Como sabem, tenho a honra de pertencer a essa região de Minas, o "Vale da Miséria", como queriam - e ainda querem - que acreditássemos, para nos explorar. Mas nós resignificamos: o Vale da Miséria virou VALE DA RIQUEZA, riqueza do seu povo, da sua arte, da sua cultura, do seu solo.
Então... sou de Salinas, norte de Minas, e tenho a honra de participar do SEGUNDO ENCONTRO DOS VALES, que acontecerá nos próximos dias 29.30.novembro e 1.dezembro, sexta, sábado e domingo.
Vejam as apresentações dos nossos grandes músicos:
E vejam a FEIRA LITERÁRIA, coordenado pelo querido Tadeu Martins, leia-se ALVA - Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha:
Isso tudo, além de FEIRA DE ARTESANATO e produtos da ECONOMIA SOLIDÁRIA!!!
E o nosso coletivo SBC estará no sábado, lançando a terceira edição do nosso livro:
Vocês sabem... além da honra de pertencer ao VALE, tenho também a honra - e a alegria - de pertencer e ser co-fundadora do SBC Samba, Bobagem, Cerveja... coletivo de "mudou a minha vida".
O SBC me trouxe o sentido de pertencimento, despertou minha "veia de escritora", me fez criar o hábito da escrita, onde - e quando - expresso nossa visão de mundo e das relações humanas...
Além da nossa vontade - e ação - de "mudar o mundo", para a construção de um mundo mais bonito, mais humano, mais justo e distributivo.
Nosso convite aos SBCenses- e jequitinhonhenses - e mineiros (e brasileiros... ou não) para visitar o SEGUNDO ENCONTRO DOS VALES... Esperamos vocês!!!
Uma semana antes fomos no SINPRO - Sindicato dos Professores de Minas Gerais, ver o filme ZÉ, com a presença do diretor Rafael Conde e da querida Jô Moraes, entre outras pessoas queridas. Encontro coordenado pela também querida Eliane de Andrade, psicanalista/SPRJ. Depois do filme tomamos vinho e conversamos:
Lançado em agosto de 2024, direção de Rafael Conde, roteiro dele e de Anna Flávia Dias Sales.
Inspirado no livro homônimo de Samarone Lima, o filme apresenta a trajetória de Zé (interpretado por Caio Horowicz), jovem que foi líder do Movimento Estudantil Brasileiro e participou de um grupo de resistência contra a ditadura militar no Brasil.
Zé foi um dos principais líderes do movimento estudantil contra a ditadura civil-militar no Brasil e dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista. Como muitos jovens da época, ele era movido por sonhos e viveu na clandestinidade para escapar da repressão, enquanto lutava por um Brasil mais justo.
Perseguido, ele escolhe a clandestinidade. Deixa sua vida de classe média alta para viver com o povo, realizando o trabalho de alfabetização e conscientização política dos mais pobres. Durante esse período, Zé conhece sua parceira Bete, com quem teve 2 filhos. Ainda como clandestino, ele recebe Gilberto, irmão de Bete, como um novo militante. Gilberto é, no entanto, um informante do regime repressivo. Zé morre sob tortura aos 27 anos, falsamente acusado pelos militares de ter traído todos os seus companheiros desaparecidos.
Filmes sobre a ditadura militar no Brasil não são novidade. No entanto, ao ser questionado sobre o desafio de abordar esse período, o diretor e roteirista Rafael Conde destaca a “grande responsabilidade” que a tarefa impõe. “É sempre importante revisitar esse tema. A ditadura é algo cíclico que, de tempos em tempos, volta à pauta. Precisamos continuar falando sobre isso, pois acreditávamos que esse período havia ficado para trás, mas a democracia e a liberdade estão sempre sob ameaça”, afirmou.
Embora trate de um dos momentos mais críticos da história do Brasil, o diretor oferece um olhar humano em seu filme, explorando a vida íntima das pessoas afetadas pelo regime. Além de retratar a violência física, a censura e as torturas, Rafael buscou expor a violência psicológica sofrida pelas vítimas. “O silêncio, o medo, e a incapacidade de revelar o próprio nome aos filhos são temas centrais. A linguagem do filme cria uma tensão crescente”, explicou. Ele também destacou a atuação dos artistas, que “estão sempre olhando para fora do quadro, como se estivessem sendo observados”.
Nos emocionou o depoimento da Jô, que contou parte da sua vida na clandestinidade, além de nos mostrar as inúmeras carteiras de trabalho, cada uma com um nome. E várias pessoas amigas deram depoimentos, trazendo o filme para a atualidade, algumas numa atitude desesperançosa. Mas terminamos apontando a esperança, ou melhor, o ESPERANÇAR de Paulo Freire, como atitude imprescindível às pessoas que estão, ativamente, na construção de um mundo mais justo, mais distributivo e mais bonito - um mundo sem fome e sem guerras... O esperançar nos leva à construção de um mundo justo, um mundo bom, forjado nos encontros, na arte, na poesia...
Tão bom e tão importante quando o "Ainda estou aqui", fazendo sucesso agora nos cinemas... Fomos assistir na semana seguinte.
"É possível resumir o filme como a história da mãe do escritor, Eunice Paiva (Fernanda Torres), uma dona de casa de uma família influente que é obrigada a se reinventar após o assassinato de seu marido pela ditadura militar nos anos 1970".
Sinopses são reducionistas, mas essa parece ainda mais do que o normal. "Ainda estou aqui", vai muito além. A primeira metade é o retrato ensolarado de um casal apaixonado e seus cinco filhos, com uma bela casa na beira da praia no Rio de Janeiro. Na segunda, cortinas se fecham e o lar se esvazia com a ausência de Rubens – o engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva (Selton Mello), levado pelo regime militar - e a interpretação imensa de Torres preenche esse espaço com o propósito furioso, porém contido de uma mãe que se recusava a chorar na frente dos filhos.
Walter Salles, grande diretor - Central do Brasil, Cidade Baixa, O céu de Suely - não precisa mostrar os horrores aos quais o engenheiro foi submetido até sua morte. O desespero da família com a falta de respostas e a absoluta falta de decência e respeito do regime estampadas na tela são mais do que suficientes para mostrar os perigos do fascismo.
A história de Eunice – que se torna uma das ativistas de Direitos Humanos mais importantes do país após voltar à faculdade com mais de 40 anos, ao mesmo tempo em que luta para que militares reconheçam o que fizeram com seu marido – é impactante para nós, mulheres do século passado (e deste século também). Mas penso que todo mundo vai encontrar algo com que se identificar e se relacionar em "Ainda estou aqui". A Iza, nossa querida SBCense, reclamou que o filme foi grande demais... no outro dia relata ter reconhecido que essa percepção sobre o mesmo era proporcional à sua angústia. Relata ainda que ficou com pé e joelho doendo quando viu a imagem do Médici, pior época da ditadura, segundo ela.
Na medida que o filme avança, não seguramos as lágrimas diante da felicidade absurda da protagonista que se recusa a não sorrir, a deixar que roubem sua dignidade. E, mais pro final, primeira vez que presenciamos uma pessoa ficar "feliz" diante do atestado de óbito do marido. Isso aconteceu somente em 2012, quando a Comissão Nacional da Verdade, instituída pela ex-presidente Dilma Roussef, apresentou documentos e depoimentos que atestaram a entrada de Rubens Paiva no DOI-CODI, em 20 de janeiro de 1971, provando que o político foi torturado e morreu.
Imaginem a dor do desaparecimento, sem saber de nada sobre a pessoa durante anos e anos. E imaginem que esse acontecimento não a "matou", pelo contrário, deu força a ela, força para a vida e a luta por um mundo melhor.
E foi aí que lembramos do nosso terceiro filme imperdível:
O documentário de 2019 TORRE DAS DONZELAS, que revisita a história de mulheres que sofreram torturas e lutaram contra o regime militar, e foram encarceradas na chamada Torre das Donzelas, nome dado ao conjunto de celas femininas no Presídio Tiradentes em São Paulo, demolido em 1971.A Diretora Susanna Lira se interessou por esta prisão porque dela tinham saído mulheres potentes, importantes para a história do Brasil, entre elas nossa grande presidenta Dilma.
Vejam na techtudo alguns outros filmes imperdíveis... além de inúmeros outros... estão nas redes... nós é que precisamos selecionar - joeirar, separar o joio do trigo, dentro das redes, ou seja, as "merdas" - Brasil Paralelo, por exemplo - das coisas que nos trazem "visão transformadora do mundo".
E, além do cinema memória na imagem acima, lembrar sempre para nunca repetir, outras manifestações da arte também se prestam a esse papel: a música! Terminamos cantando Geraldo Vandré: Uma das músicas brasileiras mais bonitas e significativas...
Tenho a alegria de fazer parte do MARIAS Coletivas. Através do Marias acolhemos mulheres em situação de vulnerabilidade e as encaminhamos para o atendimento necessário.
Mas o Marias é, também, uma oportunidade de nos encontrar e conversar sobre temas pertinentes à visão de mundo, à política em todos os níveis de relação. E, nesse sentido, o Marias "combina" com o SBC e com nosso lema: "amor e política, fazemos na cama e no mundo". Outra "combinação" do SBC com o Marias é a ARTE como ferramenta, ou "pretexto" (o texto nós fazemos), para o debate e a construção de conceitos orientadores para o ser sujeitos (e "sujeitas") transformadores do mundo (no micro e no macro).
Então, nosso último encontro foi no sábado dia 9.11, na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB. E foi sobre o filme BARBIE.
E nossa grande convidada para comentar sobre o filme foi a querida Débora Junqueira, jornalista com atuação no movimento
sindical há 30 anos e diretora do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de Minas Gerais. Débora nos trouxe preciosas reflexões sobre A
INFLUÊNCIA DA BARBIE
NO DEBATE SOBRE
FEMINISMO:
A evolução da boneca Barbie, criada
em 1959, pela Mattel, reflete
mudanças significativas no
comportamento feminino e na
sociedade em geral. Ao longo do tempo, a Barbie tentou
se adaptar às transformações nos
papéis de gênero, aspirações
profissionais, diversidade e
representações culturais. Também, sempre exerceu influência
na construção social do comportamento feminino.
Uma das críticas feitas a marca Barbie é que,
historicamente, ela perpetuou certos
estereótipos femininos, principalmente
relacionados aos padrões de beleza e
comportamento. Símbolo de alienação para a ala progressista,
ao mesmo tempo, a Barbie é rechaçada pelos
conservadores que fizeram críticas ao filme
Barbie, dizendo que ele era “ideologizado e
feminista demais”.
Em resumo, ponderou Débora, a Mattel quer passar a mensagem de que, ao
longo das décadas, a evolução da Barbie reflete a
transformação dos papéis das mulheres na sociedade. “Desde uma ênfase inicial em moda e glamour, passando
por profissões tradicionais e modernidade, até uma
representação mais diversificada e inclusiva, a Barbie
acompanhou as mudanças no comportamento feminino,
promovendo uma visão de mundo onde as meninas
podem ser qualquer coisa que quiserem.”
E o ponto alto do filme, segundo Débora:
O discurso sobre feminismo, no filme
Monólogo da personagem Glória interpretada por América Ferreira:
“É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda, tão
inteligente, e me mata ver que não se acha boa o suficiente. Tipo,
temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma
estamos sempre agindo errado. Você tem que ser magra, mas não muito. E você nunca pode dizer
que quer ser magra. Tem que dizer que quer ser saudável, mas
também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não
pode pedir dinheiro porque é mal-educado. Você tem que ser uma chefe, mas não pode ser má. Você tem
que comandar, mas não pode arrasar as ideias dos outros. Você
deve adorar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo
todo. Você deve ser uma mulher de carreira, mas também estar
sempre cuidando dos outros. Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens,
o que é uma loucura, mas se apontar isso é acusada de reclamar.
Você deve estar sempre bonita para os homens, mas não tão
bonita a ponto de tentá-los demais ou ameaçar outras mulheres,
porque deve fazer parte da sororidade. Mas sempre se destaque e sempre seja grata. Nunca se esqueça
de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira
de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca
deve envelhecer, ou ser grosseira, se exibir, ser egoísta, cair,
falhar, demonstrar medo, sair da linha.
É tão difícil! É muito contraditório e ninguém lhe dá uma
medalha ou agradece! E acontece que, na verdade, você
não apenas está fazendo tudo errado, como também é
tudo sua culpa. Estou tão cansada de ver a mim mesma e
a todas as outras mulheres se esforçando para que as
pessoas gostem de nós. E se isso tudo também vale para
uma boneca que apenas representa as mulheres, então
nem sei".
E o espaço foi aberto para falas:
. E eu falei primeiro: "confesso que me recusei a ver o filme quando foi lançado. Fui resistente, muito resistente... Pra mim devia ser um filme que reproduzia nosso sistema opressor, pior, devia encobrir, invisibilizar essa opressão, ... e continuo com essa crítica. No entanto, um dia antes desse debate, tive a "paciência" que Nietzsche me ensinou ("a paciência com o que me é mais antípoda", do seu livro "A Genealogia da Moral"). E, ao mesmo tempo que confirmei meu pressuposto, o filme também me surpreendeu. Exatamente no ponto que a fala aponta, ou seja, a necessidade absoluta do nosso processo de humanização, de nós, mulheres (não sei - ou não me cabe dizer - sobre o processo de humanização dos homens). É tão terrivelmente gravado a ferro e fogo na nossa "alma", nos nosso espíritos, que "temos que ser perfeitas para sermos amadas"!!! E isso nos causa tanto sofrimento! E esse sistema em que vivemos é tão cruel que, de alguma forma (sutil do tamanho de uma patada de elefante, como costumamos dizer) ainda captura isso e nos devolve na forma de mercadoria a ser consumida, em vez de na forma de reflexão transformadora..."
. E a querida Antonieta lembra da potente Marilena Chaui: "A pauta
identitária, como demonstra Marilena Chauí, é uma tática que, sozinha, não
resolve nenhum dos problemas estruturais do nosso país. Esses problemas são, sinteticamente: as desigualdades sociais o analfabetismo, a fome e os problemas
ecológicos vigentes. Apenas a luta identitária, não consegue solucionar os
grandes problemas dos países periféricos, como é o caso do Brasil . O sistema
capitalista que é o nosso grande inimigo, tem que ser questionado e superado. O
identitarismo nessa luta, tende a nos dividir e consequentemente nos
enfraquecer. Para alcançarmos o socialismo, temos que nos unir para além das
falas identitárias, pois, se não, ficaremos em "guetos" e bastante
limitados na nossa estratégia máxima que é a luta por um mundo mais justo, mais equânime, mais distributivo, mais bonito, enfim."
. A Bebela corrobora com nossos posicionamentos. E acrescenta que, ainda, não podemos "abandonar" as lutas identitárias, como Gênero, Raça e Classe Social, e a interseccionalidade entre todas elas; pois, será assim que encontraremos caminhos e soluções para chegarmos a uma convivência mais humana e respeitosa entre as pessoas. E, como o filme trata o feminismo com bastante superficialidade, nossa estrada ainda é longa! Sigamos juntas!
. E a querida Genoveva aprofundou nas considerações sobre o filme:
Primeiro, a forma como se dá a aparição da Barbie: Segundo a propaganda que o filme faz ele - o filme - veio para salvar as meninas de só brincarem de ser mães. E a Genô nos trouxe o dado: De acordo com a Famivita - Associação da união familiar e pais felizes (2023), 1 em cada 5 homens abandona as mulheres em caso de gravidez, 36% dos homens pedem a parceira para remover o feto e mais de 20 milhões de mulheres criam os filhos sozinhas. No ano de 2023 foram registrados 172,2 crianças sem o nome do pai.
As cenas iniciais das meninas destruindo as bonecas/bebês, não são os bebês que elas querem destruir, mas a ideia romantizada de serem mães. Seus mundos minúsculos dentro do patriarcado. Então o filme já começa com a intenção de desconstruir essa formação social romantizada de maternidade.
Um segundo aspecto levantado pela Genô: Para capturar a realidade é necessário sair da bolha da ilusão ( da Barbilândia) e buscar com afinco compreender como o mundo funciona, como ele foi construído e como as mulheres sustentam essa forma patriarcal que está dada. Essa captura da realidade é difícil, em face a solidificação do modelo capitalista que cria essa ilusão da felicidade, de um mundo sempre feliz com oportunidades para todas as pessoas, sem considerar as limitações, as condições históricas. Assim, percebe-se no decorrer do filme os desafios que Barbie vai passando. Choro, primeiro uma lágrima, depois muitas.....
A Barbie estereotipada tem pensamento de morte, ansiedade e celulite. Percebe a exigência do modelo de perfeição inatingível que é exigido para uma mulher.
Ao passar pelo mundo real a Barbie sente que os homens estão lhe tratando com violência e relata isso ao Ken, mas o Ken, que representa a autoestima do homem branco hétero, nega a violência como nossa sociedade a nega também. Ken diz que não percebe nada e se sente incrível. Esse fato retrata que a violência sexual é direcionada às mulheres, que é negada pelos homens e pelas Barbie estereotipadas.
Por último, Genô nos aponta os defeitos femininos que Barbie vai apresentando: medo da morte, celulite, ansiedade... Um pé que não se ajusta aos saltos altos... Trata-se de uma metáfora consistente da perfeição exigida para as mulheres. Ao capturar a realidade a Barbie se torna estranha e passa a atuar na luta para auxiliar as outras Barbies estereotipadas a saírem da ilusão, da bolha e também perceberem a realidade. Genô conclui: Tarefa difícil... arregacemos as mangas...
E a fala voltou à nossa querida Débora, que apresentou questionamentos 1- Ser feminina seria a principal competência da Barbie? O quanto essa competência é suficiente para contrapor o patriarcado e a desigualdade de gênero? 2- Como a Barbie estereotipada impacta nos transtornos de imagens das mulheres e até que ponto as novas versões da boneca e a repercussão do filme alteram isso? 3- A Barbie contribui para o avanço do feminismo ou ainda reforça os clichês sexistas?
Ela ainda nos ofereceu dicas de aprofundamento:
Modelos de Barbies:
https://en.barbiepedia.com/
Será o filme “Barbie” verdadeiramente feminista?
https://www.esquerda.net/artigo/sera-o-filme-barbieverdadeiramente-feminista/87193
A boneca Barbie e a comuna lúdica das crianças
https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2023/08/12/a-boneca-barbie-ea-comuna-ludica-das-criancas
Filme “Barbie” simplifica demais o feminismo? America Ferrera
responde https://rollingstone.com.br/cinema/filme-barbie-simplificademais-o-feminismo-america-ferrera-responde
E terminamos com a brincadeira de SUGESTÕES À MATTEL de novas Barbies :
Barbie revolucionária
Barbie feminista raiz
Barbie idosa anti etarista
Barbie tatuada
Barbie orgástica que vem com vários vibradores
Barbie professora de ferro para lidar com sistema escolar
Barbie autista
e por aí vai... saímos alegres, gratas... e um pouco mais humanizadas...
O SBC agradece à Débora, Antonieta, Genoveva, Bebela... e a todas as Marias presentes nesse nosso encontro... desejando outros mais...
Até a próxima e obrigada a todas as pessoas que nos leem...
Não... não foi essa eleição o assunto no SBC, só passamos por ele, como na imagem acima...
O assunto da semana, para nós, foi a fala da juíza ao ler a sentença que condenou os assassinos de Marielle e Anderson à prisão
Um dos momentos mais emblemáticos da condenação dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes, na quinta-feira dia 31 de outubro, foi a leitura da sentença pela juíza Lúcia Glioche, do 4º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro.
O julgamento foi concluído exatos seis anos, sete meses e 17 dias após o crime. A dor da espera por uma resposta, a busca por Justiça e o combate à impunidade foram alvo das falas de Lúcia Glioche, antes de anunciar o veredito. Leia a íntegra da sentença: "O júri é uma democracia. Democracia esta que Marielle Franco defendia. Aqui prevalece a vontade do povo em maioria. Aqueles que atuam como os jurados nada recebem; prestam um serviço voluntário, gratuito, representando a vontade do povo no ato de julgar o semelhante, que é acusado de ter praticado um crime tão grave que é querer tirar a vida da outra pessoa. Portanto, senhores jurados, obrigada em nome do Poder Judiciário. Obrigada em nome da população da cidade do Rio de Janeiro. A sentença que será lida, agora, talvez não traga aquilo que se espera da Justiça. Talvez justiça que tanto se falou aqui fosse que o dia de hoje jamais tivesse ocorrido. Talvez justiça fosse Marielle e Anderson presentes. Como se justiça tivesse o condão de trazer o morto de volta. Então dizemos que vítimas do crime de homicídio são aqueles que ficam vivos, precisando sobreviver no esgoto que é o vazio de permanecer vivo sem a vida daquele que foi arrancado do seu cotidiano. A sentença não serve para tranquilizar as vítimas, que são Marinete, mãe de Marielle; Anielle, irmã de Marielle; Mônica, esposa de Marielle; Luyara, filha de Marielle; Ágatha, esposa de Anderson, e Arthur, filho de Anderson. Homicídio é um crime traumatizante – finca no peito uma dor que sangra todo dia, uns dias mais, uns dias menos, mas todos os dias. A pessoa que é assassinada deixa uma falta, uma carência, um vácuo. Que palavra nenhuma descreve. Toda a minha solidariedade e do Poder Judiciário às vítimas. A sentença que será dada agora talvez também não responda à pergunta que ecoou pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo: quem matou Marielle e Anderson? Talvez ela não responda aos questionamentos dos 46.502 eleitores cariocas que fizeram de Marielle Franco a 5ª vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2016 – e que tiveram seu direito de representação ceifado no dia 14 de março de 2018. Todavia, a sentença que será lida agora se dirige aos acusados aqui presentes. E mais: ela se dirige aos vários Ronnies e vários Élcios que existem na cidade do Rio de Janeiro – livres por aí. Eu digo sempre que nesses 31 anos que eu sirvo ao sistema de Justiça, nenhum de nós do povo nunca saberá o que se passou no dia de um crime. Quem não estava na cena do crime, não participou dele, nunca sabe o que aconteceu. Mesmo assim, o Poder Judiciário e hoje os jurados precisam julgar o crime com as provas que o processo apresenta, e trazer às provas para o processo, para os jurados é árduo. Porém, com todas as dificuldades e todas as mazelas de investigar um crime, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou os acusados. Eles foram processados e tiveram garantido o seu direito de defesa – e foram julgados. Por anos exercendo a plenitude do direito constitucional de autodefesa, os acusados juraram inocência, pondo a todo o tempo em dúvida a prova trazida contra eles. Até que um dia, no ano passado, 2023, por motivos que de verdade a gente jamais vai saber, o acusado Élcio fez a colaboração premiada. Depois o acusado Ronnie a fez também. Os acusados confessaram a execução e a participação no assassinato da vereadora Marielle Franco. Por isso, fica aqui para os acusados presentes e serve para os vários Ronnies e vários Élcios que existem por aí, soltos, a seguinte mensagem:
A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça. Com toda dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade.
A Justiça chegou para os senhores Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz. Os senhores foram condenados pelos jurados do 4º tribunal do júri da capital:
a 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias-multa para o acusado Ronnie;
a 59 anos de prisão e 8 meses de reclusão e 10 dias-multa para o acusado Élcio.
Saem os dois condenados a pagar até os 24 anos do filho de Anderson, Arthur, uma pensão.
Ficam os dois condenados a pagar, juntos, R$ 706 mil de indenização por dano moral para cada uma das vítimas — Arthur, Ághata, Luyara, Mônica e Marinete.
Condeno os acusados a pagarem as custas do processo e mantenho a prisão preventiva deles, negando o direito de recorrer em liberdade.
Agradeço as partes, a Defensoria Pública, às defesas dos dois acusados. Agradeço aos serventuários da Justiça, aos policiais militares. Renovo o agradecimento aos jurados.
Encerro a sessão de julgamento e quebro a incomunicabilidade.
Tenham todos uma boa noite".
E conversamos: a Justiça, a Democracia, são instituições HUMANAS, construídas por nós... veja, construídas... como tudo no humano: nada pronto e acabado... e, por isso mesmo, frágil, como nós... e que correm o risco da construção, no sentido "bonito", do bem viver; e no sentido fechado, autoritário, que nos quer controlar e deseja a nossa alienação e submissão. Portanto, NÓS somos responsáveis pela construção da Justiça e da Democracia no sentido "bonito"... e somos, também, responsáveis por "salvar" essas duas instituições, quando elas estão sendo desfiguradas, como nos tempos atuais............e caminhemos para a "cobrança", aos representes dessa justiça que temos, do julgamento dos mandantes... Abraços carinhosos a todos que nos leem... Santuza TU