A América Latina é formada por 13 países da América do Sul, mais 20 na América Central e mais o México na américa do Norte. Por que América Latina: trata-se de região do continente americano que corresponde aos países falantes das línguas derivadas do latim: espanhol, português e francês.
E por que estamos falando agora da América Latina? Segundo reflexões de nossa SBCense, o pouco conhecimento que temos sobre nós mesmxs e nossos vizinhos se deve à nossa "cabeça colonizada"... conhecemos mais os nossos colonizadores - históricos e atuais, ou seja, Europa e EUA - do que a nós mesmos, nossas origens, nossa história e nossas riquezas naturais e culturais. Isso tudo ainda alimentado pela mídia tradicional, que nos informa também muito mais sobre os colonizadores do que sobre nós... e quando informa sobre nós, quase sempre com uma postura pejorativa, de desvalorização...
E foi nessa toada que essa SBCense lembrou de livro da sua adolescência:
Em As Veias Abertas..., Eduardo Galeano narra a história de exploração da América Latina desde o século XV até o período atual. No livro, de 1971 em sua primeira edição, Galeano analisa essa história desde o período da colonização europeia até a Idade Contemporânea, argumentando contra a exploração econômica e a dominação política do continente, primeiramente pelos europeus e seus descendentes e, mais tarde, pelos Estados Unidos. Com edição atualizada em 1977, quando a maioria dos países do nosso continente padecia com "facínoras ditaduras", este livro tornou-se um 'clássico libertário', um verdadeiro inventário da dependência e da vassalagem de que a América Latina tem sido vítima, desde que nela aportaram os europeus no final do século XV. No começo, espanhóis e portugueses. Depois vieram ingleses, holandeses, franceses, modernamente os norte-americanos... e o ancestral cenário permanece - a mesma submissão, a mesma miséria, a mesma espoliação.
As Veias Abertas de América Latina foi “um porto de partida e não de chegada”, dizia o autor. A obra, traduzida em mais de 20 idiomas, foi em várias ocasiões um best-seller, vendendo mais de 2 milhões de cópias ao ano, o que dá conta da ideia da transcendência do autor uruguaio. Uma investigação jornalística profunda, que une dados históricos com antropologia, mitos, realidades e sabedoria popular, numa narrativa que nos conduz a percorrer as realidades mais terrenas às experiências mais sublimes.
"Eduardo rompeu qualquer fronteira de estilo. Uma prosa poética, coloquial, uma profunda pesquisa histórica. A obra do Eduardo é uma obra essencial, não só para entender a América Latina, mas para entender a vida e o mundo”, comenta o escritor brasileiro e tradutor de várias obras de Galeano para o português, Eric Nepomuceno.
Partindo das principais riquezas naturais da nossa região – que pela força das potências econômicas estrangeiras se converteram em mercadorias: prata, ouro, petróleo, algodão, café, frutas, açúcar – Galeano mostra como foi imposta a condição de colônia, que deu a base para o capitalismo dependente que se ergueu nos países latino-americanos.
“Aqueles que ganharam só puderam ganhar porque perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota sempre esteve implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus agentes nativos”, Galeano pontua já nas primeiras páginas do livro.
Em várias entrevistas, Galeano comentou que As Veias Abertas... era uma obra despretensiosa, fruto de uma necessidade de mergulhar e entender a história da nossa América. “Me dá muita felicidade escrever, é uma alegria na vida, mas também me custa muito. Eu escrevo, reescrevo, risco, jogo fora, até encontrar as palavras que realmente merecem existir”,
A jornalista e editora Marina Duarte de Souza, no Brasil de Fato, comenta: Com As Veias Abertas da América Latina o escritor mostrou que era possível fazer jornalismo e literatura engajados, sem cair no estigma do material panfletário. Com sua linguagem “sentipensante” – aquela que é capaz de pensar sentindo e sentir pensando – Galeano preencheu os vazios históricos com palavras que valiam mais que o silêncio. Para nós do SBC, a ideia de "sentipensante" parece muito com nosso processo de auto conhecimento, o movimento TAP (Teoria Afeto Prática...)
A seguir a capa mais antiga do nosso livro ... e a outra, da edição comemorativa dos 50 anos do mesmo, em 2021.
“Um livro para entender a vida e o mundo".
Obra de Eduardo Galeano completa meio século em plena vigência com a realidade dos povos latino-americanos.
Quem foi Eduardo Galeano? Eduardo Hughes Galeano, jornalista e escritor uruguaio,nasceu em Montevidéu, 1940 e morreu aos 74 anos em 2015. Autor de mais de 40 livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e história.
Galeano iniciou sua carreira jornalística no início da década de 1960 como editor do Marcha, influente jornal semanal uruguaio. Foi também editor do diário Época e editor-chefe do jornal universitário por dois anos. Em 1971, aos 31 anos, escreveu sua obra-prima "As Veias...".Em 1973, com o golpe militar do Uruguai, Galeano foi preso ... mais tarde seu nome foi colocado na lista dos esquadrões da morte e, temendo por sua vida, exilou-se na Espanha. Em 1985, com a redemocratização de seu país, retornou a Montevidéu, onde viveu até sua morte.
“Ele sempre foi mais um entre nós. Nunca tivemos a sensação de que estávamos falando com uma lenda da literatura latino-americana, com um mito em vida. Sempre teve esse caráter de que ninguém é mais que ninguém. Ele era absolutamente fiel ao que acreditava”, relata Belloso, chefe de redação da revista Brecha Editorial, revista que Eduardo Galeano abriu junto com Mário Benedetti, quando voltou a Montevideo com o fim do regime militar.
Dos mais de 40 livros, além do Veias Abertas..., selecionamos outros três livros interessantes para entender a obra desse escritor:
Memória do fogo, publicado em forma de trilogia, o livro, premiado pelo Ministério da Cultura do Uruguai e com o American Book Award, distinção fornecida pela Universidade de Washington, combina elementos de poesia, historia e conto. É composto pelos livros “Os Nascimentos” (1982), “As Caras e as Máscaras” (1984) e “O Século do Vento” (1986). Os livros trazem poemas, transcrição de documentos, descrição dos fatos e interpretação de movimentos sociais e culturais, que compõem uma cronologia de acontecimentos, proporcionando uma visão de conjunto sobre a identidade latino-americana. Como em “As Veias Abertas”, o livro propõe uma revisão da história da região, desde o descobrimento até nossos dias, para enfrentar a “usurpação da memória” da história oficial. Com textos independentes que se encaixam e se articulam entre si, a obra traz um quadro completo dos últimos 500 anos. Apesar de manter a cronologia das histórias, o autor ignora a geografia para dar, assim, uma melhor ideia da unidade da história americana, para além das fronteiras fixadas “em função de interesses alheios às realidades nacionais”, como definiu.
- Dias e Noites de Amor e Guerra (1975)
Vencedor do Prêmio Casa das Américas em 1978, o livro é uma crônica novelada das ditaduras da Argentina e do Uruguai, um relato autobiográfico, uma memória íntima, convertida em memória coletiva.
Junto ao horror dos amigos que desapareceram, Galeano traz o amor, os amigos, os filhos, a paisagem, tudo aquilo que, ainda na escuridão de uma guerra suja e injusta contra os mais fracos, segue sendo motivo para viver, para defender as ideias e para alçar a voz contra os que atuavam impunemente para implantar o medo e a conseguinte paralização. “Às vezes, sinto que a alegria é um delito de alta traição, que sou culpado do privilégio de seguir vivo e livre. Então me faz bem lembrar o que disse o cacique Huillca, no Peru, falando diante das ruínas: ‘aqui chegaram. Quebraram até as pedras. Queriam nos fazer desaparecer. Mas não conseguiram, porque estamos vivos’. E penso que Huilca tinha razão. Estar vivos: uma pequena vitória. Estar vivos, ou seja: capazes de alegria, apesar dos adeuses e os crimes”, como conta a contracapa do livro.
Mulheres (1997), uma coletânea de textos publicados em livros anteriores. De forma lírica e poética, Eduardo Galeano traz relatos de mulheres célebres e anônimas que, com sua vivência, deixaram marcas no dia a dia das pessoas com as quais conviveram e, por isso, devem ser lembradas. O livro traz histórias de Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), escritora norte-americana, cuja produção literária enfoca as relações entre mulher e homem e a opressão da sociedade em que viveu; da escrava Jacinta de Siqueira, “africana do Brasil, fundadora da Vila do Príncipe e das minas de ouro dos barrancos de Quatro Vinténs”; de Xica da Silva, escrava que virou rainha no século XVIII; da revolucionária Manuela Saénz, que junto a Simón Bolívar, seu amante, lutou pela independência das colônias sul-americanas; da compositora e cantora Violeta Parra, considerada a mais importante folclorista do Chile e ainda de Frida Khalo, Tina Modotti, Evita, Carmem Miranda, Isadora Duncan. Mulheres protagonistas da história e mulheres esquecidas por ela; mulheres que sonham e mulheres castigadas por sonhar; mulheres que sobrevivem e mulheres que nos ajudam a sobreviver. As mulheres que atravessam os relatos de Eduardo Galeano comovem por sua determinação, sua desobediência constante e também por sua fragilidade.
Em 2009, durante a 5ª Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez deu uma uma cópia do livro de presente ao presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Na época, o livro saiu da posição 54.295 da lista dos mais populares do site Amazon.com, para a segunda posição em apenas um dia. Porém, matéria do jornal El país diz: ... Mais de 40 anos depois, Galeano revelou que não leria novamente seu livro de maior sucesso. "Eu não seria capaz de ler de novo. Cairia desmaiado", disse, durante a 2ª Bienal do Livro de Brasília, em abril de 2021. O episódio demonstra que Eduardo Galeano assumiu um tom mais ponderado para analisar o maniqueísmo político de outrora. "Em todo o mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder às vezes deram certo, às vezes não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios e crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso", disse o escritor. E nós, do SBC, refletimos concordando com ele na questão do maniqueísmo, assunto pertinente às nossas conversas (veja post de 15.dezembro.21). Trabalho afetivo/intelectual, difícil - e necessário - estarmos sempre diferenciando o raciocínio maniqueísta - aprendido e internalizado na nossa cultura, e que, ao extremo, se presta à reprodução de "radicalismos fascistas" ... e o "radicalismo" importante na defesa de uma posição, a propósito, a posição do combate ao capitalismo predador e a construção de um mundo mais justo. E é exatamente nisso que o livro é extremamente atual ... e necessário sua releitura e|ou leitura, para os mais jovens, principalmente com o diálogo intergeracional que produz tanto crescimento mútuo.
Importante, aqui, "copiar" o parágrafo final do nosso livro, para ensejar nossas conversas:
"Nestas terras, não assistimos à infância selvagem do capitalismo, mas sua decrepitude. O subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. É a sua consequência. O subdesenvolvimento da América Latina provém do desenvolvimento alheio e continua alimentando-o. Impotente pela sua função de servidão internacional, moribundo desde que nasceu, o sistema tem pés de barro. Quer identificar-se como destino e confundir-se com a eternidade. Toda memória é subversiva, porque é diferente, e também qualquer projeto de futuro. Obriga-se o zumbi a comer sem sal: o sal, perigoso, poderia despertá-lo. O sistema encontra seu paradigma na imutável sociedade das formigas. Por isso se dá mal com a história dos homens, pela frequência com que muda. E porque na história dos homens cada ato de destruição encontra sua resposta, cedo ou tarde, num ato de criação".
E foi aí que, retomando o princípio da nossa conversa, nos propusemos a uma pesquisa e troca de informações e experiências sobre a América Latina. Algumas perguntas, para um princípio de orientação sobre o assunto:
1. Você conhece (através de pesquisa ou pessoalmente), fora o Brasil, algum país da América Latina? Que impressões tem sobre este país?
2. O que conhece sobre a história (político/econômica) desse país? e sua atualidade?
3. Como é a relação desse país com o Brasil?
4. E como é a cultura e a arte nesse país? e a consciência política desse povo? e o racismo e o feminismo nesse país, como é tratado?
Enfim, apenas perguntas orientadoras... sintam-se livres para essa troca que estamos propondo aqui... Como fizemos nos nossos posts de janeiro e fevereiro deste ano, a propósito da comemoração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, o convite é este: envie sua "pesquisa-impressões-texto"... para o e-mail: tusantuza@gmail.com
E, a cada semana, publicaremos textos sobre um, dois ou três países da América Latina. Acreditamos que essa pesquisa nos servirá imensamente para nos conhecer e nos compreender - além de compreender - e participar - da construção do que podemos chamar de uma UNIDADE PARA A AMÉRICA LATINA, uma América Latina soberana e livre do imperialismo. Pois acreditamos que esse movimento vem a ser o que se está sendo construído no mundo em geral, um mundo caminhando para a superação desse modelo de poder unipolar, e para a construção de uma nova ordem mundial, um mundo multipolar... enfim, estaremos nos preparando para o que está por vir, em termos de governo - e poder ... no Brasil ... na América Latina ... e no mundo.
Desafio Aceito!!! Bora pesquisar...
Abraços carinhosos ...