Final de novela... e uma tentativa de avaliação do SBC, principalmente das mulheres SBCenses, e dos homens que tentam se colocarem no mundo feminista:
. O protagonista masculino é um coronel, rico, branco, possuidor de terras... e de mulheres... e que repete, em algum capitulo, fala "ultrapassada" , do século passado: "Eu vou matá-la porque ela me traiu, e eu tenho o direito disso"!... fala que, terrivelmente e infelizmente, é atual... basta olhar as estatísticas do feminicídio: Brasil, quinto lugar mundial no ranking de violência contra a mulher.
. e prestamos atenção em como são retratadas as mulheres atualmente, e, coincidência ou não, algumas novelas são repedidas, o que nos proporciona a comparação de como eram retratadas as mulheres nas novelas das décadas de 80, 90, do século passado e como as mesmas são retratadas agora:
. Pois bem... tivemos tristeza de constatar, nos poucos capítulos vistos, que talvez esteja acontecendo um retrocesso na visão das mulheres nas novelas globais: temos as protagonistas femininas "boazinhas", são jovens, fortes e empreendedoras... e, no final da novela, "se rendem", "se submetem" ao homem branco, rico e "protetor", o príncipe encantado... reproduzindo o "modelito do amor romântico" que tanto falamos e que, ao fim e a cano, leva à reprodução dos papéis padrões o feminino no nosso mundo, o de servir, de abrir mão dos seus sonhos, desejos, em função de um grande amor.
. e, triste constatação, as personagens mulheres "empoderadas" da novela, duas delas, são mulheres assassinas, psicopatas, vingativas, que não medem esforços para o enriquecimento através do homem, ou seja, uma distorção sem limites da figura feminina auto-afirmativa.
. além disso tudo, nos desculpem todas e todos que "adoram" e "reproduzem" a música tema da novela, mas trata-se, para nós do SBC, de uma grande distorção do conceito de amor, do amor libertário que queremos construir, do amor simétrico, o amor sujeito-sujeito. Claro, a arte, e especialmente a música, se presta à reprodução dessa ideologia do "amor romântico": achamos a melodia linda... e cantamos... e "desejamos" esse amor para as nossas vidas... triste...
. No entanto, pensamos que estamos conversando com pessoas que conseguem "ouvir" e "criticar" ... e, principalmente, que têm a humildade se nos vermos enquanto reprodutores e reprodutoras de um "jeito de ser e de relacionar" que não combina com o que queremos para a vida e para as nossas relações... e essa contradição nos causa sofrimento... que bom... pois transformando sofrimento em conflito poderemos VER e MUDAR, iniciar um movimento de "virar a chave" em busca de relações mais simétricas e mais bonitas... nessa toada foi que reproduzimos aqui alguns trechos da letra da trilha dessa novela, desculpe-nos mais uma vez Zé Ramalho, Chitãozinho, Chororó e outros:
Quanto o tempo o coração leva pra saber
Que o sinônimo de amar é sofrer
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
E a "pior de todas", uma redundância paupérrima, sem sentido no nosso entendimento, mas que a maioria de nós repetimos, cantamos, e vamos internalizando e "desejando" isso para a vida, ou seja, esse "vazio";
Sinônimo de amor é amar...
Sinônimo de amor é amar...
Sinônimo de amor é amar...
Pois foi "vendo" isso... e "contra" isso que começamos a procurar referências que nos incitem a sair da prisão global!
E o primeiro achado foi um belo filme de 1985: A Cor Púrpura, do gênero drama, dirigido por Steven Spielberg, baseado no romance epistolar, um tipo de romance que utiliza da técnica de desenvolver a história principalmente através de cartas, da premiada autora afro-americana Alice Walker.
A Cor Púrpura é, originalmente, um livro escrito por Alice Walker, publicado em 1982, e que ganhou o Pulitzer no ano seguinte. Em 1986, Steven Spielberg levou a história de Walker às telas, com um elenco estelar composto por Whoopi Goldberg, Oprah Winfrey, Danny Glover e Margaret Avery.
A seguir a sinopse do filme: Georgia, 1909. Em uma pequena cidade Celie , uma jovem com apenas 14 anos que foi violentada pelo pai, se torna mãe de duas crianças. Além de perder a capacidade de procriar, Celie imediatamente é separada dos filhos e da única pessoa no mundo que a ama, sua irmã, e é doada a "Mister", que a trata simultaneamente como escrava e companheira. Grande parte da brutalidade de Mister provêm por alimentar uma forte paixão por Shug Avery, uma sensual cantora de blues. Celie fica muito solitária e compartilha sua tristeza em cartas (a única forma de manter a sanidade em um mundo onde poucos a ouvem), primeiramente com Deus e depois com a irmã Nettie, missionária na África. Mas quando Shug, aliada à forte Sofia, esposa de Harpo, filho de Mister, entram na sua vida, Celie revela seu espírito brilhante, ganhando consciência do seu valor e das possibilidades que o mundo lhe oferece.
A Cor Púrpura é um filme extremamente feminino, uma vez que fala basicamente de personagens mulheres. Celie é a protagonista e a relação mais forte que ela mantém é com sua irmã, Netie. Mais tarde, ela faz amigas como Sofia e Shug Avery, que são mulheres fortes e que não se deixam abater por nenhum homem.
A princípio, Celie pode soar como uma personagem fraca e conformada demais, o que pode parecer um pouco fora dos tempos nos dias de hoje, mas a sua personalidade faz muito sentido dentro do contexto social em que ela vive. Celie é uma mulher negra e pobre, em 1909, que é considerada feia demais e que deseja mais que tudo proteger sua irmã do mal do mundo.
Por outro lado, Celie é, sem dúvida nenhuma, a personagem mais forte do que podemos pensar. Ela aguenta abusos físicos, psíquicos e sexuais durante boa parte da sua vida e mesmo assim não se deixa abater. Ao longo da história, outras personagens que podem se encaixar na ideia que temos hoje de uma mulher forte aparecem, como Sofia, que não tem papas na língua, e que manda no seu marido e que mesmo quando é motivo de preconceito e de violência dá a volta por cima; e Shug Avery, uma mulher que usa da sua sexualidade da maneira que deseja e que não depende de nenhum homem para isso. As duas personagens são muito modernas para a época em que o filme se passa e para o contexto onde estão incluídas, mas são extremamente importantes na história de Celie, porque tem o poder de libertá-la.
E temos uma "!imagem mental" do filme: duas cenas, a primeira, quando ela não via nenhuma possibilidade de "saída" desse estado de submissão, cena em que ela faz uma limonada para o Mister e cospe na limonada, única possibilidade, para ela, naquele momento, de vingança, de "manifestação de existência"... e outra cena em que Celie está indo embora, Mister diz: O que você vai fazer sem mim, você é pobre, feia, não "vale nada"... e ela responde: Sim, posso ser pobre, negra, feia... mas estou VIVA!!! e você, foda-se você! (não é este, na verdade, o diálogo do filme, mas é este o diálogo que ficou na nossa memória afetiva das inúmeras mulheres que se afetaram vendo este filme).
E nessa toada de rever e conversar sobre este filme, fomos nos " desintoxicando", ou melhor, desenvolvendo a humildade necessária de saber que somos reprodutoras desse sistema que nos aprisiona e, ao mesmo tempo, podemos ser sujeitas, construidoras de nós mesmas, de nossas relações e de um mundo mais bonito e mais justo
Você pode assistir "A Cor Púrpura" no HBO Max, Oi Play legalmente online, no Apple TV, Amazon Video, Google Play Movies alugar online ou também no Apple TV, Amazon Video, Google Play Movies para comprar o DownloaDAbraços carinhosos a todas as pessoas que nos leem, nos compartilham e multiplicam nossas idéias ..