluirAmeiii a descrição da Pagu pela Isa, viajei...parabéns 👏👏👏
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