Sobre nossa postagem anterior:
Muitos retornos interessantes, muitos diálogos superadores. Nossa querida SBCense Frida Kahlo esteve presente: "Não quero que pense igual a mim... Quero que pense!!!".
Assim, vamos construindo visões de nós mesmxs, das relações entre todos os gêneros, construindo uma visão de mundo menos maniqueísta (certo-errado; homem-mulher; deus-capeta; céu-inferno... e tudo mais)... e mais plural, o que, certamente, nos humaniza, pois vamos desconstruindo o terrível conceito enraizado: "quem não concorda comigo (leia-se "se submete a mim") é meu inimigo"... e, ao mesmo tempo, vamos construindo (no afeto e na prática) o conceito de adversário. Outro grande SBCense: Guimarães Rosa: "Eu sou quando divirjo".
E um retorno que suscitou novas reflexões e novas conversas: "TU, esse negócio de botar o "X" ou o "e" (por exemplo "todes") para definir uma linguagem neutra é muito chato de ler, desnecessário. Grupos, tribos urbanas, têm sua maneira de vestir, de comportar e de falar. São opções pessoais. Misturar questões pessoais com correção ortográfica não é o melhor caminho para a utilização plena da língua."
Daí, agradecendo as considerações do amigo, começamos nossa pesquisa e conversas sobre o tema:
Seria a língua portuguesa machista?
. Um estudo de Adriano da Gama Kury: "O Machismo na Linguagem: a Concordância Nominal" diz: "... E lá vem a prepotência do masculino: nas enumerações de substantivos de gêneros diversos, mesmo que haja um só do masculino, é nesse gênero que fica, por norma, o adjetivo: "Havia papéis, gravuras, revistas e canetas espalhados sobre a mesa". A concordância com a palavra "caneta" (a caneta: feminina) seria em caso excepcional, fora da regra.
Portanto, gêneros gramaticais são dois: masculino e feminino. Quando sabemos que não existe somente HOMEM e MULHER, Onde estão os outros gêneros? Não deveriam ser contemplados na linguagem?
Embora estar uma frase no masculino não signifique, necessariamente, machismo, buscarmos o feminino e outros gêneros na linguagem demonstra a luta pelo fim do preconceito, contra os estereótipos e pela igualdade.
. E uma professora de inglês, Lee Weingast, nos diz: "Não digo que seja preciso abolir o gênero de substantivos e adjetivos em português, alterando os fundamentos da língua. Mas é interessante ter consciência do lugar do gênero nas nossas falas e textos. Palavras têm poder, e podem até limitar os estimular sonhos". E ela cita termos, na língua inglesa, já usados para um plural de gêneros, sem especificar qual deles: um grupo de irmãos e irmãs chama-se "siblings". "Parents" é plural de mães e pais. "Cousins" são primos e|ou primas. Há algum tempo já se vê o esforço para combater o machismo na língua inglesa: "policeman" e "fireman" são, agora "police officer" e "firefighter". Assim, meninas já podem sonhar em ser A policial e A bombeira, quando crescerem. Assim como A Presidenta, termo antes bastante criticado, agora a própria Academia já aceita. Então, podemos ver nas redes sociais o movimento para tornar o português escrito menos machista e mais aberto ao leque de gêneros.
Assim, "O SBC é um grupo de amiges querides, que se reúnem para crescermos todxs uns(umas) com os outrxs" (e, quando você escrever outrxs e o seu corretor sublinhar em vermelho para ser corrigido, você, em vez de corrigir, clica em "adicionar ao dicionário"). Tenho a honra de ser co-fundadora desse coletivo (ou melhor, COLETIVI). Também pertenço à COLETIVA INDÔMITAS, mulheres que não se deixam subjugar, que combatem toda forma de opressão dessa sociedade desigual que nós vivemos. E pertenço, também à PARTIDA MG, uma coletiva, um movimento de mulheres pela democracia feminista e antirracista.
. Há os que criticam, dizendo ser desnecessário tal combate ao sexismo na nossa língua. Um argumento interessante é o da origem do português. No latim havia o masculino, o feminino e o neutro. E, na transposição do latim para o português, o masculino passou a "representar" o neutro. Acredito que essa argumentação já contém o seu contraditório. Perguntas: como se deu essa transposição, eliminando-se o neutro? qual seria o sentido do masculino passar a representar o feminino e outros gêneros? Podemos entender aí uma construção ideológica do sistema que conhecemos hoje?
E mais: na história podemos observar uma evolução da língua: Vossa mercê... vossemecê... vosmecê... você... e, agora, já na escrita, vc. Porque não evoluir para o pronome neutro, resgatando o latim? O que se defende atualmente, o sistema ILE = ele e ela (e outrxs).
. Ampliar nossa visão de mundo, contribuir para a inclusão do sistema ILE... Porque, às vezes, evoluir é resgatar valores perdidos exatamente com o "progresso", a história não é linear. E sobre o "lugar de fala": há, também, xs que acham que essa defesa, em vez de aproximar, distancia as pessoas, em outras palavras as "lutas identitárias" ou "politicas identitárias" podem aumentar a distancia entre as pessoas e as classes. Talvez sim... Talvez não...Penso que podemos pensar, para além do "lugar de fala", no "lugar de escuta", acredito ser o que mais está faltando no nosso mundo: ouvir o que pessoas "diferentes" de nós estão dizendo... pois acredito que o que essas "minorias" (que são maiorias subalternizadas) estão, APENAS, reivindicando RESPEITO às diferenças, inclusão, e, por fim, não querem mais ser representadas pelo masculino, esse pronome que, se dizendo neutro, cumpre o cruel papel de encobrir as diferenças e subalternizar, muitas vezes, ELIMINAR o diferente.
Então: mais uma vez, repetindo o ÓBVIO (que se tenta esconder na nossa sociedade): GÊNERO, RAÇA e CLASSE estão intimamente interligados no nosso sistema patriarcal, opressor, imperialista, cruel enfim... Angela Davis nos mostra a necessidade da não hierarquização das opressões, ou seja, o quanto é preciso considerar a intersecção de raça, classe e gênero para possibilitar um novo modelo de sociedade. E nossa grande SBCense brasileira, Djamila Ribeiro, diz que a Angela Davis traz um potencial revolucionário, e ler sua obra é tarefa essencial para quem pensa um novo modelo de sociedade. E o SBC diz: leiam mais, reflitam mais, conversem mais, não se fechem em "verdades", façam mais perguntas, o perguntar pode ser o início da revolução no jeito de pensar.
E, não por acaso, desembocamos na apreciação da nossa linguagem como, também, extremamente racista... e somos, todxs nós, reprodutores dessa linguagem, no automático e irrefletido, ou seja, na "cultura internalizada". E, sabendo disso, podemos ir modificando nossa linguagem para formas mais inclusivas, mais igualitárias e mais bonitas.
E uma última palavra, quase desconhecida: vocês sabem o que é SORORIDADE? a origem da palavra é SOROR, que significa irmã (irmandade entre as mulheres) ... Já a palavra FRATERNIDADE é bastante conhecida não é? pois é: vem de FRATER, que significa irmão (irmandade entre os homens). Pois é: queremos praticar a sororidade (agora adicionada ao dicionário), simples assim...
Adorei a reflexão 👏👏👏
ResponderExcluirObrigAda Rosa. Grande abraço
ExcluirÀ luta!!
ResponderExcluirà luta Ângelo!!! abraços
ExcluirSantuzaTU