segunda-feira, 2 de junho de 2025

Sobre identidade


Quase um mês sem escrever nossas crônicas semanais... estava com saudades... e, adivinhem o que estava fazendo nesses quase um mês? terminando nosso segundo livro! lançamento no final de junho, exatamente no dia 27, sexta feira, a partir das 19 horas, no TABOCA, rua Goiás 14, esquina com Bahia, nossa já tradicional casa de lançamentos de amigos e amigas do VALE, já tivemos no Taboca a Deyse, a Herena... na sexta passada, 30 de maio,  nosso querido Tadeu Martins, evento potente de lançamento do seu livro JEQUITINHONHA, 46 ANOS DE TRAVESSIA, história da cultura do Vale em 888 páginas, do Vale da Miséria a Vale da Cultura. Grande Tadeu, homenageado no nosso novo livro!

Nosso livro tem o título PRA TUDO TEM UM SAMBA, uma seleção de crônicas do blog, de 2017 a 2024. Separadas por temas, assuntos caros ao SBC, o carnaval, o amor, as amizades, prosa e samba, entre outros... uma luta pra selecionar essas crônicas, ajuda de várias pessoas SBCenses queridas... enfim, uma luta e um prazer... 

E as sugestões, a maioria aceitas, de diminuir, reorganizar, um trabalhão, prazeroso, com certeza, com cerveja...  Pois a Sônia sugeriu cortar uma grande parte da Introdução, que fiz em Salinas, quando fiquei por lá durante 10 dias, na passagem de ano 24 pra 25, me energizando, resgatando minhas origens, minha força da terra... sim, andava em Salinas durante toda a manhã, sentindo a energia da terra, do chão, uma coisa meio mística que nós do signo de peixes adoramos, mesmo sendo materialistas históricas, fazer o que... E a Sônia sugeriu fazer uma crônicas com os cortes... adorei... pois como deixaria de compartilhar a experiência de resgate, de construção de identidade, de vir a ser quem eu queria ser... ainda mais com a indicação de filmes, séries... cultura, reflexões que fazem parte do SBC em todos esses anos.

 Então, a seguir:

... Nessa ‘wibe’ eu caminhava durante toda a manhã, não sem antes tomar café com todos os biscoitos de Salinas (além da terra da cachaça, é também a terra dos biscoitos), pensando sobre a minha história – e sobre a história do SBC – e sobre a história do mundo. A tarde eu escrevia, escrevia, escrevia... e a noite saia com amigas e amigos salinenses, tomar uma cerva e comer arroz com pequi. E recuperando algumas palavras que tinha esquecido aqui em Belo Horizonte, pelo desuso, pois quase ninguém sabe o significado. Por exemplo, voltei com um tersol, o povo de lá disse que, com certeza, era do pequi, muito gorduroso; felizmente, com dois ou três dias, “pocou” ...

Escrevendo agora, em Salinas, essa introdução... partindo do geral – o pensar sobre a história do mundo – tinha acabado de ver em Belo Horizonte a mini série de 8 capítulos – a primeira parte -  Cem anos de solidão. O Livro do colombiano Gabriel Garcia Márquez, de 1967 conta a história da família Buendía-Iguarána, que fundaram uma aldeia fictícia e remota na América Latina, chamada Macondo. Devo ter lido o livro no final da adolescência e, com a mini série, recordei – e me encantei. E com isso lembrei, também, de uma série de 60 capítulos – e eu tinha parado no 12º - BOLIVAR ... Pois voltei a ela e 'maratonei'... Não conseguia dormir... e, ao final, chorei como se o Simon Bolívar tivesse acabado de morrer... E não tem como não ligar com o livro, também da adolescência, AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA.

"Nestas terras, não assistimos à infância selvagem do capitalismo, mas sua decrepitude. O subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. É a sua consequência. O subdesenvolvimento da América Latina provém do desenvolvimento alheio e continua alimentando-o. Impotente pela sua função de servidão internacional, moribundo desde que nasceu, o sistema tem pés de barro. Quer identificar-se como destino e confundir-se com a eternidade. Toda memória é subversiva, porque é diferente, e também qualquer projeto de futuro. Obriga-se o zumbi a comer sem sal: o sal, perigoso, poderia despertá-lo. O sistema encontra seu paradigma na imutável sociedade das formigas. Por isso se dá mal com a história dos homens, pela frequência com que muda. E porque na história dos homens cada ato de destruição encontra sua resposta, cedo ou tarde, num ato de criação".

Este é o parágrafo final do livro de Eduardo Galeano, trecho citado no nosso blog em 2022, quando fizemos o convite a conhecermos nossos "hermanos". Já perceberam como o Brasil tende a se distanciar dos países vizinhos na nossa América Latina? Não falamos a mesma língua, não fomos colonizados pelos espanhóis, tampouco nos tornamos independentes desse império – e de outros - com as lutas a partir do revolucionário Simón Bolívar.


 
E, acreditem... A Salinas que está na minha memória e – ainda -  a Salinas que eu estou vendo agora, está contida nessas memórias – ou melhor, nessas reapropriações da história. As pessoas no mercado, os cheiros de comidas, ervas, o artesanato de barro... tudo. Claro que Salinas é outra, cresceu enormemente... No entanto Salinas ainda é a mesma... Assim como eu...

Os homens de Salinas têm um quê de coronéis, mesmo os mais novos. São altivos, orgulhosos – e ...  arrogantes; são agradáveis, calorosos - ao mesmo tempo são agressivos, machistas...  E piropeiros... piropam muito, piropas ora deliciosas e ora agressivas – como a origem do conceito, na Espanha PIROPO, pode ser assédio ou cantada propiciadora de um bom encontro...

As mulheres são agradáveis, receptivas, calorosas. E fazem o tempo todo “pesquisas antropológicas” – falam de todas e de todos... e também piropam muito... e se divertem...


O museu da cachaça foi uma super novidade pra mim, muito lindo... 


E o mercado Municipal... o novo, que já não é tão novo... mas na minha infância tínhamos um outro mercado. Quando fui em Salinas a primeira vez depois que me mudei para Belo Horizonte fui procurar o mercado, que fazia parte das minhas memórias de infância, meu pai tinha uma loja de armarinho do lado do mesmo, aos sábados os feirantes enchiam o mercado com seus produtos, vendiam os mesmo e iam comprar coisas na loja do meu pai, tecidos, lãs, linhas... eu fazia sapatinho de tricô pra vender na loja...  Quase morri quando não vi o mercado naquele meu retorno a Salinas. Sentei na calçada e chorei até... tinha uma praça moderna, com fontes e outras modernidades...  esse mercado teria que ser transformado num museu, era uma construção linda na minha memória. Pois bem, custei a me acostumar com o mercado novo, mas agora gostei demais dele. Minhas memórias passam pelo cheiro, cheiro do pequi, das frutas, do umbu, dos queijos, dos biscoitos... da janela do meu quarto de hotel eu sentia o cheiro do mercado, o cheiro de Salinas...

Enfim, essa é uma das partes excluídas do livro, pra ficar de um tamanho razoável, de 200 a 250 páginas, como o anterior, Diário do SBC, que também levaremos,  uma quarta tiragem do mesmo, no lançamento do segundo, PRA TUDO TEM UM SAMBA. 

Adoraremos rever amigos e amigas do VALE, de Salinas, do SBC... aguardamos... agendem


Abraços carinhosos a todas as pessoas que nos acompanham...

Santuza TU



5 comentários:

  1. Ficou muito bom Santuza! Parabéns pela publicação do livro!
    Foi até rápido! Você labutou bastante!
    Bjs

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  2. Parabéns pelo livro e pela organização da matéria. Você é especial!

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